Marcha das Vadias dos Videogames

22/07/2012 by: thiago

Marcha das Vadias dos Videogames - Lita Hayata

Para começar com o jargão temporal, nunca na história dos meus feeds houve tanto ‘sexismo’ entre as palavras-chave – e, pela proporção, muitas vezes vindas de artigos e notícias sobre jogos. Talvez seja ‘inconsciente coletivo’, talvez seja repercursão da ‘marcha das vadias’, talvez seja algum movimento cujo nome não identifiquei ou talvez tenha simplesmente chegado a hora – uma espécie de Deu. Agora chega.

Deveriam ser óbvias as afirmações de que nenhuma mulher seja merecedora de violência pela sua vestimenta, ou que existem muitas mulheres fora dos estereótipos de donzela em perigo, objeto de uso sexual, co-adjuvante sexy, adversária sexy e decoração.

Mas isso está dando um-enorme-rebuliço.

Porque o Clube do Bolinha se sente invadido, e o Clube da Luluzinha ou qualquer outro Clube não faria nada diferente em uma mesma situação. Mas existem, sim, diferenças:

- O Clube do Bolinha pensou que uma mídia inteira – jogos – ou uma parte dela – AAA – pudesser ter donos com um discurso único para sempre. Que “eu não acredito que você é uma mulher”, “sai daqui, maricona” e “o cara não quer pagar não devia jogar” pudessem ser comentários rolando em um tapete de veludo vermelho, por todos os fóruns, por toda a eternidade.

- A vida imita a arte, ou a arte imita a vida, ou o ovo que não sai de uma galinha não é ovo e galinha que não sai de ovo não é galinha, etc: misoginia e estereótipos tão nitidamente marcados só podem acontecer porque acontecem realmente, por toda a parte. Não é exclusividade de homens serem machistas ou de videogames serem violentos. É maior e tem consequências muito mais graves do que alguém sair ofendido.

- O que algumas pessoas tentam abafar falando de ‘picuinha’ na verdade vem de implicações que nem sempre são tomadas em consideração por serem corriqueiras, particulares e por não haver empatia. Para forçar alguma: como homem, quantas vezes você já pensou em não sair à noite por estar sozinho? Quantas teve medo de ser estuprado e morto?  De não ser levado em consideração por autoridades legais? De apresentar algo para uma audiência que tem declaradamente tentado te manter longe? Ou em qualquer contexto, de te desejarem mal por ser homem? Em quantas culturas e em quais períodos históricos a sua vida valia menos, o seu trabalho valia menos, a sua opinião nula em relação à de uma mulher?

- Mulheres são aproximadamente metade da população, quase a metade dos ‘gamers’ e nem mesmo 10% dos desenvolvedores. Quando desenvolvem, elas todo tipo de idéias, mas parecem tender para narrativas e mecânicas às quais não estamos acostumados. Why oh why.

Depois disso tudo, será que veremos discussões nomeadas ‘Gays nos jogos’? ‘Afro-descendentes nos jogos’? ‘Travestis nos jogos’? ‘Velhos nos jogos’? Ou já é seguro falar sobre a representação preconceituosa de um grupo menos por outro mais socialmente confortável? Podemos então falar do inverso?

Como disse Deirdra Kiai (‘Men In Games’), talvez ano que vem tenhamos resolvido isso tudo e então partir para tópicos que realmente importam, como ‘’Serão jogos arte?’’.

Até lá!

Lita Hayata é Ilustradora e animadora. Produz há 5 anos material para treinamentos corporativos e serious games para empresas privadas e impressos didáticos para instituições culturais e de educação. Formada pela UNESP em Desenho Industrial (2009), com iniciação científica no Laboratório de Mídias Interativas (FC-UNESP) no desenvolvimento Objetos de Aprendizagem Online para o projeto RIVED/MEC.

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