Cultura digital, sociedade e política

08/07/2014

COM PURPURINA É QUE SE LUTA

Filed under: Ralph Sarlo — Tags:, , — ralphsarlo @ 12:53

RALPH SARLO CABRAL

As lutas do Movimento LGBT têm aumentado amplamente nos últimos anos. A visibilidade dessa “minoria” é expressiva nas redes sociais. No Facebook, por exemplo, há inúmeras comunidades virtuais que se relacionam de alguma forma ao Movimento. Uma dessas comunidades é o grupo “PUC PURPURINA”, criado desde 2011 para o público LGBT da PUC-SP.
Ao acompanhar as postagens desse grupo, podemos perceber que uma de suas finalidades é a interação de seus membros na troca de assuntos de interesse comum. Os assuntos publicados no grupo são os mais variados, indo de simples notícias a grandes acontecimentos relacionados com as lutas do Movimento LGBT (não se limitando apenas a essa “minoria”, mas visibilizando também outras minorias sociais), se publica também brincadeiras e o que alguns classificam como “pornografia” ou “putaria” (vídeos, paródias, fotos eróticas, etc.). Essa última característica do grupo mostra que esse movimento não tem receio de se assumir emocional: é alegre, festivo, brincalhão, etc.
A interação dos membros no grupo denota uma proximidade entre eles,o que dá sentido ao termo, que foi muito usado no Orkut, COMUNIDADE. Os membros desse grupo demonstram se sentir em uma comunidade, um ambiente agradável, um local onde todos são iguais e respeitam suas diferenças, todos podem “falar sério” e “brincar” sem serem mal vistos ou mal falado, sem serem zombados. Há um sentimento de pertencimento no grupo, de identificação nos assuntos tratados, nos interesses, gostos, etc.
Os atores sociais dessa comunidade virtual, não se limitam a esse espaço, mas transitam livremente entre o virtual e o físico, como uma busca de constituir esses espaços de atuação em um só espaço, um espaço híbrido. Prova disso é a constituição, no ano de 2014, da Frente LGBTT da PUC-SP. Essa formação social surge da necessidade de se engajar intensamente na luta pelos direitos da comunidade LGBT, tanto dentro como fora da Universidade. Uma forma de conscientizar os interessados sobre as questões que envolvem a comunidade LGBT. Ou como disse Manuel Castells: “contribuir para a tarefa dos que lutam, correndo grandes riscos, por um mundo em que gostaríamos de viver.” (2013: 22).

 

Referências Bibliográficas

- CASTELLS, Manuel. REDES DE INDIGNAÇÃO E ESPERANÇA: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

02/07/2014

Então não é pra ir ou é? – Eventos nas Redes sociais e seus objetivos

Filed under: Alessandra Borges dos Santos — Tags:, , , — oliriaribeiro @ 10:56

As redes sociais têm um papel crucial para a comunicação de seus usuários com outras pessoas. É considerado um meio rápido e eficaz de contato. Nela também é encontrada a liberdade de expressão de qualquer indivíduo, seja para divulgação de trabalhos, eventos, críticas e opiniões sobre cultura, comportamento, religião e política, publicação de notícias, compartilhamento de informações.

Sendo assim, as redes sociais são espaços de livre expressão e de usos diversificados diferentemente de outros veículos convencionais de comunicação que mantém uma hegemonia sobre o poder de publicação e divulgação das informações, como televisão e jornais. Pela primeira vez um veículo de comunicação permite que esta ocorra de muitos com muitos. Isso possibilita uma produção de diálogo diferenciada sobre os demais meios de comunicação. Os processos dinâmicos de rede são efeitos colaterais dos processos de interação entre os indivíduos nas redes. As redes por sua vez estão condicionadas a processos de agregação, separação, caos, ordem e ruptura.

Por isso, esses espaços virtuais ficam muitas vezes com uma acumulação de informações pessoais e públicas, opiniões sobre diversos assuntos, dados e notícias compartilhados. Muitas vezes por conseqüência disso, muitas coisas passam sem serem percebidas. É preciso encontrar maneiras de serem vistos nesse emaranhado de informações e de despertar interesse dos usuários.

Foi encontrada uma nova forma de divulgar opiniões e propiciar maior adesão à elas, os eventos criados no facebook são um exemplo disso. A ferramenta de criar evento tradicionalmente usado para marcar reuniões, festas e manifestações começa a ser usado para expor opiniões e também humor.

Para verificar esse novo fenômeno foi feita uma pesquisa rápida na rede, dentro do meu próprio perfil fui convidada para diversos eventos como estes mencionados como, por exemplo: “Festa de fim de carreira do Aécio”. Isso na realidade não é uma festa que vai realmente acontecer e sim uma forma de manifestação de rejeição ao político citado. Existem outros eventos no mesmo perfil que abrangem outros políticos, como a atual presidenta Dilma Rousseff.

Esse tipo de expressão só toma grande repercussão com a declarada presença de vários usuários da rede e com essa confirmação acaba existindo um maior número de divulgação através do compartilhamento e visualização do evento no feed de noticias¹ dos amigos do usuário. Isso é o sistema de cooperação e processo formador de estruturas sociais através de interesses e finalidades do grupo (RECUEDO, 2008).

Assim como eventos com demonstrações de opiniões políticas são facilmente aderidos na rede, os de humor se espalham com a mesma facilidade e rapidez pela internet, divertindo os usuários com trocadilhos e piadas.

Não sabemos pra onde à evolução da internet caminha, porém já sabemos que as redes não ficam em estado de pausa sem mudança nenhuma. As redes são dinâmicas e estão em contínuo processo de mutação. Essas transformações nas redes sociais, são largamente influenciadas pelas interações entre os atores no mundo virtual.

 

NOTAS

1 - Espaço onde todas as publicações relacionadas a você, seus amigos e paginas que são de seu interesse aparecem.

 

BIBLIOGRAFIA

 

CASTELLS, Manuel. A galáxia internet: Reflexões sobre internet, negócios e sociedade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2004

LEMOS, Andre; LEVY, Pierre. O futuro da internet. São Paulo, Paulus, 2010

MORAES, Dênis de. Comunicação Alternativa, Redes Virtuais e Ativismo: Avanços e Dilemas In Revista de Economía Política de Economia Política de las Tecnologías de la información y Comunicación www.eptic.com.br, vol. IX, Nº 2, mayo-ago. 2007.

RECUEDO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre. Editora Meridional, 2009

 

27/06/2014

Novas estratégias para contratação? Habilidades no uso da Internet e o gerenciamento de privacidade online durante a procura de emprego.

Filed under: Vinicius Meneses — Tags:, , — Rita Alves @ 00:19

por Eszter Hargittai e Eden Litt – Northwestern University

FONTE: Hargittai, E. & Litt, E. (2013). “New Strategies for Employment? Internet Skills and Online Privacy Practices during People’s Job Search”. IEEE Security & Privacy. 11(3):3845.

Tradução de Vinícius Pinho Meneses

De que forma o know-how no uso da Internet está relacionado com a tendência dos usuários de redes sociais em alterarem suas configurações de privacidade? Esta pesquisa tem por objetivo analisar essas práticas com jovens adultos, investigando de que forma os diferentes aspectos demográficos influenciam nas práticas de privacidade, quando se trata do gerenciamento dos profiles considerando às questões profissionais envolvidas nesses ambientes digitais.

Estão em voga, ultimamente, inúmeros casos de pessoas que perdem seus empregos devido ao conteúdo que compartilham em sites de redes sociais. (Ver http://thefacebookfired.wordpress.com, um blog dedicado a documentar esses casos). Os empregadores têm considerado cada vez mais estes serviços como instrumentos para fiscalizar seus funcionários e examinar os futuros candidatos a emprego.[1] Uma recente pesquisa em ambientes de trabalho constatou que colegas de trabalho estão fazendo julgamentos tanto profissionais quanto pessoais com base em profiles das redes sociais.[2] Enquanto alguns usuários utilizam as ferramentas disponíveis nesses sites para alterar as configurações de privacidade de seus profiles,[3] [4] a propagação cada vez maior do compartilhamento de conteúdo com “públicos não-intencionais” têm acarretado em consequências prejudiciais à carreira e a reputação dos profissionais.[5] Setenta por cento dos recrutadores e profissionais de Recursos Humanos relataram terem eliminado candidatos a emprego por conta de algo postado nas redes sociais.[6]

Será que os usuários estão considerando os empregadores como um público presente nas redes sociais, refletindo criticamente sobre o que compartilhar e o que não compartilhar? Estão tomando medidas proativas para proteger suas informações pessoais?

Esta pesquisa foi realizada com uma amostra de jovens adultos nos estágios iniciais de suas carreiras, a fim de investigar de que forma os aspectos demográficos e as habilidades específicas de privacidade online se relacionam com as orientações-reputações de carreira profissional.

 

Aspectos Demográficos e Gerenciamento de Privacidade

As recentes pesquisas sobre as “desigualdades digitais” indicam que os aspectos demográficos, tais como raça, etnia e gênero, influenciam o modo como os indivíduos se apropriam da Internet, incluindo sua adesão para uso das redes sociais. Por exemplo, uma pesquisa realizada em 2007 com um grupo diverso de estudantes, apontou que indivíduos brancos e asiático-americanos eram mais propensos a utilizar o Facebook, enquanto estudantes latino-americanos eram mais propensos a utilizar o MySpace.[7] Uma recente pesquisa etnográfica que analisou os diferentes usos das redes sociais com jovens e adolescentes relatou resultados similares.[8] As diferenças de adesão e utilização das redes sociais podem ocorrer, em parte, porque os diferentes grupos étnicos atribuem diferentes usos e significados para estas ferramentas.[9] Por exemplo, nossa pesquisa de 2008 realizada com diferentes grupos étnicos indicou que os afro-americanos tendem a conceber as redes sociais como espaços de auto-expressão, já os brancos em sua maioria percebem como instrumentos de auto-promoção, e asiático-americanos tendem a caracterizar como espaços de auto-reflexão e fóruns de diary-like.[10] Curiosamente, todos os grupos étnicos, exceto os afro-americanos, demonstraram preocupações sobre os “públicos potencialmente indesejados”.

O gênero também tem sido associado a diferentes usos das redes sociais, e, mais especificamente, com o gerenciamento de privacidade, a maioria das pesquisas indica que as mulheres são mais propensas a se envolver nestas praticas, como por exemplo, alterar suas configurações de privacidade e desmarcar as fotos em seu profile.³ Tendo em vista que nossa pesquisa anterior evidencia que o perfil dos usuários são fatores importantes no que se refere aos diferentes usos das redes sociais, consideramos de que forma os aspectos demográficos influenciam as práticas de privacidade, quando se trata do monitoramento dos profiles considerando os atuais ou futuros empregadores.

 

Habilidades na Internet e o Gerenciamento de Privacidade

Outra área de investigação, que é muitas vezes negligenciada pelas pesquisas científicas, é o estudo das habilidades específicas (know-how) dos usuários da Internet e das redes sociais.[11] [12] Privacidade entende-se aqui por “fluxos apropriados de informação pessoal”.[13] Cada vez mais os usuários despendem esforços a fim de gerenciar suas informações pessoais em seus profiles, tendo em vista seus contextos sociais específicos e sua “audiência”.[14] [15] Por exemplo, por conta do estigma de idade, os candidatos mais velhos que temem a discriminação por idade podem, durante o processo de contratação, utilizar técnicas para mascarar sua idade, como por exemplo, alterar o formato de ordem cronológica pelas as categorias “funcionais”, ocultar as experiências de trabalho mais antigas, modificar sua aparência (por exemplo, cortando o cabelo) e etc.[16] Quando se trata de privacidade em redes sociais, esta pesquisa aponta que os usuários se envolvem em uma variedade de estratégias, tais como práticas de esteganografia, às estratégias tecnológicas tais como excluir ou remover o conteúdo de seus profiles.[17] As pessoas já se esforçam para preservar sua privacidade e suas reputações profissionais, mas os sites de redes sociais apresentam novos desafios. Embora normalmente gerenciem suas informações pessoais e profiles tendo por base seu contexto social específico e sua “audiência”, as redes sociais tendem a agregar contextos que antes estavam separados, fazendo com o público efetivo (audiência) fique difícil de determinar.[18] Os usuários estão cada vez mais sobrecarregados com a tarefa de monitorar sua privacidade online nos limites destes ambientes digitais, que são inicialmente são “públicos” por padrão e mudam constantemente (e muitas das vezes sem avisar). Os usuários das redes sociais devem permanecer em sintonia constante com o que está disponível com as ferramentas de privacidade, ao mesmo tempo saber como tirar proveito de tais ferramentas de maneira significativa.

Além disso, por conta da popularidade das redes sociais, os usuários comuns muitas vezes interagem com um público muito mais amplo e mais diversificado do que estão acostumados a encontrar fisicamente. O gerenciamento de privacidade nestes ambientes requerem habilidades técnicas e sociais específicas a fim de levar os usuários a tomar decisões conscientes sobre o que compartilhar e do que não compartilhar, bem como a forma de permitir que a tecnologia ajude a configurar as preferências de privacidade. Embora tais habilidades de privacidade online desempenhe um papel importante, teoricamente, nas decisões e comportamentos adotados para o controle da privacidade dos usuários, poucas pesquisas científicas têm investigado como estas habilidades específicas podem influenciar em tais processos. Um estudo que considerou as habilidades no uso da Internet apontou que estudantes universitários usuários do Facebook que tem conhecimentos de Internet mais altos são mais propensos a alterar suas configurações de privacidade do que aqueles menos propensos em tais habilidades. Um estudo sobre os adultos usuários da Internet apontou que a familiaridade técnica e a experiência na rede influencia como eles gerenciam sua segurança e privacidade online.[19] Embora estes estudos contribuam para estabelecer uma relação entre o know-how no uso da Internet e as práticas de privacidade, realizamos aqui uma abordagem mais refinada, investigando a privacidade em contextos sociais e suas audiências. Além disso, com base em nossos trabalhos anteriores, construímos uma medida específica para mensurar os problemas de privacidade online.

 

Dados e Métodos

Para compreender a relação entre o perfil dos usuários e as práticas de gerenciamento de privacidade, esta pesquisa realizou um levantamento de dados com um grupo diversificado de jovens adultos.

 

Coleta de Dados

Esta pesquisa realizou uma coleta de dados com 545 jovens adultos administrados através do correio postal no verão de 2012. Este foi um estudo de acompanhamento de uma pesquisa anterior realizada na primavera de 2009, com uma amostra representativa de alunos do primeiro ano da Universidade de Illinois, Chicago (UIC). Nós escolhemos UIC devido à composição diversa de seu corpo discente. A primeira coleta de dados ocorreu em 2009, em colaboração com a “First-Year Writing Program” da UIC, que supervisiona a instrução de um curso universitário. Trabalhar com este programa garantiu que a pesquisa não foi tendenciosa com os estudantes que possam estar menos propensos a fazer um curso particular.

No primeiro ano do estudo, os alunos responderam manualmente o questionário em sala de aula. Um questionário online discriminaria as pessoas que são menos propensas ao manuseio da Web, com acesso menos privado a Internet, e que se sentem menos confortáveis com ​​preenchimento de formulários on-line. Por razões semelhantes, a coleta de dados realizada em 2012 também contou com questionário preenchido manualmente. Enviamos as pesquisas aos 2.009 entrevistados que tiveram, durante o estudo inicial, consentimento em serem contatados novamente (mais de 98% entre eles). No primeiro levantamento de dados, os entrevistados não receberam quaisquer incentivos. Em 2012, oferecemos um presente-certificado de $25,00 para compras na amazon.com.

Nosso conjunto de dados iniciais de 2009 incluiram respostas de 1.115 alunos do primeiro ano. Das 92 seções de cursos no programa, 86 participaram do estudo, uma taxa de participação de 93,5% por seção. De todos os alunos matriculados na classe, 80,5% responderam ao questionário. Em 2012, tivemos permissão para acompanhar informações de contato de 1.066 pessoas, por uma recusa de 4% a partir da amostra original. Para 17 pessoas, e-mail e correio postal endereços constituiu 1,5% da amostra original. (Apesar de não enviar a pesquisa para fora no e-mail, que usou e-mail para contato com aqueles que não responderam a mailings postais para pedir a participação). O questionário 2012 incluiu dois itens para verificar a atenção dos entrevistados para a interpretação de texto. Recebemos 20 pesquisas que contabilizaram 3,5% do total, que teve uma ou ambas destas perguntas marcadas incorretamente ou deixado em branco. Foram excluídas estas respostas das análises, resultando em 545 inquéritos válidos.

Em 2012, várias pessoas da amostra inicial já não estavam mais matriculadas na faculdade; portanto, nós nos referimos a entrevistados como “jovens adultos” em vez de “estudantes universitários”.

 

Medição

Perguntamos às pessoas sobre seu gênero, raça e etnia, e o nível de escolaridade dos pais como medidas para realizar uma mensuração aproximada de seu nível socioeconômico. Perguntamos também se eles estavam à procura de emprego, ou para realizar uma mensuração de atuais empregos perguntamos quantas horas eles atualmente trabalhavam.

O questionário incluiu várias perguntas para avaliar as experiências na Internet e as habilidades específicas relacionadas com a privacidade online. A partir dos dados coletados no levantamento inicial de 2009, sabíamos em qual nível de  escolaridade eles começaram a usar a Internet; usamos estas informações para calcular os anos de experiência online. A medida de frequência de uso proveio de cálculos baseados em uma pergunta sobre a quantidade de horas de uso em um dia de semana normal, assim como um dia típico de fim de semana.

Para avaliar as habilidades específicas relacionadas com a privacidade online, pedimos aos entrevistados avaliar seu nível de compreensão de nove termos frequentemente usados na Web relacionados com a privacidade, em uma de escala de 1 a 5 pontos. Estes termos foram: “configurações de privacidade”, “perfil limitado”, “configurações de preferências”, “marcação”, “Cco”, “pesquisa avançada”, “hashtag”, “viral” e “web feeds”, todos relacionados com a gestão de suas próprias contas, bem como uma abordagem consciente sobre o compartilhamento de conteúdo em ambientes digitais. Esta é uma versão revisada de uma medida mais geral para avaliar as habilidades no uso da Internet a qual tem sido utilizada em vários estudos anteriores.[20] Usamos média dessas variáveis como a medida para mensurar as habilidades (α de Cronbach = 0,815).

Para determinar o grau em que as pessoas acompanham seus profiles nas redes sociais, no contexto de oportunidades de emprego, fizemos a seguinte pergunta: “Pensando sobre o seu uso das redes sociais, como Facebook e Twitter, quantas vezes você já fez as seguintes atividades durante o ano passado?” Uma das atividades que constam no questionário era: “alterou as configurações de privacidade ou conteúdo de seu perfil online, em consideração aos empregadores em busca de informações sobre você.” As opções de resposta foram: “Nunca”, “Já fez isso uma vez”, “Já fez isso duas a três vezes” e “Já fez isso quatro ou mais vezes”.

 

Amostra

Dado o foco deste artigo sobre o comportamento das pessoas em sites de redes sociais, restringimos a amostra para aqueles que relataram a utilizar os sites frequentemente ou ocasionalmente. Excluímos as pessoas que não estavam usando o Facebook, Twitter, Pinterest, Google+, LinkedIn, Tumblr, MySpace, ou Path; totalizando 32 pessoas entre elas. Depois de excluir essas pessoas e respondendo por falta variáveis ​​sobre nosso resultado de interesse, acabamos com uma amostra final de 507 jovens adultos. Todos os valores são relatados para esta amostra.

Todos os indivíduos abordados nesta amostra tinham entre 21 a 22 anos de idade, uma vez que restringimos o levantamento de 2009 a estudantes universitários destas idades. A Tabela 1 apresenta estatísticas descritivas sobre o grupo de jovens que praticam o monitoramento de seus profiles. As mulheres foram um pouco mais representativas do que os homens. Menos da metade da amostra foram de brancos, um quarto asiáticos ou asiático-americanos, mais de um quinto eram hispânicos, e menos de um décimo eram afro-americanos. Um quinto veio de famílias em que nenhum dos pais tinha mais do que o ensino médio, enquanto que um terço tinha pelo menos um dos pais com ensino superior, e cerca de um quinto tinha pelo menos um dos pais com uma pós-graduação. Estes números indicam que a amostra era bastante diversificada do ponto de vista socioeconômico.

Tabela 1

Tabela 1. Análise descritiva da amostra

 

Em termos de experiências online, estes jovens adultos têm em média nove anos de experiência online, com vários locais de acesso à Internet, e passam cerca de 20 horas por semana na internet (sem contar e-mail, chat ou serviços de voz). Apesar de todas estas experiências online, observa-se que há uma variação considerável em relação às suas habilidades relacionadas com a privacidade, com uma gama de 1.2-5.0 em uma escala de 5 pontos.

Tabela 2

 

 

Resultados

Embora muitos desses jovens ainda estavam estudando, muitos também estavam trabalhando ou procurando emprego. Mais de 90% relataram que estavam empregados ou procurando um emprego, indicando de certa forma uma preocupação com os futuros ou atuais empregadores.

A Figura 1 demonstra a frequência que os usuários chegaram a alterar suas configurações de privacidade ou conteúdo de seus profiles, em antecipação à busca de informações por parte dos empregadores. Mais de um quarto nunca tinha feito isso, e um adicional de um quinto só tinha feito isso uma vez. No geral, cerca de metade da amostra havia se envolvido em tal comportamento mais de uma vez, com menos de um terço fazê-lo quatro ou mais vezes nos últimos 12 meses.

Figura 1

Figura 2 destaca os gerenciamentos de privacidade por gênero (considerada significativa quando p<0.1 nível). As mulheres são mais propensas a gerenciar a sua privacidade no que se refere aos possíveis vínculos profissionais, e tende a fazer com mais frequência do que os homens. Mais de um terço dos homens relataram nunca ter ajustado seus profiles em antecipação uma entrevista de emprego, em comparação com um quarto das mulheres. Por outro lado, um pouco mais de um quarto dos homens praticaram estes comportamentos mais do que três vezes, em comparação com mais de 30% das mulheres.

Figura 2

De acordo com nossa pesquisa anterior a qual investigou a forma como as pessoas de diferentes origens étnicas e raciais aderem às sites de redes sociais, e como utilizam a Internet em relação à procura de emprego,[21] a Figura 3 demonstra os gerenciamentos de privacidade por grupos étnicos, entre brancos (p<0,01), asiático-americanos (p<0,05), afro-americanos (estatisticamente não significativos) e hispânicos (p<0,1) jovens adultos na amostra. Os brancos são muito mais propensos a ajustar seus profiles em sites de redes sociais (pelo menos uma vez no anterior) do que os demais grupos étnicos. Quando se trata do gerenciamento perfis online, os hispânicos foram os menos propensos a estas (pouco mais de 20%), enquanto a proporção de outros grupos étnicos foram bastante semelhantes entre si, oscilando em torno de 30%.

Figura 3

A Figura 4 demonstra como o nível de conhecimento sobre o gerenciamento de privacidade na Internet está relacionado com a gestão dos profiles nas redes sociais, no que diz respeito aos públicos com vínculos profissionais. (significativos quando p <0,1 nível). Quanto maior o conhecimento dessas habilidades específicas, mais provável é a utilização de tais práticas. Entre os menos qualificados (menor quartil na mensuração das habilidades), mais de um terço entre estes nunca alterou suas configurações de privacidade ou o conteúdo de seus profiles em tal contexto, enquanto entre os mais qualificados (maior quartil), 27% nunca estiveram envolvidos em tais práticas.

Figura 4

 

Figura 5 demonstra a relação das práticas de gestão de privacidade por gênero. Entre homens e mulheres, aqueles com habilidades mais altas eram mais propensos a se envolveram em gestões de privacidade do que aqueles com habilidades de nível mais baixo. No entanto, as diferenças de habilidades foram muito mais pronunciadas entre os homens. (As diferenças dentro de gênero foram estatisticamente significativas para os homens no p<0,1 nível, mas não significativo para as mulheres. Entre os gêneros as diferenças foram estatisticamente significativas para a p<0,05 nível de baixa qualificação no p, mas não significativo para os mais qualificados).

Figura 5 

Discussão

Empregadores e colegas de trabalho estão utilizando cada vez mais as redes sociais como instrumento para fiscalizar seus atuais funcionários e os futuros candidatos a emprego¹, e as pesquisas indicam que as pessoas estão utilizando de tais ferramentas de maneira direta ou indireta durante a procura de emprego.[22] Embora a maioria das pessoas pense somente em amigos e familiares quando compartilham as informações nos ambientes digitais, este estudo aponta que os empregadores e os colegas de trabalho também estão formando impressões com base em perfis de redes sociais, refletindo e questionando a integridade contextual das informações. Aqueles que não se preocupam com o gerenciamento de privacidade em relação às questões profissionais, seja por meio de filtragens de conteúdo ou ajustamentos de perfil, podem estar colocando suas reputações e perspectivas de emprego em risco.

Contribuindo para pesquisas anteriores sobre os diferentes usos dos sites de redes sociais e que usa a Internet no processo de procura de emprego, nossos resultados também sugerem que os aspectos demográficos (grupos étnicos) são fatores importantes no que se refere as práticas de privacidade relacionadas com as questões de emprego e reputações em ambientes digitais. Mais especificamente, ao analisar as experiências de uma amostra diversificada de jovens no início de suas carreiras, nossos resultados indicam que as mulheres, brancos e aqueles com habilidades mais refinadas no uso da Internet são mais propensos em gerir seus profiles de forma ativa. Os padrões de comportamento que encontramos podem ser atribuídos, em parte, pelas variações do modo como os usuários utilizam as redes sociais em termos mais gerais. Mais uma vez, a pesquisa constatou que, em comparação a outros grupos sociais, os estudantes brancos são mais propensos se referirem as redes sociais como instrumentos de autopromoção e marketing, o que indica uma maior probabilidade de serem mais conscientes em relação a um público de grande alcance. Isto poderia explicar porque esse grupo é mais propenso a utilizar de estratégias de privacidade no domínio do emprego. Dado que as minorias que enfrentam discriminação no mercado de trabalho, os fatos indicam que os hispânicos são os menos propensos a manter públicos com vínculos profissionais, quando se trata de seus profiles parece ser para eles algo particularmente desconcertante. Há uma variedade de razões pelas quais as mulheres são mais ativas no domínio que examinamos. Uma das primeiras mensagens públicas sobre a privacidade online e questões relacionadas com a segurança na Web, afirma que as jovens mulheres tendem a usar mais as estratégias de privacidade nas redes sociais do que os homens, assim como sua maior familiaridade e experiência com as ferramentas, o que possibilita lidar melhor com o público de emprego, tornando este relevante para suas vidas.

O gerenciamento de privacidade online é um assunto complexo, e usuários os estão cada vez mais sobrecarregados para enfrentar os novos desafios sociais e tecnológicos. Ao apresentar uma medida-padrão para avaliar as habilidades no uso da Internet relacionadas com a privacidade, nossa pesquisa demonstra que o gerenciamento de privacidade depende em parte do conhecimento e experiências neste domínio específico. Embora as habilidades mais gerais foram avaliadas para averiguar o modo como as pessoas procuram por informações, como produzem e compartilham conteúdo na Web, nossos resultados indicam que estes também podem influenciar sua auto-representação online, o que por sua vez pode ter consequências profundas sobre sua reputação profissional, afetando de alguma maneira suas oportunidades emprego.

Este artigo tem várias implicações para aqueles que estão pesquisando e construindo as redes sociais, numa perspectiva da Ciência da Computação. Nossos resultados destacam a importância do desenho em diversas amostras de estudo e estar consciente da demografia da amostra quando se estuda usuários de um sistema. Dado que existem diferenças sistemáticas nas práticas de privacidade com base em gênero, raça e etnia, e experiências na Internet, os pesquisadores precisam estar atentos às composições de suas amostras para, finalmente, tirar as conclusões a partir dos estudos administrados em determinados grupos populacionais.

Em relação aos usuários, os resultados destacam a necessidade de se manter em sintonia com as práticas sociais online. Embora alguns usuários utilizam as redes sociais principalmente para interagir com seus amigos e familiares, os registros dessas interações podem estar visível aos outros usuários. Nem todos os usuários estão cientes disso, e muitos destes não têm as habilidades necessárias para compreender as implicações de suas ações online. Considerando que uma parcela significativa desta amostragem parece em risco no que diz respeito às práticas de gestão de privacidade, isso pode ser um assunto em que os usuários podem se beneficiar, se houver uma orientação mais formal e específica. Por exemplo, as orientações de carreira e organizações similares poderiam oferecer oficinas sobre as melhores práticas para manutenção das auto-representações no mundo conectado de hoje e como colocar um de melhor pé em frente online. As empresas podem também considerar a implementação de oficinas para orientar seus funcionários sobre as melhores práticas a fim evitar essas situações problemáticas.

Este estudo também tem implicações importantes para os designers de sites de redes sociais. Descobrimos que as competências dos utilizadores relacionados com a forma como as pessoas conseguiram a sua privacidade em tais sites, com uma proporção considerável possuem as competências necessárias para gerir a sua presença online de forma ideal no contexto do processo de procura de emprego e, provavelmente, em outros domínios de algo pesquisas futuras devem abordar. Assim, os designers terão de continuar a fazer as configurações de privacidade ferramentas de privacidade mais amigável e padrão mais transparente. Ajustes podem incluir fabricação de ferramentas de privacidade mais fácil de encontrar, especialmente aqueles que permitem aos usuários controlar o acesso de perfil informações para noncontacts, bem como aqueles que permitem que os usuários a refletir sobre suas auto-representações, como “Vista como” do Facebook funcionalidade. Designers também pode considerar a implementação de ferramentas que fornecem feedback para ajudar os usuários a se tornar mais consciente do seu público, especialmente quando os membros da audiência vêm de fora contatos imediatos de um usuário. Essas métricas podem ajudar os usuários a refletir melhor sobre a sua auto-representações e como os outros percebem.

Por fim, os resultados desta pesquisa têm implicações para as políticas publicas que estão sendo elaboradas atualmente ou revisitadas para ajudar a impor práticas de privacidade normativas. Por exemplo, os EUA têm leis para proteger os futuros empregados às discriminações no trabalho; No entanto, os sites de redes sociais representam novos desafios para as práticas relacionadas. Se os usuários não ajustarem suas práticas perante a um público com vínculos profissionais, é possível que estes acidentalmente e indiretamente compartilharem o tipo de informação que estas leis inicialmente previstas para proteger.

Pesquisas experimentais preliminares apontam que os perfis de redes sociais podem desempenhar um papel na “contratação” de discriminação.[23] Os formuladores de políticas públicas precisam rever tais leis e as políticas antidiscriminatórias, considerando o papel das redes sociais no processo de contratação de emprego.

 

Referências Bibliográficas e Citações

 

1. “Online Reputation in a Connected World,” Microsoft, 2010; www.microsoft.com/security/resources/research.aspx.

2. C. Robles and J. Golbeck, “Facebook Relationships in the Workplace,” poster, CompleNet2012, 2012.

3. D. Boyd and E. Hargittai, “Facebook Privacy Settings: Who Cares?,” First Monday, vol. 15, 2 Aug. 2010.

4. M. Madden and A. Smith, “Reputation Management and Social Media,” Pew Internet & American Life Project, 27 May 2010.

5. F. Stutzman and J. Kramer-Duffield, “Friends Only: Examining a Privacy-Enhancing Behavior in Facebook,” Proc. 28th ACM Conf. Human Factors in Computing Systems (CHI 10), ACM, 2010, pp. 1553–1562.

6. E. Hargittai, “Whose Space? Differences among Users and Non-users of Social Network Sites,” J. Computer-Mediated Communication, vol. 13, no. 1, 2007, pp. 276–297.

7. D. Boyd, “White Flight in Networked Publics? How Race and Class Shaped American Teen Engagement with MySpace and Facebook,” Race after the Internet, L.

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8. T. Correa and S.H. Jeong, “Race and Online Content Creation: Why Minorities Are Actively Participating in the Web,” Information, Communication & Society, vol. 14, no. 5, 2011, pp. 638–659.

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10. E. Hargittai, “The Digital Reproduction of Inequality,” Social Stratification, D. Grusky, ed., Westview Press, 2008, pp. 936–944.

11. E. Litt, “Measuring Users’ Internet Skills: A Review of Past Assessments and a Look toward the Future,” to be published by New Media & Society.

12. H. Nissenbaum, “A Contextual Approach to Privacy Online,” Daedalus, vol. 140, no. 4, 2011, pp. 32–48.

13. E. Goffman, The Presentation of Self in Everyday Life, Doubleday, 1959.

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20. E. Hargittai and Y.P. Hsieh, “Succinct Survey Measures of Web-Use Skills,” Social Science Computer Rev., vol. 30, no. 1, 2012, pp. 95–107.

21. C. Puckett and E. Hargittai, “From Dot-Edu to Dot-Com: Predictors of College Students’ Job and Career Information Seeking,” Sociological Focus, vol. 45, no. 1, 2012, pp. 85–102.

22. M. Burke and R. Kraut, “Using Facebook after Losing a Job: Differential Benefits of Strong and Weak Ties,” Proc. 16th ACM Conf. Computer Supported Cooperative Work and Social Computing (CSCW 13), ACM, 2013, pp. 1419–1430.

23. A. Acquisti and C. Fong, “An Experiment in Hiring Discrimination via Online Social Networks,” Privacy Law Scholars Conf., 2012, p. 19; http://docs.law.gwu.edu/ facweb/dsolove/PLSC.

 

Nota sobre as autoras:

 

Eszter Hargittai é Delaney Family Professor no Departamento de Estudos de Comunicação e docente associada ao Instituto de Pesquisa de Políticas da Universidade de Northwestern, onde ela dirige a Web Use Project. Ela também é associada ao Harvard’s Berkman Center for Internet & Society. Em 2006-07, foi associada ao Centro de Stanford de Estudos Avançados em Ciências Comportamentais. Ela recebeu seu PhD. em Sociologia pela Universidade de Princeton (2003), onde foi uma Wilson Scholar. Suas pesquisas se focam sobre as implicações sociais e políticas das Tecnologias da Informação, com interesse particular em como a TI pode contribuir ou atenuar as desigualdades sociais. Seus projetos de pesquisa examinam as diferenças nas habilidades de uso da Web, a evolução dos mecanismos de pesquisa e da organização e apresentação de conteúdo online, usos políticos das Tecnologias da Informação, e como ela está influenciando os tipos de produtos culturais que as pessoas consomem. Além de seus artigos acadêmicos, seu trabalho também foi apresentado na CNNfn, no site da BBC, e vários jornais nacionais.

 

Eden Litt é doutoranda em Media, Tecnologia e Sociedade pelo programa da Universidade Northwestern. Suas pesquisas se focam na investigação das diversas estratégias sociais e técnicas que os usuários utilizam para gerenciar sua em redes sociais online.

 

Hargittai, E. & Litt, E. (2013). “New Strategies for Employment? Internet Skills and Online Privacy Practices during People’s Job Search”. IEEE Security & Privacy. 11(3):3845.


[1] “Online Reputation in a Connected World,” Microsoft, 2010; www.microsoft.com/security/resources/research.aspx.

[2] C. Robles and J. Golbeck, “Facebook Relationships in the Workplace,” CompleNet2012, 2012.

[3] d. boyd and E. Hargittai, “Facebook Privacy Settings: Who Cares?,” First Monday, vol. 15, 2 Aug. 2010.

[4] M. Madden and A. Smith, “Reputation Management and Social Media,” Pew Internet & American Life Project, 27 May 2010.

[5] F. Stutzman and J. Kramer-Duffield, “Friends Only: Examining a Privacy-Enhancing Behavior in Facebook,” Proc. 28th ACM Conf. Human Factors in Computing Systems (CHI 10), ACM, 2010, pp. 1553–1562.

[6] E. Hargittai, “Whose Space? Differences among Users and Non-users of Social Network Sites,” J. Computer-Mediated Communication, vol. 13, no. 1, 2007, pp. 276–297.

[7]  d. boyd, “White Flight in Networked Publics? How Race and Class Shaped American Teen Engagement with

MySpace and Facebook,” Race After the Internet, L. Nakamura and P. Chow-White, eds., Routledge, 2011, pp. 203–222.

[8] T. Correa and S.H. Jeong, “Race and Online Content Creation: Why Minorities Are Actively Participating in the

Web,” Information, Communication & Society, vol. 14, no. 5, 2011, pp. 638–659.

[9] M.G. Hoy and G. Milne, “Gender Differences in Privacy-Related Measures for Young Adult Facebook Users,” J.

Interactive Advertising, vol. 10, no. 2, 2010, pp. 28–45.

[10] E. Hargittai, “The Digital Reproduction of Inequality,” Social Stratification, D. Grusky, ed., Westview Press,

2008, pp. 936–944.

[11] E. Litt, “Measuring Users’ Internet Skills: A Review of Past Assessments and a Look toward the Future,” to be

published by New Media & Society.

[12] H. Nissenbaum, “A Contextual Approach to Privacy Online,” Daedalus, vol. 140, no. 4, 2011, pp. 32–48.

[13] E. Goffman, The Presentation of Self in Everyday Life, Doubleday, 1959.

[14] I. Altman, The Environment and Social Behavior: Privacy, Personal Space, Territory, and Crowding,

Brooks/Cole, 1975.

[15] S. Petronio, Boundaries of Privacy: Dialectics of Disclosure, State Univ. of New York Press, 2002.

[16] E.D. Berger, “Managing Age Discrimination: An Examination of the Techniques Used when Seeking

Employment,” The Gerontologist, vol. 49, no. 3, 2009, pp. 317–332.

[17] d. boyd and A. Marwick, “Social Privacy in Networked Publics: Teens’ Attitudes, Practices, and Strategies,” A

Decade in Internet Time: Symp. Dynamics of the Internet and Society, Oxford, 2011.

[18] E. Litt, “Knock, Knock. Who’s There? The Imagined Audience,” J. Broadcasting & Electronic Media, vol. 56,

no. 3, 2012, pp. 330–345.

 

[20] E. Hargittai and Y.P. Hsieh, “Succinct Survey Measures of Web-Use Skills,” Social Science Computer Rev., vol.

30, no. 1, 2012, pp. 95–107.

[21] C. Puckett and E. Hargittai, “From Dot-Edu to Dot-Com: Predictors of College Students’ Job and Career

Information Seeking,” Sociological Focus, vol. 45, no. 1, 2012, pp. 85–102.

[22] M. Burke and R. Kraut, “Using Facebook after Losing a Job: Differential Benefits of Strong and Weak Ties,”

Proc. 16th ACM Conf. Computer Supported Cooperative Work and Social Computing (CSCW 13), ACM, 2013,

pp. 1419–1430.

[23] A. Acquisti and C. Fong, “An Experiment in Hiring Discrimination via Online Social Networks,” Proc. 5th

Privacy Law Scholars Conf.

26/06/2014

Food for Thought

 

Faz parte da nossa história retratar comida, desde os primórdios, e mais tarde na transição da Idade Média para a Idade Moderna, o gênero artístico natureza morta fez grande sucesso nos séculos XVI e XVII[1], o pintor Giuseppe Arcimboldo[2] inovou nessa técnica retratando, entre vários, seus mecenas utilizando frutas, legumes, verduras e peixes.

 

Fonte: http://www.giuseppe-arcimboldo.org

Fonte: http://www.giuseppe-arcimboldo.org

 

Posteriormente com a invenção do rádio e da televisão os programas de culinária garantiram seu lugar nas grades horárias das emissoras. E ainda hoje as receitas, de alguma forma, também fazem parte de programas de entretenimento ou diversidade, sem terem perdido seus programas exclusivos.
Recentemente, na era digital, essa idolatria mantém-se presente nas ferramentas digitais, aplicativos para smartphones e tablets, blogs, fotologs, comunidades e redes sociais. Ao olhar o Facebook é possível verificar a grande quantidade de posts relacionados a comida e confraternizações envolvendo comida, os quais parecem aumentar ainda mais, caso seja feriado, ou se alguns dos amigos estão de férias. A comida tem grande importância para nós, e o fato de poder compartilhar imagens de churrascos, almoços, jantares, sobremesas e sorvetes com os amigos parece potencializar a sensação de prazer já associada à comida. Isso não se limita ao rol de comidas de confraternização, as comidas saudáveis, aquelas pós-malhação, ou as pertencentes à dieta de perda de peso, também têm seu lugar.

De acordo com o Jornal da Manhã, de Minas Gerais, em janeiro de 2014, há 1,19 bilhão de usuários no Facebook, os quais clicam no botão de curtir 4,5 bilhões de vezes todos os dias, e compartilham a cada 24 horas, 4,75bilhões atualizações de status, vídeos e fotos de gatos e de comida.[3]

Ao combinarmos a já antiga pré-disposição ao compartilhamento de comida em momentos de celebrações, à portabilidade e agilidade que a tecnologia trouxe através dos smartphones e tablets, e o espírito do compartilhamento presente na internet, que faz parte de sua gênese, o resultado são as grandes quantidades de atualizações de status diárias, relacionadas a refeições, receitas e comida em geral.
http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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As tecnologias digitais também revolucionaram as relações sociais criando uma nova dinâmica. As redes sociais são responsáveis pelo desenvolvimento de novas formas de interação e através dela é possível perceber o tipo de relação que se tem com os outros atores e com o objeto em questão (Recuero, 2009: 33). O compartilhamento de fotos ao lado de potes de Nutella, bolinhos de bacalhau, ou até celebrando a conclusão de uma receita de família preparada de forma caseira nos moldes tradicionais ajudam a revelar o estilo de vida e as mensagens que determinada pessoa busca transmitir. Ao associar-se a uma comunidade, ou integrar-se a um grupo, obtém-se acesso a diferentes conteúdos produzidos também por esses atores, e novas relações têm início através disso.

Ao associar-se a uma comunidade no Orkut, por exemplo, ou ao comentar em um novo weblog ou fotolog, um indivíduo pode estar iniciando interações através das quais vai ter acesso a um tipo diferente de capital social, ou ainda, a redes diferentes. (RECUERO, 2009: p.52)

Nesse novo ambiente as relações sociais se desenvolvem sem necessariamente as pessoas se conhecerem, mas o fato de publicarem suas preferências e atividades as une, criando assim novas comunidades, consequentemente novas discussões e posteriormente novos conteúdos, dando início a um novo ciclo que se repetirá por várias vezes.

As fotos também têm papel importantíssimo nesse cenário, uma vez que são elas as responsáveis por aproximar os interlocutores, através das imagens. Benjamin em seu texto “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica” menciona exatamente essa propriedade da fotografia, que é “fazer as coisas ficarem mais próximas” (Benjamin, 1985: 170), mas em detrimento do caráter único das obras de arte.

A questão da exclusividade da obra, ou nesse caso da imagem ou foto, ou ainda a propriedade desta não é um problema, o valor desse material está totalmente relacionado ao seu compartilhamento, à quantidade de curtidas que a foto receberá e à quantidade de re-compartilhamentos que ela tiver. Esse é o ponto de convergência com a filosofia da internet, associada à liberdade de criação e a sua função de ser “o maior repositório de informações que a humanidade já viu” (Amadeu; Santana, 2007).

Ao se compartilhar a foto o objetivo é comunicar o estado de espírito, as relações sociais, o estilo de vida. Os mais variados sentimentos e desejos podem ser retratados através da prato que integra a foto: se a pessoa está em um restaurante chique ou não, se está na intimidade de um jantar com pessoas bonitas e famosas, se está comunicando que cultiva o corpo e a mente saindo da academia e “curtindo” um prato saudável, se precisa fazer inveja aos outros, ou se precisa incitá-los a cometer o pecado da gula e comer aquela sobremesa maravilhosa.

A capacidade de comunicação que a comida tem é imensa. Associado a isso há o fato de que “o compartilhamento em si é uma característica humana, não tecnológica” (Shirky, 2011: 142). A evolução da tecnologia em geral e a internet proporcionaram as ferramentas para tornar esse compartilhamento mais rápido, barato, fácil e interessante.

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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Uma agência de propaganda mapeou o que motiva o compartilhamento de fotos de comida: 25% são fotos cotidianas apenas para mostrar aos outros o que se está comendo; 22% estão documentando pratos que foram preparados por elas mesmas, seja como uma comemoração da conquista, ou buscando aprovação da comunidade, ou apenas elogios; 16% estão compartilhando uma ocasião especial, a qual foi comemorada com uma refeição ou prato especial, 12% é pura arte, a mesma coisa que Giuseppe Arcimboldo ou Paul Cézanne faziam séculos atrás, aqui busca-se aliar o alimento à arte com a finalidade de se inspirar os outros, ou transmitir alguma emoção, ou apenas compartilhar uma coisa bonita; e os últimos 10% estão compartilhando um bom momento com a família ou amigos, para o qual utilizam a comida como elemento de socialização, esse grupo de certa forma une-se aos 16% que compartilham a ocasião especial.[4]

Essa imensa capacidade de comunicação que a comida apresenta é por sua vez apreciada e reconhecida pela economia formal tradicional, a qual procurará fazer uso e apropriar-se. É importante frisar que o conceito de apropriação não está relacionado tanto à propriedade, mas sim ao direcionamento do uso da imagem (Amadeu; Santana, 2007). As empresas sabem que monopolizar as imagens não é viável, é melhor pegar carona no compartilhamento e atingir o maior número possível visualizações. Isso é verdade se o que se está compartilhando é positivo para o produto, caso contrário vale a regra tradicional de propriedade e busca-se retirar a imagem de circulação.

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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Quanto mais espontâneo for o compartilhamento da imagem que contém um determinado produto, melhor será para seu fabricante, tanto no que diz respeito à presença da marca na mente dos consumidores, quanto no que diz respeito ao custo, uma vez que será uma propaganda gratuita. Acredito ser possível dizer que um dos objetivos das áreas de marketing atualmente é ter um post de Facebook, Flickr, ou Instagram que torne-se um viral.

 

[1] De acordo com Wikipédia: natureza-morta é um tipo da pintura e da fotografia que retrata seres inanimados: como frutas, louças, instrumentos musicais, flores, livros, taças de vidro, garrafas, jarras de metal, porcelanas, dentre outros objetos. Esse gênero de representação surgiu da Grécia Antiga, e também se fez presente em afrescos encontrados nas ruínas de Pompéia. A denominação Natureza morta, conforme o alemão Norbert Schneider, surgiu na Holanda no século XVII, nos inventários de obras de arte. A expressão competiu durante algum tempo com natureza imóvel e com representação de objetos imóveis no século XVIII

[2] Giuseppe Arcimboldo (Milão, 1527 – 1599) foi um pintor italiano, suas obras principais incluem a série “As quatro estações”, onde usou, pela primeira vez, imagens da natureza, tais como frutas, verduras e flores para compor fisionomias humanas. A partir de 1562 morou em Praga, então capital do reino da Boêmia e hoje da República Tcheca, onde consolidou sua carreira como artista. Serviu na corte de Fernando I e de seus sucessores, Maximiliano II e seu filho Rodolfo II, grandes mecenas. Arcimboldo foi admirado como artista pelos três monarcas, tornou-se pintor da corte e chegou a ser nomeado Conde Palatino.

[3] Jornal da Manhã, 23/01/2014, Disponível em: http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,90235. Acesso em:16 Jun.2014.

[4] Disponível em: www.360i.com/reports/online-food-photo-sharing-trends/. Acesso em: 02 junho.2014.

 

 

BIBLIOGRAFIA

AMADEU, Serio; SANTANA,Bianca. Diversidade Digital e Cultura in Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural: práticas e perspectivas, 2007, Brasília. Disponível em http://diversidadedigital.blogspot.com.br. Acesso em 02 junho 2014.

MORAES, Denis. Comunicação Alternativa, Redes Virtuais e Ativismo: Avanços e Dilemas. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, Vol. IX, #2, mayo-ago/2007. Disponível em www.eptic.com.br. Acesso em: 02 junho 2014.

BENJAMIN, Walter. A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica (Primeira Versão). Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.

SHIRKY, Clay. A Cultura da Participação – Criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

Opiniões e Ódio na Internet

 

Todos sabem que a internet colaborou com a disponibilização rápida da informação, que as redes sociais permitiram que as pessoas se encontrem e se organizem, tanto virtualmente quanto fisicamente, e que também manifestem-se e exponham as suas opiniões diante dos mais diversos assuntos. Entretanto, o que acho que não está claro para todos, é como este progresso também facilitou às pessoas dizerem o que pensam das mais variadas formas, sem pensarem nas conseqüências, ou mais especificamente a agredirem-se.

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Vivemos em um momento em que há mais engajamento político, com manifestações anti-globalização, a crise financeira de 2007, a primavera árabe e todos os protestos ao redor do mundo, questionando ações políticas e econômicas, o Brasil não foi exceção. Busca-se muito mais uma democracia participativa do que uma democracia representativa (Rueda, 2008: 15), e nesse momento expressar-se através das redes sociais, ou fazer comentários em revistas on-line e blogs torna-se quase que mandatório.

Atualmente é muito comum ver no Facebook, por exemplo, diversos posts exaltando uma opinião ou ideologia específica, recriminando as opiniões diferentes e as colocando em posição de antagonismo total. Além disso, os comentários a esses posts muitas vezes vão além dos debates, onde expressam-se opiniões e procura-se um alinhamento, para se chegar a verdadeiros bate-bocas, com agressões, desqualificações e xingamentos. O espaço para comentários, ao invés de permitir que o assunto evolua acaba por reduzi-lo a antagonismos recheados de agressões. Interessante que o tema pode ser variado, mas a situação mais comum a ser encontrada são as acusações de comunista e de neo-liberal, dependendo de quem colocou o assunto em discussão. O primeiro comentário negativo sobre o tema é a acusação de uma opção política. Até mesmo em relação ao uso da tecnologia recai-se nessa discussão. De acordo com William J. Mitchell:

A essa altura, já conhecemos bem os previsíveis subtextos ideológicos dessas duas posições antagônicas. Da direita governamentalista vem a ideia de que, como a tecnologia digital pode melhorar nossa situação, ela certamente o fará – contanto que não se toque no mercado. Da esquerda legalista vem a réplica de que, como os ricos e poderosos são sempre os primeiros a se beneficiar das novas tecnologias e os mercados não são amigos dos marginalizados, precisamos de uma vigorosa intervenção do governo para garantir que os computadores e as telecomunicações não criem um abismo digital intransponível entre os que têm e os que não têm. E é claro que os neoluditas estão totalmente convencidos de que temos mais a perder do que a ganhar, e por isso deveríamos cavar trincheiras e resistir  (MITCHELL, 2002: p30).

Escrever é uma arte, escrever na internet também o é, uma vez que existe a necessidade de se combinar rapidez, precisão e síntese. A meu ver, essa combinação torna-se explosiva, e é um dos elementos que proporciona o extremismo de manifestação.

O ato de escrever requer conhecimento do tema, disponibilidade de tempo, habilidade e treino. A combinação de todas essas características na maioria das vezes não está presente na maioria das pessoas, entretanto o ambiente virtual é totalmente convidativo à manifestação de opiniões, e em geral, de opiniões escritas. Além disso, o ambiente virtual apresenta mais uma complicação, tem como principal característica a velocidade, é necessário se manifestar rapidamente, caso contrário: o assunto deixa de ser importante, outros comentários são escritos e a conversa muda seu rumo. Associado a isso, é necessário ao escrever, ser conciso e sucinto, garantindo assim que as pessoas leiam o que foi escrito, caso contrário perde-se o interesse.

Do ponto de vista do leitor, a leitura permite uma livre interpretação do texto, uma vez que a entonação é dada por ele, e não pelo escritor, então uma vírgula mal empregada, ou sua omissão, ou ainda uma leitura sugestionada já permite a interpretação de uma agressão, que requer um contra-ataque.
A existência de conflito é natural e esperada, faz parte do processo, “a interação social é compreendida como geradora de processos sociais a partir de seus padrões na rede, classificados em competição, cooperação e conflito” (Recuero, 2009: 81). Entretanto o que venho percebendo é um esvaziamento da discussão principal em benefício da troca de agressões, do extremismo.

Ao analisar os comentários da matéria chamada Facebook: um mapa das redes de ódio, de Patrícia Cornils, no blog Outras Palavras, na qual ela conversa com o pesquisador Fábio Malini, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) na Universidade Federal do Espírito Santo, é possível perceber essa realidade. A matéria trata da pesquisa de Fábio Malini, que mapeou as páginas de facebook “dedicadas a defender o uso da violência contra o que chamam de “bandidos”, “vagabundos”, “assaltantes”, fazer apologia a linchamentos e ao assassinato, defender policiais, publicar fotos de pessoas “justiçadas” ou mortas violentamente, vender equipamentos bélicos e combater os direitos humanos” (Cornils, 2014), a agressividade estava presente, não apenas por conta do tema, mas também nos comentários.

Há um total de 39 comentários, sendo 1 deles uma correção, portanto 38 comentários válidos, dos quais 21 considerei normais e 17 considerei agressivos ou muito agressivos. Por agressividade considerei xingamentos, palavras agressivas, ou irônicas, ou debates bilaterais específicos. Apesar de ter feito a análise para uma única matéria, acredito que essa distribuição repete-se com freqüência, e dependendo da fonte e do assunto tende a inverter-se, tendo mais conteúdo agressivo do que neutro.

Resumindo, a questão do conflito é importante, porque é ela que faz o mundo mover-se, sem o conflito não há pensamento, não há crítica, não há evolução.

Para Simmel (1950 e 1964) os conflitos envolvem, ao mesmo tempo, harmonia e dissonância. Um sistema completamente harmônico não pode existir, pela sua incapacidade de mudança e evolução. O autor explica que o conflito tem aspectos positivos, não sendo por si só um elemento negativo para o sistema social. (RECUERO, 2009: p.85).

Entretanto o que estamos experimentando é um exagero de conflito, o qual acaba por empobrecer a discussão, o objetivo principal em debater não é explorar as idéias, mas sim vencer o oponente, o que transfere o foco da discussão para um objetivo completamente diferente do inicial.
Essa situação também deságua em outros dois dilemas muito em voga na atualidade, até onde vai o direito de expressar-se e a liberdade na internet. O caráter libertário da internet foi o que fomentou e organizou os movimentos sociais que representaram a indignação do público do mundo inteiro contra o 1% mais rico do mundo, durante a crise financeira mundial de 2008. Naquele momento as pessoas esqueceram suas diferenças e uniram-se a fim de manifestar.

Mas foi basicamente a humilhação provocada pelo cinismo e pela arrogância das pessoas no poder, seja ele financeiro, político ou cultural, que uniu aqueles que transformaram o medo em indignação, e indignação em esperança de uma humanidade melhor. Uma humanidade que tinha de ser reconstruída a partir do zero, escapando das múltiplas armadilhas ideológicas e institucionais que tinham levado inúmeras vezes a becos sem saída, forjando um novo caminho, à medida que o percorria.(CASTELLS, 2013: p.8).

Essa indignação toda, que uniu as pessoas, permitiu que superassem medo e constrangimento de se manifestar sobre o que consideravam errado. Será que essa mesma indignação está agora re-agrupando as pessoas, umas contra as outras ? Será que estamos voltando ao ponto de partida, no momento anterior à crise, onde as diferenças é que permitiram que uma crise se instaurasse ? “É possível observar-se em um blog não apenas a interação em um comentário, mas as relações entre várias interações e perceber-se que tipo de relação transpira através daquelas trocas.” (Recuero, 2009: 31).

São esses comentários, carregados de tensão e agressividade que identificam e unem os grupos, criando novas comunidades, as quais irão debater umas contra as outras, nos mesmos moldes, sempre em nome de sua liberdade de expressão. A impressão é de que a liberdade de expressão está acima do que é possível fazer para melhorar a condição de vida dos 99% menos ricos, e que voltamos à época da guerra fria, onde ou se é pró-EUA, ou pró-Rússia, não há nada no meio.

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Essas questões, que não são novas, tendem cada vez mais a intensificar-se, e a solução distante de ser atingida, especialmente se a condução do debate seguir o padrão atual, onde as pessoas culpam umas às outras pela dificuldade que enfrentam, buscam vencer as discussões, e não trabalham no sentido da melhora.

 

 

BIBLIOGRAFIA:

CORNILS, Patrícia. Facebook: um mapa das redes de ódio. Blog Outras Palavras. São Paulo, Mar.2014. Disponível em: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/. Acesso em 18 Jun.2014.

RUEDA, Rocio. Cibercultura: metáforas, prácticas sociales y colectivos en red. Revista Nomadas (Col.), Num. 28, Abril 2008, PP. 8-20. Universidad Central, Bogotá, Colômbia. Disponível em: http://www.ucentral.edu.co/images/stories/iesco/revista_nomadas/28/nomadas_1_cibercultura.pdf. Acesso em: 18 Jun.2014.

CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança – Movimentos Sociais na Era da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

MITCHELL William J. – E-topia A Vida Urbana – mas não como conhecemos. São Paulo: SENAC, 2002.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.

25/06/2014

Cultura digital: do “real X virtual” ao “online/offline”

Na virada dos anos 1990 para os 2000, período de popularização da internet, especulava-se sobre como seria a vida cotidiana perpassada pela virtualidade. Naquele momento o surgimento do Second Life, ambiente virtual e tridimensional que simula a vida real e social, estimulava a imaginação, a criatividade e os negócios online. Ao criar uma conta, o usuário poderia criar seu personagem (avatar), adquirir terrenos, construir objetos e edificações, participar de festas e até ganhar dinheiro. Muitas empresas apressaram-se em marcar seu espaço naquele mundo virtual, abrindo filiais e investindo em anúncios com o intuito de sair na frente na ocupação daquela nova realidade. Também os pedagogos viram no Second Life perspectivas animadoras de renovação  da aprendizagem à distância, já que o ambiente em 3D simulava agradavelmente o encontro presencial e o contato pessoal entre educadores e estudantes.

Espaço público e sociabilidade no Second Life

Espaço público e sociabilidade no Second Life

Naquele momento imperava a perspectiva teórica que pressupunha a oposição entre a vida “real” e a “virtual”, sendo esta uma “outra vida”, uma vida paralela, vivida para além da experiência real e cotidiana. O cinema e a literatura, naturalmente, deram suas contribuições na construção dessa: o livro Neuromancer (1984), de William Gibson, trouxe os conceitos de ciberespaço e ciberpunk embalados pela biotecnologia, o pós-humano e o pós-urbano das paisagens virtuais; o filme Matrix, em parte baseado naquele livro, apresentou-nos os perigos da virtualização da vida envolta num mundo de simulacro (Baudelaire, ) e fundamentada no controle tecnológico e alienação do ser humano. Nos dois casos, o mundo virtual foi associado à uma distopia tecnológica que via na virtualidade o capítulo mais recente da dominação do homem pelas máquinas.

No entanto, a cultura digital desenvolveu-se mais no sentido da comunicação e sociabilidade perpassados pelas lulas pela hegemonia que na direção do controle social e político por meio da tecnologia. Um marco dessa situação está no surgimento das redes sociais online, ou Web 2.0, no qual os usuários passaram a ser produtores de conteúdos, apresentando-se como autores e atores sociais participantes de ilimitadas redes de conexões pelas quais as informações trafegam sem fronteiras ou censura (Recuero, 2009). Essa novidade do final dos anos 2000 coincide com a acentuação da mobilidade articulada à conectividade, ou seja, “estamos todos nos movendo”, como afirma Zygmunt Bauman (1999), mas nos movendo conectados à internet por meio dos smartphones, tablets e notebooks conectados à rede 24 horas por dia.

Neste contexto nosso relação com a cidade se vê alterada. William Mitchell (2002) já pontou as influências das interações virtuais na sociedade urbana contemporânea, destacando as transformações espaciais e sociais associadas à ascensão da internet. Segundo Mitchell, temos presenciado mudanças profundas nas cidades e, consequentemente, na sociabilidade. As cidades são construídas por meio de redes que se sobrepõem: a rede de vias públicas se associa à ferrovia, à rede de água e esgoto, à rede elétrica e, finalmente, a rede de comunicação digital; cada etapa dessa altera os relacionamentos humanos e e a vida urbana. Mas há agora uma vida urbana diferente, aumentada, potencializada pelas interações virtuais. A internet vem provocando alterações nos modos das pessoas vivem, trabalham, se deslocam, se divertem, etc. Daí a necessidade de um planejamento urbano apoiado no fluxo de informações e conectividade, já que a cidade é o palco dessa sociabilidade e a principal provedora dessa infra-estrutura de comunicação digital.

A cultura digital articula a vida presencial às informações online em favor da primeira. Investigando a relação entre jovens e música no território das tecnologias digitais, a antropóloga Rossana Reguillo (2012) verificou a importância do Youtube nas festas juvenis, nas quais os repertórios e conhecimentos musicais são compartilhados presencialmente. Esses novos Dj’s amadores oferecem não apenas os sons, mas também as imagens a serem disfrutadas  coletivamente. O uso do Youtube nessas festas coloca no centro da análise uma forma de socialidade presencial mediada pelas tecnologias digitais.

Indignados em reunião na Puerta del Sol, em Madrid, em maio de 2011. FONTE: http://www.larepublica.pe/19-05-2011/espana-elecciones-motivan-la-revolucion-de-los-indignados

Indignados em reunião na Puerta del Sol, em Madrid, em maio de 2011. FONTE: http://www.larepublica.pe/19-05-2011/espana-elecciones-motivan-la-revolucion-de-los-indignados

A vida metropolitana e a conectividade permanente tem alterado também as práticas políticas. Manuel Castells (2013) já descreveu recentemente a importância das redes sociais online na Primavera Árabe, no movimento dos Indignados da Espanha e dos Ocuppys nos EUA e Inglaterra. Para ele esses movimentos são virais, amplamente espontâneos, ancorados no poder soberano das imagens (especialmente no Youtube) e na ocupação dos espaços urbanos, assim como no compartilhamento de experiências por meio da internet.

Assim como no movimento estudantil do Chile (Rosenmann, 2012) ou entre os indignados da Espanha (Feixa, 2013; Rosenmann, 2012), também em São Paulo os jovens do Ocupa Sampa de 2011 não têm dúvidas sobre a importância das redes sociais online para a constituição dos movimentos políticos, mas para eles a questão central dessas novas mobilizações continua ancorada na ocupação dos espaços públicos, nas relações presenciais e dos corpos nas ruas. Como já salientou Martín-Barbero, temos presenciado por meio desses movimentos um processo de reterritorialização, uma valorização dos encontros presenciais nos espaços urbanos: “en las grandes ciudades el uso de las redes electrónicas construyen grupos que, virtuales en su nacimiento, acaban territorializándose, pasando de la conexión al encuentro, y del encuentro a la acción” (Martín-Barbero, 2003: 379). Mas essa reterritorialização acontece em novas bases, já que se trata da construção e experimentação coletiva de um “novo espaço público, o espaço em rede, situado entre os espaços digital e urbano, é um espaço de comunicação autônoma” (Castells, 2013: 16). Esse novo espaço é híbrido, situa-se entre o espaço público e as redes sociais, e vem sendo construído a partir da ocupação das ruas e praças e com o uso das redes sociais.

Assim, ao invés de se pensar na oposição entre o real e o virtual, cabe agora refletirmos sobre as articulações entre a vida online e a off-line, entre a vida presencial e os relacionamentos e conhecimentos determinados pela internet. De qualquer forma, no lugar das distopias colocadas pelas vozes críticas à cultura digital, vemos emergir, com a internet e as redes sociais online, a construção de utopias que recolocam valores libertários e de autonomia, propõem questionamentos sobre a vida e o futuro das cidades, deslocam os poderes da indústria cultural e das mídias tradicionais, questionam os poderes políticos instituídos, experimentam novas formas de organização e participação, constroem outras estéticas que alimentam novas éticas.

Material promocional dos Indignados da Espanha disponibilizado na internet para download. FONTE: http://www.democraciarealya.es/promocion/material-oficial/

Material promocional dos Indignados da Espanha disponibilizado na internet para download. FONTE: http://www.democraciarealya.es/promocion/material-oficial/

 

 

 

 

Rerefências

 

BAUMAN, Zigmunt. “Turistas e vagabundos”. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro, Zahar, 1999, pp. 85-110.

CASTELLS, Manoel. Redes de comunicação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

FEIXA, Carles. “Crónicas del 15M: Del campamento al ágora”. Em Carles Feixa y Jordi Nofre (eds.). #GeneraciónIndignada: Topías y Utopías del 15M. España: Milenio Publicaciones, 2013.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. “Identidad, tecnicidade, alteridad: apuntes para re-trazar el mapa nocturno de nuestras culturas”. Revista Iberoamericana, Vol. LXIX, num. 203, abril-junio, 2003, 367-387.

MITCHELL, William. E-topia: a vida urbana, mas não como a conhecemos. São Paulo: Senac, 2002.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina, 2009. Disponível em http://www.ufrgs.br/limc/PDFs/redes_sociais.pdf

REGUILLO, Rossana. “Navegaciones errantes. De música, jóvenes y redes: de Facebook a Youtube y viceversa”.  Nueva época, núm. 18, julio-diciembre, 2012, 135-171. (anexo)

ROSENMANN, Marcos Roitman. Los indignados: el rescate de la política. Madrid/España: Ediciones Akal, 2012.

 

 

23/06/2014

Rede global de comunicação

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Em vídeo divulgado pelo Boko Haram, as sequestradas aparecem em trajes mulçumanos (Foto: BBC)

Em vídeo divulgado pelo Boko Haram, as sequestradas aparecem em trajes mulçumanos (Foto: BBC)

Por Priscila Camazano

Muito tem se falado sobre um vídeo postado na Internet por um grupo islâmico ultrarradical nigeriano chamado Boko Haram. Publicado no dia 12 de maio desse ano o vídeo mostra jovens nigerianas que foram sequestradas em uma escola estadual em abril. O sequestro é resultado de uma briga interna entre uma minoria islâmica, localiza ao norte do país, e uma maioria cristã localizada  ao sul, onde os primeiros reivindicam o estabelecimento de um Estado islâmico com a imposição dos preceitos da seita, incluindo a educação islâmica.

Não desmerecendo a discussão, mas deixando de lado a questão política, o que nos interessa analisar a partir desse episódio é o uso da Internet como meio de comunicação para a divulgação de informações. Para isso podemos rememorar a história da Internet para entender como foi possível chegar ao estabelecimento de uma rede de comunicação de âmbito global.

Segundo Castells (2003) uma das origens da Internet encontra-se na Arpanet, uma rede de computadores montada pela Advanced Research Projects Agency (ARPA) no ano de 1969, a partir da ideia de conectar computadores em pequenas redes de comunicação. A princípio uma articulação entre militares, acadêmicos e técnicos, que com o decorrer dos anos passou a ter administrada por grandes empresas e se difundiu para toda a sociedade. Um ganho significativo para a comunicação em todos os sentidos.

Com o passar do tempo e o avanço da tecnologia outras redes foram se formando. Até que surgiu um novo conceito, o de rede de redes, quando pequenas redes começaram a se interconectar, criando assim uma grande teia de comunicação. E é nesse momento que surge a Internet como resultado de uma dessas conexões. A partir do início da década de 1990, com a extinção da Arpanet e de outras redes menores, a Internet se expandiu e passou a ser uma rede global de comunicação. Até a chegada dos provedores, que passaram a dar um caráter mais comercial, mas isso é uma outra história.

Pensando a Internet como um meio de comunicação e como uma grande rede social, Recuero (2009) dirá que a rede global representa para o período contemporâneo ”o advento de uma Comunicação Mediada pelo Computador. Essa comunicação, mais do que permitir aos indivíduos comunicar-se, amplificou a capacidade de conexão, permitindo que redes fossem criadas e expressas nesses espaços: as redes sociais mediadas pelo computador“. Redes que representam a comunicação não só entre computadores, mas entre pessoas, pois defenderá a autora que  as relações sociais off-line aparecerão no mundo online na medida em que é o usuário que produz e reproduz o conteúdo disponível no mundo virtual.

Como diria Castells (2003) o espaço virtual longe de ser um ambiente que provoco o isolamento das pessoas, como no início foi pensado, muito pelo contrário, representa o momento de aproximação, de troca de informações com pessoas de diferentes localidades e distâncias.

Percebendo a importância e a amplitude com que a Internet difunde informações os membros do Boko Haram sabiam que ao publicarem um vídeo na rede esse poderia ser visto por uma infinidade de pessoas, e de diversas partes do mundo. Como prova disso o episódio foi pauta do noticiário mundial. O caso repercutiu de tal maneira que até alavancou uma campanha entre personalidades públicas, comovidas com o sequestro, que pediram a soltura das meninas.

O Boko Haram não é o primeiro a usar do meio virtual para se promover, outros grupos extremistas já se valeram dessa ferramenta. Podemos rememorar os famosos vídeos com os pronunciamentos do Bin Laden e tantos outros grupos que foram divulgados.

Com o advento da Internet, divulgar uma informação ficou cada vez mais fácil. As redes sociais online estão aí para nos mostrar muito claramente a amplitude do mundo virtual.

O uso do termo “compartilhar” ganhou maior notoriedade com o Facebook, mas se pararmos para pensar a origem da Internet já pressupunha essa troca, pois ela surge com o objetivo de aproximar computadores, permitindo assim com que as informações pudessem ser transmitidas por toda a rede.

André Lemos e Pierre Lévy (2010) ao proporem que o espaço virtual caminha em direção a uma ciberdemocracia, nos dão subsídios para entender como a Internet se configura uma rede global. Os autores dirão que “as distâncias físicas passam a ser irrelevantes no ciberespaço, as diferenças e as proximidades – sempre muito contrastantes – são de uma outra ordem: semânticas”. Como Recuero (2009) defenderão a ideia de que o espaço virtual reproduz as ideias produzidas pela cultura humana,  pois são “inteligências associadas dos autores-leitores-navegadores do ciberespaço que produzem e atualizam o espaço virtual” (André Lemos e Pierre Levy, 2010). Pensando o ciberespaço como uma ferramenta para a quebra das barreiras geográficas os autores dirão que na contemporaneidade uma nova civilização surge a partir dos hiperlinks do ciberespaço.

Pensando em ciberdemocracia podemos fazer um paralelo com um outro conceito, o de comunicação alternativa, apresentado por Moraes (2007). A partir da ideia de que a World Wide Web “conectam o global e o local em um tempo-espaço não-linear e instantâneo” o autor defenderá a ideia de que a Internet é um meio que possibilita a liberdade de expressão e o rompimento do controle da informação, que normalmente se encontra nas mãos das mídias convencionais. Ou seja, a partir de um viés anticapitalista dirá que a Internet possibilita a difusão contra-hegemônica da informação, através do alastramento dos nós, formados pelas redes, que expande a informação e faz com que ela chegue para um número cada vez maior de pessoas.

Com isso podemos dizer que a Internet surge do princípio de ser uma rede global de comunicação, mediada pela tecnologia, que rompe as barreiras geográficas e físicas e conectam pessoas de todas as partes do mundo. A caminho de uma ciberdemocracia em que todos são produtores e consumidores e promovem uma comunicação alternativa.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTELLS, Manuel. “Lições da história da internet” e “A cultura da Internet”. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro, Zahar, 2003, PP. 13-55.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet – Porto Alegre: Sulina, 2009. (Coleção Cibercultura)

LEMOS, André; LEVY, Pierre. “O espaço virtual da cultura”. O futuro da internet. São Paulo, Paulus, 2010.

MORAES, Dênis de. “Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas”. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación. www.eptic.com.br, vol. IX, n. 2, mayo – ago. / 2007. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/download/Comunicacao_alternativa.pdf

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/05/sequestro-na-nigeria-saiba-mais-sobre-o-boko-haram.html

 

15/06/2014

Funk ostentação: as mediações digitais de uma produção cultural popular e independente

Para começar falando de funk ostentação, retomo as palavras de Hermano Vianna: “No funk, o que era “carioca” ganha sotaque paulistano e vira ostentação, gerando milhões de views no YouTube e shows lotados em todo o Brasil, mesmo sem discos ou divulgação nas rádios”.

O funk sempre foi um estilo musical de pioneirismo na produção independente. O funk carioca deu um baile: um baile na indústria cultural mostrando como é possível se divulgar, se promover e acontecer através de meios alternativos. Equipes de som de grande qualidade montadas, bailes de rua, bailes em barracões nas favelas. O Funk carioca ganhou as periferias do país.

O funk criou, desde sua consolidação nos anos 80, um circuito pioneiro de produção, circulação e consumo relativamente autônomo e sustentável em relação ao modelo das grandes gravadoras (SÁ e MIRANDA, 2011).

Ele já tem essa característica de divulgação autônoma, mas hoje, diante do cenário tecnológico que vivemos, é possível alcançar outros níveis de produção e divulgação. SÁ e MIRANDA continuam: trata-se de música para dançar, com graves acentuados pelas caixas de som, cujo valor estético deve ser apreciado nas pistas. O funk ostentação/paulista mudou esse cenário; o valor estético não é mais apreciado primordialmente nas pistas. Konrad Dantas, famoso produtor de videoclipe e criador da estética da ostentação explica no documentário Funk Ostentação – O filme : “Aí surgiu uma nova… um novo segmento pro funk né, a galera começou a entender que se não fizesse videoclipe ia ficar pra trás, o público começou a cobrar. E hoje os MCs do Rio de Janeiro já tão procurando a gente já. A galera tá impressionada, a galera quer saber como é esse lance, como que a galera de São Paulo atingiu toda essa massa”.

Como a maioria já conhece, funk ostentação é uma vertente do funk carioca que tem como temática o que o próprio nome já diz. O foco é ostentar, exaltar o consumo, roupas de marca, carros, motos, bebidas caras, mulheres…

Hoje, o videoclipe, ou melhor, o webclipe tem uma importância que antes não tinha. O público não quer apenas ouvir os MCs falarem de consumo, de mulheres, de ostentação, o público quer ver tudo isso, querem ver os iates, os passeios que são narrados em Angra dos Reis, as festas. A narrativa é acompanhada da imagem em movimento.

Também chamado de funk paulista, por ter sido criado em SP, o funk ostentação já iniciou seu processo de produção através da internet. Gravar uma música de forma caseira tornou-se mais fácil com os programas que existem hoje e após isso, é só postá-la no Youtube (existem outras redes, mas os funkeiros costumam postar suas músicas no Youtube). Agora, as referências não eram mais cariocas apenas, São Paulo também passou a produzir funk.

A mídia utilizada também mudou. O CD não tem mais importância. O que sustenta essa produção atualmente é o arquivo em MP3, MP4 e outros formatos e como disse Vianna, os views no Youtube.

Para compreender melhor esse processo, fiz o que Reguillo classifica como “navegação errante”, método de pesquisa onde não se percorre um caminho já delimitado, uma linha reta e sim percebendo as próprias tramas que são traçadas nessas redes; podemos estar em uma determinada página e por meio desta ir para outras e depois, através das outras, podemos voltar para a mesma em que estávamos no início. Não é um movimento circular, a internet e suas conexões são complexas e diversas demais para reduzi-la a um círculo, ela forma exatamente o que o nome diz: redes.

Em meu Facebook, sigo várias páginas de MCs e de organizadores de rolezinhos como Duda Mel Delambers, MC Chaveirinho, Yasmin Oliveira, Juan Carlos Silvestre (Don Juan).  Eles têm o hábito de postar vídeos de músicas, se auto-divulgando ou divulgando outros artistas, vídeos estes que estão no Youtube e tem seu link postado na página do Facebook. Tornando assim, o Facebook um mediador (REGUILLO, 2012).

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Esses atores tem o chamado capital social, categoria de análise que RUCUERO leva para a cultura digital tendo como referências os estudos de Coleman, Putnam e Bourdieu. Ela explica o capital social como um conjunto de recursos de um determinado grupo que pode ser usufruído por todos os membros do grupo, ainda que individualmente, e que está baseado na reciprocidade e está embutido nas relações sociais. É como se esses atores fossem detentores das referências culturais legítimas e aquilo que é postado por eles, se não tiver concordância (embora a tendência é que aquilo que é compartilhado por eles seja sim legitimado pelo grupo), ao menos terá grande repercussão, visibilidade, pois eles são populares.

Mas não é somente pelo fato de serem populares que eles possuem capital social. Ou melhor, eles são populares por corresponderem aos padrões legitimados pelo grupo: estético, de valores, de gostos.

Isso relaciona-se com a divulgação das músicas pela rede. Cada usuário torna-se um autor de sua trilha sonora, cada um torna-se seu próprio DJ (e influencia os seus seguidores e amigos na rede) e através da opção “compartilhar” um vai de encontro aos outros, alimentando suas trilhas sonoras mutuamente.  As redes sociais, a internet funciona como mediadora e configuradora de novas mediações na produção de sentido para esses indivíduos e divulgando os artistas do funk nesse meio. (REGUILLO, 2012)

Kondzilla com um ano de carreira tinha cinquenta videoclipes e mais de 80 milhões de exibições no Youtube e ele mesmo reforça: “Falando em números, é brutal a aceitação. Não sou eu que to falando, isso é comprovado estatisticamente lá no Youtube”.

Assim como falei no início sobre as equipes de som qualificadas, nesse gênero, o funk paulista é pioneiro em produção audiovisual independente de qualidade. Pensar na cena cultural atual, é pensar em videoclipe, em trabalhar com o imaginário estético do público através das telas, é preciso de recurso e de técnica audiovisual. E essa galera tem. Os recursos tecnológicos atuais, as redes sociais possibilitaram além da divulgação e promoção dessas produções culturais, a prova de que o funk paulista/ostentação é muito popular, que caiu no gosto do público jovem do Brasil inteiro e nem só dos jovens periféricos.

Hoje, vemos MC Guime indo para Hollywood e com música tema de abertura de novela da Rede Globo. Vemos os MCs fazendo show em casas como Credcard Hall. Vemos entrevistas e matérias sobre funk ostentação em vários programas de várias emissoras de TV. O funk ostentação que começou como produção cultural independente está sendo apropriado pela indústria cultural, ganhando mais legitimidade, perdendo autenticidade e sendo conhecido no mundo inteiro.

Não se sabe quais serão as mudanças para seu formato original diante disso, mas se sabe que foi e é um movimento periférico, popular que foi capaz de ganhar muito sucesso por si só, tanto sucesso que hoje até a mídia hegemônica sabe que precisa dele para continuar agradando seu público, embora, contraditoriamente, apesar dessa glamourização toda, o funk ainda não deixou de sofrer discriminação e de ser estigmatizado pela sociedade.

REFERENCIAS

Funk Ostentação – O filme. Direção: Renato Barreiros e Konrad Dantas. Produção: Kondilla. e 3k Produtora. São Paulo – SP. 2012. Disponível em: http://vimeo.com/53679071. Acesso em 15/06/2014

REGUILLO, Rossana.  Navegaciones errantes. De músicas, jóvenes y redes: de Facebook a Youtube y viceversa  in Nueva época, núm. 18, julio-diciembre, 2012. (Departamento de Estudos de la Comunicacion Social. Universidad de Guadalajara).

RUCUERO, Raquel.  Redes sociais na internet.  Porto Alegre:                      Sulina, 2009. (Coleção Cibercultura)

SÁ, Simone Pereira de. e MIRANDA, Gabriela. Aspectos da economia musical popular no Brasil: o circuito do funk carioca. In: HERSCHMAN, Micael (org). Nas bordas e fora do mainstream musical. Novas tendências da música independente no início do século XXI. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011.

VIANNA, Hermano. Funk paulistano. 11/01/2013. Disponível em: http://hermanovianna.wordpress.com/2013/01/12/funk-paulistano/. Último acesso em: 15/06/2014

09/06/2014

KID’S ONLINE

A internet nasce e se desenvolve a partir de uma cultura do compartilhamento de dados e conhecimento, e cada vez mais vem sendo apropriada por maior número de pessoas de diferentes faixas etárias, classes sociais e cultura. Movimento este que trouxe diversas mudanças sociais nas formas de interações dos indivíduos com o mundo a sua volta. O interessante disto é perceber o quanto estas características estão presentes inclusive no cotidiano das crianças, principalmente a última geração que já nasce inserida nestas tecnologias de informação e comunicação. É cada vez mais comum notar crianças que possuem celulares com acesso à Internet e que navegam com maior facilidade e frequência na rede em comparação aos seus pais.

Uma pesquisa realizada em 2012 no Brasil¹ aborda os diferentes tipos de usos e hábitos dessas Tecnologias de Informação e Comunicação entre usuários na faixa etária de 09 a 16 anos, a pesquisa teve como foco de análise às oportunidades e riscos que o seu uso podem trazer. Dentre várias informações que a pesquisa traz, é impressionante a frequência nas quais crianças e adolescentes frequentam um perfil ou página de uma rede social – 53% utilizam quase ou todos os dias -, sendo que a maior parte é perfil próprio e em alguns casos possuem até mais de um perfil, desse modo essas atividades fazem parte e ao mesmo tempo são uma extensão das suas vidas off-line.

No livro A cultura da participação – Clay Shirky (2011), no seu capítulo Meios, descreve um caso interessante desta apropriação; meninas sul-coreanas se mobilizam contra a reabertura da importação de carne bovina americana no seu país, neste período, tinha-se o medo da contaminação da vaca-louca, doença descoberta há pouco tempo. O que chama atenção nesse fato foi que elas ficaram sabendo da liberação através de um post no quadro de avisos do site de uma banda do momento, que tinha grande importância para essas meninas. Entretanto a banda em questão não tinha a intenção de promover nada, foram elas que utilizaram essa informação e partir disso se organizaram e impediram esta liberação. Isso ocorreu por que houve por parte dessas meninas uma apropriação (MARTÍN-BARBERO, 2004) da tecnologia de comunicação, pois elas poderiam ter visto a notícia e não terem feito nada sobre o assunto, muito pelo contrário; pegaram essa informação e redistribuíram e utilizaram o site em questão como um canal de aproximação e articulação com as outras pessoas.

O alto índice de acessos e visualizações deste site, em torno de 1 milhão², foi um meio que possibilitou que um montante significativo de pessoas pudessem ver e ter o poder de fazer circular esta informação para uma quantidade ainda maior de pessoas. Esse movimento circular e expansivo é o que atribui valor a uma dada informação e a partir disso tem um potencial transformador. Assim, pode-se notar que “os usuários têm a chance de atuar, simultaneamente, como produtores, emissores e receptores”³, portanto no exemplo das meninas sul-coreanas, ocorrem alguns movimentos entre a recepção e a produção de algo.

A princípio as meninas estão em uma condição apenas de receptoras de informação, em um segundo possuem um papel de difundir esta informação, que ao ser repassado, pode ganhar um novo sentido e significado e por fim após a informação ser transmitida e transformada em uma ação, neste caso as meninas ocuparam uma praça e lá permaneceram durante um mês todos os dias, sem esmorecer e crescendo ao passar dos dias, até o governo sul-coreano retroceder na sua decisão. Ou seja, a internet é um espaço que possui um potencial de transformação no sentido em que é um meio de fornecer e compartilhar informações possibilitando uma infinidade de usos.

Por outro lado, transformações sociais nem sempre são 100% positivas, um dado importante que é apresentado na pesquisa Kid’s Online, que serve de atenção no sentido de como as mediações do uso destas tecnologias tem sido feitas pelos pais, servindo de alerta quanto à segurança da navegação dessas crianças na rede. Os resultados demonstram que enquanto boa parte dos pais considera-se bem informados quanto ao assunto e acreditam que seus filhos estão seguros, do outro mostra a fragilidade desta percepção, ao indicar que muitas crianças e adolescentes disponibilizam informações pessoais, tais como endereço, escola, celular entre outros, e até mesmo entram em contato com desconhecidos. Apesar destes pontos negativos, isso não tira a importância e influência da internet no meio em que vivemos, servindo apenas de um alerta quanto aos riscos que podem ocorrer no mundo virtual, pois o que vai impactar no resultado é no processo de como se dá esse uso, se é consciente ou não frente às consequências que podem afetar tanto negativo ou positivamente no mundo real, como foi o caso das meninas sul-coreanas.

 

Notas:

1 – TIC KIDS ONLINE BRASIL 2012 – Disponível em: cetic.br

2 – Importante ressaltar que a Coreia do Sul é um país que faz um uso intensivo da Internet, sendo que 78% da população são usuários, e destes, 99% (TIC KIDS ONLINE BRASIL 2012) fazem a sua utilização diariamente. Diferentemente do que ocorre no Brasil, onde o acesso ainda não está disponível em todos os lugares e mesmo nos locais aonde se tem acesso, nem sempre isso é garantia de qualidade na conexão. Por outro lado, na Coreia do Sul essa alta conectividade é altamente controlada e restritiva.

3 – Dênis de Moraes – Difusão contra-hegemônica em rede.

 

Referências Bibliográficas

MARTÍN-BARBERO, Jesús – Tecnologia: inovações culturais e usos sociais In.: Ofício de Cartógrafo – Travessias Latino-Americanas da Comunicação na Cultura. São Paulo: Loyola, 2004.

MITCHELL, William John. – A marcha das meganets In.: @-topia: a vida urbana – mas não como a conhecemos. São Paulo : Editora Senac, 2002.

MORAES, Dênis de. Difusão contra-hegemônica em rede In.: Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas. Revista de Economía Política de las Tecnologías de La Información y Comunicación. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/download/Comunicacao_alternativa.pdf

SHIRKY, Clay – Meios In.: A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro : Editora Zahar, 2011.

TIC KIDS ONLINE BRASIL 2012 – Disponível em: http://www.cetic.br/publicacoes/2012/tic-kids-online-2012.pdf

Demissões provocadas por publicações nas redes sociais.

Por Priscila Camazano

Em janeiro de 2011 uma publicação de um fotógrafo do jornal Agora São Paulo no Twitter provocou polêmica. Thiago Vieira estava no CT (Centro de Treinamento) do Palmeiras, em um espaço reservado a imprensa, acompanhando e aguardando o resultado da votação que decidiria o novo presidente do clube. Nesse meio tempo ele resolveu postar na sua conta pessoal do Twitter a seguinte frase: “Enquanto os porcos não se decidem poderiam mandar mais lanchinhos e refrigerante pra imprensa q assiste ao jogo do timão na sala da imprensa”. Quase que imediatamente é “convidado” a se retirar do local. Os responsáveis do clube não gostaram nada da publicação irônica do fotógrafo.

Em março do mesmo ano um outro post no Twitter também causou polêmica. Quando o ex-vice presidente José Alencar faleceu o editor do caderno poder da Folha de S. Paulo publicou em sua página pessoal do Twitter a seguinte frase: “Nunca um obituário esteve tão pronto. É só apertar um botão”, se referindo a uma prática jornalística costumeira que consiste em ter dossiês prontos de personalidades. O post, apesar de não fazer referência direta a Alencar, deu a entender que o jornalista falava do obituário do ex-vice presidente. Não bastava a gafe do editor logo em seguida outra publicação, agora da jornalista Carol Rocha, colega do mesmo veículo de comunicação, piorou ainda mais a situação. Em resposta Rocha faz o seguinte comentário:“@alecduarte mas na Folha.com nada ainda…esqueceram de apertar o botão…rs” se referindo ao fato da notícia do falecimento ainda não ter sido publicada na Folha online. O resultado da “brincadeira” foi o desligamento dos jornalistas da empresa.

Em fevereiro de 2014 uma outra publicação, agora no Facebook, ganhou notoriedade. Rosa Marina Meyer, professora da PUC-RJ, postou em sua conta pessoal uma foto de um passageiro de regata e bermuda no aeroporto Santos Dumont e a frase “Aeroporto ou Rodoviária?” se referindo a forma como o passageiro se vestia como se não fosse apropriada para o local.

Esses são três casos de publicações nas redes sociais que tomaram grandes proporções e tiveram consequências não muito agradáveis para quem às postou. O fotógrafo Thiago Vieira e os jornalistas, Alec Duarte e Carol Rocha, foram desligados da empresa em que trabalhavam. A professora da PUC-RJ foi afastada do cargo que ocupava na universidade. Porém, esses não foram os únicos casos de comentários nas redes sociais que viraram notícia. Artistas e outras pessoas com cargos importantes em grandes empresas também tiveram suas publicações polemizadas.

As redes sociais online possibilitaram com que informações se propagassem em um curto período de tempo e para um número cada vez maior de pessoas. Um ganho incontestável para a comunicação. Porém, também trouxe à tona uma discussão sobre a forma como são usadas as redes sociais online e que tipo de conteúdo pode ser compartilhado.

Raquel Recuero (2009), pesquisadora na área de Ciências Humanas, analisa como se dão as relações sociais contemporâneas através das redes sociais online. A autora trata justamente sobre essa capacidade da difusão da informação nesse meio.

Constituída de atores sociais, tudo o que se publica nas redes online, dirá a autora, está sujeito a forma pela qual as pessoas que te seguem, seus amigos, receberão a informação. E a maneira como aquela informação será interpretada é que definirá se ela é passível de ser compartilhada ou não.

Dirá Recuero (2009) que muitas dessas publicações ganham força e se difundem de forma epidêmica alcançando proporções online e offline. Foi o que aconteceu com os posts descritos acima, ganharam tamanha notoriedade que uma aparentemente inocente frase extrapolou o mundo online e provocou consequências no mundo offline.

As demissões provocadas pelas publicações podem nos remeter a análise feita por Marcuse (1999) com relação ao uso da tecnologia como instrumento de controle e dominação. Segundo o autor a tecnologia além de contribuir para a organização do modo de produção foi também usada como meio de organizar e controlar as relações sociais. Como exemplo o autor cita o aparato tecnológico levada ao extremo no 3° Reich, e que resultou em toda a história da dominação nazista que já conhecemos.

Com base nesse princípio de que a tecnologia pode servir como meio de controle social podemos dizer que a Internet, mais especificamente as redes sociais (produto da tecnologia contemporânea), tendo como base os exemplos citados, foram utilizadas pelas empresas como meio de monitorar os seus funcionários.

Os posts parecem que foram publicadas sem a intencionalidade de causar polêmica, porém, o resultado foi exatamente o contrário. Talvez por seus autores não se darem conta de que apesar de aparentemente estarmos sozinhos em frente ao computador o que se publica nas redes sociais é visto por diversas pessoas, inclusive o seu chefe. Portanto, estamos sempre sendo monitorados e por isso devemos nos ater a que tipo de conteúdo estamos produzindo e compartilhando.

Curioso é imaginar a rapidez com que esses posts se propagaram e se destacaram de milhares de outros conteúdos produzidos diariamente nas redes sociais. Recuero (2009) pode nos ajudar a entender essa lógica do compartilhamento. A autora chama de “meme” toda informação reconhecida que se propaga através de uma replicação. E ao tratar sobre que tipo de informação que se torna um “meme” a autora trabalha com a ideia de que há fatores que são levados em conta para que a informação seja difundida. Fatores que estão relacionados aos próprios atores sociais envolvidos. Ou seja, uma publicação como a da professora da PUC-RJ talvez tenha ganhado as proporções que ganhou pelo fato de seu conteúdo ter sido publicado por um membro da academia.

Para entender esse mecanismo do compartilhamento de informações podemos pensar no conceito de cultura da participação trabalhado por Shirky (2011) e no conceito de cultura da Internet trabalhado por Castells (2003). Shirky (2011) dirá que no mundo conectado há uma certa generosidade ao se produzir e difundir conhecimentos.  Castells (2003) dirá que ao mesmo tempo que somos consumidores das informações disponíveis nas redes sociais online somos produtores de seu conteúdo. Produzimos e disponibilizamos generosamente, por isso a ideia de que há uma cultura da participação, que faz com que os usuários da Internet compartilhem conhecimentos. Para Shriky (2011) as “nossas ferramentas tecnológicas para tornar a informação globalmente disponível e encontrável por amadores, a custo marginal zero, representam, assim, um enorme choque positivo para a combinabilidade do conhecimento”.

Enfim, o que percebemos com esses exemplos é que as redes sociais online refletem as relações sociais estabelecidas offline.  O que talvez os internautas citados não ponderam foi justamente o fato de que o mundo virtual é constituído de atores sociais e que esses refletem a dinâmica do mundo offline, portanto as suas publicações estão sujeitas a interpretações e julgamentos.

 

REFERÊNCIAS

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/02/professora-que-ironizou-advogado-no-facebook-e-afastada-de-cargo-no-rio.html

http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/10-pessoas-que-foram-demitidas-por-causa-do-twitter?p=7

SHIRKY, Clay. “Cultura”. A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011

RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina, 2009.

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