Cultura digital, sociedade e política

16/06/2014

Programação cultural on-line

Filed under: Fernanda Portela — Tags:, , , — mfeportela @ 20:20

Por Maria Fernanda Bienhachewski da Costa Portela  

           

            A visitação a museus nunca esteve tão acessível. O site “ Era Virtual – Museus” é um projeto criado em 2008 e promove a visitação virtual de algumas instituições culturais brasileiras, visando despertar o interesse do público, divulgando via web os acervos de alguns museus brasileiros. Segundo os idealizadores, trata-se de um site interativo em constante atualização. A estratégia utilizada por eles é apostar em uma linguagem simples e de fácil comunicação com o público escolar, através de um acesso democrático via web. Contando também com a distribuição gratuita de Dvd-rooms aos interessados. A vista on-line de um espaço real, através da Internet também se preocupa em oferecer uma experiência cultural aos internautas.

Hoje em dia, museus tem investido bastante em seu departamento educativo, a fim de aproximar a arte do público, sendo comum realizar além da visita mediada, uma série de oficinas e atividades lúdicas. Na visita on-line isso não é diferente, pois também são oferecidos jogos educativos e interativos que complementam a atividade.

“O ERA VIRTUAL tornou-se uma rede de museus virtualizados e uma iniciativa referencial no processo de sua utilização do museu como material didático não-formal dentro das escolas. ” (trecho retirado da apresentação do site, disponível em http://www.eravirtual.org/ )

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            São inúmeras instituições que aderiram ao projeto, em alguns estados do Brasil, tal como Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Essa experiência on-line só pode ser possível nos dias de hoje, em que vivemos num período de intensa digitalização.

            O grupo Google também lançou seu projeto, o “Art Project” que permite ao usuário visitar uma série de museus através de um aplicativo semelhante ao “ Google Street View”, que fornece imagens reais de ruas e avenidas de qualquer localidade. Através desse aplicativo, conectado diretamente as ferramentas do Google, o usuário pode não só visualizar o acervo em imagens de alta definição como também fazer uma espécie de Tour virtual pelas salas de exposição. Iniciado em 2011, o projeto conta com célebres museus tais como o The Metropolitan Museum of Art e MoMA, em Nova York, The State Hermitage Museum, em São Petersburgo e Van Gogh Museum, em Amsterdã entre outros.

A visita on-line é uma alternativa para os apreciadores de arte que estão a quilômetros de distância dos museus que desejam conhecer. Segundo Amit Sood, autor do aplicativo, câmeras profissionais fotografaram a parte interna dos museus, dando ainda mais veracidade a essa experiência virtual, que visa uma maior democratização do conteúdo artístico sem que haja a necessidade de pagamento de ingressos nem o deslocamento ao local.

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Segundo o antropólogo francês, Pierre Bourdieu, os indivíduos possuem o que ele chama de capital cultural, ou seja, um conjunto de qualificações intelectuais adquiridas através do convívio social na família e na formação educacional. O conceito de capital cultural está ligado a um outro conceito desenvolvido por ele, o habitus. Segundo o antropólogo, habitus é um princípio pré-disposto, construído histórico e coletivamente de acordo com a classe social dos indivíduos. É o que irá pré dispor alguns indivíduos a adquirir práticas e ações específicas ligadas, por exemplo, a vivência cultural.

Ou seja, segundo o autor, no livro “O amor pela arte”, publicado originalmente em 1966, o apreço por obras de arte está ligado ao conceito de habitus  e determinado por questões sociais. O amor pela arte não está apenas ligado a preferências estéticas de ordem subjetiva. Segundo Bourdieu, o fato de uma determinada pessoa frequentar museus não ocorre apenas por ela afirmar gostar de frequentá-los. Segundo esse livro, uma pesquisa minuciosa que busca compreender e analisar quem é o público frequentador dos museus da Europa, em países tal como França, Espanha, Grécia, Itália, Holanda e Polônia, os conceitos de habitus e capital cultural podem traçar o perfil dos frequentadores dos museus europeus. Sendo eles, na maioria dos casos indivíduos com maior nível de instrução educacional, que tenham tido algum tipo de contato com arte durante a infância. Segundo Bourdieu, crianças que frequentaram museus em companhia dos seus pais tendem a ser visitantes assíduos no futuro. Isso porque se cria um laço de familiaridade com a prática da visitação a espaços culturais. Segundo Bourdieu, o sistema educacional meritocrático é o maior responsável por enaltecer as desigualdades em relação ao acesso à cultura. 

Apesar do antropólogo francês acreditar que o hábito de frequentar museus está ligado a trajetória educacional e familiar dos indivíduos, sendo portanto, uma construção social; a expansão das visitações online a museus pode auxiliar ao combate dessa desigualdade cultural. De modo que a visitação on-line é mais democrática e acessível, por ser feita via web e sem a cobrança de taxas ou ingressos.

 Segundo a doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ), Rosane Maria Rocha de Carvalho, a Internet permite que usuários dos mais diversos lugares do mundo possam visitar em um mesmo dia uma série de museus, localizados em diferentes localizações, através do uso do computador. Os sites, em geral, são reproduções dos espaços físicos dos museus. Fato recente, os museus virtuais, ou também museus on-line tem em torno de doze anos de existência. Também chamados de museu eletrônico, digital, hipermuseu, cibermuseu e também web museu, trata-se de uma nova forma de vivenciar a experiência artística e cultural. A ideia é ter acesso a um museu sem limites geográficos, sem tempo de funcionamento, em que o visitante on-line possa cada vez mais, visualizar de forma ilimitada os acervos e obras. No entanto, o museu virtual não pode ser exatamente equivalente ao museu do espaço físico, que não pode ser por ele substituído, simplesmente pelo fato de que no museu virtual há apenas projeções, visualizações dos objetos em exposição. Apesar disso, o projeto de criação de museus on-line tem seus pontos positivos, pois busca democratizar o acesso às exposições e aos acervos dos museus físicos, permitindo um maior contato com o público, de modo interativo, além de proporcionar uma experiência continuada, através da realização de redes de discussão on-line. A digitalização do conteúdo cultural e patrimonial é de extrema importância para o futuro da humanidade, mesmo que ainda alguns museus mais tradicionais ofereçam certa relutância no debate dessas sites e ferramentas via web. Além disso, alguns sites como o do Fine Arts Museum em São Francisco, além do tour on-line e da visualização das obras, ainda oferece uma ferramenta, na qual, o visitante virtual pode ser o curador de sua própria exposição. Essas e outras atividades interativas enriquecem a experiência do internauta, podendo ser executadas apenas no meio virtual.

Apesar da tese de Pierre Bourdieu, na qual, o hábito de frequentar museus está ligado a uma construção social associada a trajetória dos indivíduos e de suas classes, o museu virtual vem como uma alternativa para aqueles que desejam penetrar no meio cultural e artístico sem custo, através do espaço ilimitado da Internet. Além disso, é uma forma de inserir os jovens estudantes, que vivenciam de modo intenso a era digital, ao mundo museológico, podendo ser ele muito mais atrativo e interativo.   

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Referências Bibliográficas

 

BOURDIEU, Pierre & DARBEL, Alain. O Amor pela Arte  São Paulo, EDUSP e             Ed. Zouk, 2003.

 

CARVALHO, Rosane. Comunicação e informação de museus na internet e o visitante virtual. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação – XIII ENANCIB, 2012.

Disponível em:  http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/8/4

 

Sites consultados:

 

http://www.google.com/culturalinstitute/project/art-project?hl=pt-br

(Acesso em 02/06/14)

 

http://www.eravirtual.org/pt/ (acesso em 01/06/14)

 

 

12/06/2014

Arquivologia e o moderno: a conservação da preservação

Filed under: Jimmy Pitondo — Tags:, , , — jimmymp @ 17:10

A Arquivologia é uma área do pensamento ligada a ciência da informação. Entre inúmeras funções, tem como objetivos centrais a organização, conservação e preservação de documentos em arquivos com base em conceitos e técnicas desenvolvidos em conjunto de cada um desses processos. Sua importância enquanto um campo do conhecimento que trabalha o próprio conhecimento se justifica através de seu papel na preservação e compartilhamento do material já produzido, bem como do que virá a ser produzido. A princípio, os arquivos nascem juntos com as bibliotecas em um mesmo espaço físico. Produção e preservação constituíam um corpo uno, concomitante ao avanço da produção e desenvolvimento do pensamento humano, portanto nascem quando os homens tomam consciência da proliferação dos saberes, ambos representam uma tentativa de contenção e dominação ao lado de um desejo de posse e conservação. O saber é poder.

Nesse contexto, nos é interessante analisar seu lugar ao lado do fenômeno Moderno de transformações das relações entre tempo e espaço, os constantes avanços tecnológicos, além das novas formas de produção do conhecimento e de compartilhamento. Primeiramente podemos assumir que seu papel é profundamente abalado por conta das consequências das práticas engendradas por essa dinâmica, através dos novos equipamentos e, principalmente, pela Internet. A pequena rede de computadores interligados criada pela Advanced Research Projects Agency (ARPA) em 1969, talvez nunca tenha imaginado as mudanças sociais estimuladas pelo impacto que, ao longo da década de 1990 e 2000, seu projeto impulsionou. Hoje, quando pensamos em meio técnico, ou seja, um elemento material com que, ou por meio do qual, a informação ou o conteúdo simbólico é fixado e transmitido através de uma rede que vai do produtor ao receptor, a Internet se apresenta como grande protagonista na produção e reprodução dessas novas relações sociais, econômicas, políticas e culturais.

Então, a informação nesse ambiente de arquitetura descentralizada, polifórmico e interrelacionado da cultura digital e tecnológica, assim como em seus primórdios, se faz em sua completude através da sua produção, recepção e reprodução. Em qualquer sociedade os indivíduos que ocupam determinados lugares e possuem determinadas funções, se ocupam também da produção e, principalmente, do intercâmbio de informações e conhecimentos. Esse movimento está contido desde as mais antigas formas de comunicação gestual e do uso da linguagem até nas grandes redes que compõem o quadro de poder e de mudança contemporâneo. Como vimos, a preservação e conservação do conhecimento desde seus primórdios concentrado em Alexandria, constituía-se como uma relação de poder. Hoje vemos uma mudança nesse polo centralizador, bem como uma intensificação dessa dinâmica, pois ‘‘[...] a mudança do ambiente comunicacional afeta diretamente as normas de construção de significado e, portanto, a produção de relações de poder’’(Castells. 2013:11). Assim, esta é a questão que se coloca: como a Arquivologia pode acompanhar e se adaptar a forma como se realiza essa produção, seu armazenamento e sua circulação? Esse tipo de dúvida tem aspecto central da vida social Moderna.

Antes de nossos dedos serem condenados ao eterno movimento pendular nas telas touch screen, nós os utilizávamos para construir redes. As redes sempre foram vistas como ferramentas para organização por conta de sua natureza flexível e sua adaptabilidade. Essas características contidas em um ambiente líquido de rápida mutação, transformações, se tornam essenciais para a sobrevivência do homem. Tanto que ainda hoje vivemos em uma sociedade de redes, porém uma rede em outro formato: maior e mundial (Castells. 2013). Não mais feitas de fibras, mas baseadas na Internet. Um universo de informações disponíveis em nossos dedos.

Vejamos como é essa relação entre o velho e o novo. Uma das principais diferenças entre a preservação digital e a dos formatos tradicionais de registro está no fato dos dados digitais terem a possibilidade de não se verem obrigados a sobreviver por obra do acaso. Ao longo da produção desses dados é possível tomar uma decisão consciente em relação a sua preservação já ao longo do seu processo de produção, assumindo um compromisso de mantê-los vivos, à exemplo contrário do que era feito antes, em um tempo no qual eram encontradas por acaso coisas guardadas no sótão ou porão de alguma casa velha por 50 ou mais anos e que ainda era possível a recuperação e a leitura desses documentos por pura sorte. Mas, ainda assim, mesmo com essa possibilidade se constitui um problema a pouca atenção dada à preservação de textos eletrônicos em longo prazo, podemos enumerar duas principais causas: (1) devido à quantidade enorme de material produzido diariamente, e o (2) tempo que se leva para concluir se vale à pena ou não o esforço, energia e recursos em sua preservação, pois, devemos sempre lembrar que essa agilidade produtiva é ao mesmo tempo causa ocasional de superficialidade e efemeridade de grande parte do que é produzido.

A ideia do progresso, da entrada no futuro deixando o passado para trás junto com a bagagem de antigos sistemas obsoletos se coloca como um obstáculo na preservação e conservação do conhecimento em suas novas formas. Anos atrás o papel substituiu a pedra e, agora, o papel está claramente sendo trocado por novas formas de registro e acesso ao conhecimento, mas não podemos nos esquecer que um papel, nas devidas circunstâncias, pode durar séculos e continuar legível ao olhar humano, o qual, provavelmente, não irá mudar nos próximos séculos, por outro lado, os discos, memórias e formatos de dados mudam a cada ano. Ora, assim como a sobrevivência física das informações registradas é crucial, a nossa capacidade de decifrar e entender o seu significado também o é. O problema está no fato de que esse enorme volume de dados produzidos acumula e cresce em tal velocidade que não há tempo, energia ou recursos para pensar se todas as informações antigas foram convertidas para um novo meio antes de sua obsolescência. É preciso ter especialistas em sistemas de migração, pois a maioria dos pesquisadores futuros irá querer essas informações numa época em que a tecnologia usada para gerá-las provavelmente terá desaparecido do mercado.

O papel da Arquivologia tanto em relação a essas fontes quanto as fontes físicas, em papel, microfilmes, negativos fotográficos, filmes, discos fonográficos e gravações de áudio e vídeo em diversos formatos etc., é garantir que essa produção importante e insubstituível seja salva e colocada à disposição para nosso próprio uso, bem como o das próximas gerações. Muito do material que está se criando, como por exemplo, no âmbito artístico, acadêmico e jornalístico, já é criado exclusivamente de forma eletrônica, não há sua expressão material, não é mais publicado em mídias impressas, somente em sua forma eletrônica. Assim, corremos o risco de perder tudo se não compreendermos a real importância na atenção a essa nova dinâmica e, por conseguinte, repensarmos as técnicas de preservação e conservação.

Temos portando três principais problemas a serem debatidos, grosso modo: (1) a durabilidade do próprio meio no qual o conhecimento é produzido, tanto em relação ao que podemos chamar de formas tradicionais quanto as novas formas eletrônicas, (2) a atualização constante dos equipamentos necessários para trabalhar com esses documentos, onde a importância dos sistema de migração perpassam o campo da preservação, conservação e do uso desse material em pesquisas, e, por fim destacamos as dificuldades de análise ao (3) decidir o que salvar e o que não salvar. Os novos Softwares e Hardware ao lado das transformações sociais estimuladas pela rede mundial de computadores e os usos que fazemos desse conjunto, se encaixa nessa nova dinâmica Moderna, onde tudo o que é sólido se desmancha no ar, num movimento que traz consigo a ruptura com o velho e faz surgir a possibilidade do novo. Naturalmente esse desejo pela preservação pode soar conservador demais aos progressistas, mas ao contrário, a base para as transformações está no passado, a mudança sempre é a atualização de uma potência, e essa é a única constante nesse tempo, pois ela mesma sempre deixa patamar para outra em um ciclo de destruição do velho para dar lugar ao novo que deverá destruído amanhã.

Então hoje, dentro de uma perspectiva comparada, em relação aquele conhecimento limitado a um espaço físico definido, hoje o encontramos em um único computador com inúmeros pontos de acesso ‘‘[...] reunindo a maior parte da humanidade em um território semântico unificado, ainda que infinitamente variado.’’ (Lemos; Levy. 2010:201) Por meio da grande quantidade de blogs, imagens, formas de produção e compartilhamento do conhecimento, enxergamos no ciberespaço uma objetivação técnica que da ritmo a produção cultural contemporânea, onde até mesmo o ‘‘eu’’ e suas múltiplas identidades torna-se menos ligado a uma localização física. Assim, nesse universo digitalizado, parte importante da produção humana se torna acessível a partir de qualquer ponto da rede através de distância semânticas que, como mostrou André Lemos e Pierre Levy (2010), são a base da ordem desse ciberespaço, pois são essas zonas de espaço que nos levam a esse conhecimento: nome de domínios, palavras-chave em motores de busca, hiperlinks, pirataria informacional etc., etc. Facilitando e dinamizando a produção de novos materiais.

Ainda assim, tudo isso pode se perder com a mesma facilidade que nos chega. Por conta disso é essencial desenvolver um trabalho em conjunto, consciente e auto-reflexivo acerca da forma como tratamos nosso passado, dissimulado pelo ideológico véu do progresso. Ao longo da história da humanidade, incêndios, inundações e guerras, foram eventos que sempre ameaçaram os registros humanos, é preciso ficar atendo para que o desenvolvimento tecnológico não faça parte desse grupo, prejudicando a preservação desses registros através de seu próprio desenvolvimento. O estudo da história e suas fontes é algo que agrega insumo no âmbito da construção de um conhecimento objetivo para ser usado como inspiração na elaboração de novas formas de ações no futuro, esse eterno e incerto ponto de chegada tão almejado pelas sociedades Modernas.

Bibliografia
CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: Reflexões Sobre a Internet, os Negócios e a Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
________________. Redes de Comunicação e Esperança: Movimentos Sociais na Era da Internet. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2013.
LEMOS, André; LEVY, Pierre. O Espaço Virtual da Cultura In O Futuro da Internet: Em Direção a uma Ciberdemocracia Planetária. São Paulo: Paulus, 2010.

11/06/2014

TECNOLOGIA: INOVAÇÕES NO ENSINO APRENDIZAGEM

Filed under: Olíria Ribeiro Costa — Tags:, , , , , — oliriaribeiro @ 21:24

Vivemos uma época na qual o acesso às informações anda tão imediato e inovador, que conseguir prender a atenção dos alunos em sala de aula passa a ser cada vez mais um desafio aos professores. Assim, surge a necessidade de se reaver o projeto pedagógico da escola, tendo em vista a necessidade de acompanhar os movimentos da sociedade em direção a uma cultura digital. Pérez Tapias ao discorrer sobre o assunto, diz que o espaço urbano se revitaliza com a internet, isso por que:

 As pressões da informação generalizada que os meios de comunicação difundem na atualidade, ao que vem acrescentar-se como dado qualitativo o fato de ser tão persuasivamente transmitida, dão xeque-mate na escola como instituição. Os saberes estabelecidos para cuja transmissão está ela esboçada, o papel do professor nesse quadro acadêmico, a estruturação hierárquica de suas relações internas e o próprio caráter linear de um curriculum pensado em termos acumulativos – tudo isso se vê modificado na nova situação em que estamos. Circulam agora novos conhecimentos vinculados, além disso, aos suportes tecnológicos pelos quais são transmitidos; diante deles, a função do professor é desvalorizada e decresce o reconhecimento de sua autoridade, requerem-se relações também horizontais no âmbito escolar, e o máximo caráter optativo e o livre delinear de cada um parece atender mais a um saber que se mostra disperso, heterogêneo e acessível por meio de redes de múltiplas entradas. (TAPIAS, 2006: 163)

Assim a iniciativa do Projeto GENTE – Ginásio Experimental de Novas Tecnologias que traz uma nova metodologia de ensino-aprendizagem em que o aluno é protagonista e o centro desse processo é inovador, principalmente por que ele reúne dentro de um espaço com novo formato justamente as dificuldades que eram enfrentadas em sala de aula, trazendo-as de encontro. Isso ocorre por que “as telecomunicações (tecnicidade) vão nos propiciar novas ligações, meios radicalmente novos de produção e organização dos espaços habitados, e de nos apropriarmos deles para nossos múltiplos propósitos humanos.”Martín-Barbero discorre sobre a produção do conhecimento como um processo de descentralização e destemporalização do saber, entendendo esse processo como:

el conjunto de procesos y experiências que testimonian la expandida circulación por fuera del libro de saberes socialmente valiosos. El saber se descentra, em primer lugar, em relación al que há sido su eje durante los últimos cinco siglos: el libro. Un proceso/modelo, que con muy relativos câmbios había moldeado la práctica escolar desde la invención de la imprenta, sufre hoy uma mutación cuyo más largo alcance lo evidencia la aparición del texto electrónico (R. Chartier), o mejor, de la hipertextualidad (E. Berk/J.Devlin) como nuevo modelo de organización y aprendizaje de conocimientos. Son câmbios que no vienen a reemplazar al libro, sino a relevarlo de su centralidad ordenadora de las etapas y lós modos de saber que la estructura-libro había impuesto no solo a la escritura y la lectura, sino al modelo entero del aprendizaje: lineariedad secuencial de isquierda a derecha, tanto física como mental, y verticalidad del arriba hacia abajo, tanto espacial como simbólica.(MARTÍN-BARBERO, 2005: 28)

Deste modo o projeto implantado na Escola André Urani¹ da rede pública, localizada na maior favela do Rio de Janeiro, se encaixa neste novo formato de aprendizado, em que a escola se torna um espaço de fluxos informacionais.

O projeto vai além da presença de computadores para cada aluno na escola, o que por si só já não é algo comum nas escolas públicas brasileiras, propondo modificações que alteram a forma de interação entre os atores sociais em seu espaço físico e entre si(professor/aluno – aluno/aluno).

A escola não possui mais paredes internas, seus móveis são modulares (podem ser encaixados de acordo com a atividade do dia) diferentemente do padrão tradicional em que os alunos ficam sentados enfileirados de frente para o professor, e não há divisão dos alunos em idades e série, estes agora ficam formados em grupos heterogêneos.

O professor não monta mais aulas para uma classe de uma série especifica, agora o seu desafio é montar atividades interdisciplinares para o grupo e o individual, pois cada aluno utiliza uma plataforma digital com um itinerário formativo com o que ele precisa aprender e seu desempenho é acompanhado semanalmente a partir dos resultados adquiridos pela máquina de testes que a plataforma oferece.

E por fim, a relação entre os alunos se dá de uma forma diferente, pois eles são reunidos em grupos ou famílias heterogêneas que prevê uma troca de experiências entre eles, ou seja, apesar do itinerário ser individual a aula é colaborativa, pois em caso de dúvida o aluno consulta o companheiro ao lado e o seu grupo para tentarem resolver a questão antes de procurarem pelo professor, que no caso tem uma função de mentor do grupo.

Este novo modelo pedagógico foi inspirado pela Summit Public Schools² da Califórnia (EUA), uma rede de escolas que já tem 10 anos de atuação nesta proposta de ensino híbrido (tecnologia, currículo, personalização) para cada projeto de vida de um aluno em particular.

Por fim, pode-se cogitar que o sucesso desse projeto que transforma a educação acontece justamente pela alteração da experiência vivida dos alunos, pois esta deixa de ser algo distante e desinteressante para se tornar o seu oposto, onde a tecnologia atua como um mediador entre o aluno e o ensino. Portanto, assim como a produção de conhecimento a escola também se modifica, deixando de ser um espaço fechado dentro de si e se expande para além de seus muros.

 

Notas:

1 – Disponível em: http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,novo-modelo-de-escola-no-rio-aposta-em-tecnologia-e-ensino-individualizado,1015075

2 – http://www.summitps.org/

 

 

Bibliografia

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Cultura y nuevas mediaciones tecnológicas In.: América Latina: otras visiones de La cultura. Colombia – Ed. Malpensante: 2005

 MITCHELL, William J. A marcha dos meganets. In.: E-topia: a vida urbana mas não como a conhecemos. São Paulo. Senac, 2002: 57

PÉREZ TAPIAS, José Antonio. Possibilidades de humanização e risco do “sem-sentido” no mundo digital. In.: Internautas e náufragos: a busca do sentido na cultura digital. São Paulo. Loyola, 2006: 163

SALDANÃ, Paulo. Novo modelo de escola no Rio aposta em tecnologia e ensino individualizado. O Estado de São Paulo, São Paulo, 30 março de 2013. Caderno Educação.

 

 
LINKS:

http://www.youtube.com/watch?v=FIF7jNZwFcw

transformareducacao.org.br

09/06/2014

KID’S ONLINE

A internet nasce e se desenvolve a partir de uma cultura do compartilhamento de dados e conhecimento, e cada vez mais vem sendo apropriada por maior número de pessoas de diferentes faixas etárias, classes sociais e cultura. Movimento este que trouxe diversas mudanças sociais nas formas de interações dos indivíduos com o mundo a sua volta. O interessante disto é perceber o quanto estas características estão presentes inclusive no cotidiano das crianças, principalmente a última geração que já nasce inserida nestas tecnologias de informação e comunicação. É cada vez mais comum notar crianças que possuem celulares com acesso à Internet e que navegam com maior facilidade e frequência na rede em comparação aos seus pais.

Uma pesquisa realizada em 2012 no Brasil¹ aborda os diferentes tipos de usos e hábitos dessas Tecnologias de Informação e Comunicação entre usuários na faixa etária de 09 a 16 anos, a pesquisa teve como foco de análise às oportunidades e riscos que o seu uso podem trazer. Dentre várias informações que a pesquisa traz, é impressionante a frequência nas quais crianças e adolescentes frequentam um perfil ou página de uma rede social – 53% utilizam quase ou todos os dias -, sendo que a maior parte é perfil próprio e em alguns casos possuem até mais de um perfil, desse modo essas atividades fazem parte e ao mesmo tempo são uma extensão das suas vidas off-line.

No livro A cultura da participação – Clay Shirky (2011), no seu capítulo Meios, descreve um caso interessante desta apropriação; meninas sul-coreanas se mobilizam contra a reabertura da importação de carne bovina americana no seu país, neste período, tinha-se o medo da contaminação da vaca-louca, doença descoberta há pouco tempo. O que chama atenção nesse fato foi que elas ficaram sabendo da liberação através de um post no quadro de avisos do site de uma banda do momento, que tinha grande importância para essas meninas. Entretanto a banda em questão não tinha a intenção de promover nada, foram elas que utilizaram essa informação e partir disso se organizaram e impediram esta liberação. Isso ocorreu por que houve por parte dessas meninas uma apropriação (MARTÍN-BARBERO, 2004) da tecnologia de comunicação, pois elas poderiam ter visto a notícia e não terem feito nada sobre o assunto, muito pelo contrário; pegaram essa informação e redistribuíram e utilizaram o site em questão como um canal de aproximação e articulação com as outras pessoas.

O alto índice de acessos e visualizações deste site, em torno de 1 milhão², foi um meio que possibilitou que um montante significativo de pessoas pudessem ver e ter o poder de fazer circular esta informação para uma quantidade ainda maior de pessoas. Esse movimento circular e expansivo é o que atribui valor a uma dada informação e a partir disso tem um potencial transformador. Assim, pode-se notar que “os usuários têm a chance de atuar, simultaneamente, como produtores, emissores e receptores”³, portanto no exemplo das meninas sul-coreanas, ocorrem alguns movimentos entre a recepção e a produção de algo.

A princípio as meninas estão em uma condição apenas de receptoras de informação, em um segundo possuem um papel de difundir esta informação, que ao ser repassado, pode ganhar um novo sentido e significado e por fim após a informação ser transmitida e transformada em uma ação, neste caso as meninas ocuparam uma praça e lá permaneceram durante um mês todos os dias, sem esmorecer e crescendo ao passar dos dias, até o governo sul-coreano retroceder na sua decisão. Ou seja, a internet é um espaço que possui um potencial de transformação no sentido em que é um meio de fornecer e compartilhar informações possibilitando uma infinidade de usos.

Por outro lado, transformações sociais nem sempre são 100% positivas, um dado importante que é apresentado na pesquisa Kid’s Online, que serve de atenção no sentido de como as mediações do uso destas tecnologias tem sido feitas pelos pais, servindo de alerta quanto à segurança da navegação dessas crianças na rede. Os resultados demonstram que enquanto boa parte dos pais considera-se bem informados quanto ao assunto e acreditam que seus filhos estão seguros, do outro mostra a fragilidade desta percepção, ao indicar que muitas crianças e adolescentes disponibilizam informações pessoais, tais como endereço, escola, celular entre outros, e até mesmo entram em contato com desconhecidos. Apesar destes pontos negativos, isso não tira a importância e influência da internet no meio em que vivemos, servindo apenas de um alerta quanto aos riscos que podem ocorrer no mundo virtual, pois o que vai impactar no resultado é no processo de como se dá esse uso, se é consciente ou não frente às consequências que podem afetar tanto negativo ou positivamente no mundo real, como foi o caso das meninas sul-coreanas.

 

Notas:

1 – TIC KIDS ONLINE BRASIL 2012 – Disponível em: cetic.br

2 – Importante ressaltar que a Coreia do Sul é um país que faz um uso intensivo da Internet, sendo que 78% da população são usuários, e destes, 99% (TIC KIDS ONLINE BRASIL 2012) fazem a sua utilização diariamente. Diferentemente do que ocorre no Brasil, onde o acesso ainda não está disponível em todos os lugares e mesmo nos locais aonde se tem acesso, nem sempre isso é garantia de qualidade na conexão. Por outro lado, na Coreia do Sul essa alta conectividade é altamente controlada e restritiva.

3 – Dênis de Moraes – Difusão contra-hegemônica em rede.

 

Referências Bibliográficas

MARTÍN-BARBERO, Jesús – Tecnologia: inovações culturais e usos sociais In.: Ofício de Cartógrafo – Travessias Latino-Americanas da Comunicação na Cultura. São Paulo: Loyola, 2004.

MITCHELL, William John. – A marcha das meganets In.: @-topia: a vida urbana – mas não como a conhecemos. São Paulo : Editora Senac, 2002.

MORAES, Dênis de. Difusão contra-hegemônica em rede In.: Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas. Revista de Economía Política de las Tecnologías de La Información y Comunicación. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/download/Comunicacao_alternativa.pdf

SHIRKY, Clay – Meios In.: A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro : Editora Zahar, 2011.

TIC KIDS ONLINE BRASIL 2012 – Disponível em: http://www.cetic.br/publicacoes/2012/tic-kids-online-2012.pdf

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