Cultura digital, sociedade e política

24/07/2014

Qual o futuro dos MOOCs?

Filed under: Vinicius Meneses — Tags:, , — jimmymp @ 12:08

O processo de  ensino-aprendizagem não pode ser mais considerado como uma experiência que ocorre em ambientes fechados e controlados, é preciso entendê-la em uma “sociedade em rede” no sentido dado por Manuel Castells. Nesse sentido, a aprendizagem não é uma experiência isolada, e sim por relações de troca, compartilhamento e produção conjunta com várias pessoas do mundo que convergem o seu interesse para um assunto em comum.

Segundo Castells (1999), em uma sociedade em rede, “as redes constituem a nova morfologia de nossas sociedades e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para sua expansão penetrante em toda a estrutura social.” (p. 497)

O ensino superior não está isento das transformações digitais que moldam nossas vidas diariamente. Muito antes dos cursos online massivos abertos (os chamados MOOCs)[1] se tornarem assunto de artigos, pesquisas científicas, conferências e seminários, o ensino online já estava em vigor há décadas em muitas nas faculdades e universidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, 26% ou 5,5 milhões de estudantes universitários fizeram pelo menos um curso online em sua formação. [2]

O que torna os MOOCs diferentes das demais modalidades de ensino é que algumas das mais prestigiadas universidades do mundo disponibilizam suas video-aulas para estudantes de todo o mundo, sem nenhum custo. É certo que o sistema MOOC não representa uma ruptura ou uma “revolução” como dizem, mas sim uma forma alternativa de modalidade de ensino. Por ser uma plataforma aberta e gratuita, se pretende suprir a incapacidade das faculdades e universidades de todo o mundo em satisfazer a demanda global para o ensino superior, a necessidade dos “nativos digitais” exigirem a utilização de mais tecnologia na educação, e a investigação que indica que os alunos matriculados em cursos mistos (online e presencial) proporcionaram a maior competência e satisfação. O centro de pesquisa e análise Educause relata que 57,7% dos estudantes afirmaram aprender mais em cursos com algum recurso online. [3]

Embora atualmente os MOOCs sejam gratuitos e não concedam créditos universitários, essa situação vai provavelmente mudar no futuro. Embora essa discussão tem-se centrado somente no âmbito acadêmico, os MOOCs ​​que estão sendo desenvolvidos serão providos por organizações fora do ensino superior, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Museu Britânico.

Uma moda passageira?

Desde que os professores canadenses Dave Cormier e Bryan Alexander cunharam o termo MOOC em 2008, quase não se passa uma semana sem alguma menção MOOCs. Em 2012, MOOCs foi definido como um tipo de curso online que visa à participação em grande escala e de acesso livre através da Web 2.0.

As principais plataformas MOOC atualmente são: Udacity, Coursera e EDX, nos Estados Unidos, Futurelearn no Reino Unido, e Iversity na Alemanha. Não é possível informar números exatos de inscrições e matrículas de seus cursos, já que os números mudam diariamente. No entanto, pode-se relatar que milhões de pessoas em todo o mundo assistem as vídeo-aulas, apresentam trabalhos e realizam as provas-teste. [4]

Alguns acreditam que os MOOCs são apenas uma moda passageira e não terão um impacto duradouro sobre o ensino superior. Eles baseiam sua argumentação sobre a alta taxa de abandono (90%), a exclusão dos alunos que não têm acesso online, o fraco engajamento dos alunos com maiores dificuldades e o alto potencial de fraude, plágio, promovendo um sistema de padrão global no processo de aprendizagem do ensino superior. Como o professor de Stanford Susan Holmes uma vez escreveu: “Eu não acho que você pode obter uma educação de Stanford online, assim como eu não acho que o Facebook dá a você uma vida social.“.

Até o momento não há nenhum caminho claro para um retorno positivo sobre esse tipo de investimento educacional. Produzir MOOCs de qualidade requer tempo (100+ horas para desenvolver um MOOC), financiamento (EUA $25.000+), e apoio técnico e tutorial. Apenas as escolas com mais recursos podem financiar sua participação no desenvolvimento e transmissão seus cursos pelo MOOC.

A monetarização MOOCs

De acordo com o relatório de 2012 “Making Sense of MOOCs” [5], existem vários modelos comerciais para monetizar MOOCs, incluindo a emissão de certificados para os alunos que concluírem um MOOC, cobrando uma taxa para terem exames supervisionados e cobrar mensalidades das empresas que utilizarem a plataforma para seus cursos de formação. Os provedores MOOC também poderiam fornecer a outras universidades a capacidade de licenciar os seus cursos, como também poderia oferecer as empresas e corporações recrutarem seus serviços.

Os apoiadores acreditam que os MOOCs dão a oportunidade de “democratizar” o ensino superior, permitindo a estudantes e adultos de todo mundo cursarem as disciplinas lecionadas pelas universidades de elite, mantendo-se em suas próprias casas. Estes afirmam que ao expandir o acesso a estudantes desprivilegiados, os MOOCs têm a capacidade de construir comunidades de aprendizagem globais. Também se referem à característica de MOOCs pelo formato de ‘clique’, para analisar a forma como os alunos aprendem e estudam.

Talvez o maior potencial dos MOOCs é a capacidade de conectar ‘graduados’ com futuros empregadores. Embora que a EDX informou recentemente que deixariam de oferecer serviços de colocação de emprego, vários especialistas em educação superior – incluindo Sir Drummond Bone, mestre de Balliol College, em Oxford – acreditam que, no futuro, os MOOCs terão maior impacto nesta relação com futuros empregadores.

No entanto, há um aspecto dos MOOCs que não está sendo discutido é o impacto potencial dos MOOCs sobre a administração do ensino superior. Se no futuro os MOOCs se tornarem um mainstream, se constituindo como a mais ampla modalidade de ensino, a vida de trabalho administrativo das universidades, reitores, diretores financeiros, registradores, conselheiros de carreira, oficiais de serviço ao estudante, instalações de diretores e ex-alunos diretores, entre outros, irão mudar.

Depois de todo o exagero em ambos os lados pró e contra os subsídios de MOOCs, é seguro prever que os MOOCs irão, de alguma forma, afetar a dinâmica do ensino superior. Os MOOCs não serão um substituto para o professor em sala de aula. Ao contrário, eles serão um complemento.

Notas 

[1] Não é intuito deste trabalho caracterizar e descrever a historia de desenvolvimento dos MOOCs, pois a literatura sobre o assunto é bastante vasta. Ver mais em: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=85111/

[2] http://www.newrepublic.com/article/116013/mooc-student-survey-who-enrolls-online-education/

[3] http://www.newrepublic.com/article/116013/mooc-student-survey-who-enrolls-online-education/

[4] http://www.efmd.org/index.php/blog/view/250-white-paper-moocs-massive-open-online-courses/

[5] http://sirjohn.ca/wordpress/wp-content/uploads/2012/08/131118TaylorsMOOCsTX.pdf

 

Referências Bibliográficas

CASTELLS, M. A Sociedade em Rede (3ª ed.). São Paulo: Paz e Terra, 1999.

SHIRKY, Clay. A cultura da participação: Criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro, Zahar, 2011.

LEMOS, Andre; LEVY, Pierre. O futuro da internet. São Paulo. Paulus, 2010.

 

e-Links: 

https://www.knowledgeatwharton.com.br/article/a-contribuicao-dos-mooc-cursos-online-em-massa-e-abertos-para-a-educacao-latino-americana/

http://www.mooc-list.com/

http://www.ecampusnews.com/educator-resource-center/moocs-the-future-of-higher-education-or-a-passing-phase/

 

26/06/2014

Opiniões e Ódio na Internet

 

Todos sabem que a internet colaborou com a disponibilização rápida da informação, que as redes sociais permitiram que as pessoas se encontrem e se organizem, tanto virtualmente quanto fisicamente, e que também manifestem-se e exponham as suas opiniões diante dos mais diversos assuntos. Entretanto, o que acho que não está claro para todos, é como este progresso também facilitou às pessoas dizerem o que pensam das mais variadas formas, sem pensarem nas conseqüências, ou mais especificamente a agredirem-se.

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Vivemos em um momento em que há mais engajamento político, com manifestações anti-globalização, a crise financeira de 2007, a primavera árabe e todos os protestos ao redor do mundo, questionando ações políticas e econômicas, o Brasil não foi exceção. Busca-se muito mais uma democracia participativa do que uma democracia representativa (Rueda, 2008: 15), e nesse momento expressar-se através das redes sociais, ou fazer comentários em revistas on-line e blogs torna-se quase que mandatório.

Atualmente é muito comum ver no Facebook, por exemplo, diversos posts exaltando uma opinião ou ideologia específica, recriminando as opiniões diferentes e as colocando em posição de antagonismo total. Além disso, os comentários a esses posts muitas vezes vão além dos debates, onde expressam-se opiniões e procura-se um alinhamento, para se chegar a verdadeiros bate-bocas, com agressões, desqualificações e xingamentos. O espaço para comentários, ao invés de permitir que o assunto evolua acaba por reduzi-lo a antagonismos recheados de agressões. Interessante que o tema pode ser variado, mas a situação mais comum a ser encontrada são as acusações de comunista e de neo-liberal, dependendo de quem colocou o assunto em discussão. O primeiro comentário negativo sobre o tema é a acusação de uma opção política. Até mesmo em relação ao uso da tecnologia recai-se nessa discussão. De acordo com William J. Mitchell:

A essa altura, já conhecemos bem os previsíveis subtextos ideológicos dessas duas posições antagônicas. Da direita governamentalista vem a ideia de que, como a tecnologia digital pode melhorar nossa situação, ela certamente o fará – contanto que não se toque no mercado. Da esquerda legalista vem a réplica de que, como os ricos e poderosos são sempre os primeiros a se beneficiar das novas tecnologias e os mercados não são amigos dos marginalizados, precisamos de uma vigorosa intervenção do governo para garantir que os computadores e as telecomunicações não criem um abismo digital intransponível entre os que têm e os que não têm. E é claro que os neoluditas estão totalmente convencidos de que temos mais a perder do que a ganhar, e por isso deveríamos cavar trincheiras e resistir  (MITCHELL, 2002: p30).

Escrever é uma arte, escrever na internet também o é, uma vez que existe a necessidade de se combinar rapidez, precisão e síntese. A meu ver, essa combinação torna-se explosiva, e é um dos elementos que proporciona o extremismo de manifestação.

O ato de escrever requer conhecimento do tema, disponibilidade de tempo, habilidade e treino. A combinação de todas essas características na maioria das vezes não está presente na maioria das pessoas, entretanto o ambiente virtual é totalmente convidativo à manifestação de opiniões, e em geral, de opiniões escritas. Além disso, o ambiente virtual apresenta mais uma complicação, tem como principal característica a velocidade, é necessário se manifestar rapidamente, caso contrário: o assunto deixa de ser importante, outros comentários são escritos e a conversa muda seu rumo. Associado a isso, é necessário ao escrever, ser conciso e sucinto, garantindo assim que as pessoas leiam o que foi escrito, caso contrário perde-se o interesse.

Do ponto de vista do leitor, a leitura permite uma livre interpretação do texto, uma vez que a entonação é dada por ele, e não pelo escritor, então uma vírgula mal empregada, ou sua omissão, ou ainda uma leitura sugestionada já permite a interpretação de uma agressão, que requer um contra-ataque.
A existência de conflito é natural e esperada, faz parte do processo, “a interação social é compreendida como geradora de processos sociais a partir de seus padrões na rede, classificados em competição, cooperação e conflito” (Recuero, 2009: 81). Entretanto o que venho percebendo é um esvaziamento da discussão principal em benefício da troca de agressões, do extremismo.

Ao analisar os comentários da matéria chamada Facebook: um mapa das redes de ódio, de Patrícia Cornils, no blog Outras Palavras, na qual ela conversa com o pesquisador Fábio Malini, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) na Universidade Federal do Espírito Santo, é possível perceber essa realidade. A matéria trata da pesquisa de Fábio Malini, que mapeou as páginas de facebook “dedicadas a defender o uso da violência contra o que chamam de “bandidos”, “vagabundos”, “assaltantes”, fazer apologia a linchamentos e ao assassinato, defender policiais, publicar fotos de pessoas “justiçadas” ou mortas violentamente, vender equipamentos bélicos e combater os direitos humanos” (Cornils, 2014), a agressividade estava presente, não apenas por conta do tema, mas também nos comentários.

Há um total de 39 comentários, sendo 1 deles uma correção, portanto 38 comentários válidos, dos quais 21 considerei normais e 17 considerei agressivos ou muito agressivos. Por agressividade considerei xingamentos, palavras agressivas, ou irônicas, ou debates bilaterais específicos. Apesar de ter feito a análise para uma única matéria, acredito que essa distribuição repete-se com freqüência, e dependendo da fonte e do assunto tende a inverter-se, tendo mais conteúdo agressivo do que neutro.

Resumindo, a questão do conflito é importante, porque é ela que faz o mundo mover-se, sem o conflito não há pensamento, não há crítica, não há evolução.

Para Simmel (1950 e 1964) os conflitos envolvem, ao mesmo tempo, harmonia e dissonância. Um sistema completamente harmônico não pode existir, pela sua incapacidade de mudança e evolução. O autor explica que o conflito tem aspectos positivos, não sendo por si só um elemento negativo para o sistema social. (RECUERO, 2009: p.85).

Entretanto o que estamos experimentando é um exagero de conflito, o qual acaba por empobrecer a discussão, o objetivo principal em debater não é explorar as idéias, mas sim vencer o oponente, o que transfere o foco da discussão para um objetivo completamente diferente do inicial.
Essa situação também deságua em outros dois dilemas muito em voga na atualidade, até onde vai o direito de expressar-se e a liberdade na internet. O caráter libertário da internet foi o que fomentou e organizou os movimentos sociais que representaram a indignação do público do mundo inteiro contra o 1% mais rico do mundo, durante a crise financeira mundial de 2008. Naquele momento as pessoas esqueceram suas diferenças e uniram-se a fim de manifestar.

Mas foi basicamente a humilhação provocada pelo cinismo e pela arrogância das pessoas no poder, seja ele financeiro, político ou cultural, que uniu aqueles que transformaram o medo em indignação, e indignação em esperança de uma humanidade melhor. Uma humanidade que tinha de ser reconstruída a partir do zero, escapando das múltiplas armadilhas ideológicas e institucionais que tinham levado inúmeras vezes a becos sem saída, forjando um novo caminho, à medida que o percorria.(CASTELLS, 2013: p.8).

Essa indignação toda, que uniu as pessoas, permitiu que superassem medo e constrangimento de se manifestar sobre o que consideravam errado. Será que essa mesma indignação está agora re-agrupando as pessoas, umas contra as outras ? Será que estamos voltando ao ponto de partida, no momento anterior à crise, onde as diferenças é que permitiram que uma crise se instaurasse ? “É possível observar-se em um blog não apenas a interação em um comentário, mas as relações entre várias interações e perceber-se que tipo de relação transpira através daquelas trocas.” (Recuero, 2009: 31).

São esses comentários, carregados de tensão e agressividade que identificam e unem os grupos, criando novas comunidades, as quais irão debater umas contra as outras, nos mesmos moldes, sempre em nome de sua liberdade de expressão. A impressão é de que a liberdade de expressão está acima do que é possível fazer para melhorar a condição de vida dos 99% menos ricos, e que voltamos à época da guerra fria, onde ou se é pró-EUA, ou pró-Rússia, não há nada no meio.

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Essas questões, que não são novas, tendem cada vez mais a intensificar-se, e a solução distante de ser atingida, especialmente se a condução do debate seguir o padrão atual, onde as pessoas culpam umas às outras pela dificuldade que enfrentam, buscam vencer as discussões, e não trabalham no sentido da melhora.

 

 

BIBLIOGRAFIA:

CORNILS, Patrícia. Facebook: um mapa das redes de ódio. Blog Outras Palavras. São Paulo, Mar.2014. Disponível em: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/. Acesso em 18 Jun.2014.

RUEDA, Rocio. Cibercultura: metáforas, prácticas sociales y colectivos en red. Revista Nomadas (Col.), Num. 28, Abril 2008, PP. 8-20. Universidad Central, Bogotá, Colômbia. Disponível em: http://www.ucentral.edu.co/images/stories/iesco/revista_nomadas/28/nomadas_1_cibercultura.pdf. Acesso em: 18 Jun.2014.

CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança – Movimentos Sociais na Era da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

MITCHELL William J. – E-topia A Vida Urbana – mas não como conhecemos. São Paulo: SENAC, 2002.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.

16/06/2014

Programação cultural on-line

Filed under: Fernanda Portela — Tags:, , , — mfeportela @ 20:20

Por Maria Fernanda Bienhachewski da Costa Portela  

           

            A visitação a museus nunca esteve tão acessível. O site “ Era Virtual – Museus” é um projeto criado em 2008 e promove a visitação virtual de algumas instituições culturais brasileiras, visando despertar o interesse do público, divulgando via web os acervos de alguns museus brasileiros. Segundo os idealizadores, trata-se de um site interativo em constante atualização. A estratégia utilizada por eles é apostar em uma linguagem simples e de fácil comunicação com o público escolar, através de um acesso democrático via web. Contando também com a distribuição gratuita de Dvd-rooms aos interessados. A vista on-line de um espaço real, através da Internet também se preocupa em oferecer uma experiência cultural aos internautas.

Hoje em dia, museus tem investido bastante em seu departamento educativo, a fim de aproximar a arte do público, sendo comum realizar além da visita mediada, uma série de oficinas e atividades lúdicas. Na visita on-line isso não é diferente, pois também são oferecidos jogos educativos e interativos que complementam a atividade.

“O ERA VIRTUAL tornou-se uma rede de museus virtualizados e uma iniciativa referencial no processo de sua utilização do museu como material didático não-formal dentro das escolas. ” (trecho retirado da apresentação do site, disponível em http://www.eravirtual.org/ )

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            São inúmeras instituições que aderiram ao projeto, em alguns estados do Brasil, tal como Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Essa experiência on-line só pode ser possível nos dias de hoje, em que vivemos num período de intensa digitalização.

            O grupo Google também lançou seu projeto, o “Art Project” que permite ao usuário visitar uma série de museus através de um aplicativo semelhante ao “ Google Street View”, que fornece imagens reais de ruas e avenidas de qualquer localidade. Através desse aplicativo, conectado diretamente as ferramentas do Google, o usuário pode não só visualizar o acervo em imagens de alta definição como também fazer uma espécie de Tour virtual pelas salas de exposição. Iniciado em 2011, o projeto conta com célebres museus tais como o The Metropolitan Museum of Art e MoMA, em Nova York, The State Hermitage Museum, em São Petersburgo e Van Gogh Museum, em Amsterdã entre outros.

A visita on-line é uma alternativa para os apreciadores de arte que estão a quilômetros de distância dos museus que desejam conhecer. Segundo Amit Sood, autor do aplicativo, câmeras profissionais fotografaram a parte interna dos museus, dando ainda mais veracidade a essa experiência virtual, que visa uma maior democratização do conteúdo artístico sem que haja a necessidade de pagamento de ingressos nem o deslocamento ao local.

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Segundo o antropólogo francês, Pierre Bourdieu, os indivíduos possuem o que ele chama de capital cultural, ou seja, um conjunto de qualificações intelectuais adquiridas através do convívio social na família e na formação educacional. O conceito de capital cultural está ligado a um outro conceito desenvolvido por ele, o habitus. Segundo o antropólogo, habitus é um princípio pré-disposto, construído histórico e coletivamente de acordo com a classe social dos indivíduos. É o que irá pré dispor alguns indivíduos a adquirir práticas e ações específicas ligadas, por exemplo, a vivência cultural.

Ou seja, segundo o autor, no livro “O amor pela arte”, publicado originalmente em 1966, o apreço por obras de arte está ligado ao conceito de habitus  e determinado por questões sociais. O amor pela arte não está apenas ligado a preferências estéticas de ordem subjetiva. Segundo Bourdieu, o fato de uma determinada pessoa frequentar museus não ocorre apenas por ela afirmar gostar de frequentá-los. Segundo esse livro, uma pesquisa minuciosa que busca compreender e analisar quem é o público frequentador dos museus da Europa, em países tal como França, Espanha, Grécia, Itália, Holanda e Polônia, os conceitos de habitus e capital cultural podem traçar o perfil dos frequentadores dos museus europeus. Sendo eles, na maioria dos casos indivíduos com maior nível de instrução educacional, que tenham tido algum tipo de contato com arte durante a infância. Segundo Bourdieu, crianças que frequentaram museus em companhia dos seus pais tendem a ser visitantes assíduos no futuro. Isso porque se cria um laço de familiaridade com a prática da visitação a espaços culturais. Segundo Bourdieu, o sistema educacional meritocrático é o maior responsável por enaltecer as desigualdades em relação ao acesso à cultura. 

Apesar do antropólogo francês acreditar que o hábito de frequentar museus está ligado a trajetória educacional e familiar dos indivíduos, sendo portanto, uma construção social; a expansão das visitações online a museus pode auxiliar ao combate dessa desigualdade cultural. De modo que a visitação on-line é mais democrática e acessível, por ser feita via web e sem a cobrança de taxas ou ingressos.

 Segundo a doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ), Rosane Maria Rocha de Carvalho, a Internet permite que usuários dos mais diversos lugares do mundo possam visitar em um mesmo dia uma série de museus, localizados em diferentes localizações, através do uso do computador. Os sites, em geral, são reproduções dos espaços físicos dos museus. Fato recente, os museus virtuais, ou também museus on-line tem em torno de doze anos de existência. Também chamados de museu eletrônico, digital, hipermuseu, cibermuseu e também web museu, trata-se de uma nova forma de vivenciar a experiência artística e cultural. A ideia é ter acesso a um museu sem limites geográficos, sem tempo de funcionamento, em que o visitante on-line possa cada vez mais, visualizar de forma ilimitada os acervos e obras. No entanto, o museu virtual não pode ser exatamente equivalente ao museu do espaço físico, que não pode ser por ele substituído, simplesmente pelo fato de que no museu virtual há apenas projeções, visualizações dos objetos em exposição. Apesar disso, o projeto de criação de museus on-line tem seus pontos positivos, pois busca democratizar o acesso às exposições e aos acervos dos museus físicos, permitindo um maior contato com o público, de modo interativo, além de proporcionar uma experiência continuada, através da realização de redes de discussão on-line. A digitalização do conteúdo cultural e patrimonial é de extrema importância para o futuro da humanidade, mesmo que ainda alguns museus mais tradicionais ofereçam certa relutância no debate dessas sites e ferramentas via web. Além disso, alguns sites como o do Fine Arts Museum em São Francisco, além do tour on-line e da visualização das obras, ainda oferece uma ferramenta, na qual, o visitante virtual pode ser o curador de sua própria exposição. Essas e outras atividades interativas enriquecem a experiência do internauta, podendo ser executadas apenas no meio virtual.

Apesar da tese de Pierre Bourdieu, na qual, o hábito de frequentar museus está ligado a uma construção social associada a trajetória dos indivíduos e de suas classes, o museu virtual vem como uma alternativa para aqueles que desejam penetrar no meio cultural e artístico sem custo, através do espaço ilimitado da Internet. Além disso, é uma forma de inserir os jovens estudantes, que vivenciam de modo intenso a era digital, ao mundo museológico, podendo ser ele muito mais atrativo e interativo.   

museu

Referências Bibliográficas

 

BOURDIEU, Pierre & DARBEL, Alain. O Amor pela Arte  São Paulo, EDUSP e             Ed. Zouk, 2003.

 

CARVALHO, Rosane. Comunicação e informação de museus na internet e o visitante virtual. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação – XIII ENANCIB, 2012.

Disponível em:  http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/8/4

 

Sites consultados:

 

http://www.google.com/culturalinstitute/project/art-project?hl=pt-br

(Acesso em 02/06/14)

 

http://www.eravirtual.org/pt/ (acesso em 01/06/14)

 

 

11/06/2014

TECNOLOGIA: INOVAÇÕES NO ENSINO APRENDIZAGEM

Filed under: Olíria Ribeiro Costa — Tags:, , , , , — oliriaribeiro @ 21:24

Vivemos uma época na qual o acesso às informações anda tão imediato e inovador, que conseguir prender a atenção dos alunos em sala de aula passa a ser cada vez mais um desafio aos professores. Assim, surge a necessidade de se reaver o projeto pedagógico da escola, tendo em vista a necessidade de acompanhar os movimentos da sociedade em direção a uma cultura digital. Pérez Tapias ao discorrer sobre o assunto, diz que o espaço urbano se revitaliza com a internet, isso por que:

 As pressões da informação generalizada que os meios de comunicação difundem na atualidade, ao que vem acrescentar-se como dado qualitativo o fato de ser tão persuasivamente transmitida, dão xeque-mate na escola como instituição. Os saberes estabelecidos para cuja transmissão está ela esboçada, o papel do professor nesse quadro acadêmico, a estruturação hierárquica de suas relações internas e o próprio caráter linear de um curriculum pensado em termos acumulativos – tudo isso se vê modificado na nova situação em que estamos. Circulam agora novos conhecimentos vinculados, além disso, aos suportes tecnológicos pelos quais são transmitidos; diante deles, a função do professor é desvalorizada e decresce o reconhecimento de sua autoridade, requerem-se relações também horizontais no âmbito escolar, e o máximo caráter optativo e o livre delinear de cada um parece atender mais a um saber que se mostra disperso, heterogêneo e acessível por meio de redes de múltiplas entradas. (TAPIAS, 2006: 163)

Assim a iniciativa do Projeto GENTE – Ginásio Experimental de Novas Tecnologias que traz uma nova metodologia de ensino-aprendizagem em que o aluno é protagonista e o centro desse processo é inovador, principalmente por que ele reúne dentro de um espaço com novo formato justamente as dificuldades que eram enfrentadas em sala de aula, trazendo-as de encontro. Isso ocorre por que “as telecomunicações (tecnicidade) vão nos propiciar novas ligações, meios radicalmente novos de produção e organização dos espaços habitados, e de nos apropriarmos deles para nossos múltiplos propósitos humanos.”Martín-Barbero discorre sobre a produção do conhecimento como um processo de descentralização e destemporalização do saber, entendendo esse processo como:

el conjunto de procesos y experiências que testimonian la expandida circulación por fuera del libro de saberes socialmente valiosos. El saber se descentra, em primer lugar, em relación al que há sido su eje durante los últimos cinco siglos: el libro. Un proceso/modelo, que con muy relativos câmbios había moldeado la práctica escolar desde la invención de la imprenta, sufre hoy uma mutación cuyo más largo alcance lo evidencia la aparición del texto electrónico (R. Chartier), o mejor, de la hipertextualidad (E. Berk/J.Devlin) como nuevo modelo de organización y aprendizaje de conocimientos. Son câmbios que no vienen a reemplazar al libro, sino a relevarlo de su centralidad ordenadora de las etapas y lós modos de saber que la estructura-libro había impuesto no solo a la escritura y la lectura, sino al modelo entero del aprendizaje: lineariedad secuencial de isquierda a derecha, tanto física como mental, y verticalidad del arriba hacia abajo, tanto espacial como simbólica.(MARTÍN-BARBERO, 2005: 28)

Deste modo o projeto implantado na Escola André Urani¹ da rede pública, localizada na maior favela do Rio de Janeiro, se encaixa neste novo formato de aprendizado, em que a escola se torna um espaço de fluxos informacionais.

O projeto vai além da presença de computadores para cada aluno na escola, o que por si só já não é algo comum nas escolas públicas brasileiras, propondo modificações que alteram a forma de interação entre os atores sociais em seu espaço físico e entre si(professor/aluno – aluno/aluno).

A escola não possui mais paredes internas, seus móveis são modulares (podem ser encaixados de acordo com a atividade do dia) diferentemente do padrão tradicional em que os alunos ficam sentados enfileirados de frente para o professor, e não há divisão dos alunos em idades e série, estes agora ficam formados em grupos heterogêneos.

O professor não monta mais aulas para uma classe de uma série especifica, agora o seu desafio é montar atividades interdisciplinares para o grupo e o individual, pois cada aluno utiliza uma plataforma digital com um itinerário formativo com o que ele precisa aprender e seu desempenho é acompanhado semanalmente a partir dos resultados adquiridos pela máquina de testes que a plataforma oferece.

E por fim, a relação entre os alunos se dá de uma forma diferente, pois eles são reunidos em grupos ou famílias heterogêneas que prevê uma troca de experiências entre eles, ou seja, apesar do itinerário ser individual a aula é colaborativa, pois em caso de dúvida o aluno consulta o companheiro ao lado e o seu grupo para tentarem resolver a questão antes de procurarem pelo professor, que no caso tem uma função de mentor do grupo.

Este novo modelo pedagógico foi inspirado pela Summit Public Schools² da Califórnia (EUA), uma rede de escolas que já tem 10 anos de atuação nesta proposta de ensino híbrido (tecnologia, currículo, personalização) para cada projeto de vida de um aluno em particular.

Por fim, pode-se cogitar que o sucesso desse projeto que transforma a educação acontece justamente pela alteração da experiência vivida dos alunos, pois esta deixa de ser algo distante e desinteressante para se tornar o seu oposto, onde a tecnologia atua como um mediador entre o aluno e o ensino. Portanto, assim como a produção de conhecimento a escola também se modifica, deixando de ser um espaço fechado dentro de si e se expande para além de seus muros.

 

Notas:

1 – Disponível em: http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,novo-modelo-de-escola-no-rio-aposta-em-tecnologia-e-ensino-individualizado,1015075

2 – http://www.summitps.org/

 

 

Bibliografia

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Cultura y nuevas mediaciones tecnológicas In.: América Latina: otras visiones de La cultura. Colombia – Ed. Malpensante: 2005

 MITCHELL, William J. A marcha dos meganets. In.: E-topia: a vida urbana mas não como a conhecemos. São Paulo. Senac, 2002: 57

PÉREZ TAPIAS, José Antonio. Possibilidades de humanização e risco do “sem-sentido” no mundo digital. In.: Internautas e náufragos: a busca do sentido na cultura digital. São Paulo. Loyola, 2006: 163

SALDANÃ, Paulo. Novo modelo de escola no Rio aposta em tecnologia e ensino individualizado. O Estado de São Paulo, São Paulo, 30 março de 2013. Caderno Educação.

 

 
LINKS:

http://www.youtube.com/watch?v=FIF7jNZwFcw

transformareducacao.org.br

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