Rede global de comunicação
Por Priscila Camazano
Muito tem se falado sobre um vídeo postado na Internet por um grupo islâmico ultrarradical nigeriano chamado Boko Haram. Publicado no dia 12 de maio desse ano o vídeo mostra jovens nigerianas que foram sequestradas em uma escola estadual em abril. O sequestro é resultado de uma briga interna entre uma minoria islâmica, localiza ao norte do país, e uma maioria cristã localizada ao sul, onde os primeiros reivindicam o estabelecimento de um Estado islâmico com a imposição dos preceitos da seita, incluindo a educação islâmica.
Não desmerecendo a discussão, mas deixando de lado a questão política, o que nos interessa analisar a partir desse episódio é o uso da Internet como meio de comunicação para a divulgação de informações. Para isso podemos rememorar a história da Internet para entender como foi possível chegar ao estabelecimento de uma rede de comunicação de âmbito global.
Segundo Castells (2003) uma das origens da Internet encontra-se na Arpanet, uma rede de computadores montada pela Advanced Research Projects Agency (ARPA) no ano de 1969, a partir da ideia de conectar computadores em pequenas redes de comunicação. A princípio uma articulação entre militares, acadêmicos e técnicos, que com o decorrer dos anos passou a ter administrada por grandes empresas e se difundiu para toda a sociedade. Um ganho significativo para a comunicação em todos os sentidos.
Com o passar do tempo e o avanço da tecnologia outras redes foram se formando. Até que surgiu um novo conceito, o de rede de redes, quando pequenas redes começaram a se interconectar, criando assim uma grande teia de comunicação. E é nesse momento que surge a Internet como resultado de uma dessas conexões. A partir do início da década de 1990, com a extinção da Arpanet e de outras redes menores, a Internet se expandiu e passou a ser uma rede global de comunicação. Até a chegada dos provedores, que passaram a dar um caráter mais comercial, mas isso é uma outra história.
Pensando a Internet como um meio de comunicação e como uma grande rede social, Recuero (2009) dirá que a rede global representa para o período contemporâneo ”o advento de uma Comunicação Mediada pelo Computador. Essa comunicação, mais do que permitir aos indivíduos comunicar-se, amplificou a capacidade de conexão, permitindo que redes fossem criadas e expressas nesses espaços: as redes sociais mediadas pelo computador“. Redes que representam a comunicação não só entre computadores, mas entre pessoas, pois defenderá a autora que as relações sociais off-line aparecerão no mundo online na medida em que é o usuário que produz e reproduz o conteúdo disponível no mundo virtual.
Como diria Castells (2003) o espaço virtual longe de ser um ambiente que provoco o isolamento das pessoas, como no início foi pensado, muito pelo contrário, representa o momento de aproximação, de troca de informações com pessoas de diferentes localidades e distâncias.
Percebendo a importância e a amplitude com que a Internet difunde informações os membros do Boko Haram sabiam que ao publicarem um vídeo na rede esse poderia ser visto por uma infinidade de pessoas, e de diversas partes do mundo. Como prova disso o episódio foi pauta do noticiário mundial. O caso repercutiu de tal maneira que até alavancou uma campanha entre personalidades públicas, comovidas com o sequestro, que pediram a soltura das meninas.
O Boko Haram não é o primeiro a usar do meio virtual para se promover, outros grupos extremistas já se valeram dessa ferramenta. Podemos rememorar os famosos vídeos com os pronunciamentos do Bin Laden e tantos outros grupos que foram divulgados.
Com o advento da Internet, divulgar uma informação ficou cada vez mais fácil. As redes sociais online estão aí para nos mostrar muito claramente a amplitude do mundo virtual.
O uso do termo “compartilhar” ganhou maior notoriedade com o Facebook, mas se pararmos para pensar a origem da Internet já pressupunha essa troca, pois ela surge com o objetivo de aproximar computadores, permitindo assim com que as informações pudessem ser transmitidas por toda a rede.
André Lemos e Pierre Lévy (2010) ao proporem que o espaço virtual caminha em direção a uma ciberdemocracia, nos dão subsídios para entender como a Internet se configura uma rede global. Os autores dirão que “as distâncias físicas passam a ser irrelevantes no ciberespaço, as diferenças e as proximidades – sempre muito contrastantes – são de uma outra ordem: semânticas”. Como Recuero (2009) defenderão a ideia de que o espaço virtual reproduz as ideias produzidas pela cultura humana, pois são “inteligências associadas dos autores-leitores-navegadores do ciberespaço que produzem e atualizam o espaço virtual” (André Lemos e Pierre Levy, 2010). Pensando o ciberespaço como uma ferramenta para a quebra das barreiras geográficas os autores dirão que na contemporaneidade uma nova civilização surge a partir dos hiperlinks do ciberespaço.
Pensando em ciberdemocracia podemos fazer um paralelo com um outro conceito, o de comunicação alternativa, apresentado por Moraes (2007). A partir da ideia de que a World Wide Web “conectam o global e o local em um tempo-espaço não-linear e instantâneo” o autor defenderá a ideia de que a Internet é um meio que possibilita a liberdade de expressão e o rompimento do controle da informação, que normalmente se encontra nas mãos das mídias convencionais. Ou seja, a partir de um viés anticapitalista dirá que a Internet possibilita a difusão contra-hegemônica da informação, através do alastramento dos nós, formados pelas redes, que expande a informação e faz com que ela chegue para um número cada vez maior de pessoas.
Com isso podemos dizer que a Internet surge do princípio de ser uma rede global de comunicação, mediada pela tecnologia, que rompe as barreiras geográficas e físicas e conectam pessoas de todas as partes do mundo. A caminho de uma ciberdemocracia em que todos são produtores e consumidores e promovem uma comunicação alternativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTELLS, Manuel. “Lições da história da internet” e “A cultura da Internet”. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro, Zahar, 2003, PP. 13-55.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet – Porto Alegre: Sulina, 2009. (Coleção Cibercultura)
LEMOS, André; LEVY, Pierre. “O espaço virtual da cultura”. O futuro da internet. São Paulo, Paulus, 2010.
MORAES, Dênis de. “Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas”. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación. www.eptic.com.br, vol. IX, n. 2, mayo – ago. / 2007. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/download/Comunicacao_alternativa.pdf
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/05/sequestro-na-nigeria-saiba-mais-sobre-o-boko-haram.html