Cultura digital, sociedade e política

31/03/2014

Índice de artigos

Filed under: Sem categoria — Rita Alves @ 00:04

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1. Cultura digital e produção cultural

Programação cultural on-line - por Fernanda Portela

Produtor, ouvinte, podcaster: Novas mídias e comunidades de colaboração em ambientes digitais - por Igor de Andrade

Radio e Internet: Parceria ou rivalidade? - por Alessandra Borges dos Santos

Funk ostentação: as mediações digitais de uma produção cultural popular e independente - por Carina Santos

La Evolución de la Relación entre Arte y Tecnología - por Jhocelyn Landeros

The Impact of Technology on the Music Industry - por Jhocelyn Landeros

Crowdfunding – A Vaquinha da Modernidade - por Jimmy Pitondo

A construção de significados nas redes sociais - por Guilherme Camargo Lima

Food for Thought - por Renata Nocera

 

2. Tecnologia e conhecimento

Tecnologia: inovações no ensino aprendizagem - por Olíria Ribeiro Costa

Kid’s online - por Olíria Ribeiro Costa

Arquivologia e o moderno: a conservação da preservação - por Jimmy Pitondo

Qual o futuro dos MOOCs? - por Vinicius Meneses

3. Cultura digital e sociabilidades

Demissões provocadas por publicações nas redes sociais - por Priscila Camazano

Novas estratégias para contratação? Habilidades no uso da Internet e o gerenciamento de privacidade online durante a procura de emprego - tradução de Vinicius Meneses

As relações afetivas na Era Digital - por Fernanda Portela

Rolezinho e cultura digital: formas de expressão e organização social dos funkeiros e seus impactos políticos - por Carina Santos

Cultura digital:  do  ”real X virtual”  ao  ”online/offline“ - por Rita Alves

Opiniões e Ódio na Internet - por Renata Nocera

Então não é pra ir ou é? – Eventos nas Redes sociais e seus objetivos por Alessandra Borges dos Santos

 

4. Cultura tecnológica e práticas políticas

Mais Axé pra ser Odara - por Ralph Sarlo

O ativismo mediático pelos herdeiros Mayas - por Juliane Duarte

Da democracia à revolução, como a internet está se tornando um instrumento político - por Marcio Nascimento Souza

Software Livre e o capital digital - por Juliane Duarte

Persepolis 2.0: Quadrinhos e ciberativismo - por Marcio Nascimento Souza

Com purpurina é que se luta - por Ralph Sarlo

Rede global de comunicação - por Priscila Camazano

A esfera pública e a participação política na internet - por Guilherme Camargo Lima

Partido Pirata: Cultura digital na política - por Igor Andrade

 

24/07/2014

Qual o futuro dos MOOCs?

Filed under: Vinicius Meneses — Tags:, , — jimmymp @ 12:08

O processo de  ensino-aprendizagem não pode ser mais considerado como uma experiência que ocorre em ambientes fechados e controlados, é preciso entendê-la em uma “sociedade em rede” no sentido dado por Manuel Castells. Nesse sentido, a aprendizagem não é uma experiência isolada, e sim por relações de troca, compartilhamento e produção conjunta com várias pessoas do mundo que convergem o seu interesse para um assunto em comum.

Segundo Castells (1999), em uma sociedade em rede, “as redes constituem a nova morfologia de nossas sociedades e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para sua expansão penetrante em toda a estrutura social.” (p. 497)

O ensino superior não está isento das transformações digitais que moldam nossas vidas diariamente. Muito antes dos cursos online massivos abertos (os chamados MOOCs)[1] se tornarem assunto de artigos, pesquisas científicas, conferências e seminários, o ensino online já estava em vigor há décadas em muitas nas faculdades e universidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, 26% ou 5,5 milhões de estudantes universitários fizeram pelo menos um curso online em sua formação. [2]

O que torna os MOOCs diferentes das demais modalidades de ensino é que algumas das mais prestigiadas universidades do mundo disponibilizam suas video-aulas para estudantes de todo o mundo, sem nenhum custo. É certo que o sistema MOOC não representa uma ruptura ou uma “revolução” como dizem, mas sim uma forma alternativa de modalidade de ensino. Por ser uma plataforma aberta e gratuita, se pretende suprir a incapacidade das faculdades e universidades de todo o mundo em satisfazer a demanda global para o ensino superior, a necessidade dos “nativos digitais” exigirem a utilização de mais tecnologia na educação, e a investigação que indica que os alunos matriculados em cursos mistos (online e presencial) proporcionaram a maior competência e satisfação. O centro de pesquisa e análise Educause relata que 57,7% dos estudantes afirmaram aprender mais em cursos com algum recurso online. [3]

Embora atualmente os MOOCs sejam gratuitos e não concedam créditos universitários, essa situação vai provavelmente mudar no futuro. Embora essa discussão tem-se centrado somente no âmbito acadêmico, os MOOCs ​​que estão sendo desenvolvidos serão providos por organizações fora do ensino superior, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Museu Britânico.

Uma moda passageira?

Desde que os professores canadenses Dave Cormier e Bryan Alexander cunharam o termo MOOC em 2008, quase não se passa uma semana sem alguma menção MOOCs. Em 2012, MOOCs foi definido como um tipo de curso online que visa à participação em grande escala e de acesso livre através da Web 2.0.

As principais plataformas MOOC atualmente são: Udacity, Coursera e EDX, nos Estados Unidos, Futurelearn no Reino Unido, e Iversity na Alemanha. Não é possível informar números exatos de inscrições e matrículas de seus cursos, já que os números mudam diariamente. No entanto, pode-se relatar que milhões de pessoas em todo o mundo assistem as vídeo-aulas, apresentam trabalhos e realizam as provas-teste. [4]

Alguns acreditam que os MOOCs são apenas uma moda passageira e não terão um impacto duradouro sobre o ensino superior. Eles baseiam sua argumentação sobre a alta taxa de abandono (90%), a exclusão dos alunos que não têm acesso online, o fraco engajamento dos alunos com maiores dificuldades e o alto potencial de fraude, plágio, promovendo um sistema de padrão global no processo de aprendizagem do ensino superior. Como o professor de Stanford Susan Holmes uma vez escreveu: “Eu não acho que você pode obter uma educação de Stanford online, assim como eu não acho que o Facebook dá a você uma vida social.“.

Até o momento não há nenhum caminho claro para um retorno positivo sobre esse tipo de investimento educacional. Produzir MOOCs de qualidade requer tempo (100+ horas para desenvolver um MOOC), financiamento (EUA $25.000+), e apoio técnico e tutorial. Apenas as escolas com mais recursos podem financiar sua participação no desenvolvimento e transmissão seus cursos pelo MOOC.

A monetarização MOOCs

De acordo com o relatório de 2012 “Making Sense of MOOCs” [5], existem vários modelos comerciais para monetizar MOOCs, incluindo a emissão de certificados para os alunos que concluírem um MOOC, cobrando uma taxa para terem exames supervisionados e cobrar mensalidades das empresas que utilizarem a plataforma para seus cursos de formação. Os provedores MOOC também poderiam fornecer a outras universidades a capacidade de licenciar os seus cursos, como também poderia oferecer as empresas e corporações recrutarem seus serviços.

Os apoiadores acreditam que os MOOCs dão a oportunidade de “democratizar” o ensino superior, permitindo a estudantes e adultos de todo mundo cursarem as disciplinas lecionadas pelas universidades de elite, mantendo-se em suas próprias casas. Estes afirmam que ao expandir o acesso a estudantes desprivilegiados, os MOOCs têm a capacidade de construir comunidades de aprendizagem globais. Também se referem à característica de MOOCs pelo formato de ‘clique’, para analisar a forma como os alunos aprendem e estudam.

Talvez o maior potencial dos MOOCs é a capacidade de conectar ‘graduados’ com futuros empregadores. Embora que a EDX informou recentemente que deixariam de oferecer serviços de colocação de emprego, vários especialistas em educação superior – incluindo Sir Drummond Bone, mestre de Balliol College, em Oxford – acreditam que, no futuro, os MOOCs terão maior impacto nesta relação com futuros empregadores.

No entanto, há um aspecto dos MOOCs que não está sendo discutido é o impacto potencial dos MOOCs sobre a administração do ensino superior. Se no futuro os MOOCs se tornarem um mainstream, se constituindo como a mais ampla modalidade de ensino, a vida de trabalho administrativo das universidades, reitores, diretores financeiros, registradores, conselheiros de carreira, oficiais de serviço ao estudante, instalações de diretores e ex-alunos diretores, entre outros, irão mudar.

Depois de todo o exagero em ambos os lados pró e contra os subsídios de MOOCs, é seguro prever que os MOOCs irão, de alguma forma, afetar a dinâmica do ensino superior. Os MOOCs não serão um substituto para o professor em sala de aula. Ao contrário, eles serão um complemento.

Notas 

[1] Não é intuito deste trabalho caracterizar e descrever a historia de desenvolvimento dos MOOCs, pois a literatura sobre o assunto é bastante vasta. Ver mais em: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=85111/

[2] http://www.newrepublic.com/article/116013/mooc-student-survey-who-enrolls-online-education/

[3] http://www.newrepublic.com/article/116013/mooc-student-survey-who-enrolls-online-education/

[4] http://www.efmd.org/index.php/blog/view/250-white-paper-moocs-massive-open-online-courses/

[5] http://sirjohn.ca/wordpress/wp-content/uploads/2012/08/131118TaylorsMOOCsTX.pdf

 

Referências Bibliográficas

CASTELLS, M. A Sociedade em Rede (3ª ed.). São Paulo: Paz e Terra, 1999.

SHIRKY, Clay. A cultura da participação: Criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro, Zahar, 2011.

LEMOS, Andre; LEVY, Pierre. O futuro da internet. São Paulo. Paulus, 2010.

 

e-Links: 

https://www.knowledgeatwharton.com.br/article/a-contribuicao-dos-mooc-cursos-online-em-massa-e-abertos-para-a-educacao-latino-americana/

http://www.mooc-list.com/

http://www.ecampusnews.com/educator-resource-center/moocs-the-future-of-higher-education-or-a-passing-phase/

 

08/07/2014

COM PURPURINA É QUE SE LUTA

Filed under: Ralph Sarlo — Tags:, , — ralphsarlo @ 12:53

RALPH SARLO CABRAL

As lutas do Movimento LGBT têm aumentado amplamente nos últimos anos. A visibilidade dessa “minoria” é expressiva nas redes sociais. No Facebook, por exemplo, há inúmeras comunidades virtuais que se relacionam de alguma forma ao Movimento. Uma dessas comunidades é o grupo “PUC PURPURINA”, criado desde 2011 para o público LGBT da PUC-SP.
Ao acompanhar as postagens desse grupo, podemos perceber que uma de suas finalidades é a interação de seus membros na troca de assuntos de interesse comum. Os assuntos publicados no grupo são os mais variados, indo de simples notícias a grandes acontecimentos relacionados com as lutas do Movimento LGBT (não se limitando apenas a essa “minoria”, mas visibilizando também outras minorias sociais), se publica também brincadeiras e o que alguns classificam como “pornografia” ou “putaria” (vídeos, paródias, fotos eróticas, etc.). Essa última característica do grupo mostra que esse movimento não tem receio de se assumir emocional: é alegre, festivo, brincalhão, etc.
A interação dos membros no grupo denota uma proximidade entre eles,o que dá sentido ao termo, que foi muito usado no Orkut, COMUNIDADE. Os membros desse grupo demonstram se sentir em uma comunidade, um ambiente agradável, um local onde todos são iguais e respeitam suas diferenças, todos podem “falar sério” e “brincar” sem serem mal vistos ou mal falado, sem serem zombados. Há um sentimento de pertencimento no grupo, de identificação nos assuntos tratados, nos interesses, gostos, etc.
Os atores sociais dessa comunidade virtual, não se limitam a esse espaço, mas transitam livremente entre o virtual e o físico, como uma busca de constituir esses espaços de atuação em um só espaço, um espaço híbrido. Prova disso é a constituição, no ano de 2014, da Frente LGBTT da PUC-SP. Essa formação social surge da necessidade de se engajar intensamente na luta pelos direitos da comunidade LGBT, tanto dentro como fora da Universidade. Uma forma de conscientizar os interessados sobre as questões que envolvem a comunidade LGBT. Ou como disse Manuel Castells: “contribuir para a tarefa dos que lutam, correndo grandes riscos, por um mundo em que gostaríamos de viver.” (2013: 22).

 

Referências Bibliográficas

- CASTELLS, Manuel. REDES DE INDIGNAÇÃO E ESPERANÇA: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

06/07/2014

Software Livre e o capital digital

Filed under: Juliane Duarte — Tags:, , , — Juliane Duarte Prado @ 23:48

Software Livre e o capital digital

Os hackers1 estão presentes desde o início da internet, tanto que são parte constitutiva de sua estrutura técnica e das diretrizes da sua maior característica: a abertura, em diversos aspectos. Alguns grupos dentre esses experts na informática, após a popularização do computador para utilização doméstica, trataram rapidamente se apropriar dos recursos técnicos da programação, também novidade em meados 1980, para criar programas de computador comercializáveis, chamados softwares proprietários, protegidos por leis de propriedade intelectual e copyrights, a partir de demandas de mercado e possibilidades da nova tecnologia,inaugurando aquela que seria uma geração de jovens empreendedores milionários2 e diversas das empresas de sucesso conhecidas ainda hoje. O que possibilitou essas iniciativas inovadoras, além do faro comercial de alguns, foi a chamada “cultura hacker”, com suas premissas de comunicação aberta e transparente, comunicação livre e horizontal3, o conhecimento poderia ser (e de fato foi) compartilhado com muito mais eficiência (apesar da iniciativa ser eliminada em detrimento do lucro, em muitos casos), rendendo diversos frutos, tanto programas quanto iniciativas que se estenderam ao longo da internet nos anos seguintes.

Uma das iniciativas com elementos da cultura hacker que se mostra mais ativa atualmente é o chamado movimento de “Software livre”, que teve a primeira experiência em 1984 com RIchard Stallman, técnico do MIT que sozinho deu origem a essa iniciativa, por conta da iminência de fechamento (Reclamação de direitos autorais) da empresa ATT sobre o Sistema Operacional UNIX, além da contrapartida ao copyright, denominadocopyleft: basicamente, o direito de uso, cópia e distribuição de um produto (nesse caso, um programa) com a condição de fazer referência à fonte e manter a abertura do produto para futuros aprimoramentos. Dessa ideia, Stallman desenvolveu o GNU (GNU is nos UNIX), parte de um Sistema Operacional, derivado do UNIX e distribuído por copyleft4. Algum tempo depois, em 1991, Linus Torvalds, na época um estudante de 22 anos, pretendia utilizar o UNIX em seu computador, até então incompatível, solicitou na internet ideias e ajuda para programar um sistema operacional novo, depois chamado de Linux e que, juntamente com o GNU, se tornou GNU/Linux, um sistema Operacional completo, funcional e até então superior, tecnicamente, aos demais da época.

A partir dessas duas iniciativas, cria-se uma divisão, de certa forma entre o olhar “técnico” e “filosófico” da questão do Software Livre: Erica Raymond, posteriormente à iniciativa de Torvalds e como distinção à Fundação do Software Livre (ou Free Software Foundation, em inglês), cria o conceito de Software de Fonte Aberta (ou Open Source Software), ou seja, a crença de que a comunicação transparente, o espírito comunitário de colaboração eabrir o código-fonte (o “esqueleto” do programa) – chamado “método bazar” – é uma iniciativa tecnicamente superior ao “método catedral”, adotado pelas grandes empresas, que consiste em enclausurar informações, manter os programadores controlados, sob uma estrutura hierárquica rígida, pressão e supervisão constante. Nessa concepção o caráter motivacional, o sentido da colaboração e transparência – presente no movimento de software livre – é perdido, permanece a justificativa pragmática, que nem mesmo incentiva o uso de licenças abertas, mas exige apenas que a fonte primária seja citada.. Ainda assim é a principal motivação é o caráter social da construção.

Para além da discussão sobre superioridade de um ou outro modelo, ambos demonstram a possibilidade de trabalho coordenado conjunto, fora do ambiente da empresa, de forma voluntária e com motivações alheias ao dinheiro (não que esse elemento esteja descartado). Com o aumento da tecnologia e seu emprego na indústria e demais setores da sociedade, as pessoas tem tido mais tempo livre, que antes era consumido pela televisão e agora, com as redes digitais, pode ser utilizado de forma mais criativa, ou mesmo participativa, para projetos conjuntos e / ou de interesse coletivo, como defende Clay Shirky5. Ele utiliza o conceito de “excedente cognitivo” para designar a quantidade conjunta de tempo livre que a sociedade dispõe na atualidade, que poderia, e efetivamente já está sendo utilizado, não mais para assistir TV, mas, a partir das novas possibilidades de coordenação proporcionadas pela internet (mídias digitais sociais, comunicação instantânea, etc), a realização de trabalho socialmente relevante. Um dos aspectos para o sucesso dessas iniciativas é a cultura do grupo: estar inserido em um grupo que valoriza o compartilhamento de informações e a construção coletiva do conhecimento é um incentivo para essas práticas, é recompensador para aqueles que partilham desses valores e traz resultados muito mais concretos do que o enclausuramento de informações6.

Os hackers mais ativos no desenvolvimento do Software livre, em geral, possuem uma ética própria que envolve, além da cultura do compartilhamento, a valorização da autonomia e o desrespeito a autoridades muito rígidas7, além de uma rede colaborativa que age em torno de projetos comuns, onde eles discutem, coordenam o trabalho e chegam a consenso (que em certos momentos não é possível, por motivos técnicos e/ou ideológicos; é quando ocorre uma ruptura no grupo, em que uma parte continua no projeto e a outra parte dá inicio a outro, muitas vezes semelhante ao anterior. Por isso existem tantas distribuições de Sistemas Operacionais disponíveis).

 

linux

 

O Software livre, enquanto iniciativa, é muito utilizado por movimentos sociais e jovens estudantes, críticos do sistema capitalista atual, principalmente após as denuncias de espionagem por parte dos EUA, cresceu exponencialmente a desconfiança da sociedade sobre o destino de suas informações pessoais, que são constantemente solicitadas por grandes empresas da internet. O Movimento de Software Livre sempre teve e mantém uma grande preocupação com a comercialização da internet e a interferência do governo nesse processo, considerando os clássicos da literatura 1984, de George Orwell e Admirável Mundo Novo, de A. Huxley, que previam realidades de total controle por parte dos governos. O que ocorre na realidade é a comercialização de dados dos usuários, para fins comerciais e na contrapartida, diversos movimentos atuantes no sentido de evitar essa interferência, garantindo o direito de privacidade. Também desde os primórdios da internet, algumas organizações (civis)8 fiscalizam as empresas de forma que elas não possam, de forma alguma, privatizar e eliminar qualquer um dos seus elementos primordiais: liberdade, abertura, descentralização.

A cultura hacker, exemplificada em seu potencial máximo pelo movimento de Software Livre, desde sua origem já passou por diversos desafios, entre a iniciativa de código aberto, a atual diminuição do numero de adeptos, em relação ao software proprietário (muitas vezes preferido pelos usuários). A distribuição Linux mais famosa atualmente, Ubuntu, tem feito acordos comerciais bastante duvidosos em relação à filosofia de seus usuários, ou mesmo da ética do Software livre: Tem mantido parte de seu desenvolvimento em segredo (tática de software proprietário, nem um pouco participativa) e fornece dados de pesquisa dos usuários para empresas como Amazon utilizarem em publicidade dirigida (conhecido com spyware)9. Esse e outros desafios mostram que a liberdade promovida pelo software livre muitas vezes entra em conflito com os interesses comerciais das maiores empresas do ramo, ou mesmo aquelas que querem adentrar esse mercado, necessitam fazer algumas concessões ideológicas. Ainda assim, o Software livre segue sendo desenvolvido, largamente utilizado pela juventude contra hegemônica como ferramenta antiespionagem.

Bibliografia

AnahuacGeração Ubuntu: a morte do movimento Software Livre no Brasil. http://www.anahuac.eu/?p=335 Acesso em 19 de maio de 2014

Castells, Manuel. A galáxia internet: Reflexões sobre internet, negócios e sociedade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbekian, 2004

Himanen, Pekka. A ética dos hackers e o espírito da era da informação.Rio de Janeiro, Editora Campus, 2001

Raymond, Eric. “Como ser um hacker” https://linux.ime.usp.br/~rcaetano/docs/hacker-howto-pt.html Acessado em 18 de maio de 2014

Shirky, Clay. A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro, Zahar, 2011

World Wide Web Consortium: Quem somos. http://www.w3c.br/Sobre Acesso em 19 de maio de 2014

 

 

1 Segundo Eric Raymond: “Hackers resolvem problemas e constróem coisas, e acreditam na liberdade e na ajuda mútua voluntária. Para ser aceito como um hacker, você tem que se comportar de acordo com essa atitude. E para se comportar de acordo com essa atitude, você tem que realmente acreditar nessa atitude”. https://linux.ime.usp.br/~rcaetano/docs/hacker-howto-pt.html Acessado em 18 de maio de 2014

2 Denominada por M. Castells como “cultura empreendedora”, uma das quatro vertentes constituintes da internet. Castells (2004), pag 55-56

3 Sobre a cultura hacker, ver Castells (2004), pag 60

4 Castells (2004) pag 30-31

5 Shirky (2011) pag 14 -15

6 Vide exemplo dos alquimistas e a Universidade invisível. Shirky (2011) pag 123 – 126

7 Himanen (2001) pag 20-21

8 um exemplo de organização é a W3C (World Wide Web Consortium), organização internacional liderada por Tim Berners-Lee e desenvolve diretrizes a nível internacional para a internet. http://www.w3c.br/Sobre

9 http://www.anahuac.eu/?p=335 Acesso em 19 de maio de 2014

O ativismo mediático pelos herdeiros Mayas

Filed under: Juliane Duarte — Tags:, , , , — Juliane Duarte Prado @ 23:29

Ativismo midiático pelos herdeiros Mayas

zapatista

 

Em 1994 não só a política como o que ainda se construía como ciberativismo presenciou um marco. Um movimento social desconhecido pelo mundo e posto as cegas durante anos pelo governo mexicano, se levanta e marcha das florestas de Lacandona rumo a uma visibilidade internacional à desigualdade e descaso governamental sofrido pela população indígena desfavorecida socialmente do México.

Articulados em comitês representativos de diferentes comunidades indígenas, o Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN) se opunha à política de abertura ao capital estrangeiro norteamericano, ao neoliberalismo econômico e ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), em busca de melhores condições de moradia, educação, saúde, alimentação, igualdade e justiça.

Sobrevivendo em condições de extremo abandono e sem nenhuma assistência do Estado mexicano, e através de uma forma de governo que não primava pela participação popular e democrática de todos os cidadãos, mas antes privilegiava setores ricos e de forte poder aquisitivo, comunidades, em sua maioria descendentes da civilização maia, se organizaram política e militarmente frente ao Estado mexicano propondo uma revolução armada.

Sem uma participação efetiva na tomada de decisões governamentais, o movimento zapatista, movido por inúmeras tentativas de tomada do poder e implementação de um modelo de sociedade que contemplasse à diversidade existente na população e território mexicano, toma posse de várias sedes municipais da esfera política e militar almejando mudanças drásticas na política do país.
No entanto e, vitoriosa sobretudo por essa característica, o movimento zapatista estava sobretudo disposto a denunciar e pautar suas ações por uma mobilização nacional e mundial que revelasse as mazelas sociais e díspares como o governo vinha tratando seus cidadãos. Por meio de acusações e pelo diálogo estabelecido através dos veículos de comunicação dos mais diversos (panfletos, e-mail, fax, obras plásticas e teatrais etc), o movimento rompe com o discurso hegemônico dos grandes monopólios da comunicação mexicana.

Pela primeira vez na história de luta das populações indígenas e mestiça, e tomados por um ativismo que primava pelo que seria tratado como uma arena discursiva radical, a fala que se propagava pelo território mexicano e posteriormente mundial, era marcado por um grupo de opinião discursiva não governamental (Downing, 2002: 295).

Tal fato abriu espaço para novas alternativas de discussão, ação e até mesmo análise do movimento. A proposta do movimento se pautava mais em criar redes de comunicação alternativas que se defrontassem com os discursos e informações difundidas pelas mídias dominantes. Ação que se propagou pelo mundo todo e que chamava a atenção aos acontecimentos ocorridos em Chiapas (Estado onde o movimento zapatista concentrou suas ações de guerrilha).

Congregando grupos minoritários enxergados pelo movimento como também oprimidos como mulheres, homossexuais, agricultores, ou negros remanescentes do processo civilizatório espanhol, tiveram uma atenção específica e direcionada pelo movimento zapatista, que traçava redes de interação discursiva ao cenário de dominação posto pelo governo mexicano.

Com uma estruturação organizacional nova e pensada de forma a se emponderar radicalmente das tecnologias universais, os zapatistas atraíram a esse arena de interação discursiva, membros da elite política e intelectual a construir um pensamento intercultural que pensasse as múltiplas identidades étnicas e culturais existentes não só no México, mas em qualquer nível local, nacional e/ou mundial.

Advindos de um legado de lutas pelo reconhecimento e valorização da cultura indígena maia, o movimento zapatista se inspira até hoje em Emiliano Zapata, que liderou uma luta pela reforma agrária culminando na Revolução Mexicana em 1910. No entanto sua forma e estratégia de transformação social se dá a partir de 1994, por uma organização que não reconhece líderes, hierarquias ou mesmo um centro diretor. Muitas dessas características que não são puramente teóricas mas também empíricas, dão início ao vislumbramento por diversos movimentos sociais espalhados pelo mundo de um modo de luta e ação revolucionária pela comunicação alternativa e participação política, característica nunca antes concebida antes do ocorrido em Chiapas.

Mesmo com a falta de infra estrutura e heterogeneidade dos idiomas falados pelos zapatistas, a forma de articulação através de mídias alternativas que denunciassem e comunicassem a omissão, violência e descaso praticados pelo exército e governo mexicano ultrapassou o monopólio do discurso existente e promoveu novas estratégias de enfrentamento e adesão da sociedade civil à causa zapatista. Fazendo com que, o movimento de resistência ganhasse prestígio e atenção mundialmente. Decorrente dessa ação, mesmo após a derrubada do EZLN pelos militares do governo, os líderes políticos mexicanos se viram pressionados pela comunidade internacional.

Como marco do ciberativismo, o uso das tecnologias na comunicação alternativa pelo movimento zapatista, mostrando o cotidiano das comunidades indígenas em busca da valorização de sua cultura e luta por suas terras remanescentes da civilização pré colombiana, frente aos interesses estrangeiros e de grandes latifundiários, revelando à sociedade os malefícios decorrentes de uma política imperialista norte americana no território mexicano, defrontado com as desigualdades sociais sofridas pela população pobre e afins, suscitou nos movimentos sociais de todo o mundo um novo prisma de aproximação de discursos ideológicos e políticos para com a esfera pública, criando um novo espaço de troca e percepções.

Nesse sentido e dado o caráter de resistência do movimento zapatista, a comunicação rompeu com estruturas dominantes de poder no âmbito do acesso à informação que ocultam e, consequentemente, não condizem à realidade social da maioria da população. Por meio dessa iniciativa foi possível gerar estratégias de diálogo em um campo virtual que se desenvolvem até hoje como forma de transformação social.

“Território Zapatista. Aqui manda o povo, e o governo obedece!”

 

ezln

 

 

 

 

 

 

Bibliografia: Downing, John D. H. “Mídia Radical”. A internet radical. São Paulo: Editora SENAC, 2002.

http://www.oolhodahistoria.ufba.br/03leon.html

02/07/2014

Então não é pra ir ou é? – Eventos nas Redes sociais e seus objetivos

Filed under: Alessandra Borges dos Santos — Tags:, , , — oliriaribeiro @ 10:56

As redes sociais têm um papel crucial para a comunicação de seus usuários com outras pessoas. É considerado um meio rápido e eficaz de contato. Nela também é encontrada a liberdade de expressão de qualquer indivíduo, seja para divulgação de trabalhos, eventos, críticas e opiniões sobre cultura, comportamento, religião e política, publicação de notícias, compartilhamento de informações.

Sendo assim, as redes sociais são espaços de livre expressão e de usos diversificados diferentemente de outros veículos convencionais de comunicação que mantém uma hegemonia sobre o poder de publicação e divulgação das informações, como televisão e jornais. Pela primeira vez um veículo de comunicação permite que esta ocorra de muitos com muitos. Isso possibilita uma produção de diálogo diferenciada sobre os demais meios de comunicação. Os processos dinâmicos de rede são efeitos colaterais dos processos de interação entre os indivíduos nas redes. As redes por sua vez estão condicionadas a processos de agregação, separação, caos, ordem e ruptura.

Por isso, esses espaços virtuais ficam muitas vezes com uma acumulação de informações pessoais e públicas, opiniões sobre diversos assuntos, dados e notícias compartilhados. Muitas vezes por conseqüência disso, muitas coisas passam sem serem percebidas. É preciso encontrar maneiras de serem vistos nesse emaranhado de informações e de despertar interesse dos usuários.

Foi encontrada uma nova forma de divulgar opiniões e propiciar maior adesão à elas, os eventos criados no facebook são um exemplo disso. A ferramenta de criar evento tradicionalmente usado para marcar reuniões, festas e manifestações começa a ser usado para expor opiniões e também humor.

Para verificar esse novo fenômeno foi feita uma pesquisa rápida na rede, dentro do meu próprio perfil fui convidada para diversos eventos como estes mencionados como, por exemplo: “Festa de fim de carreira do Aécio”. Isso na realidade não é uma festa que vai realmente acontecer e sim uma forma de manifestação de rejeição ao político citado. Existem outros eventos no mesmo perfil que abrangem outros políticos, como a atual presidenta Dilma Rousseff.

Esse tipo de expressão só toma grande repercussão com a declarada presença de vários usuários da rede e com essa confirmação acaba existindo um maior número de divulgação através do compartilhamento e visualização do evento no feed de noticias¹ dos amigos do usuário. Isso é o sistema de cooperação e processo formador de estruturas sociais através de interesses e finalidades do grupo (RECUEDO, 2008).

Assim como eventos com demonstrações de opiniões políticas são facilmente aderidos na rede, os de humor se espalham com a mesma facilidade e rapidez pela internet, divertindo os usuários com trocadilhos e piadas.

Não sabemos pra onde à evolução da internet caminha, porém já sabemos que as redes não ficam em estado de pausa sem mudança nenhuma. As redes são dinâmicas e estão em contínuo processo de mutação. Essas transformações nas redes sociais, são largamente influenciadas pelas interações entre os atores no mundo virtual.

 

NOTAS

1 - Espaço onde todas as publicações relacionadas a você, seus amigos e paginas que são de seu interesse aparecem.

 

BIBLIOGRAFIA

 

CASTELLS, Manuel. A galáxia internet: Reflexões sobre internet, negócios e sociedade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2004

LEMOS, Andre; LEVY, Pierre. O futuro da internet. São Paulo, Paulus, 2010

MORAES, Dênis de. Comunicação Alternativa, Redes Virtuais e Ativismo: Avanços e Dilemas In Revista de Economía Política de Economia Política de las Tecnologías de la información y Comunicación www.eptic.com.br, vol. IX, Nº 2, mayo-ago. 2007.

RECUEDO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre. Editora Meridional, 2009

 

Radio e Internet: Parceria ou rivalidade?

O radio é um dos sistemas de comunicação mais antigo e uns dos meios de comunicação que mais se adaptou ao longo das evoluções tecnológicas no meio das mídias de informação e entretenimento.

Com a expansão da internet tudo poderia ter ido por água abaixo, notícias sendo vistas instantaneamente ou apenas alguns segundos após seu acontecimento; a possibilidade de visualizar matérias quantas vezes se quisesse, são atrativos que antes do advento da internet e da interligação entre os veículos de comunicação, não eram possíveis. Antes os sucessos musicais se davam, nas paradas de rádio, agora vídeos caseiros pululam na internet, e fazem sucesso pelo seu número de compartilhamento e/ou visualizações em espaços como o youtube, sites como estes, dão acesso a uma infinidade de vídeos, que podem ser tanto lançamentos musicais de bandas ou cantores consagrados como de amadores, há vídeos de entretenimento, tutorais entre outros. Vendo a partir desta perspectiva, poderia se supor que as rádios estariam vivendo uma era de decadência, como um barco se aproximando da praia, mas verifica-se que isso não ocorre. Portanto, fica a questão: com tantas formas de entretenimento e informação proporcionados pelo meio digitais como preferir a rádio?

O interessante da questão é que essa nova Tecnologia de Informação e Comunicação advindas pelo uso da internet, se destacam hoje, justamente por não excluírem outros veículos de informação, com isso se enriquecem ainda mais ao agregar os seus elementos dentro de sua rede. Assim verifica-e que o radio adaptou-se a internet, e ambos tornam-se extensões um do outro. Criaram-se aplicativos nos celulares para ouvir estações de radio; perfis nas redes sociais onde as emissoras podem trabalham com outros recursos como, utilização: de imagens; notícias e matérias vinculadas conforme o perfil e interesse do ouvinte, conteúdos estes que podem ser acessados somente pela sua paginas na internet. Além destes recursos, os programas das emissoras são disponibilizados para serem retransmitidos nos seus sites, para quem perdeu ou deseja rever alguma matéria e por fim a própria rádio é transmitida ao vivo via internet. Esse novo modelo pode ser chamado de modelo multimediático, onde as emissoras de rádio usam a internet como um suporte adicional para a sua programação. Portanto verifica se que, assim como a internet possui um potencial de revitalizar os espaços urbanos (PÉREZ TAPIAS), ela atua da mesma forma em outros veículos de informação, modificando as experiências vívidas pelos seus ouvintes, telespectadores ou internautas.

Essas plataformas são uma estratégia de conquista e adesão de audiência para as rádios, seja na sua versão on-line ou off-line, ao propor aos seus ouvintes e internautas promoções, notícias sobre bandas e artistas que tocam na emissora, perfil dos locutores e a disponibilização de playlists, Tudo isso proporciona uma nova vida as rádios, que ao se unir à internet, transforma à rádio.

Todas essas mudanças tem aceitação do público e podemos dizer que até conquista um novo público, que mesmo não tendo o hábito de ouvir rádio, vem a conhecê-la, já que ela está dentro da internet. Podemos citar como exemplo a emissora 89 – A Rádio Rock, na sua volta em 2012 (operou por alguns anos com programação pop) além de uma programação especifica de um gênero, ela tomou todas as providências de adequação ao meio digital.

Para comprovar a eficiência de divulgação e interação dos ouvintes com os novos canais de comunição da rádio, podemos verificar numa breve pesquisa alguns números da radio 89; Facebook – 831.718 seguidores; twitter – 29 mil seguidores: Aplicativo da radio: entre 100 mil e 500 mil downloads.

Sendo assim, com a internet à rádio reúne música, informação, publicidade, e, paralelamente utiliza de outros componentes como animações e vídeos. Criando-se assim um novo jeito de se pensar o conceito de rádio e para onde caminha a sua evolução.

 

BIBLIOGRAFIA

CASTELLS, Manuel. A galáxia internet: Reflexões sobre internet, negócios e sociedade. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian, 2004

_________, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro, Zahar, 2013

LEMOS, Andre; LEVY, Pierre. O futuro da internet. São Paulo. Paulus, 2010

PÉREZ TAPIAS, José Antonio. Possibilidades de humanização e risco do “sem-sentido” no mundo digital. In.: Internautas e náufragos: a busca do sentido na cultura digital. São Paulo. Loyola, 2006

SHIRKY, Clay. A cultura da participação: Criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro, Zahar, 2011

27/06/2014

Partido Pirata: A Cultura digital se insere na política

Filed under: Igor de Andrade — Tags: — igorandrade @ 00:33

O Estado-Nação é um fenômeno político surgido a não mais de 400 anos, teve como objetivo estabelecer uma unidade, a princípio política e territorial, depois social e cultural, em um contexto econômico de desenvolvimento industrial e utilizou largamente a mídia impressa (maior tecnologia de comunicação da época) para essa finalidade (LEMOS e LEVY, 2010: 209), cuja lógica de funcionamento se mantém quase inalterada até hoje, depois de inúmeras mudanças em todos os âmbitos da sociedade: desde a forma de comunicação entre as pessoas até a percepção sobre a função do Estado, enquanto instituição política de representação social, passando pela criação de novos espaços (presenciais ou virtuais) de atuação social (MITCHELL, 2002: 57).
Em todo esse período da história, o que se alterou tão pouco quanto a estrutura do Estado foi sua forma de articulação com o restante das instituições na sociedade, caracterizada por Castells como “redes de poder”, em que “O poder é exercido através do monopólio da coerção (o monopólio da violência, legítima ou não, pelo controle do Estado) e / ou pela construção de significado na mente das pessoas, através de mecanismos de manipulação simbólica” (CASTELLS, 2013: 10). Essas redes são formadas a partir de outras organizações da sociedade, juntamente com o aparelho do Estado e seu útil monopólio da violência, com a finalidade de aplicar e/ou consolidar determinados interesses, pois “Aqueles que detém o poder constroem as instituições segundo seus valores e interesses” (idem). As articulações entre redes são das mais diversas naturezas, e se formam entre instituições financeiras, industriais, culturais, meios de comunicação (entre outros) e o aparelho do Estado (poder legislativo, judiciário, executivo) a partir de diversos interesses das partes. Dessa forma o dinheiro circula na esfera política e o poder político, entre as organizações privadas.
A partir da revolução digital da segunda metade do séc. XX, que traz a integração de cidades, serviços, comunicações e altera o paradigma de produção (industrial) vigente até então. O conhecimento passa a ser concebido e utilizado como mercadoria, que produz mais mercadoria através de inovação tecnológica (CASTELLS, 1999: 50), científica e estabelece a chamada “propriedade intelectual”, mecanismo que garante os direitos de exploração de inovações tecnológicas (invenções físicas, como máquinas e novas tecnologias) e, no caso da indústria cultural, os chamados “direitos autorais”, ou a propriedade sobre ideias e demais produções culturais (individuais ou coletivas) (DOWNEY, 2004: 179 – 180), juridicamente legitimado através da pressão de setores da sociedade pela valorização monetária do conhecimento.
Considerando-se as novas formas de comunicação e intercambio de informação proporcionada pela internet, como e-mail, blogs, listas de discussão e principalmente os modelos de compartilhamento peer-to-peer (P2P), mais conhecido como bittorrent, onde arquivos de áudio/ vídeo são compartilhados livremente, fornecidos por e destinados para outros usuários , representa a “objetivação técnica do espaço de significação comum da humanidade” (LEMOS e LEVY, 2010: 201), ou um espaço virtual de infinitas possibilidades de produção / reprodução e apropriação de cultura e conhecimento, através do sistema de hiperlinks e dos infinitos espaços atuais, ou seja, formas de classificação de acordo com algum critério, promovendo sua constante atualização. Enfim, na internet se encontra o potencial de reunir a noosfera (conjunto de todos os símbolos e ideias produzidos pela cultura humana) (idem: 203), possibilitando uma efervescência cultural nunca antes ocorrida na história da humanidade.

The Pirate Bay: maior site de compartilhamento P2P do mundo.

Dada a pressão da indústria cultural, representada pelos órgãos jurídicos em criminalizar o livre compartilhamento de conhecimento em suas diversas formas multimídia na internet, em 2006 surge na Suécia o primeiro Partido Pirata, como um movimento de resistência civil a essas prátcas. Se apropriam da alcunha de “pirata” e toda a conotação dos antigos ladrões dos mares, para transformar a expressão no símbolo da era digital: se “navega” na internet, a troca de arquivos não autorizado é chamada pejorativamente de “pirataria“¹. Assim, todos que utilizam a internet como ambiente de compartilhamento são potenciais piratas, que não pagam pela propriedade intelectual que foi violada. Esse novo partido, nas palavras do fundador, Rick Falkvinge, sobre o contexto de fundação do Piratpartiet:
“Os políticos tinham posições unilaterais sobre a questão dos direitos autorais. Só ouviam a indústria do entretenimento e criavam leis mais e mais repressoras. Eu pensei: só com argumentos e debates será impossível fazê-los nos entender. A única maneira, então, era agir diretamente e disputar votos nas eleições. Ignorar os políticos, que não nos ouviam, e falar diretamente com os eleitores”².

Logomarca: Partido Pirata do Brasil

Para enfrentar a rede de interesses em torno da indústria cultural e a crescente mercantilização do conhecimento, compreendeu-se a necessidade de adentrar na política partidária para articular as próprias redes de enfrentamento, em conjunto com movimentos sociais, mídia independente e a juventude que cresceu inserida na cultura digital, chamado por Castells de redes de contra poder, em que atores desafiam as instituições com o intuito de modificá-las, no caso da democracia, por conta da crise de representatividade que se agrava cada vez mais (CASTELLS, 2013: 10). Esse trabalho de resistência e mudança é realizado através de mecanismos de comunicação alternativa: formas de produção de informação que envolvem a horizontalidade nas decisões editoriais, transparência na produção do conteúdo, ambientes compartilhados e participativos, com o objetivo de “Construir espaços de afirmação de óticas interpretativas críticas e de práticas jornalísticas cooperativas, com a finalidade de defender a diversidade informativa e valores éticos” (MORAES, 2007: 3), métodos muito diferentes daquelas praticadas pela grande imprensa. Essas novas práticas se extendem a outras esferas da vida, como a produção cultural colaborativa, a criação de redes autônomas que envolvem troca de experiência e até bens materias, novas formas de relacionamento da sociedade em relação à cidade, aos espaços públicos e às esferas de pder, entre outros. Enfim, os novos atores da sociedade, que não mais se sentiam representados por políticos que mercantilizam o espaço público, as empresas privadas corruptoras e práticas que parecem ter perdido a dimensão social da vida.
O Partido Pirata, além de novas percepções sobre a propriedade intelectual, apresenta práticas inovadoras em seu funcionamento interno: não existem hierarquias rígidas na estrutura do partido, incentiva-se a participação direta, facilitada por sistemas online (como o LiquidFeedback), com sistemas de comentários, facilitando a discussão e aprimoramento das propostas por todos os membros, distribuindo o poder de decisão entre todos. O partido propõe também um novo sistema chamado “democracia líquida“, que já vem sendo utilizado em diversas cidades e alguns países, se trata de um misto entre a democracia direta e a representativa, como parte do compromisso programático de “aprimorar a democracia com uso de ferramentas de consulta direta propiciadas pelas tecnologias de comunicação”³.
Por conta das recentes denúncias sobre a espionagem dos EUA no ambiente digital e o fornecimento de dados pessoais por parte das empresas de internet, além de propostas de leis que prevêem duras punições para a pirataria online ( Lei de decência nas comunicações de 1995, Lei da Espionagem de 1996 e ACTA, SOPA, PIPA, mais recentemente, além da Lei de crimes digitais, no Brasil) as pautas do Partido Pirata têm recebido maior atenção por parte da sociedade, que percebeu a importância da garantia de seus direitos digitais (DOWNEY, 2004: 278 – 280).
No Brasil, o Partido Pirata surgiu em 2007 ainda não foi institucionalizado como partido político, mas desde sempre atuou como um coletivo de militância pela inclusão digital, direitos humanos, de liberdade e privacidade na internet e inclusão digital, além da efetiva participação popular nas decisões políticas e novos modelos de organização institucional, mais descentralizados e horizontais.
A existência desse tipo de movimento (social e político) ao redor do mundo sinaliza a necessidade de reformulação da instituição político-partidária atual, que beneficia a muito poucos e não promove uma real participação, mesmo com os avanços tecnológicos e possibilidades reais de extensão da cidadania. Esse tipo de enfrentamento definirá o futuro da internet, a forma como ela será construída e gerida a partir de então, e mostrará se suas atuais possibilidades serão de fato aproveitadas, o que acarreta profundos questionamentos sobre a democracia, as fontes de poder que emanam da sociedade e a forma como a cultura e o conhecimento devem ser produzidos pela humanidade.

Notas:
¹ Partido Pirata do Brasil: Cartilha Pirata. Disponível em: http://www.calameo.com/read/000874400a75b875e7828
² http://super.abril.com.br/cultura/deputado-pirata-446697.shtml
³ http://partidopirata.org/documentos/programa/

Bibliografia:
Castells, Manuel. Sociedade em rede. São Paulo, Paz e terra, 1999
______________. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro, Zahar, 2013
Downey, John. Mídia radical: rebeldia nas comunicações e movimentos sociais.São Paulo, Senac, 2004
Lemos, André; Levy, Pierre. O futuro da internet. São Paulo, Paulus, 2010
Mitchell, William J. E-topia: a vida urbana – mas não como a conhecemos. São Paulo, Senac, 2002
Moraes, Denis de. Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas. Revista de economia e política de las tecnologias de a informacion y comunicacion vol IX, n°2, mayo – ago / 2007.

Novas estratégias para contratação? Habilidades no uso da Internet e o gerenciamento de privacidade online durante a procura de emprego.

Filed under: Vinicius Meneses — Tags:, , — Rita Alves @ 00:19

por Eszter Hargittai e Eden Litt – Northwestern University

FONTE: Hargittai, E. & Litt, E. (2013). “New Strategies for Employment? Internet Skills and Online Privacy Practices during People’s Job Search”. IEEE Security & Privacy. 11(3):3845.

Tradução de Vinícius Pinho Meneses

De que forma o know-how no uso da Internet está relacionado com a tendência dos usuários de redes sociais em alterarem suas configurações de privacidade? Esta pesquisa tem por objetivo analisar essas práticas com jovens adultos, investigando de que forma os diferentes aspectos demográficos influenciam nas práticas de privacidade, quando se trata do gerenciamento dos profiles considerando às questões profissionais envolvidas nesses ambientes digitais.

Estão em voga, ultimamente, inúmeros casos de pessoas que perdem seus empregos devido ao conteúdo que compartilham em sites de redes sociais. (Ver http://thefacebookfired.wordpress.com, um blog dedicado a documentar esses casos). Os empregadores têm considerado cada vez mais estes serviços como instrumentos para fiscalizar seus funcionários e examinar os futuros candidatos a emprego.[1] Uma recente pesquisa em ambientes de trabalho constatou que colegas de trabalho estão fazendo julgamentos tanto profissionais quanto pessoais com base em profiles das redes sociais.[2] Enquanto alguns usuários utilizam as ferramentas disponíveis nesses sites para alterar as configurações de privacidade de seus profiles,[3] [4] a propagação cada vez maior do compartilhamento de conteúdo com “públicos não-intencionais” têm acarretado em consequências prejudiciais à carreira e a reputação dos profissionais.[5] Setenta por cento dos recrutadores e profissionais de Recursos Humanos relataram terem eliminado candidatos a emprego por conta de algo postado nas redes sociais.[6]

Será que os usuários estão considerando os empregadores como um público presente nas redes sociais, refletindo criticamente sobre o que compartilhar e o que não compartilhar? Estão tomando medidas proativas para proteger suas informações pessoais?

Esta pesquisa foi realizada com uma amostra de jovens adultos nos estágios iniciais de suas carreiras, a fim de investigar de que forma os aspectos demográficos e as habilidades específicas de privacidade online se relacionam com as orientações-reputações de carreira profissional.

 

Aspectos Demográficos e Gerenciamento de Privacidade

As recentes pesquisas sobre as “desigualdades digitais” indicam que os aspectos demográficos, tais como raça, etnia e gênero, influenciam o modo como os indivíduos se apropriam da Internet, incluindo sua adesão para uso das redes sociais. Por exemplo, uma pesquisa realizada em 2007 com um grupo diverso de estudantes, apontou que indivíduos brancos e asiático-americanos eram mais propensos a utilizar o Facebook, enquanto estudantes latino-americanos eram mais propensos a utilizar o MySpace.[7] Uma recente pesquisa etnográfica que analisou os diferentes usos das redes sociais com jovens e adolescentes relatou resultados similares.[8] As diferenças de adesão e utilização das redes sociais podem ocorrer, em parte, porque os diferentes grupos étnicos atribuem diferentes usos e significados para estas ferramentas.[9] Por exemplo, nossa pesquisa de 2008 realizada com diferentes grupos étnicos indicou que os afro-americanos tendem a conceber as redes sociais como espaços de auto-expressão, já os brancos em sua maioria percebem como instrumentos de auto-promoção, e asiático-americanos tendem a caracterizar como espaços de auto-reflexão e fóruns de diary-like.[10] Curiosamente, todos os grupos étnicos, exceto os afro-americanos, demonstraram preocupações sobre os “públicos potencialmente indesejados”.

O gênero também tem sido associado a diferentes usos das redes sociais, e, mais especificamente, com o gerenciamento de privacidade, a maioria das pesquisas indica que as mulheres são mais propensas a se envolver nestas praticas, como por exemplo, alterar suas configurações de privacidade e desmarcar as fotos em seu profile.³ Tendo em vista que nossa pesquisa anterior evidencia que o perfil dos usuários são fatores importantes no que se refere aos diferentes usos das redes sociais, consideramos de que forma os aspectos demográficos influenciam as práticas de privacidade, quando se trata do monitoramento dos profiles considerando os atuais ou futuros empregadores.

 

Habilidades na Internet e o Gerenciamento de Privacidade

Outra área de investigação, que é muitas vezes negligenciada pelas pesquisas científicas, é o estudo das habilidades específicas (know-how) dos usuários da Internet e das redes sociais.[11] [12] Privacidade entende-se aqui por “fluxos apropriados de informação pessoal”.[13] Cada vez mais os usuários despendem esforços a fim de gerenciar suas informações pessoais em seus profiles, tendo em vista seus contextos sociais específicos e sua “audiência”.[14] [15] Por exemplo, por conta do estigma de idade, os candidatos mais velhos que temem a discriminação por idade podem, durante o processo de contratação, utilizar técnicas para mascarar sua idade, como por exemplo, alterar o formato de ordem cronológica pelas as categorias “funcionais”, ocultar as experiências de trabalho mais antigas, modificar sua aparência (por exemplo, cortando o cabelo) e etc.[16] Quando se trata de privacidade em redes sociais, esta pesquisa aponta que os usuários se envolvem em uma variedade de estratégias, tais como práticas de esteganografia, às estratégias tecnológicas tais como excluir ou remover o conteúdo de seus profiles.[17] As pessoas já se esforçam para preservar sua privacidade e suas reputações profissionais, mas os sites de redes sociais apresentam novos desafios. Embora normalmente gerenciem suas informações pessoais e profiles tendo por base seu contexto social específico e sua “audiência”, as redes sociais tendem a agregar contextos que antes estavam separados, fazendo com o público efetivo (audiência) fique difícil de determinar.[18] Os usuários estão cada vez mais sobrecarregados com a tarefa de monitorar sua privacidade online nos limites destes ambientes digitais, que são inicialmente são “públicos” por padrão e mudam constantemente (e muitas das vezes sem avisar). Os usuários das redes sociais devem permanecer em sintonia constante com o que está disponível com as ferramentas de privacidade, ao mesmo tempo saber como tirar proveito de tais ferramentas de maneira significativa.

Além disso, por conta da popularidade das redes sociais, os usuários comuns muitas vezes interagem com um público muito mais amplo e mais diversificado do que estão acostumados a encontrar fisicamente. O gerenciamento de privacidade nestes ambientes requerem habilidades técnicas e sociais específicas a fim de levar os usuários a tomar decisões conscientes sobre o que compartilhar e do que não compartilhar, bem como a forma de permitir que a tecnologia ajude a configurar as preferências de privacidade. Embora tais habilidades de privacidade online desempenhe um papel importante, teoricamente, nas decisões e comportamentos adotados para o controle da privacidade dos usuários, poucas pesquisas científicas têm investigado como estas habilidades específicas podem influenciar em tais processos. Um estudo que considerou as habilidades no uso da Internet apontou que estudantes universitários usuários do Facebook que tem conhecimentos de Internet mais altos são mais propensos a alterar suas configurações de privacidade do que aqueles menos propensos em tais habilidades. Um estudo sobre os adultos usuários da Internet apontou que a familiaridade técnica e a experiência na rede influencia como eles gerenciam sua segurança e privacidade online.[19] Embora estes estudos contribuam para estabelecer uma relação entre o know-how no uso da Internet e as práticas de privacidade, realizamos aqui uma abordagem mais refinada, investigando a privacidade em contextos sociais e suas audiências. Além disso, com base em nossos trabalhos anteriores, construímos uma medida específica para mensurar os problemas de privacidade online.

 

Dados e Métodos

Para compreender a relação entre o perfil dos usuários e as práticas de gerenciamento de privacidade, esta pesquisa realizou um levantamento de dados com um grupo diversificado de jovens adultos.

 

Coleta de Dados

Esta pesquisa realizou uma coleta de dados com 545 jovens adultos administrados através do correio postal no verão de 2012. Este foi um estudo de acompanhamento de uma pesquisa anterior realizada na primavera de 2009, com uma amostra representativa de alunos do primeiro ano da Universidade de Illinois, Chicago (UIC). Nós escolhemos UIC devido à composição diversa de seu corpo discente. A primeira coleta de dados ocorreu em 2009, em colaboração com a “First-Year Writing Program” da UIC, que supervisiona a instrução de um curso universitário. Trabalhar com este programa garantiu que a pesquisa não foi tendenciosa com os estudantes que possam estar menos propensos a fazer um curso particular.

No primeiro ano do estudo, os alunos responderam manualmente o questionário em sala de aula. Um questionário online discriminaria as pessoas que são menos propensas ao manuseio da Web, com acesso menos privado a Internet, e que se sentem menos confortáveis com ​​preenchimento de formulários on-line. Por razões semelhantes, a coleta de dados realizada em 2012 também contou com questionário preenchido manualmente. Enviamos as pesquisas aos 2.009 entrevistados que tiveram, durante o estudo inicial, consentimento em serem contatados novamente (mais de 98% entre eles). No primeiro levantamento de dados, os entrevistados não receberam quaisquer incentivos. Em 2012, oferecemos um presente-certificado de $25,00 para compras na amazon.com.

Nosso conjunto de dados iniciais de 2009 incluiram respostas de 1.115 alunos do primeiro ano. Das 92 seções de cursos no programa, 86 participaram do estudo, uma taxa de participação de 93,5% por seção. De todos os alunos matriculados na classe, 80,5% responderam ao questionário. Em 2012, tivemos permissão para acompanhar informações de contato de 1.066 pessoas, por uma recusa de 4% a partir da amostra original. Para 17 pessoas, e-mail e correio postal endereços constituiu 1,5% da amostra original. (Apesar de não enviar a pesquisa para fora no e-mail, que usou e-mail para contato com aqueles que não responderam a mailings postais para pedir a participação). O questionário 2012 incluiu dois itens para verificar a atenção dos entrevistados para a interpretação de texto. Recebemos 20 pesquisas que contabilizaram 3,5% do total, que teve uma ou ambas destas perguntas marcadas incorretamente ou deixado em branco. Foram excluídas estas respostas das análises, resultando em 545 inquéritos válidos.

Em 2012, várias pessoas da amostra inicial já não estavam mais matriculadas na faculdade; portanto, nós nos referimos a entrevistados como “jovens adultos” em vez de “estudantes universitários”.

 

Medição

Perguntamos às pessoas sobre seu gênero, raça e etnia, e o nível de escolaridade dos pais como medidas para realizar uma mensuração aproximada de seu nível socioeconômico. Perguntamos também se eles estavam à procura de emprego, ou para realizar uma mensuração de atuais empregos perguntamos quantas horas eles atualmente trabalhavam.

O questionário incluiu várias perguntas para avaliar as experiências na Internet e as habilidades específicas relacionadas com a privacidade online. A partir dos dados coletados no levantamento inicial de 2009, sabíamos em qual nível de  escolaridade eles começaram a usar a Internet; usamos estas informações para calcular os anos de experiência online. A medida de frequência de uso proveio de cálculos baseados em uma pergunta sobre a quantidade de horas de uso em um dia de semana normal, assim como um dia típico de fim de semana.

Para avaliar as habilidades específicas relacionadas com a privacidade online, pedimos aos entrevistados avaliar seu nível de compreensão de nove termos frequentemente usados na Web relacionados com a privacidade, em uma de escala de 1 a 5 pontos. Estes termos foram: “configurações de privacidade”, “perfil limitado”, “configurações de preferências”, “marcação”, “Cco”, “pesquisa avançada”, “hashtag”, “viral” e “web feeds”, todos relacionados com a gestão de suas próprias contas, bem como uma abordagem consciente sobre o compartilhamento de conteúdo em ambientes digitais. Esta é uma versão revisada de uma medida mais geral para avaliar as habilidades no uso da Internet a qual tem sido utilizada em vários estudos anteriores.[20] Usamos média dessas variáveis como a medida para mensurar as habilidades (α de Cronbach = 0,815).

Para determinar o grau em que as pessoas acompanham seus profiles nas redes sociais, no contexto de oportunidades de emprego, fizemos a seguinte pergunta: “Pensando sobre o seu uso das redes sociais, como Facebook e Twitter, quantas vezes você já fez as seguintes atividades durante o ano passado?” Uma das atividades que constam no questionário era: “alterou as configurações de privacidade ou conteúdo de seu perfil online, em consideração aos empregadores em busca de informações sobre você.” As opções de resposta foram: “Nunca”, “Já fez isso uma vez”, “Já fez isso duas a três vezes” e “Já fez isso quatro ou mais vezes”.

 

Amostra

Dado o foco deste artigo sobre o comportamento das pessoas em sites de redes sociais, restringimos a amostra para aqueles que relataram a utilizar os sites frequentemente ou ocasionalmente. Excluímos as pessoas que não estavam usando o Facebook, Twitter, Pinterest, Google+, LinkedIn, Tumblr, MySpace, ou Path; totalizando 32 pessoas entre elas. Depois de excluir essas pessoas e respondendo por falta variáveis ​​sobre nosso resultado de interesse, acabamos com uma amostra final de 507 jovens adultos. Todos os valores são relatados para esta amostra.

Todos os indivíduos abordados nesta amostra tinham entre 21 a 22 anos de idade, uma vez que restringimos o levantamento de 2009 a estudantes universitários destas idades. A Tabela 1 apresenta estatísticas descritivas sobre o grupo de jovens que praticam o monitoramento de seus profiles. As mulheres foram um pouco mais representativas do que os homens. Menos da metade da amostra foram de brancos, um quarto asiáticos ou asiático-americanos, mais de um quinto eram hispânicos, e menos de um décimo eram afro-americanos. Um quinto veio de famílias em que nenhum dos pais tinha mais do que o ensino médio, enquanto que um terço tinha pelo menos um dos pais com ensino superior, e cerca de um quinto tinha pelo menos um dos pais com uma pós-graduação. Estes números indicam que a amostra era bastante diversificada do ponto de vista socioeconômico.

Tabela 1

Tabela 1. Análise descritiva da amostra

 

Em termos de experiências online, estes jovens adultos têm em média nove anos de experiência online, com vários locais de acesso à Internet, e passam cerca de 20 horas por semana na internet (sem contar e-mail, chat ou serviços de voz). Apesar de todas estas experiências online, observa-se que há uma variação considerável em relação às suas habilidades relacionadas com a privacidade, com uma gama de 1.2-5.0 em uma escala de 5 pontos.

Tabela 2

 

 

Resultados

Embora muitos desses jovens ainda estavam estudando, muitos também estavam trabalhando ou procurando emprego. Mais de 90% relataram que estavam empregados ou procurando um emprego, indicando de certa forma uma preocupação com os futuros ou atuais empregadores.

A Figura 1 demonstra a frequência que os usuários chegaram a alterar suas configurações de privacidade ou conteúdo de seus profiles, em antecipação à busca de informações por parte dos empregadores. Mais de um quarto nunca tinha feito isso, e um adicional de um quinto só tinha feito isso uma vez. No geral, cerca de metade da amostra havia se envolvido em tal comportamento mais de uma vez, com menos de um terço fazê-lo quatro ou mais vezes nos últimos 12 meses.

Figura 1

Figura 2 destaca os gerenciamentos de privacidade por gênero (considerada significativa quando p<0.1 nível). As mulheres são mais propensas a gerenciar a sua privacidade no que se refere aos possíveis vínculos profissionais, e tende a fazer com mais frequência do que os homens. Mais de um terço dos homens relataram nunca ter ajustado seus profiles em antecipação uma entrevista de emprego, em comparação com um quarto das mulheres. Por outro lado, um pouco mais de um quarto dos homens praticaram estes comportamentos mais do que três vezes, em comparação com mais de 30% das mulheres.

Figura 2

De acordo com nossa pesquisa anterior a qual investigou a forma como as pessoas de diferentes origens étnicas e raciais aderem às sites de redes sociais, e como utilizam a Internet em relação à procura de emprego,[21] a Figura 3 demonstra os gerenciamentos de privacidade por grupos étnicos, entre brancos (p<0,01), asiático-americanos (p<0,05), afro-americanos (estatisticamente não significativos) e hispânicos (p<0,1) jovens adultos na amostra. Os brancos são muito mais propensos a ajustar seus profiles em sites de redes sociais (pelo menos uma vez no anterior) do que os demais grupos étnicos. Quando se trata do gerenciamento perfis online, os hispânicos foram os menos propensos a estas (pouco mais de 20%), enquanto a proporção de outros grupos étnicos foram bastante semelhantes entre si, oscilando em torno de 30%.

Figura 3

A Figura 4 demonstra como o nível de conhecimento sobre o gerenciamento de privacidade na Internet está relacionado com a gestão dos profiles nas redes sociais, no que diz respeito aos públicos com vínculos profissionais. (significativos quando p <0,1 nível). Quanto maior o conhecimento dessas habilidades específicas, mais provável é a utilização de tais práticas. Entre os menos qualificados (menor quartil na mensuração das habilidades), mais de um terço entre estes nunca alterou suas configurações de privacidade ou o conteúdo de seus profiles em tal contexto, enquanto entre os mais qualificados (maior quartil), 27% nunca estiveram envolvidos em tais práticas.

Figura 4

 

Figura 5 demonstra a relação das práticas de gestão de privacidade por gênero. Entre homens e mulheres, aqueles com habilidades mais altas eram mais propensos a se envolveram em gestões de privacidade do que aqueles com habilidades de nível mais baixo. No entanto, as diferenças de habilidades foram muito mais pronunciadas entre os homens. (As diferenças dentro de gênero foram estatisticamente significativas para os homens no p<0,1 nível, mas não significativo para as mulheres. Entre os gêneros as diferenças foram estatisticamente significativas para a p<0,05 nível de baixa qualificação no p, mas não significativo para os mais qualificados).

Figura 5 

Discussão

Empregadores e colegas de trabalho estão utilizando cada vez mais as redes sociais como instrumento para fiscalizar seus atuais funcionários e os futuros candidatos a emprego¹, e as pesquisas indicam que as pessoas estão utilizando de tais ferramentas de maneira direta ou indireta durante a procura de emprego.[22] Embora a maioria das pessoas pense somente em amigos e familiares quando compartilham as informações nos ambientes digitais, este estudo aponta que os empregadores e os colegas de trabalho também estão formando impressões com base em perfis de redes sociais, refletindo e questionando a integridade contextual das informações. Aqueles que não se preocupam com o gerenciamento de privacidade em relação às questões profissionais, seja por meio de filtragens de conteúdo ou ajustamentos de perfil, podem estar colocando suas reputações e perspectivas de emprego em risco.

Contribuindo para pesquisas anteriores sobre os diferentes usos dos sites de redes sociais e que usa a Internet no processo de procura de emprego, nossos resultados também sugerem que os aspectos demográficos (grupos étnicos) são fatores importantes no que se refere as práticas de privacidade relacionadas com as questões de emprego e reputações em ambientes digitais. Mais especificamente, ao analisar as experiências de uma amostra diversificada de jovens no início de suas carreiras, nossos resultados indicam que as mulheres, brancos e aqueles com habilidades mais refinadas no uso da Internet são mais propensos em gerir seus profiles de forma ativa. Os padrões de comportamento que encontramos podem ser atribuídos, em parte, pelas variações do modo como os usuários utilizam as redes sociais em termos mais gerais. Mais uma vez, a pesquisa constatou que, em comparação a outros grupos sociais, os estudantes brancos são mais propensos se referirem as redes sociais como instrumentos de autopromoção e marketing, o que indica uma maior probabilidade de serem mais conscientes em relação a um público de grande alcance. Isto poderia explicar porque esse grupo é mais propenso a utilizar de estratégias de privacidade no domínio do emprego. Dado que as minorias que enfrentam discriminação no mercado de trabalho, os fatos indicam que os hispânicos são os menos propensos a manter públicos com vínculos profissionais, quando se trata de seus profiles parece ser para eles algo particularmente desconcertante. Há uma variedade de razões pelas quais as mulheres são mais ativas no domínio que examinamos. Uma das primeiras mensagens públicas sobre a privacidade online e questões relacionadas com a segurança na Web, afirma que as jovens mulheres tendem a usar mais as estratégias de privacidade nas redes sociais do que os homens, assim como sua maior familiaridade e experiência com as ferramentas, o que possibilita lidar melhor com o público de emprego, tornando este relevante para suas vidas.

O gerenciamento de privacidade online é um assunto complexo, e usuários os estão cada vez mais sobrecarregados para enfrentar os novos desafios sociais e tecnológicos. Ao apresentar uma medida-padrão para avaliar as habilidades no uso da Internet relacionadas com a privacidade, nossa pesquisa demonstra que o gerenciamento de privacidade depende em parte do conhecimento e experiências neste domínio específico. Embora as habilidades mais gerais foram avaliadas para averiguar o modo como as pessoas procuram por informações, como produzem e compartilham conteúdo na Web, nossos resultados indicam que estes também podem influenciar sua auto-representação online, o que por sua vez pode ter consequências profundas sobre sua reputação profissional, afetando de alguma maneira suas oportunidades emprego.

Este artigo tem várias implicações para aqueles que estão pesquisando e construindo as redes sociais, numa perspectiva da Ciência da Computação. Nossos resultados destacam a importância do desenho em diversas amostras de estudo e estar consciente da demografia da amostra quando se estuda usuários de um sistema. Dado que existem diferenças sistemáticas nas práticas de privacidade com base em gênero, raça e etnia, e experiências na Internet, os pesquisadores precisam estar atentos às composições de suas amostras para, finalmente, tirar as conclusões a partir dos estudos administrados em determinados grupos populacionais.

Em relação aos usuários, os resultados destacam a necessidade de se manter em sintonia com as práticas sociais online. Embora alguns usuários utilizam as redes sociais principalmente para interagir com seus amigos e familiares, os registros dessas interações podem estar visível aos outros usuários. Nem todos os usuários estão cientes disso, e muitos destes não têm as habilidades necessárias para compreender as implicações de suas ações online. Considerando que uma parcela significativa desta amostragem parece em risco no que diz respeito às práticas de gestão de privacidade, isso pode ser um assunto em que os usuários podem se beneficiar, se houver uma orientação mais formal e específica. Por exemplo, as orientações de carreira e organizações similares poderiam oferecer oficinas sobre as melhores práticas para manutenção das auto-representações no mundo conectado de hoje e como colocar um de melhor pé em frente online. As empresas podem também considerar a implementação de oficinas para orientar seus funcionários sobre as melhores práticas a fim evitar essas situações problemáticas.

Este estudo também tem implicações importantes para os designers de sites de redes sociais. Descobrimos que as competências dos utilizadores relacionados com a forma como as pessoas conseguiram a sua privacidade em tais sites, com uma proporção considerável possuem as competências necessárias para gerir a sua presença online de forma ideal no contexto do processo de procura de emprego e, provavelmente, em outros domínios de algo pesquisas futuras devem abordar. Assim, os designers terão de continuar a fazer as configurações de privacidade ferramentas de privacidade mais amigável e padrão mais transparente. Ajustes podem incluir fabricação de ferramentas de privacidade mais fácil de encontrar, especialmente aqueles que permitem aos usuários controlar o acesso de perfil informações para noncontacts, bem como aqueles que permitem que os usuários a refletir sobre suas auto-representações, como “Vista como” do Facebook funcionalidade. Designers também pode considerar a implementação de ferramentas que fornecem feedback para ajudar os usuários a se tornar mais consciente do seu público, especialmente quando os membros da audiência vêm de fora contatos imediatos de um usuário. Essas métricas podem ajudar os usuários a refletir melhor sobre a sua auto-representações e como os outros percebem.

Por fim, os resultados desta pesquisa têm implicações para as políticas publicas que estão sendo elaboradas atualmente ou revisitadas para ajudar a impor práticas de privacidade normativas. Por exemplo, os EUA têm leis para proteger os futuros empregados às discriminações no trabalho; No entanto, os sites de redes sociais representam novos desafios para as práticas relacionadas. Se os usuários não ajustarem suas práticas perante a um público com vínculos profissionais, é possível que estes acidentalmente e indiretamente compartilharem o tipo de informação que estas leis inicialmente previstas para proteger.

Pesquisas experimentais preliminares apontam que os perfis de redes sociais podem desempenhar um papel na “contratação” de discriminação.[23] Os formuladores de políticas públicas precisam rever tais leis e as políticas antidiscriminatórias, considerando o papel das redes sociais no processo de contratação de emprego.

 

Referências Bibliográficas e Citações

 

1. “Online Reputation in a Connected World,” Microsoft, 2010; www.microsoft.com/security/resources/research.aspx.

2. C. Robles and J. Golbeck, “Facebook Relationships in the Workplace,” poster, CompleNet2012, 2012.

3. D. Boyd and E. Hargittai, “Facebook Privacy Settings: Who Cares?,” First Monday, vol. 15, 2 Aug. 2010.

4. M. Madden and A. Smith, “Reputation Management and Social Media,” Pew Internet & American Life Project, 27 May 2010.

5. F. Stutzman and J. Kramer-Duffield, “Friends Only: Examining a Privacy-Enhancing Behavior in Facebook,” Proc. 28th ACM Conf. Human Factors in Computing Systems (CHI 10), ACM, 2010, pp. 1553–1562.

6. E. Hargittai, “Whose Space? Differences among Users and Non-users of Social Network Sites,” J. Computer-Mediated Communication, vol. 13, no. 1, 2007, pp. 276–297.

7. D. Boyd, “White Flight in Networked Publics? How Race and Class Shaped American Teen Engagement with MySpace and Facebook,” Race after the Internet, L.

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8. T. Correa and S.H. Jeong, “Race and Online Content Creation: Why Minorities Are Actively Participating in the Web,” Information, Communication & Society, vol. 14, no. 5, 2011, pp. 638–659.

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11. E. Litt, “Measuring Users’ Internet Skills: A Review of Past Assessments and a Look toward the Future,” to be published by New Media & Society.

12. H. Nissenbaum, “A Contextual Approach to Privacy Online,” Daedalus, vol. 140, no. 4, 2011, pp. 32–48.

13. E. Goffman, The Presentation of Self in Everyday Life, Doubleday, 1959.

14. I. Altman, The Environment and Social Behavior: Privacy, Personal Space, Territory, and Crowding, Brooks/Cole, 1975.

15. S. Petronio, Boundaries of Privacy: Dialectics of Disclosure, State Univ. of New York Press, 2002.

16. E.D. Berger, “Managing Age Discrimination: An Examination of the Techniques Used when Seeking Employment,” The Gerontologist, vol. 49, no. 3, 2009, pp. 317 332.

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19. Y.J. Park, “Digital Literacy and Privacy Behavior Online,” Communication Research, 2011.

20. E. Hargittai and Y.P. Hsieh, “Succinct Survey Measures of Web-Use Skills,” Social Science Computer Rev., vol. 30, no. 1, 2012, pp. 95–107.

21. C. Puckett and E. Hargittai, “From Dot-Edu to Dot-Com: Predictors of College Students’ Job and Career Information Seeking,” Sociological Focus, vol. 45, no. 1, 2012, pp. 85–102.

22. M. Burke and R. Kraut, “Using Facebook after Losing a Job: Differential Benefits of Strong and Weak Ties,” Proc. 16th ACM Conf. Computer Supported Cooperative Work and Social Computing (CSCW 13), ACM, 2013, pp. 1419–1430.

23. A. Acquisti and C. Fong, “An Experiment in Hiring Discrimination via Online Social Networks,” Privacy Law Scholars Conf., 2012, p. 19; http://docs.law.gwu.edu/ facweb/dsolove/PLSC.

 

Nota sobre as autoras:

 

Eszter Hargittai é Delaney Family Professor no Departamento de Estudos de Comunicação e docente associada ao Instituto de Pesquisa de Políticas da Universidade de Northwestern, onde ela dirige a Web Use Project. Ela também é associada ao Harvard’s Berkman Center for Internet & Society. Em 2006-07, foi associada ao Centro de Stanford de Estudos Avançados em Ciências Comportamentais. Ela recebeu seu PhD. em Sociologia pela Universidade de Princeton (2003), onde foi uma Wilson Scholar. Suas pesquisas se focam sobre as implicações sociais e políticas das Tecnologias da Informação, com interesse particular em como a TI pode contribuir ou atenuar as desigualdades sociais. Seus projetos de pesquisa examinam as diferenças nas habilidades de uso da Web, a evolução dos mecanismos de pesquisa e da organização e apresentação de conteúdo online, usos políticos das Tecnologias da Informação, e como ela está influenciando os tipos de produtos culturais que as pessoas consomem. Além de seus artigos acadêmicos, seu trabalho também foi apresentado na CNNfn, no site da BBC, e vários jornais nacionais.

 

Eden Litt é doutoranda em Media, Tecnologia e Sociedade pelo programa da Universidade Northwestern. Suas pesquisas se focam na investigação das diversas estratégias sociais e técnicas que os usuários utilizam para gerenciar sua em redes sociais online.

 

Hargittai, E. & Litt, E. (2013). “New Strategies for Employment? Internet Skills and Online Privacy Practices during People’s Job Search”. IEEE Security & Privacy. 11(3):3845.


[1] “Online Reputation in a Connected World,” Microsoft, 2010; www.microsoft.com/security/resources/research.aspx.

[2] C. Robles and J. Golbeck, “Facebook Relationships in the Workplace,” CompleNet2012, 2012.

[3] d. boyd and E. Hargittai, “Facebook Privacy Settings: Who Cares?,” First Monday, vol. 15, 2 Aug. 2010.

[4] M. Madden and A. Smith, “Reputation Management and Social Media,” Pew Internet & American Life Project, 27 May 2010.

[5] F. Stutzman and J. Kramer-Duffield, “Friends Only: Examining a Privacy-Enhancing Behavior in Facebook,” Proc. 28th ACM Conf. Human Factors in Computing Systems (CHI 10), ACM, 2010, pp. 1553–1562.

[6] E. Hargittai, “Whose Space? Differences among Users and Non-users of Social Network Sites,” J. Computer-Mediated Communication, vol. 13, no. 1, 2007, pp. 276–297.

[7]  d. boyd, “White Flight in Networked Publics? How Race and Class Shaped American Teen Engagement with

MySpace and Facebook,” Race After the Internet, L. Nakamura and P. Chow-White, eds., Routledge, 2011, pp. 203–222.

[8] T. Correa and S.H. Jeong, “Race and Online Content Creation: Why Minorities Are Actively Participating in the

Web,” Information, Communication & Society, vol. 14, no. 5, 2011, pp. 638–659.

[9] M.G. Hoy and G. Milne, “Gender Differences in Privacy-Related Measures for Young Adult Facebook Users,” J.

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[10] E. Hargittai, “The Digital Reproduction of Inequality,” Social Stratification, D. Grusky, ed., Westview Press,

2008, pp. 936–944.

[11] E. Litt, “Measuring Users’ Internet Skills: A Review of Past Assessments and a Look toward the Future,” to be

published by New Media & Society.

[12] H. Nissenbaum, “A Contextual Approach to Privacy Online,” Daedalus, vol. 140, no. 4, 2011, pp. 32–48.

[13] E. Goffman, The Presentation of Self in Everyday Life, Doubleday, 1959.

[14] I. Altman, The Environment and Social Behavior: Privacy, Personal Space, Territory, and Crowding,

Brooks/Cole, 1975.

[15] S. Petronio, Boundaries of Privacy: Dialectics of Disclosure, State Univ. of New York Press, 2002.

[16] E.D. Berger, “Managing Age Discrimination: An Examination of the Techniques Used when Seeking

Employment,” The Gerontologist, vol. 49, no. 3, 2009, pp. 317–332.

[17] d. boyd and A. Marwick, “Social Privacy in Networked Publics: Teens’ Attitudes, Practices, and Strategies,” A

Decade in Internet Time: Symp. Dynamics of the Internet and Society, Oxford, 2011.

[18] E. Litt, “Knock, Knock. Who’s There? The Imagined Audience,” J. Broadcasting & Electronic Media, vol. 56,

no. 3, 2012, pp. 330–345.

 

[20] E. Hargittai and Y.P. Hsieh, “Succinct Survey Measures of Web-Use Skills,” Social Science Computer Rev., vol.

30, no. 1, 2012, pp. 95–107.

[21] C. Puckett and E. Hargittai, “From Dot-Edu to Dot-Com: Predictors of College Students’ Job and Career

Information Seeking,” Sociological Focus, vol. 45, no. 1, 2012, pp. 85–102.

[22] M. Burke and R. Kraut, “Using Facebook after Losing a Job: Differential Benefits of Strong and Weak Ties,”

Proc. 16th ACM Conf. Computer Supported Cooperative Work and Social Computing (CSCW 13), ACM, 2013,

pp. 1419–1430.

[23] A. Acquisti and C. Fong, “An Experiment in Hiring Discrimination via Online Social Networks,” Proc. 5th

Privacy Law Scholars Conf.

26/06/2014

A esfera pública e a participação política na internet

Filed under: Guilherme Camargo Lima — Tags:, , , — guilhermecamargo @ 16:28

Hoje em dia, o conceito de democracia conta com uma gama enorme de conotações, que serve para definir os mais variados arranjos políticos. Ernesto Laclau (2005) chega a afirmar que o conceito em si se converteu em um significante vazio, ou seja, em um significante sem significado, algo possuidor de tantos significados que se encontra esvaziado de significação efetiva.

O debate sobre o fortalecimento da democracia gira em torno do uso massificado das novas tecnologias, principalmente da internet.

No que se refere ao viés participativo ou deliberativo deste sistema político, encontramos algumas ações que conseguem fomentar a complementaridade entre democracia, participação e internet; um bom exemplo é o Orçamento Participativo, conhecido instrumento de participação popular em que os cidadãos podem decidir como se dará a aplicação de uma determinada parcela do orçamento municipal. Hoje, já existem versões digitais do Orçamento Participativo em todo mundo e também em algumas cidades do Brasil, como Belo Horizonte, Recife e Ipatinga. No entanto, uma questão se coloca: até que ponto a esfera pública na internet pode ser considerada real?

Neste ponto, existem duas frentes ideológicas em que se dividem os teóricos que se propuseram a estudar o assunto. Grosso modo, eles podem ser separados em otimistas e cautelosos.

O espanhol Manuel Castells (2001), que enxerga com bons olhos o papel da internet na sociedade contemporânea, acredita que o ciberespaço se tornou uma “ágora eletrônica global”, de onde a diversidade do descontentamento humano explode em uma cacofonia de acentos. Para ele, a internet não é simplesmente uma tecnologia, é um meio de comunicação e constitui a infraestrutura material de uma forma organizativa concreta, caracterizada como “a rede”. A internet se converte, desta forma, em um componente indispensável para os vários movimentos sociais, com suas inúmeras reivindicações, que estão surgindo na sociedade atual.

Na mesma linha, Rocio Rueda Ortiz (2008) afirma que as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), além de democratizar o uso da internet, a divulgação cultural e oferecer informação para todos, tem a capacidade de adormecer e mobilizar grupos sociais por meio da comunicação de massas, onde se encontram as mais variadas correntes de opinião.

Por outro lado, existem autores mais receosos em relação à função desempenhada pela internet dentro do sistema político vigente em nossa sociedade. Uma das principais críticas se refere ao fato de a internet ter uma suposta dificuldade em territorializar os fluxos discursivos. Sendo assim, o discurso se tornaria mais comprometido com projetos de atores primordialmente locais. Mesmo com uma interação menos filtrada pelos detentores do controle dos recursos midiáticos tradicionais, o caos da web, onde geralmente são travados os debates, fragilizaria seu status de esfera pública.

Segundo o sociólogo Dominique Wolton (2001), não existem meios de comunicação social sem a representação a priori de um público. Para ele, no essencial, a internet não é um meio de comunicação social, é um formidável sistema de transmissão e acesso a um número incalculável de informações.

A cautela de Wolton pode ser justificada pela exclusão digital, pela forma lúdica que a internet é utilizada por muitos, pela preponderância de determinadas faixas etárias na rede e até mesmo pela dúvida constante de a internet poder ser realmente um espaço de debates civilizados e frutíferos.

O fortalecimento da democracia por meio do uso da internet, pelo menos no Brasil, parece esbarrar em questões fundamentais, como o tamanho do acesso aos meios eletrônicos. Em países em que a inclusão digital atingiu um patamar satisfatório, como o Japão, por exemplo, o principal problema é a falta de desejo dos próprios cidadãos em envolverem-se nos assuntos públicos, considerados irrelevantes por muitos.

Portanto, antes de uma mudança técnica, necessária ao Brasil, se torna fundamental uma mudança cultural, crucial não somente ao nosso país. Pois, como afirma Clay Shirky (2011), a cultura não é apenas um aglomerado de comportamentos individuais e sim um conjunto de normas e comportamentos aceitos coletivamente num grupo.

Porém os impeditivos parecem se enfileirar quando tentamos encontrar uma posição política ideal para a internet. A massificação e a acriticidade, típicas dos conteúdos que circulam na web, colocam em dúvida a capacidade de abertura de espaços realmente vigorosos para o debate.

Claro está que a falta de conhecimento, seja ele político ou mesmo comunicacional, trabalha contra o fortalecimento democrático na sociedade moderna, que poderia ser suscitado pelo enorme alcance da internet. Neste ponto, recorremos mais uma vez a Shirky, que diz que aumentar o número de coisas que você tem pode ser útil, mas aumentar sua quantidade de conhecimento pode ser transformador. Para ele, o conhecimento, ao contrário da informação, é uma característica humana; pode haver informação que ninguém saiba, mas não pode haver conhecimento sem que alguém o saiba.

Sendo assim, podemos enxergar a internet como uma ferramenta capaz de fomentar a transformação política, uma vez que, como afirma Ortiz, a web é capaz de influenciar a opinião pública por meio de todo conteúdo que se move massivamente por ela, nos mais variados meios temáticos. No entanto, faltam atores realmente capacitados para levar esta mudança adiante.

Qual seria o caminho ideal? As interações virtuais ainda geram mais dúvidas do que oferecem respostas. A liberdade da rede abre espaço para os mais variados tipos de discursos, mas também impede que tais discursos adquiram um caráter, supostamente, profissional. Caráter este que, segundo Sharky, ainda funciona como objeção à difusão do conhecimento.

Pelo menos no Brasil, a inclusão digital se mostra fundamental, antes que qualquer discussão de conteúdo seja proposta. Nos moldes atuais, trabalhar pelo fortalecimento da democracia por meio da internet poderia significar diminuir ainda mais a representatividade dos grupos economicamente e, por que não, politicamente desfavorecidos.  Esta óbvia segmentação em nossa sociedade pode causar um efeito inverso ao pensado por qualquer um que planeje abrir espaço para um maior número de pessoas no debate público.

Quando o déficit técnico for coisa do passado, estará aberto o debate em torno do conteúdo das reivindicações e de sua viabilidade ou mesmo veracidade. Superado o obstáculo inicial, nos confrontaremos com o verdadeiro problema, de ver até que ponto as pessoas estão realmente dispostas a participar do debate político.

Os usos da internet precisarão ser modificados para que tenhamos uma discussão prolífica e o questionamento feito por Clay Shirky poderá, finalmente, ser posto à prova: quão capazes seremos de tirar proveito do excedente cognitivo para produzir valor cívico real?

Bibliografia

CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro, Zahar, 2003, PP. 13-55.

LACLAU, Ernesto. La razón populista. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2005.

RUEDA ORTIZ, Rocio. Cibercultura: metáforas, prácticas sociales e colectivos en red. Nómadas (Col), num 28, abril, 2008, pp. 8-20. Universidad Central, Bogotá, Colombia. Disponível em http://www.ucentral.edu.co/movil/index.php?option=com_content&view=article&id=557&Itemid=2456

SHIRKY, Clay. “Cultura”. A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, pp. 119-143.

WOLTON, Dominique. E depois da internet? Para uma teoria crítica dos novos medias. Portugal: Difel, 2001.

 

 

Food for Thought

 

Faz parte da nossa história retratar comida, desde os primórdios, e mais tarde na transição da Idade Média para a Idade Moderna, o gênero artístico natureza morta fez grande sucesso nos séculos XVI e XVII[1], o pintor Giuseppe Arcimboldo[2] inovou nessa técnica retratando, entre vários, seus mecenas utilizando frutas, legumes, verduras e peixes.

 

Fonte: http://www.giuseppe-arcimboldo.org

Fonte: http://www.giuseppe-arcimboldo.org

 

Posteriormente com a invenção do rádio e da televisão os programas de culinária garantiram seu lugar nas grades horárias das emissoras. E ainda hoje as receitas, de alguma forma, também fazem parte de programas de entretenimento ou diversidade, sem terem perdido seus programas exclusivos.
Recentemente, na era digital, essa idolatria mantém-se presente nas ferramentas digitais, aplicativos para smartphones e tablets, blogs, fotologs, comunidades e redes sociais. Ao olhar o Facebook é possível verificar a grande quantidade de posts relacionados a comida e confraternizações envolvendo comida, os quais parecem aumentar ainda mais, caso seja feriado, ou se alguns dos amigos estão de férias. A comida tem grande importância para nós, e o fato de poder compartilhar imagens de churrascos, almoços, jantares, sobremesas e sorvetes com os amigos parece potencializar a sensação de prazer já associada à comida. Isso não se limita ao rol de comidas de confraternização, as comidas saudáveis, aquelas pós-malhação, ou as pertencentes à dieta de perda de peso, também têm seu lugar.

De acordo com o Jornal da Manhã, de Minas Gerais, em janeiro de 2014, há 1,19 bilhão de usuários no Facebook, os quais clicam no botão de curtir 4,5 bilhões de vezes todos os dias, e compartilham a cada 24 horas, 4,75bilhões atualizações de status, vídeos e fotos de gatos e de comida.[3]

Ao combinarmos a já antiga pré-disposição ao compartilhamento de comida em momentos de celebrações, à portabilidade e agilidade que a tecnologia trouxe através dos smartphones e tablets, e o espírito do compartilhamento presente na internet, que faz parte de sua gênese, o resultado são as grandes quantidades de atualizações de status diárias, relacionadas a refeições, receitas e comida em geral.
http://www.giuseppe-arcimboldo.org

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

As tecnologias digitais também revolucionaram as relações sociais criando uma nova dinâmica. As redes sociais são responsáveis pelo desenvolvimento de novas formas de interação e através dela é possível perceber o tipo de relação que se tem com os outros atores e com o objeto em questão (Recuero, 2009: 33). O compartilhamento de fotos ao lado de potes de Nutella, bolinhos de bacalhau, ou até celebrando a conclusão de uma receita de família preparada de forma caseira nos moldes tradicionais ajudam a revelar o estilo de vida e as mensagens que determinada pessoa busca transmitir. Ao associar-se a uma comunidade, ou integrar-se a um grupo, obtém-se acesso a diferentes conteúdos produzidos também por esses atores, e novas relações têm início através disso.

Ao associar-se a uma comunidade no Orkut, por exemplo, ou ao comentar em um novo weblog ou fotolog, um indivíduo pode estar iniciando interações através das quais vai ter acesso a um tipo diferente de capital social, ou ainda, a redes diferentes. (RECUERO, 2009: p.52)

Nesse novo ambiente as relações sociais se desenvolvem sem necessariamente as pessoas se conhecerem, mas o fato de publicarem suas preferências e atividades as une, criando assim novas comunidades, consequentemente novas discussões e posteriormente novos conteúdos, dando início a um novo ciclo que se repetirá por várias vezes.

As fotos também têm papel importantíssimo nesse cenário, uma vez que são elas as responsáveis por aproximar os interlocutores, através das imagens. Benjamin em seu texto “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica” menciona exatamente essa propriedade da fotografia, que é “fazer as coisas ficarem mais próximas” (Benjamin, 1985: 170), mas em detrimento do caráter único das obras de arte.

A questão da exclusividade da obra, ou nesse caso da imagem ou foto, ou ainda a propriedade desta não é um problema, o valor desse material está totalmente relacionado ao seu compartilhamento, à quantidade de curtidas que a foto receberá e à quantidade de re-compartilhamentos que ela tiver. Esse é o ponto de convergência com a filosofia da internet, associada à liberdade de criação e a sua função de ser “o maior repositório de informações que a humanidade já viu” (Amadeu; Santana, 2007).

Ao se compartilhar a foto o objetivo é comunicar o estado de espírito, as relações sociais, o estilo de vida. Os mais variados sentimentos e desejos podem ser retratados através da prato que integra a foto: se a pessoa está em um restaurante chique ou não, se está na intimidade de um jantar com pessoas bonitas e famosas, se está comunicando que cultiva o corpo e a mente saindo da academia e “curtindo” um prato saudável, se precisa fazer inveja aos outros, ou se precisa incitá-los a cometer o pecado da gula e comer aquela sobremesa maravilhosa.

A capacidade de comunicação que a comida tem é imensa. Associado a isso há o fato de que “o compartilhamento em si é uma característica humana, não tecnológica” (Shirky, 2011: 142). A evolução da tecnologia em geral e a internet proporcionaram as ferramentas para tornar esse compartilhamento mais rápido, barato, fácil e interessante.

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

Uma agência de propaganda mapeou o que motiva o compartilhamento de fotos de comida: 25% são fotos cotidianas apenas para mostrar aos outros o que se está comendo; 22% estão documentando pratos que foram preparados por elas mesmas, seja como uma comemoração da conquista, ou buscando aprovação da comunidade, ou apenas elogios; 16% estão compartilhando uma ocasião especial, a qual foi comemorada com uma refeição ou prato especial, 12% é pura arte, a mesma coisa que Giuseppe Arcimboldo ou Paul Cézanne faziam séculos atrás, aqui busca-se aliar o alimento à arte com a finalidade de se inspirar os outros, ou transmitir alguma emoção, ou apenas compartilhar uma coisa bonita; e os últimos 10% estão compartilhando um bom momento com a família ou amigos, para o qual utilizam a comida como elemento de socialização, esse grupo de certa forma une-se aos 16% que compartilham a ocasião especial.[4]

Essa imensa capacidade de comunicação que a comida apresenta é por sua vez apreciada e reconhecida pela economia formal tradicional, a qual procurará fazer uso e apropriar-se. É importante frisar que o conceito de apropriação não está relacionado tanto à propriedade, mas sim ao direcionamento do uso da imagem (Amadeu; Santana, 2007). As empresas sabem que monopolizar as imagens não é viável, é melhor pegar carona no compartilhamento e atingir o maior número possível visualizações. Isso é verdade se o que se está compartilhando é positivo para o produto, caso contrário vale a regra tradicional de propriedade e busca-se retirar a imagem de circulação.

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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Quanto mais espontâneo for o compartilhamento da imagem que contém um determinado produto, melhor será para seu fabricante, tanto no que diz respeito à presença da marca na mente dos consumidores, quanto no que diz respeito ao custo, uma vez que será uma propaganda gratuita. Acredito ser possível dizer que um dos objetivos das áreas de marketing atualmente é ter um post de Facebook, Flickr, ou Instagram que torne-se um viral.

 

[1] De acordo com Wikipédia: natureza-morta é um tipo da pintura e da fotografia que retrata seres inanimados: como frutas, louças, instrumentos musicais, flores, livros, taças de vidro, garrafas, jarras de metal, porcelanas, dentre outros objetos. Esse gênero de representação surgiu da Grécia Antiga, e também se fez presente em afrescos encontrados nas ruínas de Pompéia. A denominação Natureza morta, conforme o alemão Norbert Schneider, surgiu na Holanda no século XVII, nos inventários de obras de arte. A expressão competiu durante algum tempo com natureza imóvel e com representação de objetos imóveis no século XVIII

[2] Giuseppe Arcimboldo (Milão, 1527 – 1599) foi um pintor italiano, suas obras principais incluem a série “As quatro estações”, onde usou, pela primeira vez, imagens da natureza, tais como frutas, verduras e flores para compor fisionomias humanas. A partir de 1562 morou em Praga, então capital do reino da Boêmia e hoje da República Tcheca, onde consolidou sua carreira como artista. Serviu na corte de Fernando I e de seus sucessores, Maximiliano II e seu filho Rodolfo II, grandes mecenas. Arcimboldo foi admirado como artista pelos três monarcas, tornou-se pintor da corte e chegou a ser nomeado Conde Palatino.

[3] Jornal da Manhã, 23/01/2014, Disponível em: http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,90235. Acesso em:16 Jun.2014.

[4] Disponível em: www.360i.com/reports/online-food-photo-sharing-trends/. Acesso em: 02 junho.2014.

 

 

BIBLIOGRAFIA

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