Cultura digital, sociedade e política

11/06/2014

TECNOLOGIA: INOVAÇÕES NO ENSINO APRENDIZAGEM

Filed under: Olíria Ribeiro Costa — Tags:, , , , , — oliriaribeiro @ 21:24

Vivemos uma época na qual o acesso às informações anda tão imediato e inovador, que conseguir prender a atenção dos alunos em sala de aula passa a ser cada vez mais um desafio aos professores. Assim, surge a necessidade de se reaver o projeto pedagógico da escola, tendo em vista a necessidade de acompanhar os movimentos da sociedade em direção a uma cultura digital. Pérez Tapias ao discorrer sobre o assunto, diz que o espaço urbano se revitaliza com a internet, isso por que:

 As pressões da informação generalizada que os meios de comunicação difundem na atualidade, ao que vem acrescentar-se como dado qualitativo o fato de ser tão persuasivamente transmitida, dão xeque-mate na escola como instituição. Os saberes estabelecidos para cuja transmissão está ela esboçada, o papel do professor nesse quadro acadêmico, a estruturação hierárquica de suas relações internas e o próprio caráter linear de um curriculum pensado em termos acumulativos – tudo isso se vê modificado na nova situação em que estamos. Circulam agora novos conhecimentos vinculados, além disso, aos suportes tecnológicos pelos quais são transmitidos; diante deles, a função do professor é desvalorizada e decresce o reconhecimento de sua autoridade, requerem-se relações também horizontais no âmbito escolar, e o máximo caráter optativo e o livre delinear de cada um parece atender mais a um saber que se mostra disperso, heterogêneo e acessível por meio de redes de múltiplas entradas. (TAPIAS, 2006: 163)

Assim a iniciativa do Projeto GENTE – Ginásio Experimental de Novas Tecnologias que traz uma nova metodologia de ensino-aprendizagem em que o aluno é protagonista e o centro desse processo é inovador, principalmente por que ele reúne dentro de um espaço com novo formato justamente as dificuldades que eram enfrentadas em sala de aula, trazendo-as de encontro. Isso ocorre por que “as telecomunicações (tecnicidade) vão nos propiciar novas ligações, meios radicalmente novos de produção e organização dos espaços habitados, e de nos apropriarmos deles para nossos múltiplos propósitos humanos.”Martín-Barbero discorre sobre a produção do conhecimento como um processo de descentralização e destemporalização do saber, entendendo esse processo como:

el conjunto de procesos y experiências que testimonian la expandida circulación por fuera del libro de saberes socialmente valiosos. El saber se descentra, em primer lugar, em relación al que há sido su eje durante los últimos cinco siglos: el libro. Un proceso/modelo, que con muy relativos câmbios había moldeado la práctica escolar desde la invención de la imprenta, sufre hoy uma mutación cuyo más largo alcance lo evidencia la aparición del texto electrónico (R. Chartier), o mejor, de la hipertextualidad (E. Berk/J.Devlin) como nuevo modelo de organización y aprendizaje de conocimientos. Son câmbios que no vienen a reemplazar al libro, sino a relevarlo de su centralidad ordenadora de las etapas y lós modos de saber que la estructura-libro había impuesto no solo a la escritura y la lectura, sino al modelo entero del aprendizaje: lineariedad secuencial de isquierda a derecha, tanto física como mental, y verticalidad del arriba hacia abajo, tanto espacial como simbólica.(MARTÍN-BARBERO, 2005: 28)

Deste modo o projeto implantado na Escola André Urani¹ da rede pública, localizada na maior favela do Rio de Janeiro, se encaixa neste novo formato de aprendizado, em que a escola se torna um espaço de fluxos informacionais.

O projeto vai além da presença de computadores para cada aluno na escola, o que por si só já não é algo comum nas escolas públicas brasileiras, propondo modificações que alteram a forma de interação entre os atores sociais em seu espaço físico e entre si(professor/aluno – aluno/aluno).

A escola não possui mais paredes internas, seus móveis são modulares (podem ser encaixados de acordo com a atividade do dia) diferentemente do padrão tradicional em que os alunos ficam sentados enfileirados de frente para o professor, e não há divisão dos alunos em idades e série, estes agora ficam formados em grupos heterogêneos.

O professor não monta mais aulas para uma classe de uma série especifica, agora o seu desafio é montar atividades interdisciplinares para o grupo e o individual, pois cada aluno utiliza uma plataforma digital com um itinerário formativo com o que ele precisa aprender e seu desempenho é acompanhado semanalmente a partir dos resultados adquiridos pela máquina de testes que a plataforma oferece.

E por fim, a relação entre os alunos se dá de uma forma diferente, pois eles são reunidos em grupos ou famílias heterogêneas que prevê uma troca de experiências entre eles, ou seja, apesar do itinerário ser individual a aula é colaborativa, pois em caso de dúvida o aluno consulta o companheiro ao lado e o seu grupo para tentarem resolver a questão antes de procurarem pelo professor, que no caso tem uma função de mentor do grupo.

Este novo modelo pedagógico foi inspirado pela Summit Public Schools² da Califórnia (EUA), uma rede de escolas que já tem 10 anos de atuação nesta proposta de ensino híbrido (tecnologia, currículo, personalização) para cada projeto de vida de um aluno em particular.

Por fim, pode-se cogitar que o sucesso desse projeto que transforma a educação acontece justamente pela alteração da experiência vivida dos alunos, pois esta deixa de ser algo distante e desinteressante para se tornar o seu oposto, onde a tecnologia atua como um mediador entre o aluno e o ensino. Portanto, assim como a produção de conhecimento a escola também se modifica, deixando de ser um espaço fechado dentro de si e se expande para além de seus muros.

 

Notas:

1 – Disponível em: http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,novo-modelo-de-escola-no-rio-aposta-em-tecnologia-e-ensino-individualizado,1015075

2 – http://www.summitps.org/

 

 

Bibliografia

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Cultura y nuevas mediaciones tecnológicas In.: América Latina: otras visiones de La cultura. Colombia – Ed. Malpensante: 2005

 MITCHELL, William J. A marcha dos meganets. In.: E-topia: a vida urbana mas não como a conhecemos. São Paulo. Senac, 2002: 57

PÉREZ TAPIAS, José Antonio. Possibilidades de humanização e risco do “sem-sentido” no mundo digital. In.: Internautas e náufragos: a busca do sentido na cultura digital. São Paulo. Loyola, 2006: 163

SALDANÃ, Paulo. Novo modelo de escola no Rio aposta em tecnologia e ensino individualizado. O Estado de São Paulo, São Paulo, 30 março de 2013. Caderno Educação.

 

 
LINKS:

http://www.youtube.com/watch?v=FIF7jNZwFcw

transformareducacao.org.br

Powered by WordPress