Cultura digital, sociedade e política

03/06/2014

MAIS AXÉ PRA SER ODARA!

Filed under: Ralph Sarlo — Tags:, , , , — ralphsarlo @ 19:30

Nas últimas semanas uma notícia causou grande polêmica. Trata-se da afirmação do juiz da 17ª Vara Federal, Eugênio Rosa de Araújo, que excluía do rol das religiões os cultos afro-brasileiros. Segundo o juiz, o candomblé e a umbanda não possuem um texto base (como a Bíblia), uma hierarquia e um Deus a ser venerado, elementos essenciais para que uma prática seja classificada como Religião.
Trazendo à memória a questão abordada pelos autores André Lemos e Pierre Lévy*, de que a ampla intersecção das diversas culturas não tem por consequência homogeneizar o mundo, suprimindo a diversidade. Ao contrário, essa interação, mesmo que modificando algumas características de uma determinada expressão cultural (língua, religião, arte, etc.), serve para reafirmá-la no contexto. E que é papel do Estado (Estado Nação) promover a pluralidade cultural, mas o que se observa é a opressão das minorias em nome do princípio de uniformidade cultural (Lemos e Lévy, s/d: 211).
Mais uma vez pudemos perceber o desrespeito realizado por parte dos detentores do poder, dos que são chamados representantes do povo. Mas a afirmação do excelentíssimo juiz não ficou por isso mesmo: muitas postagens nas redes sociais, especialmente o Facebook, repudiaram tal atitude de um representante do Ministério Público Federal. Muitos grupos e comunidades virtuais de praticantes das religiões de matriz africana, de simpatizantes e até pessoas que não têm vínculo algum com essa cultura, mas se sentiram lesadas pelo pronunciamento de Eugênio, e se manifestaram virtualmente e organizaram (pelas páginas das redes sociais) eventos de protestos contra essa afronta realizada com a expressão cultural que são os cultos afro-brasileiros. Houve protestos na Bahia, no Rio de Janeiro, e São Paulo também organizou uma manifestação no local consagrado pelas diversas manifestações: o vão do MASP.
As religiões de matriz africana têm buscado seu espaço na sociedade, seu reconhecimento e diminuição do preconceito sofrido. As redes sociais são um veículo de grande importância para a divulgação dessa cultura. Há a possibilidade de se criar páginas no Facebook divulgando, não apenas eventos, mas outros elementos que envolvem essas culturas, como por exemplo: contos, cantos, fotos, entre outras coisas. Diretamente relacionada a essa ferramenta está o Youtube, com a veiculação, em grande escala, de informações em vídeo, contendo trechos de seus ritos de culto aos Orixás e Entidades.
Cada vez mais é preciso se apropriar desses espaços virtuais, que abrem portas aos espaços públicos, conquistando seu espaço enquanto expressão cultural que deve ser preservada e propagada, em conjunto das demais expressões, sem que uma suprima a outra. E preciso encher os espaços virtuais de Axé, que na cultura africana é energia boa, pois só com lutas carregadas de Axé é que se pode acreditar num mundo mais Odara, mais Belo.

* “O espaço virtual da cultura”.

Referências Bibliográficas
- LEMOS, André e LÉVY, Pierre. O FUTURO DA INTERNET: em direção a uma ciberdemocracia planetária. Ed. Paulus: s/d.

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