Novas estratégias para contratação? Habilidades no uso da Internet e o gerenciamento de privacidade online durante a procura de emprego.
por Eszter Hargittai e Eden Litt – Northwestern University
FONTE: Hargittai, E. & Litt, E. (2013). “New Strategies for Employment? Internet Skills and Online Privacy Practices during People’s Job Search”. IEEE Security & Privacy. 11(3):38‐45.
Tradução de Vinícius Pinho Meneses
De que forma o know-how no uso da Internet está relacionado com a tendência dos usuários de redes sociais em alterarem suas configurações de privacidade? Esta pesquisa tem por objetivo analisar essas práticas com jovens adultos, investigando de que forma os diferentes aspectos demográficos influenciam nas práticas de privacidade, quando se trata do gerenciamento dos profiles considerando às questões profissionais envolvidas nesses ambientes digitais.
Estão em voga, ultimamente, inúmeros casos de pessoas que perdem seus empregos devido ao conteúdo que compartilham em sites de redes sociais. (Ver http://thefacebookfired.wordpress.com, um blog dedicado a documentar esses casos). Os empregadores têm considerado cada vez mais estes serviços como instrumentos para fiscalizar seus funcionários e examinar os futuros candidatos a emprego.[1] Uma recente pesquisa em ambientes de trabalho constatou que colegas de trabalho estão fazendo julgamentos tanto profissionais quanto pessoais com base em profiles das redes sociais.[2] Enquanto alguns usuários utilizam as ferramentas disponíveis nesses sites para alterar as configurações de privacidade de seus profiles,[3] [4] a propagação cada vez maior do compartilhamento de conteúdo com “públicos não-intencionais” têm acarretado em consequências prejudiciais à carreira e a reputação dos profissionais.[5] Setenta por cento dos recrutadores e profissionais de Recursos Humanos relataram terem eliminado candidatos a emprego por conta de algo postado nas redes sociais.[6]
Será que os usuários estão considerando os empregadores como um público presente nas redes sociais, refletindo criticamente sobre o que compartilhar e o que não compartilhar? Estão tomando medidas proativas para proteger suas informações pessoais?
Esta pesquisa foi realizada com uma amostra de jovens adultos nos estágios iniciais de suas carreiras, a fim de investigar de que forma os aspectos demográficos e as habilidades específicas de privacidade online se relacionam com as orientações-reputações de carreira profissional.
Aspectos Demográficos e Gerenciamento de Privacidade
As recentes pesquisas sobre as “desigualdades digitais” indicam que os aspectos demográficos, tais como raça, etnia e gênero, influenciam o modo como os indivíduos se apropriam da Internet, incluindo sua adesão para uso das redes sociais. Por exemplo, uma pesquisa realizada em 2007 com um grupo diverso de estudantes, apontou que indivíduos brancos e asiático-americanos eram mais propensos a utilizar o Facebook, enquanto estudantes latino-americanos eram mais propensos a utilizar o MySpace.[7] Uma recente pesquisa etnográfica que analisou os diferentes usos das redes sociais com jovens e adolescentes relatou resultados similares.[8] As diferenças de adesão e utilização das redes sociais podem ocorrer, em parte, porque os diferentes grupos étnicos atribuem diferentes usos e significados para estas ferramentas.[9] Por exemplo, nossa pesquisa de 2008 realizada com diferentes grupos étnicos indicou que os afro-americanos tendem a conceber as redes sociais como espaços de auto-expressão, já os brancos em sua maioria percebem como instrumentos de auto-promoção, e asiático-americanos tendem a caracterizar como espaços de auto-reflexão e fóruns de diary-like.[10] Curiosamente, todos os grupos étnicos, exceto os afro-americanos, demonstraram preocupações sobre os “públicos potencialmente indesejados”.
O gênero também tem sido associado a diferentes usos das redes sociais, e, mais especificamente, com o gerenciamento de privacidade, a maioria das pesquisas indica que as mulheres são mais propensas a se envolver nestas praticas, como por exemplo, alterar suas configurações de privacidade e desmarcar as fotos em seu profile.³ Tendo em vista que nossa pesquisa anterior evidencia que o perfil dos usuários são fatores importantes no que se refere aos diferentes usos das redes sociais, consideramos de que forma os aspectos demográficos influenciam as práticas de privacidade, quando se trata do monitoramento dos profiles considerando os atuais ou futuros empregadores.
Habilidades na Internet e o Gerenciamento de Privacidade
Outra área de investigação, que é muitas vezes negligenciada pelas pesquisas científicas, é o estudo das habilidades específicas (know-how) dos usuários da Internet e das redes sociais.[11] [12] Privacidade entende-se aqui por “fluxos apropriados de informação pessoal”.[13] Cada vez mais os usuários despendem esforços a fim de gerenciar suas informações pessoais em seus profiles, tendo em vista seus contextos sociais específicos e sua “audiência”.[14] [15] Por exemplo, por conta do estigma de idade, os candidatos mais velhos que temem a discriminação por idade podem, durante o processo de contratação, utilizar técnicas para mascarar sua idade, como por exemplo, alterar o formato de ordem cronológica pelas as categorias “funcionais”, ocultar as experiências de trabalho mais antigas, modificar sua aparência (por exemplo, cortando o cabelo) e etc.[16] Quando se trata de privacidade em redes sociais, esta pesquisa aponta que os usuários se envolvem em uma variedade de estratégias, tais como práticas de esteganografia, às estratégias tecnológicas tais como excluir ou remover o conteúdo de seus profiles.[17] As pessoas já se esforçam para preservar sua privacidade e suas reputações profissionais, mas os sites de redes sociais apresentam novos desafios. Embora normalmente gerenciem suas informações pessoais e profiles tendo por base seu contexto social específico e sua “audiência”, as redes sociais tendem a agregar contextos que antes estavam separados, fazendo com o público efetivo (audiência) fique difícil de determinar.[18] Os usuários estão cada vez mais sobrecarregados com a tarefa de monitorar sua privacidade online nos limites destes ambientes digitais, que são inicialmente são “públicos” por padrão e mudam constantemente (e muitas das vezes sem avisar). Os usuários das redes sociais devem permanecer em sintonia constante com o que está disponível com as ferramentas de privacidade, ao mesmo tempo saber como tirar proveito de tais ferramentas de maneira significativa.
Além disso, por conta da popularidade das redes sociais, os usuários comuns muitas vezes interagem com um público muito mais amplo e mais diversificado do que estão acostumados a encontrar fisicamente. O gerenciamento de privacidade nestes ambientes requerem habilidades técnicas e sociais específicas a fim de levar os usuários a tomar decisões conscientes sobre o que compartilhar e do que não compartilhar, bem como a forma de permitir que a tecnologia ajude a configurar as preferências de privacidade. Embora tais habilidades de privacidade online desempenhe um papel importante, teoricamente, nas decisões e comportamentos adotados para o controle da privacidade dos usuários, poucas pesquisas científicas têm investigado como estas habilidades específicas podem influenciar em tais processos. Um estudo que considerou as habilidades no uso da Internet apontou que estudantes universitários usuários do Facebook que tem conhecimentos de Internet mais altos são mais propensos a alterar suas configurações de privacidade do que aqueles menos propensos em tais habilidades. Um estudo sobre os adultos usuários da Internet apontou que a familiaridade técnica e a experiência na rede influencia como eles gerenciam sua segurança e privacidade online.[19] Embora estes estudos contribuam para estabelecer uma relação entre o know-how no uso da Internet e as práticas de privacidade, realizamos aqui uma abordagem mais refinada, investigando a privacidade em contextos sociais e suas audiências. Além disso, com base em nossos trabalhos anteriores, construímos uma medida específica para mensurar os problemas de privacidade online.
Dados e Métodos
Para compreender a relação entre o perfil dos usuários e as práticas de gerenciamento de privacidade, esta pesquisa realizou um levantamento de dados com um grupo diversificado de jovens adultos.
Coleta de Dados
Esta pesquisa realizou uma coleta de dados com 545 jovens adultos administrados através do correio postal no verão de 2012. Este foi um estudo de acompanhamento de uma pesquisa anterior realizada na primavera de 2009, com uma amostra representativa de alunos do primeiro ano da Universidade de Illinois, Chicago (UIC). Nós escolhemos UIC devido à composição diversa de seu corpo discente. A primeira coleta de dados ocorreu em 2009, em colaboração com a “First-Year Writing Program” da UIC, que supervisiona a instrução de um curso universitário. Trabalhar com este programa garantiu que a pesquisa não foi tendenciosa com os estudantes que possam estar menos propensos a fazer um curso particular.
No primeiro ano do estudo, os alunos responderam manualmente o questionário em sala de aula. Um questionário online discriminaria as pessoas que são menos propensas ao manuseio da Web, com acesso menos privado a Internet, e que se sentem menos confortáveis com preenchimento de formulários on-line. Por razões semelhantes, a coleta de dados realizada em 2012 também contou com questionário preenchido manualmente. Enviamos as pesquisas aos 2.009 entrevistados que tiveram, durante o estudo inicial, consentimento em serem contatados novamente (mais de 98% entre eles). No primeiro levantamento de dados, os entrevistados não receberam quaisquer incentivos. Em 2012, oferecemos um presente-certificado de $25,00 para compras na amazon.com.
Nosso conjunto de dados iniciais de 2009 incluiram respostas de 1.115 alunos do primeiro ano. Das 92 seções de cursos no programa, 86 participaram do estudo, uma taxa de participação de 93,5% por seção. De todos os alunos matriculados na classe, 80,5% responderam ao questionário. Em 2012, tivemos permissão para acompanhar informações de contato de 1.066 pessoas, por uma recusa de 4% a partir da amostra original. Para 17 pessoas, e-mail e correio postal endereços constituiu 1,5% da amostra original. (Apesar de não enviar a pesquisa para fora no e-mail, que usou e-mail para contato com aqueles que não responderam a mailings postais para pedir a participação). O questionário 2012 incluiu dois itens para verificar a atenção dos entrevistados para a interpretação de texto. Recebemos 20 pesquisas que contabilizaram 3,5% do total, que teve uma ou ambas destas perguntas marcadas incorretamente ou deixado em branco. Foram excluídas estas respostas das análises, resultando em 545 inquéritos válidos.
Em 2012, várias pessoas da amostra inicial já não estavam mais matriculadas na faculdade; portanto, nós nos referimos a entrevistados como “jovens adultos” em vez de “estudantes universitários”.
Medição
Perguntamos às pessoas sobre seu gênero, raça e etnia, e o nível de escolaridade dos pais como medidas para realizar uma mensuração aproximada de seu nível socioeconômico. Perguntamos também se eles estavam à procura de emprego, ou para realizar uma mensuração de atuais empregos perguntamos quantas horas eles atualmente trabalhavam.
O questionário incluiu várias perguntas para avaliar as experiências na Internet e as habilidades específicas relacionadas com a privacidade online. A partir dos dados coletados no levantamento inicial de 2009, sabíamos em qual nível de escolaridade eles começaram a usar a Internet; usamos estas informações para calcular os anos de experiência online. A medida de frequência de uso proveio de cálculos baseados em uma pergunta sobre a quantidade de horas de uso em um dia de semana normal, assim como um dia típico de fim de semana.
Para avaliar as habilidades específicas relacionadas com a privacidade online, pedimos aos entrevistados avaliar seu nível de compreensão de nove termos frequentemente usados na Web relacionados com a privacidade, em uma de escala de 1 a 5 pontos. Estes termos foram: “configurações de privacidade”, “perfil limitado”, “configurações de preferências”, “marcação”, “Cco”, “pesquisa avançada”, “hashtag”, “viral” e “web feeds”, todos relacionados com a gestão de suas próprias contas, bem como uma abordagem consciente sobre o compartilhamento de conteúdo em ambientes digitais. Esta é uma versão revisada de uma medida mais geral para avaliar as habilidades no uso da Internet a qual tem sido utilizada em vários estudos anteriores.[20] Usamos média dessas variáveis como a medida para mensurar as habilidades (α de Cronbach = 0,815).
Para determinar o grau em que as pessoas acompanham seus profiles nas redes sociais, no contexto de oportunidades de emprego, fizemos a seguinte pergunta: “Pensando sobre o seu uso das redes sociais, como Facebook e Twitter, quantas vezes você já fez as seguintes atividades durante o ano passado?” Uma das atividades que constam no questionário era: “alterou as configurações de privacidade ou conteúdo de seu perfil online, em consideração aos empregadores em busca de informações sobre você.” As opções de resposta foram: “Nunca”, “Já fez isso uma vez”, “Já fez isso duas a três vezes” e “Já fez isso quatro ou mais vezes”.
Amostra
Dado o foco deste artigo sobre o comportamento das pessoas em sites de redes sociais, restringimos a amostra para aqueles que relataram a utilizar os sites frequentemente ou ocasionalmente. Excluímos as pessoas que não estavam usando o Facebook, Twitter, Pinterest, Google+, LinkedIn, Tumblr, MySpace, ou Path; totalizando 32 pessoas entre elas. Depois de excluir essas pessoas e respondendo por falta variáveis sobre nosso resultado de interesse, acabamos com uma amostra final de 507 jovens adultos. Todos os valores são relatados para esta amostra.
Todos os indivíduos abordados nesta amostra tinham entre 21 a 22 anos de idade, uma vez que restringimos o levantamento de 2009 a estudantes universitários destas idades. A Tabela 1 apresenta estatísticas descritivas sobre o grupo de jovens que praticam o monitoramento de seus profiles. As mulheres foram um pouco mais representativas do que os homens. Menos da metade da amostra foram de brancos, um quarto asiáticos ou asiático-americanos, mais de um quinto eram hispânicos, e menos de um décimo eram afro-americanos. Um quinto veio de famílias em que nenhum dos pais tinha mais do que o ensino médio, enquanto que um terço tinha pelo menos um dos pais com ensino superior, e cerca de um quinto tinha pelo menos um dos pais com uma pós-graduação. Estes números indicam que a amostra era bastante diversificada do ponto de vista socioeconômico.
Tabela 1. Análise descritiva da amostra
Em termos de experiências online, estes jovens adultos têm em média nove anos de experiência online, com vários locais de acesso à Internet, e passam cerca de 20 horas por semana na internet (sem contar e-mail, chat ou serviços de voz). Apesar de todas estas experiências online, observa-se que há uma variação considerável em relação às suas habilidades relacionadas com a privacidade, com uma gama de 1.2-5.0 em uma escala de 5 pontos.
Resultados
Embora muitos desses jovens ainda estavam estudando, muitos também estavam trabalhando ou procurando emprego. Mais de 90% relataram que estavam empregados ou procurando um emprego, indicando de certa forma uma preocupação com os futuros ou atuais empregadores.
A Figura 1 demonstra a frequência que os usuários chegaram a alterar suas configurações de privacidade ou conteúdo de seus profiles, em antecipação à busca de informações por parte dos empregadores. Mais de um quarto nunca tinha feito isso, e um adicional de um quinto só tinha feito isso uma vez. No geral, cerca de metade da amostra havia se envolvido em tal comportamento mais de uma vez, com menos de um terço fazê-lo quatro ou mais vezes nos últimos 12 meses.
Figura 2 destaca os gerenciamentos de privacidade por gênero (considerada significativa quando p<0.1 nível). As mulheres são mais propensas a gerenciar a sua privacidade no que se refere aos possíveis vínculos profissionais, e tende a fazer com mais frequência do que os homens. Mais de um terço dos homens relataram nunca ter ajustado seus profiles em antecipação uma entrevista de emprego, em comparação com um quarto das mulheres. Por outro lado, um pouco mais de um quarto dos homens praticaram estes comportamentos mais do que três vezes, em comparação com mais de 30% das mulheres.
De acordo com nossa pesquisa anterior a qual investigou a forma como as pessoas de diferentes origens étnicas e raciais aderem às sites de redes sociais, e como utilizam a Internet em relação à procura de emprego,[21] a Figura 3 demonstra os gerenciamentos de privacidade por grupos étnicos, entre brancos (p<0,01), asiático-americanos (p<0,05), afro-americanos (estatisticamente não significativos) e hispânicos (p<0,1) jovens adultos na amostra. Os brancos são muito mais propensos a ajustar seus profiles em sites de redes sociais (pelo menos uma vez no anterior) do que os demais grupos étnicos. Quando se trata do gerenciamento perfis online, os hispânicos foram os menos propensos a estas (pouco mais de 20%), enquanto a proporção de outros grupos étnicos foram bastante semelhantes entre si, oscilando em torno de 30%.
A Figura 4 demonstra como o nível de conhecimento sobre o gerenciamento de privacidade na Internet está relacionado com a gestão dos profiles nas redes sociais, no que diz respeito aos públicos com vínculos profissionais. (significativos quando p <0,1 nível). Quanto maior o conhecimento dessas habilidades específicas, mais provável é a utilização de tais práticas. Entre os menos qualificados (menor quartil na mensuração das habilidades), mais de um terço entre estes nunca alterou suas configurações de privacidade ou o conteúdo de seus profiles em tal contexto, enquanto entre os mais qualificados (maior quartil), 27% nunca estiveram envolvidos em tais práticas.
Figura 5 demonstra a relação das práticas de gestão de privacidade por gênero. Entre homens e mulheres, aqueles com habilidades mais altas eram mais propensos a se envolveram em gestões de privacidade do que aqueles com habilidades de nível mais baixo. No entanto, as diferenças de habilidades foram muito mais pronunciadas entre os homens. (As diferenças dentro de gênero foram estatisticamente significativas para os homens no p<0,1 nível, mas não significativo para as mulheres. Entre os gêneros as diferenças foram estatisticamente significativas para a p<0,05 nível de baixa qualificação no p, mas não significativo para os mais qualificados).
Discussão
Empregadores e colegas de trabalho estão utilizando cada vez mais as redes sociais como instrumento para fiscalizar seus atuais funcionários e os futuros candidatos a emprego¹, e as pesquisas indicam que as pessoas estão utilizando de tais ferramentas de maneira direta ou indireta durante a procura de emprego.[22] Embora a maioria das pessoas pense somente em amigos e familiares quando compartilham as informações nos ambientes digitais, este estudo aponta que os empregadores e os colegas de trabalho também estão formando impressões com base em perfis de redes sociais, refletindo e questionando a integridade contextual das informações. Aqueles que não se preocupam com o gerenciamento de privacidade em relação às questões profissionais, seja por meio de filtragens de conteúdo ou ajustamentos de perfil, podem estar colocando suas reputações e perspectivas de emprego em risco.
Contribuindo para pesquisas anteriores sobre os diferentes usos dos sites de redes sociais e que usa a Internet no processo de procura de emprego, nossos resultados também sugerem que os aspectos demográficos (grupos étnicos) são fatores importantes no que se refere as práticas de privacidade relacionadas com as questões de emprego e reputações em ambientes digitais. Mais especificamente, ao analisar as experiências de uma amostra diversificada de jovens no início de suas carreiras, nossos resultados indicam que as mulheres, brancos e aqueles com habilidades mais refinadas no uso da Internet são mais propensos em gerir seus profiles de forma ativa. Os padrões de comportamento que encontramos podem ser atribuídos, em parte, pelas variações do modo como os usuários utilizam as redes sociais em termos mais gerais. Mais uma vez, a pesquisa constatou que, em comparação a outros grupos sociais, os estudantes brancos são mais propensos se referirem as redes sociais como instrumentos de autopromoção e marketing, o que indica uma maior probabilidade de serem mais conscientes em relação a um público de grande alcance. Isto poderia explicar porque esse grupo é mais propenso a utilizar de estratégias de privacidade no domínio do emprego. Dado que as minorias que enfrentam discriminação no mercado de trabalho, os fatos indicam que os hispânicos são os menos propensos a manter públicos com vínculos profissionais, quando se trata de seus profiles parece ser para eles algo particularmente desconcertante. Há uma variedade de razões pelas quais as mulheres são mais ativas no domínio que examinamos. Uma das primeiras mensagens públicas sobre a privacidade online e questões relacionadas com a segurança na Web, afirma que as jovens mulheres tendem a usar mais as estratégias de privacidade nas redes sociais do que os homens, assim como sua maior familiaridade e experiência com as ferramentas, o que possibilita lidar melhor com o público de emprego, tornando este relevante para suas vidas.
O gerenciamento de privacidade online é um assunto complexo, e usuários os estão cada vez mais sobrecarregados para enfrentar os novos desafios sociais e tecnológicos. Ao apresentar uma medida-padrão para avaliar as habilidades no uso da Internet relacionadas com a privacidade, nossa pesquisa demonstra que o gerenciamento de privacidade depende em parte do conhecimento e experiências neste domínio específico. Embora as habilidades mais gerais foram avaliadas para averiguar o modo como as pessoas procuram por informações, como produzem e compartilham conteúdo na Web, nossos resultados indicam que estes também podem influenciar sua auto-representação online, o que por sua vez pode ter consequências profundas sobre sua reputação profissional, afetando de alguma maneira suas oportunidades emprego.
Este artigo tem várias implicações para aqueles que estão pesquisando e construindo as redes sociais, numa perspectiva da Ciência da Computação. Nossos resultados destacam a importância do desenho em diversas amostras de estudo e estar consciente da demografia da amostra quando se estuda usuários de um sistema. Dado que existem diferenças sistemáticas nas práticas de privacidade com base em gênero, raça e etnia, e experiências na Internet, os pesquisadores precisam estar atentos às composições de suas amostras para, finalmente, tirar as conclusões a partir dos estudos administrados em determinados grupos populacionais.
Em relação aos usuários, os resultados destacam a necessidade de se manter em sintonia com as práticas sociais online. Embora alguns usuários utilizam as redes sociais principalmente para interagir com seus amigos e familiares, os registros dessas interações podem estar visível aos outros usuários. Nem todos os usuários estão cientes disso, e muitos destes não têm as habilidades necessárias para compreender as implicações de suas ações online. Considerando que uma parcela significativa desta amostragem parece em risco no que diz respeito às práticas de gestão de privacidade, isso pode ser um assunto em que os usuários podem se beneficiar, se houver uma orientação mais formal e específica. Por exemplo, as orientações de carreira e organizações similares poderiam oferecer oficinas sobre as melhores práticas para manutenção das auto-representações no mundo conectado de hoje e como colocar um de melhor pé em frente online. As empresas podem também considerar a implementação de oficinas para orientar seus funcionários sobre as melhores práticas a fim evitar essas situações problemáticas.
Este estudo também tem implicações importantes para os designers de sites de redes sociais. Descobrimos que as competências dos utilizadores relacionados com a forma como as pessoas conseguiram a sua privacidade em tais sites, com uma proporção considerável possuem as competências necessárias para gerir a sua presença online de forma ideal no contexto do processo de procura de emprego e, provavelmente, em outros domínios de algo pesquisas futuras devem abordar. Assim, os designers terão de continuar a fazer as configurações de privacidade ferramentas de privacidade mais amigável e padrão mais transparente. Ajustes podem incluir fabricação de ferramentas de privacidade mais fácil de encontrar, especialmente aqueles que permitem aos usuários controlar o acesso de perfil informações para noncontacts, bem como aqueles que permitem que os usuários a refletir sobre suas auto-representações, como “Vista como” do Facebook funcionalidade. Designers também pode considerar a implementação de ferramentas que fornecem feedback para ajudar os usuários a se tornar mais consciente do seu público, especialmente quando os membros da audiência vêm de fora contatos imediatos de um usuário. Essas métricas podem ajudar os usuários a refletir melhor sobre a sua auto-representações e como os outros percebem.
Por fim, os resultados desta pesquisa têm implicações para as políticas publicas que estão sendo elaboradas atualmente ou revisitadas para ajudar a impor práticas de privacidade normativas. Por exemplo, os EUA têm leis para proteger os futuros empregados às discriminações no trabalho; No entanto, os sites de redes sociais representam novos desafios para as práticas relacionadas. Se os usuários não ajustarem suas práticas perante a um público com vínculos profissionais, é possível que estes acidentalmente e indiretamente compartilharem o tipo de informação que estas leis inicialmente previstas para proteger.
Pesquisas experimentais preliminares apontam que os perfis de redes sociais podem desempenhar um papel na “contratação” de discriminação.[23] Os formuladores de políticas públicas precisam rever tais leis e as políticas antidiscriminatórias, considerando o papel das redes sociais no processo de contratação de emprego.
Referências Bibliográficas e Citações
1. “Online Reputation in a Connected World,” Microsoft, 2010; www.microsoft.com/security/resources/research.aspx.
2. C. Robles and J. Golbeck, “Facebook Relationships in the Workplace,” poster, CompleNet2012, 2012.
3. D. Boyd and E. Hargittai, “Facebook Privacy Settings: Who Cares?,” First Monday, vol. 15, 2 Aug. 2010.
4. M. Madden and A. Smith, “Reputation Management and Social Media,” Pew Internet & American Life Project, 27 May 2010.
5. F. Stutzman and J. Kramer-Duffield, “Friends Only: Examining a Privacy-Enhancing Behavior in Facebook,” Proc. 28th ACM Conf. Human Factors in Computing Systems (CHI 10), ACM, 2010, pp. 1553–1562.
6. E. Hargittai, “Whose Space? Differences among Users and Non-users of Social Network Sites,” J. Computer-Mediated Communication, vol. 13, no. 1, 2007, pp. 276–297.
7. D. Boyd, “White Flight in Networked Publics? How Race and Class Shaped American Teen Engagement with MySpace and Facebook,” Race after the Internet, L.
Nakamura and P. Chow-White, eds., Routledge, 2011, pp. 203–222.
8. T. Correa and S.H. Jeong, “Race and Online Content Creation: Why Minorities Are Actively Participating in the Web,” Information, Communication & Society, vol. 14, no. 5, 2011, pp. 638–659.
9. M.G. Hoy and G. Milne, “Gender Differences in Privacy- Related Measures for Young Adult Facebook Users,” J. Interactive Advertising, vol. 10, no. 2, 2010, pp. 28–45.
10. E. Hargittai, “The Digital Reproduction of Inequality,” Social Stratification, D. Grusky, ed., Westview Press, 2008, pp. 936–944.
11. E. Litt, “Measuring Users’ Internet Skills: A Review of Past Assessments and a Look toward the Future,” to be published by New Media & Society.
12. H. Nissenbaum, “A Contextual Approach to Privacy Online,” Daedalus, vol. 140, no. 4, 2011, pp. 32–48.
13. E. Goffman, The Presentation of Self in Everyday Life, Doubleday, 1959.
14. I. Altman, The Environment and Social Behavior: Privacy, Personal Space, Territory, and Crowding, Brooks/Cole, 1975.
15. S. Petronio, Boundaries of Privacy: Dialectics of Disclosure, State Univ. of New York Press, 2002.
16. E.D. Berger, “Managing Age Discrimination: An Examination of the Techniques Used when Seeking Employment,” The Gerontologist, vol. 49, no. 3, 2009, pp. 317 332.
17. D. Boyd and A. Marwick, “Social Privacy in Networked Publics: Teens’ Attitudes, Practices, and Strategies,” A Decade in Internet Time: Symp. Dynamics of the Internet and Society, Oxford, 2011.
18. E. Litt, “Knock, Knock. Who’s There? The Imagined Audience,” J. Broadcasting & Electronic Media, vol. 56, no. 3, 2012, pp. 330–345.
19. Y.J. Park, “Digital Literacy and Privacy Behavior Online,” Communication Research, 2011.
20. E. Hargittai and Y.P. Hsieh, “Succinct Survey Measures of Web-Use Skills,” Social Science Computer Rev., vol. 30, no. 1, 2012, pp. 95–107.
21. C. Puckett and E. Hargittai, “From Dot-Edu to Dot-Com: Predictors of College Students’ Job and Career Information Seeking,” Sociological Focus, vol. 45, no. 1, 2012, pp. 85–102.
22. M. Burke and R. Kraut, “Using Facebook after Losing a Job: Differential Benefits of Strong and Weak Ties,” Proc. 16th ACM Conf. Computer Supported Cooperative Work and Social Computing (CSCW 13), ACM, 2013, pp. 1419–1430.
23. A. Acquisti and C. Fong, “An Experiment in Hiring Discrimination via Online Social Networks,” Privacy Law Scholars Conf., 2012, p. 19; http://docs.law.gwu.edu/ facweb/dsolove/PLSC.
Nota sobre as autoras:
Eszter Hargittai é Delaney Family Professor no Departamento de Estudos de Comunicação e docente associada ao Instituto de Pesquisa de Políticas da Universidade de Northwestern, onde ela dirige a Web Use Project. Ela também é associada ao Harvard’s Berkman Center for Internet & Society. Em 2006-07, foi associada ao Centro de Stanford de Estudos Avançados em Ciências Comportamentais. Ela recebeu seu PhD. em Sociologia pela Universidade de Princeton (2003), onde foi uma Wilson Scholar. Suas pesquisas se focam sobre as implicações sociais e políticas das Tecnologias da Informação, com interesse particular em como a TI pode contribuir ou atenuar as desigualdades sociais. Seus projetos de pesquisa examinam as diferenças nas habilidades de uso da Web, a evolução dos mecanismos de pesquisa e da organização e apresentação de conteúdo online, usos políticos das Tecnologias da Informação, e como ela está influenciando os tipos de produtos culturais que as pessoas consomem. Além de seus artigos acadêmicos, seu trabalho também foi apresentado na CNNfn, no site da BBC, e vários jornais nacionais.
Eden Litt é doutoranda em Media, Tecnologia e Sociedade pelo programa da Universidade Northwestern. Suas pesquisas se focam na investigação das diversas estratégias sociais e técnicas que os usuários utilizam para gerenciar sua em redes sociais online.
Hargittai, E. & Litt, E. (2013). “New Strategies for Employment? Internet Skills and Online Privacy Practices during People’s Job Search”. IEEE Security & Privacy. 11(3):38‐45.
[1] “Online Reputation in a Connected World,” Microsoft, 2010; www.microsoft.com/security/resources/research.aspx.
[2] C. Robles and J. Golbeck, “Facebook Relationships in the Workplace,” CompleNet2012, 2012.
[3] d. boyd and E. Hargittai, “Facebook Privacy Settings: Who Cares?,” First Monday, vol. 15, 2 Aug. 2010.
[4] M. Madden and A. Smith, “Reputation Management and Social Media,” Pew Internet & American Life Project, 27 May 2010.
[5] F. Stutzman and J. Kramer-Duffield, “Friends Only: Examining a Privacy-Enhancing Behavior in Facebook,” Proc. 28th ACM Conf. Human Factors in Computing Systems (CHI 10), ACM, 2010, pp. 1553–1562.
[6] E. Hargittai, “Whose Space? Differences among Users and Non-users of Social Network Sites,” J. Computer-Mediated Communication, vol. 13, no. 1, 2007, pp. 276–297.
[7] d. boyd, “White Flight in Networked Publics? How Race and Class Shaped American Teen Engagement with
MySpace and Facebook,” Race After the Internet, L. Nakamura and P. Chow-White, eds., Routledge, 2011, pp. 203–222.
[8] T. Correa and S.H. Jeong, “Race and Online Content Creation: Why Minorities Are Actively Participating in the
Web,” Information, Communication & Society, vol. 14, no. 5, 2011, pp. 638–659.
[9] M.G. Hoy and G. Milne, “Gender Differences in Privacy-Related Measures for Young Adult Facebook Users,” J.
Interactive Advertising, vol. 10, no. 2, 2010, pp. 28–45.
[10] E. Hargittai, “The Digital Reproduction of Inequality,” Social Stratification, D. Grusky, ed., Westview Press,
2008, pp. 936–944.
[11] E. Litt, “Measuring Users’ Internet Skills: A Review of Past Assessments and a Look toward the Future,” to be
published by New Media & Society.
[12] H. Nissenbaum, “A Contextual Approach to Privacy Online,” Daedalus, vol. 140, no. 4, 2011, pp. 32–48.
[13] E. Goffman, The Presentation of Self in Everyday Life, Doubleday, 1959.
[14] I. Altman, The Environment and Social Behavior: Privacy, Personal Space, Territory, and Crowding,
Brooks/Cole, 1975.
[15] S. Petronio, Boundaries of Privacy: Dialectics of Disclosure, State Univ. of New York Press, 2002.
[16] E.D. Berger, “Managing Age Discrimination: An Examination of the Techniques Used when Seeking
Employment,” The Gerontologist, vol. 49, no. 3, 2009, pp. 317–332.
[17] d. boyd and A. Marwick, “Social Privacy in Networked Publics: Teens’ Attitudes, Practices, and Strategies,” A
Decade in Internet Time: Symp. Dynamics of the Internet and Society, Oxford, 2011.
[18] E. Litt, “Knock, Knock. Who’s There? The Imagined Audience,” J. Broadcasting & Electronic Media, vol. 56,
no. 3, 2012, pp. 330–345.
[20] E. Hargittai and Y.P. Hsieh, “Succinct Survey Measures of Web-Use Skills,” Social Science Computer Rev., vol.
30, no. 1, 2012, pp. 95–107.
[21] C. Puckett and E. Hargittai, “From Dot-Edu to Dot-Com: Predictors of College Students’ Job and Career
Information Seeking,” Sociological Focus, vol. 45, no. 1, 2012, pp. 85–102.
[22] M. Burke and R. Kraut, “Using Facebook after Losing a Job: Differential Benefits of Strong and Weak Ties,”
Proc. 16th ACM Conf. Computer Supported Cooperative Work and Social Computing (CSCW 13), ACM, 2013,
pp. 1419–1430.
[23] A. Acquisti and C. Fong, “An Experiment in Hiring Discrimination via Online Social Networks,” Proc. 5th
Privacy Law Scholars Conf.