Cultura digital, sociedade e política

08/07/2014

COM PURPURINA É QUE SE LUTA

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RALPH SARLO CABRAL

As lutas do Movimento LGBT têm aumentado amplamente nos últimos anos. A visibilidade dessa “minoria” é expressiva nas redes sociais. No Facebook, por exemplo, há inúmeras comunidades virtuais que se relacionam de alguma forma ao Movimento. Uma dessas comunidades é o grupo “PUC PURPURINA”, criado desde 2011 para o público LGBT da PUC-SP.
Ao acompanhar as postagens desse grupo, podemos perceber que uma de suas finalidades é a interação de seus membros na troca de assuntos de interesse comum. Os assuntos publicados no grupo são os mais variados, indo de simples notícias a grandes acontecimentos relacionados com as lutas do Movimento LGBT (não se limitando apenas a essa “minoria”, mas visibilizando também outras minorias sociais), se publica também brincadeiras e o que alguns classificam como “pornografia” ou “putaria” (vídeos, paródias, fotos eróticas, etc.). Essa última característica do grupo mostra que esse movimento não tem receio de se assumir emocional: é alegre, festivo, brincalhão, etc.
A interação dos membros no grupo denota uma proximidade entre eles,o que dá sentido ao termo, que foi muito usado no Orkut, COMUNIDADE. Os membros desse grupo demonstram se sentir em uma comunidade, um ambiente agradável, um local onde todos são iguais e respeitam suas diferenças, todos podem “falar sério” e “brincar” sem serem mal vistos ou mal falado, sem serem zombados. Há um sentimento de pertencimento no grupo, de identificação nos assuntos tratados, nos interesses, gostos, etc.
Os atores sociais dessa comunidade virtual, não se limitam a esse espaço, mas transitam livremente entre o virtual e o físico, como uma busca de constituir esses espaços de atuação em um só espaço, um espaço híbrido. Prova disso é a constituição, no ano de 2014, da Frente LGBTT da PUC-SP. Essa formação social surge da necessidade de se engajar intensamente na luta pelos direitos da comunidade LGBT, tanto dentro como fora da Universidade. Uma forma de conscientizar os interessados sobre as questões que envolvem a comunidade LGBT. Ou como disse Manuel Castells: “contribuir para a tarefa dos que lutam, correndo grandes riscos, por um mundo em que gostaríamos de viver.” (2013: 22).

 

Referências Bibliográficas

- CASTELLS, Manuel. REDES DE INDIGNAÇÃO E ESPERANÇA: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

03/06/2014

MAIS AXÉ PRA SER ODARA!

Filed under: Ralph Sarlo — Tags:, , , , — ralphsarlo @ 19:30

Nas últimas semanas uma notícia causou grande polêmica. Trata-se da afirmação do juiz da 17ª Vara Federal, Eugênio Rosa de Araújo, que excluía do rol das religiões os cultos afro-brasileiros. Segundo o juiz, o candomblé e a umbanda não possuem um texto base (como a Bíblia), uma hierarquia e um Deus a ser venerado, elementos essenciais para que uma prática seja classificada como Religião.
Trazendo à memória a questão abordada pelos autores André Lemos e Pierre Lévy*, de que a ampla intersecção das diversas culturas não tem por consequência homogeneizar o mundo, suprimindo a diversidade. Ao contrário, essa interação, mesmo que modificando algumas características de uma determinada expressão cultural (língua, religião, arte, etc.), serve para reafirmá-la no contexto. E que é papel do Estado (Estado Nação) promover a pluralidade cultural, mas o que se observa é a opressão das minorias em nome do princípio de uniformidade cultural (Lemos e Lévy, s/d: 211).
Mais uma vez pudemos perceber o desrespeito realizado por parte dos detentores do poder, dos que são chamados representantes do povo. Mas a afirmação do excelentíssimo juiz não ficou por isso mesmo: muitas postagens nas redes sociais, especialmente o Facebook, repudiaram tal atitude de um representante do Ministério Público Federal. Muitos grupos e comunidades virtuais de praticantes das religiões de matriz africana, de simpatizantes e até pessoas que não têm vínculo algum com essa cultura, mas se sentiram lesadas pelo pronunciamento de Eugênio, e se manifestaram virtualmente e organizaram (pelas páginas das redes sociais) eventos de protestos contra essa afronta realizada com a expressão cultural que são os cultos afro-brasileiros. Houve protestos na Bahia, no Rio de Janeiro, e São Paulo também organizou uma manifestação no local consagrado pelas diversas manifestações: o vão do MASP.
As religiões de matriz africana têm buscado seu espaço na sociedade, seu reconhecimento e diminuição do preconceito sofrido. As redes sociais são um veículo de grande importância para a divulgação dessa cultura. Há a possibilidade de se criar páginas no Facebook divulgando, não apenas eventos, mas outros elementos que envolvem essas culturas, como por exemplo: contos, cantos, fotos, entre outras coisas. Diretamente relacionada a essa ferramenta está o Youtube, com a veiculação, em grande escala, de informações em vídeo, contendo trechos de seus ritos de culto aos Orixás e Entidades.
Cada vez mais é preciso se apropriar desses espaços virtuais, que abrem portas aos espaços públicos, conquistando seu espaço enquanto expressão cultural que deve ser preservada e propagada, em conjunto das demais expressões, sem que uma suprima a outra. E preciso encher os espaços virtuais de Axé, que na cultura africana é energia boa, pois só com lutas carregadas de Axé é que se pode acreditar num mundo mais Odara, mais Belo.

* “O espaço virtual da cultura”.

Referências Bibliográficas
- LEMOS, André e LÉVY, Pierre. O FUTURO DA INTERNET: em direção a uma ciberdemocracia planetária. Ed. Paulus: s/d.

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