Programação cultural on-line
Por Maria Fernanda Bienhachewski da Costa Portela
A visitação a museus nunca esteve tão acessível. O site “ Era Virtual – Museus” é um projeto criado em 2008 e promove a visitação virtual de algumas instituições culturais brasileiras, visando despertar o interesse do público, divulgando via web os acervos de alguns museus brasileiros. Segundo os idealizadores, trata-se de um site interativo em constante atualização. A estratégia utilizada por eles é apostar em uma linguagem simples e de fácil comunicação com o público escolar, através de um acesso democrático via web. Contando também com a distribuição gratuita de Dvd-rooms aos interessados. A vista on-line de um espaço real, através da Internet também se preocupa em oferecer uma experiência cultural aos internautas.
Hoje em dia, museus tem investido bastante em seu departamento educativo, a fim de aproximar a arte do público, sendo comum realizar além da visita mediada, uma série de oficinas e atividades lúdicas. Na visita on-line isso não é diferente, pois também são oferecidos jogos educativos e interativos que complementam a atividade.
“O ERA VIRTUAL tornou-se uma rede de museus virtualizados e uma iniciativa referencial no processo de sua utilização do museu como material didático não-formal dentro das escolas. ” (trecho retirado da apresentação do site, disponível em http://www.eravirtual.org/ )
São inúmeras instituições que aderiram ao projeto, em alguns estados do Brasil, tal como Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Essa experiência on-line só pode ser possível nos dias de hoje, em que vivemos num período de intensa digitalização.
O grupo Google também lançou seu projeto, o “Art Project” que permite ao usuário visitar uma série de museus através de um aplicativo semelhante ao “ Google Street View”, que fornece imagens reais de ruas e avenidas de qualquer localidade. Através desse aplicativo, conectado diretamente as ferramentas do Google, o usuário pode não só visualizar o acervo em imagens de alta definição como também fazer uma espécie de Tour virtual pelas salas de exposição. Iniciado em 2011, o projeto conta com célebres museus tais como o The Metropolitan Museum of Art e MoMA, em Nova York, The State Hermitage Museum, em São Petersburgo e Van Gogh Museum, em Amsterdã entre outros.
A visita on-line é uma alternativa para os apreciadores de arte que estão a quilômetros de distância dos museus que desejam conhecer. Segundo Amit Sood, autor do aplicativo, câmeras profissionais fotografaram a parte interna dos museus, dando ainda mais veracidade a essa experiência virtual, que visa uma maior democratização do conteúdo artístico sem que haja a necessidade de pagamento de ingressos nem o deslocamento ao local.
Segundo o antropólogo francês, Pierre Bourdieu, os indivíduos possuem o que ele chama de capital cultural, ou seja, um conjunto de qualificações intelectuais adquiridas através do convívio social na família e na formação educacional. O conceito de capital cultural está ligado a um outro conceito desenvolvido por ele, o habitus. Segundo o antropólogo, habitus é um princípio pré-disposto, construído histórico e coletivamente de acordo com a classe social dos indivíduos. É o que irá pré dispor alguns indivíduos a adquirir práticas e ações específicas ligadas, por exemplo, a vivência cultural.
Ou seja, segundo o autor, no livro “O amor pela arte”, publicado originalmente em 1966, o apreço por obras de arte está ligado ao conceito de habitus e determinado por questões sociais. O amor pela arte não está apenas ligado a preferências estéticas de ordem subjetiva. Segundo Bourdieu, o fato de uma determinada pessoa frequentar museus não ocorre apenas por ela afirmar gostar de frequentá-los. Segundo esse livro, uma pesquisa minuciosa que busca compreender e analisar quem é o público frequentador dos museus da Europa, em países tal como França, Espanha, Grécia, Itália, Holanda e Polônia, os conceitos de habitus e capital cultural podem traçar o perfil dos frequentadores dos museus europeus. Sendo eles, na maioria dos casos indivíduos com maior nível de instrução educacional, que tenham tido algum tipo de contato com arte durante a infância. Segundo Bourdieu, crianças que frequentaram museus em companhia dos seus pais tendem a ser visitantes assíduos no futuro. Isso porque se cria um laço de familiaridade com a prática da visitação a espaços culturais. Segundo Bourdieu, o sistema educacional meritocrático é o maior responsável por enaltecer as desigualdades em relação ao acesso à cultura.
Apesar do antropólogo francês acreditar que o hábito de frequentar museus está ligado a trajetória educacional e familiar dos indivíduos, sendo portanto, uma construção social; a expansão das visitações online a museus pode auxiliar ao combate dessa desigualdade cultural. De modo que a visitação on-line é mais democrática e acessível, por ser feita via web e sem a cobrança de taxas ou ingressos.
Segundo a doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ), Rosane Maria Rocha de Carvalho, a Internet permite que usuários dos mais diversos lugares do mundo possam visitar em um mesmo dia uma série de museus, localizados em diferentes localizações, através do uso do computador. Os sites, em geral, são reproduções dos espaços físicos dos museus. Fato recente, os museus virtuais, ou também museus on-line tem em torno de doze anos de existência. Também chamados de museu eletrônico, digital, hipermuseu, cibermuseu e também web museu, trata-se de uma nova forma de vivenciar a experiência artística e cultural. A ideia é ter acesso a um museu sem limites geográficos, sem tempo de funcionamento, em que o visitante on-line possa cada vez mais, visualizar de forma ilimitada os acervos e obras. No entanto, o museu virtual não pode ser exatamente equivalente ao museu do espaço físico, que não pode ser por ele substituído, simplesmente pelo fato de que no museu virtual há apenas projeções, visualizações dos objetos em exposição. Apesar disso, o projeto de criação de museus on-line tem seus pontos positivos, pois busca democratizar o acesso às exposições e aos acervos dos museus físicos, permitindo um maior contato com o público, de modo interativo, além de proporcionar uma experiência continuada, através da realização de redes de discussão on-line. A digitalização do conteúdo cultural e patrimonial é de extrema importância para o futuro da humanidade, mesmo que ainda alguns museus mais tradicionais ofereçam certa relutância no debate dessas sites e ferramentas via web. Além disso, alguns sites como o do Fine Arts Museum em São Francisco, além do tour on-line e da visualização das obras, ainda oferece uma ferramenta, na qual, o visitante virtual pode ser o curador de sua própria exposição. Essas e outras atividades interativas enriquecem a experiência do internauta, podendo ser executadas apenas no meio virtual.
Apesar da tese de Pierre Bourdieu, na qual, o hábito de frequentar museus está ligado a uma construção social associada a trajetória dos indivíduos e de suas classes, o museu virtual vem como uma alternativa para aqueles que desejam penetrar no meio cultural e artístico sem custo, através do espaço ilimitado da Internet. Além disso, é uma forma de inserir os jovens estudantes, que vivenciam de modo intenso a era digital, ao mundo museológico, podendo ser ele muito mais atrativo e interativo.
Referências Bibliográficas
BOURDIEU, Pierre & DARBEL, Alain. O Amor pela Arte São Paulo, EDUSP e Ed. Zouk, 2003.
CARVALHO, Rosane. Comunicação e informação de museus na internet e o visitante virtual. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação – XIII ENANCIB, 2012.
Disponível em: http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/8/4
Sites consultados:
http://www.google.com/culturalinstitute/project/art-project?hl=pt-br
(Acesso em 02/06/14)
http://www.eravirtual.org/pt/ (acesso em 01/06/14)