Cultura digital, sociedade e política

26/06/2014

Food for Thought

 

Faz parte da nossa história retratar comida, desde os primórdios, e mais tarde na transição da Idade Média para a Idade Moderna, o gênero artístico natureza morta fez grande sucesso nos séculos XVI e XVII[1], o pintor Giuseppe Arcimboldo[2] inovou nessa técnica retratando, entre vários, seus mecenas utilizando frutas, legumes, verduras e peixes.

 

Fonte: http://www.giuseppe-arcimboldo.org

Fonte: http://www.giuseppe-arcimboldo.org

 

Posteriormente com a invenção do rádio e da televisão os programas de culinária garantiram seu lugar nas grades horárias das emissoras. E ainda hoje as receitas, de alguma forma, também fazem parte de programas de entretenimento ou diversidade, sem terem perdido seus programas exclusivos.
Recentemente, na era digital, essa idolatria mantém-se presente nas ferramentas digitais, aplicativos para smartphones e tablets, blogs, fotologs, comunidades e redes sociais. Ao olhar o Facebook é possível verificar a grande quantidade de posts relacionados a comida e confraternizações envolvendo comida, os quais parecem aumentar ainda mais, caso seja feriado, ou se alguns dos amigos estão de férias. A comida tem grande importância para nós, e o fato de poder compartilhar imagens de churrascos, almoços, jantares, sobremesas e sorvetes com os amigos parece potencializar a sensação de prazer já associada à comida. Isso não se limita ao rol de comidas de confraternização, as comidas saudáveis, aquelas pós-malhação, ou as pertencentes à dieta de perda de peso, também têm seu lugar.

De acordo com o Jornal da Manhã, de Minas Gerais, em janeiro de 2014, há 1,19 bilhão de usuários no Facebook, os quais clicam no botão de curtir 4,5 bilhões de vezes todos os dias, e compartilham a cada 24 horas, 4,75bilhões atualizações de status, vídeos e fotos de gatos e de comida.[3]

Ao combinarmos a já antiga pré-disposição ao compartilhamento de comida em momentos de celebrações, à portabilidade e agilidade que a tecnologia trouxe através dos smartphones e tablets, e o espírito do compartilhamento presente na internet, que faz parte de sua gênese, o resultado são as grandes quantidades de atualizações de status diárias, relacionadas a refeições, receitas e comida em geral.
http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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As tecnologias digitais também revolucionaram as relações sociais criando uma nova dinâmica. As redes sociais são responsáveis pelo desenvolvimento de novas formas de interação e através dela é possível perceber o tipo de relação que se tem com os outros atores e com o objeto em questão (Recuero, 2009: 33). O compartilhamento de fotos ao lado de potes de Nutella, bolinhos de bacalhau, ou até celebrando a conclusão de uma receita de família preparada de forma caseira nos moldes tradicionais ajudam a revelar o estilo de vida e as mensagens que determinada pessoa busca transmitir. Ao associar-se a uma comunidade, ou integrar-se a um grupo, obtém-se acesso a diferentes conteúdos produzidos também por esses atores, e novas relações têm início através disso.

Ao associar-se a uma comunidade no Orkut, por exemplo, ou ao comentar em um novo weblog ou fotolog, um indivíduo pode estar iniciando interações através das quais vai ter acesso a um tipo diferente de capital social, ou ainda, a redes diferentes. (RECUERO, 2009: p.52)

Nesse novo ambiente as relações sociais se desenvolvem sem necessariamente as pessoas se conhecerem, mas o fato de publicarem suas preferências e atividades as une, criando assim novas comunidades, consequentemente novas discussões e posteriormente novos conteúdos, dando início a um novo ciclo que se repetirá por várias vezes.

As fotos também têm papel importantíssimo nesse cenário, uma vez que são elas as responsáveis por aproximar os interlocutores, através das imagens. Benjamin em seu texto “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica” menciona exatamente essa propriedade da fotografia, que é “fazer as coisas ficarem mais próximas” (Benjamin, 1985: 170), mas em detrimento do caráter único das obras de arte.

A questão da exclusividade da obra, ou nesse caso da imagem ou foto, ou ainda a propriedade desta não é um problema, o valor desse material está totalmente relacionado ao seu compartilhamento, à quantidade de curtidas que a foto receberá e à quantidade de re-compartilhamentos que ela tiver. Esse é o ponto de convergência com a filosofia da internet, associada à liberdade de criação e a sua função de ser “o maior repositório de informações que a humanidade já viu” (Amadeu; Santana, 2007).

Ao se compartilhar a foto o objetivo é comunicar o estado de espírito, as relações sociais, o estilo de vida. Os mais variados sentimentos e desejos podem ser retratados através da prato que integra a foto: se a pessoa está em um restaurante chique ou não, se está na intimidade de um jantar com pessoas bonitas e famosas, se está comunicando que cultiva o corpo e a mente saindo da academia e “curtindo” um prato saudável, se precisa fazer inveja aos outros, ou se precisa incitá-los a cometer o pecado da gula e comer aquela sobremesa maravilhosa.

A capacidade de comunicação que a comida tem é imensa. Associado a isso há o fato de que “o compartilhamento em si é uma característica humana, não tecnológica” (Shirky, 2011: 142). A evolução da tecnologia em geral e a internet proporcionaram as ferramentas para tornar esse compartilhamento mais rápido, barato, fácil e interessante.

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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Uma agência de propaganda mapeou o que motiva o compartilhamento de fotos de comida: 25% são fotos cotidianas apenas para mostrar aos outros o que se está comendo; 22% estão documentando pratos que foram preparados por elas mesmas, seja como uma comemoração da conquista, ou buscando aprovação da comunidade, ou apenas elogios; 16% estão compartilhando uma ocasião especial, a qual foi comemorada com uma refeição ou prato especial, 12% é pura arte, a mesma coisa que Giuseppe Arcimboldo ou Paul Cézanne faziam séculos atrás, aqui busca-se aliar o alimento à arte com a finalidade de se inspirar os outros, ou transmitir alguma emoção, ou apenas compartilhar uma coisa bonita; e os últimos 10% estão compartilhando um bom momento com a família ou amigos, para o qual utilizam a comida como elemento de socialização, esse grupo de certa forma une-se aos 16% que compartilham a ocasião especial.[4]

Essa imensa capacidade de comunicação que a comida apresenta é por sua vez apreciada e reconhecida pela economia formal tradicional, a qual procurará fazer uso e apropriar-se. É importante frisar que o conceito de apropriação não está relacionado tanto à propriedade, mas sim ao direcionamento do uso da imagem (Amadeu; Santana, 2007). As empresas sabem que monopolizar as imagens não é viável, é melhor pegar carona no compartilhamento e atingir o maior número possível visualizações. Isso é verdade se o que se está compartilhando é positivo para o produto, caso contrário vale a regra tradicional de propriedade e busca-se retirar a imagem de circulação.

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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Quanto mais espontâneo for o compartilhamento da imagem que contém um determinado produto, melhor será para seu fabricante, tanto no que diz respeito à presença da marca na mente dos consumidores, quanto no que diz respeito ao custo, uma vez que será uma propaganda gratuita. Acredito ser possível dizer que um dos objetivos das áreas de marketing atualmente é ter um post de Facebook, Flickr, ou Instagram que torne-se um viral.

 

[1] De acordo com Wikipédia: natureza-morta é um tipo da pintura e da fotografia que retrata seres inanimados: como frutas, louças, instrumentos musicais, flores, livros, taças de vidro, garrafas, jarras de metal, porcelanas, dentre outros objetos. Esse gênero de representação surgiu da Grécia Antiga, e também se fez presente em afrescos encontrados nas ruínas de Pompéia. A denominação Natureza morta, conforme o alemão Norbert Schneider, surgiu na Holanda no século XVII, nos inventários de obras de arte. A expressão competiu durante algum tempo com natureza imóvel e com representação de objetos imóveis no século XVIII

[2] Giuseppe Arcimboldo (Milão, 1527 – 1599) foi um pintor italiano, suas obras principais incluem a série “As quatro estações”, onde usou, pela primeira vez, imagens da natureza, tais como frutas, verduras e flores para compor fisionomias humanas. A partir de 1562 morou em Praga, então capital do reino da Boêmia e hoje da República Tcheca, onde consolidou sua carreira como artista. Serviu na corte de Fernando I e de seus sucessores, Maximiliano II e seu filho Rodolfo II, grandes mecenas. Arcimboldo foi admirado como artista pelos três monarcas, tornou-se pintor da corte e chegou a ser nomeado Conde Palatino.

[3] Jornal da Manhã, 23/01/2014, Disponível em: http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,90235. Acesso em:16 Jun.2014.

[4] Disponível em: www.360i.com/reports/online-food-photo-sharing-trends/. Acesso em: 02 junho.2014.

 

 

BIBLIOGRAFIA

AMADEU, Serio; SANTANA,Bianca. Diversidade Digital e Cultura in Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural: práticas e perspectivas, 2007, Brasília. Disponível em http://diversidadedigital.blogspot.com.br. Acesso em 02 junho 2014.

MORAES, Denis. Comunicação Alternativa, Redes Virtuais e Ativismo: Avanços e Dilemas. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, Vol. IX, #2, mayo-ago/2007. Disponível em www.eptic.com.br. Acesso em: 02 junho 2014.

BENJAMIN, Walter. A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica (Primeira Versão). Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.

SHIRKY, Clay. A Cultura da Participação – Criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

Opiniões e Ódio na Internet

 

Todos sabem que a internet colaborou com a disponibilização rápida da informação, que as redes sociais permitiram que as pessoas se encontrem e se organizem, tanto virtualmente quanto fisicamente, e que também manifestem-se e exponham as suas opiniões diante dos mais diversos assuntos. Entretanto, o que acho que não está claro para todos, é como este progresso também facilitou às pessoas dizerem o que pensam das mais variadas formas, sem pensarem nas conseqüências, ou mais especificamente a agredirem-se.

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Vivemos em um momento em que há mais engajamento político, com manifestações anti-globalização, a crise financeira de 2007, a primavera árabe e todos os protestos ao redor do mundo, questionando ações políticas e econômicas, o Brasil não foi exceção. Busca-se muito mais uma democracia participativa do que uma democracia representativa (Rueda, 2008: 15), e nesse momento expressar-se através das redes sociais, ou fazer comentários em revistas on-line e blogs torna-se quase que mandatório.

Atualmente é muito comum ver no Facebook, por exemplo, diversos posts exaltando uma opinião ou ideologia específica, recriminando as opiniões diferentes e as colocando em posição de antagonismo total. Além disso, os comentários a esses posts muitas vezes vão além dos debates, onde expressam-se opiniões e procura-se um alinhamento, para se chegar a verdadeiros bate-bocas, com agressões, desqualificações e xingamentos. O espaço para comentários, ao invés de permitir que o assunto evolua acaba por reduzi-lo a antagonismos recheados de agressões. Interessante que o tema pode ser variado, mas a situação mais comum a ser encontrada são as acusações de comunista e de neo-liberal, dependendo de quem colocou o assunto em discussão. O primeiro comentário negativo sobre o tema é a acusação de uma opção política. Até mesmo em relação ao uso da tecnologia recai-se nessa discussão. De acordo com William J. Mitchell:

A essa altura, já conhecemos bem os previsíveis subtextos ideológicos dessas duas posições antagônicas. Da direita governamentalista vem a ideia de que, como a tecnologia digital pode melhorar nossa situação, ela certamente o fará – contanto que não se toque no mercado. Da esquerda legalista vem a réplica de que, como os ricos e poderosos são sempre os primeiros a se beneficiar das novas tecnologias e os mercados não são amigos dos marginalizados, precisamos de uma vigorosa intervenção do governo para garantir que os computadores e as telecomunicações não criem um abismo digital intransponível entre os que têm e os que não têm. E é claro que os neoluditas estão totalmente convencidos de que temos mais a perder do que a ganhar, e por isso deveríamos cavar trincheiras e resistir  (MITCHELL, 2002: p30).

Escrever é uma arte, escrever na internet também o é, uma vez que existe a necessidade de se combinar rapidez, precisão e síntese. A meu ver, essa combinação torna-se explosiva, e é um dos elementos que proporciona o extremismo de manifestação.

O ato de escrever requer conhecimento do tema, disponibilidade de tempo, habilidade e treino. A combinação de todas essas características na maioria das vezes não está presente na maioria das pessoas, entretanto o ambiente virtual é totalmente convidativo à manifestação de opiniões, e em geral, de opiniões escritas. Além disso, o ambiente virtual apresenta mais uma complicação, tem como principal característica a velocidade, é necessário se manifestar rapidamente, caso contrário: o assunto deixa de ser importante, outros comentários são escritos e a conversa muda seu rumo. Associado a isso, é necessário ao escrever, ser conciso e sucinto, garantindo assim que as pessoas leiam o que foi escrito, caso contrário perde-se o interesse.

Do ponto de vista do leitor, a leitura permite uma livre interpretação do texto, uma vez que a entonação é dada por ele, e não pelo escritor, então uma vírgula mal empregada, ou sua omissão, ou ainda uma leitura sugestionada já permite a interpretação de uma agressão, que requer um contra-ataque.
A existência de conflito é natural e esperada, faz parte do processo, “a interação social é compreendida como geradora de processos sociais a partir de seus padrões na rede, classificados em competição, cooperação e conflito” (Recuero, 2009: 81). Entretanto o que venho percebendo é um esvaziamento da discussão principal em benefício da troca de agressões, do extremismo.

Ao analisar os comentários da matéria chamada Facebook: um mapa das redes de ódio, de Patrícia Cornils, no blog Outras Palavras, na qual ela conversa com o pesquisador Fábio Malini, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) na Universidade Federal do Espírito Santo, é possível perceber essa realidade. A matéria trata da pesquisa de Fábio Malini, que mapeou as páginas de facebook “dedicadas a defender o uso da violência contra o que chamam de “bandidos”, “vagabundos”, “assaltantes”, fazer apologia a linchamentos e ao assassinato, defender policiais, publicar fotos de pessoas “justiçadas” ou mortas violentamente, vender equipamentos bélicos e combater os direitos humanos” (Cornils, 2014), a agressividade estava presente, não apenas por conta do tema, mas também nos comentários.

Há um total de 39 comentários, sendo 1 deles uma correção, portanto 38 comentários válidos, dos quais 21 considerei normais e 17 considerei agressivos ou muito agressivos. Por agressividade considerei xingamentos, palavras agressivas, ou irônicas, ou debates bilaterais específicos. Apesar de ter feito a análise para uma única matéria, acredito que essa distribuição repete-se com freqüência, e dependendo da fonte e do assunto tende a inverter-se, tendo mais conteúdo agressivo do que neutro.

Resumindo, a questão do conflito é importante, porque é ela que faz o mundo mover-se, sem o conflito não há pensamento, não há crítica, não há evolução.

Para Simmel (1950 e 1964) os conflitos envolvem, ao mesmo tempo, harmonia e dissonância. Um sistema completamente harmônico não pode existir, pela sua incapacidade de mudança e evolução. O autor explica que o conflito tem aspectos positivos, não sendo por si só um elemento negativo para o sistema social. (RECUERO, 2009: p.85).

Entretanto o que estamos experimentando é um exagero de conflito, o qual acaba por empobrecer a discussão, o objetivo principal em debater não é explorar as idéias, mas sim vencer o oponente, o que transfere o foco da discussão para um objetivo completamente diferente do inicial.
Essa situação também deságua em outros dois dilemas muito em voga na atualidade, até onde vai o direito de expressar-se e a liberdade na internet. O caráter libertário da internet foi o que fomentou e organizou os movimentos sociais que representaram a indignação do público do mundo inteiro contra o 1% mais rico do mundo, durante a crise financeira mundial de 2008. Naquele momento as pessoas esqueceram suas diferenças e uniram-se a fim de manifestar.

Mas foi basicamente a humilhação provocada pelo cinismo e pela arrogância das pessoas no poder, seja ele financeiro, político ou cultural, que uniu aqueles que transformaram o medo em indignação, e indignação em esperança de uma humanidade melhor. Uma humanidade que tinha de ser reconstruída a partir do zero, escapando das múltiplas armadilhas ideológicas e institucionais que tinham levado inúmeras vezes a becos sem saída, forjando um novo caminho, à medida que o percorria.(CASTELLS, 2013: p.8).

Essa indignação toda, que uniu as pessoas, permitiu que superassem medo e constrangimento de se manifestar sobre o que consideravam errado. Será que essa mesma indignação está agora re-agrupando as pessoas, umas contra as outras ? Será que estamos voltando ao ponto de partida, no momento anterior à crise, onde as diferenças é que permitiram que uma crise se instaurasse ? “É possível observar-se em um blog não apenas a interação em um comentário, mas as relações entre várias interações e perceber-se que tipo de relação transpira através daquelas trocas.” (Recuero, 2009: 31).

São esses comentários, carregados de tensão e agressividade que identificam e unem os grupos, criando novas comunidades, as quais irão debater umas contra as outras, nos mesmos moldes, sempre em nome de sua liberdade de expressão. A impressão é de que a liberdade de expressão está acima do que é possível fazer para melhorar a condição de vida dos 99% menos ricos, e que voltamos à época da guerra fria, onde ou se é pró-EUA, ou pró-Rússia, não há nada no meio.

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Essas questões, que não são novas, tendem cada vez mais a intensificar-se, e a solução distante de ser atingida, especialmente se a condução do debate seguir o padrão atual, onde as pessoas culpam umas às outras pela dificuldade que enfrentam, buscam vencer as discussões, e não trabalham no sentido da melhora.

 

 

BIBLIOGRAFIA:

CORNILS, Patrícia. Facebook: um mapa das redes de ódio. Blog Outras Palavras. São Paulo, Mar.2014. Disponível em: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/. Acesso em 18 Jun.2014.

RUEDA, Rocio. Cibercultura: metáforas, prácticas sociales y colectivos en red. Revista Nomadas (Col.), Num. 28, Abril 2008, PP. 8-20. Universidad Central, Bogotá, Colômbia. Disponível em: http://www.ucentral.edu.co/images/stories/iesco/revista_nomadas/28/nomadas_1_cibercultura.pdf. Acesso em: 18 Jun.2014.

CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança – Movimentos Sociais na Era da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

MITCHELL William J. – E-topia A Vida Urbana – mas não como conhecemos. São Paulo: SENAC, 2002.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.

25/06/2014

Cultura digital: do “real X virtual” ao “online/offline”

Na virada dos anos 1990 para os 2000, período de popularização da internet, especulava-se sobre como seria a vida cotidiana perpassada pela virtualidade. Naquele momento o surgimento do Second Life, ambiente virtual e tridimensional que simula a vida real e social, estimulava a imaginação, a criatividade e os negócios online. Ao criar uma conta, o usuário poderia criar seu personagem (avatar), adquirir terrenos, construir objetos e edificações, participar de festas e até ganhar dinheiro. Muitas empresas apressaram-se em marcar seu espaço naquele mundo virtual, abrindo filiais e investindo em anúncios com o intuito de sair na frente na ocupação daquela nova realidade. Também os pedagogos viram no Second Life perspectivas animadoras de renovação  da aprendizagem à distância, já que o ambiente em 3D simulava agradavelmente o encontro presencial e o contato pessoal entre educadores e estudantes.

Espaço público e sociabilidade no Second Life

Espaço público e sociabilidade no Second Life

Naquele momento imperava a perspectiva teórica que pressupunha a oposição entre a vida “real” e a “virtual”, sendo esta uma “outra vida”, uma vida paralela, vivida para além da experiência real e cotidiana. O cinema e a literatura, naturalmente, deram suas contribuições na construção dessa: o livro Neuromancer (1984), de William Gibson, trouxe os conceitos de ciberespaço e ciberpunk embalados pela biotecnologia, o pós-humano e o pós-urbano das paisagens virtuais; o filme Matrix, em parte baseado naquele livro, apresentou-nos os perigos da virtualização da vida envolta num mundo de simulacro (Baudelaire, ) e fundamentada no controle tecnológico e alienação do ser humano. Nos dois casos, o mundo virtual foi associado à uma distopia tecnológica que via na virtualidade o capítulo mais recente da dominação do homem pelas máquinas.

No entanto, a cultura digital desenvolveu-se mais no sentido da comunicação e sociabilidade perpassados pelas lulas pela hegemonia que na direção do controle social e político por meio da tecnologia. Um marco dessa situação está no surgimento das redes sociais online, ou Web 2.0, no qual os usuários passaram a ser produtores de conteúdos, apresentando-se como autores e atores sociais participantes de ilimitadas redes de conexões pelas quais as informações trafegam sem fronteiras ou censura (Recuero, 2009). Essa novidade do final dos anos 2000 coincide com a acentuação da mobilidade articulada à conectividade, ou seja, “estamos todos nos movendo”, como afirma Zygmunt Bauman (1999), mas nos movendo conectados à internet por meio dos smartphones, tablets e notebooks conectados à rede 24 horas por dia.

Neste contexto nosso relação com a cidade se vê alterada. William Mitchell (2002) já pontou as influências das interações virtuais na sociedade urbana contemporânea, destacando as transformações espaciais e sociais associadas à ascensão da internet. Segundo Mitchell, temos presenciado mudanças profundas nas cidades e, consequentemente, na sociabilidade. As cidades são construídas por meio de redes que se sobrepõem: a rede de vias públicas se associa à ferrovia, à rede de água e esgoto, à rede elétrica e, finalmente, a rede de comunicação digital; cada etapa dessa altera os relacionamentos humanos e e a vida urbana. Mas há agora uma vida urbana diferente, aumentada, potencializada pelas interações virtuais. A internet vem provocando alterações nos modos das pessoas vivem, trabalham, se deslocam, se divertem, etc. Daí a necessidade de um planejamento urbano apoiado no fluxo de informações e conectividade, já que a cidade é o palco dessa sociabilidade e a principal provedora dessa infra-estrutura de comunicação digital.

A cultura digital articula a vida presencial às informações online em favor da primeira. Investigando a relação entre jovens e música no território das tecnologias digitais, a antropóloga Rossana Reguillo (2012) verificou a importância do Youtube nas festas juvenis, nas quais os repertórios e conhecimentos musicais são compartilhados presencialmente. Esses novos Dj’s amadores oferecem não apenas os sons, mas também as imagens a serem disfrutadas  coletivamente. O uso do Youtube nessas festas coloca no centro da análise uma forma de socialidade presencial mediada pelas tecnologias digitais.

Indignados em reunião na Puerta del Sol, em Madrid, em maio de 2011. FONTE: http://www.larepublica.pe/19-05-2011/espana-elecciones-motivan-la-revolucion-de-los-indignados

Indignados em reunião na Puerta del Sol, em Madrid, em maio de 2011. FONTE: http://www.larepublica.pe/19-05-2011/espana-elecciones-motivan-la-revolucion-de-los-indignados

A vida metropolitana e a conectividade permanente tem alterado também as práticas políticas. Manuel Castells (2013) já descreveu recentemente a importância das redes sociais online na Primavera Árabe, no movimento dos Indignados da Espanha e dos Ocuppys nos EUA e Inglaterra. Para ele esses movimentos são virais, amplamente espontâneos, ancorados no poder soberano das imagens (especialmente no Youtube) e na ocupação dos espaços urbanos, assim como no compartilhamento de experiências por meio da internet.

Assim como no movimento estudantil do Chile (Rosenmann, 2012) ou entre os indignados da Espanha (Feixa, 2013; Rosenmann, 2012), também em São Paulo os jovens do Ocupa Sampa de 2011 não têm dúvidas sobre a importância das redes sociais online para a constituição dos movimentos políticos, mas para eles a questão central dessas novas mobilizações continua ancorada na ocupação dos espaços públicos, nas relações presenciais e dos corpos nas ruas. Como já salientou Martín-Barbero, temos presenciado por meio desses movimentos um processo de reterritorialização, uma valorização dos encontros presenciais nos espaços urbanos: “en las grandes ciudades el uso de las redes electrónicas construyen grupos que, virtuales en su nacimiento, acaban territorializándose, pasando de la conexión al encuentro, y del encuentro a la acción” (Martín-Barbero, 2003: 379). Mas essa reterritorialização acontece em novas bases, já que se trata da construção e experimentação coletiva de um “novo espaço público, o espaço em rede, situado entre os espaços digital e urbano, é um espaço de comunicação autônoma” (Castells, 2013: 16). Esse novo espaço é híbrido, situa-se entre o espaço público e as redes sociais, e vem sendo construído a partir da ocupação das ruas e praças e com o uso das redes sociais.

Assim, ao invés de se pensar na oposição entre o real e o virtual, cabe agora refletirmos sobre as articulações entre a vida online e a off-line, entre a vida presencial e os relacionamentos e conhecimentos determinados pela internet. De qualquer forma, no lugar das distopias colocadas pelas vozes críticas à cultura digital, vemos emergir, com a internet e as redes sociais online, a construção de utopias que recolocam valores libertários e de autonomia, propõem questionamentos sobre a vida e o futuro das cidades, deslocam os poderes da indústria cultural e das mídias tradicionais, questionam os poderes políticos instituídos, experimentam novas formas de organização e participação, constroem outras estéticas que alimentam novas éticas.

Material promocional dos Indignados da Espanha disponibilizado na internet para download. FONTE: http://www.democraciarealya.es/promocion/material-oficial/

Material promocional dos Indignados da Espanha disponibilizado na internet para download. FONTE: http://www.democraciarealya.es/promocion/material-oficial/

 

 

 

 

Rerefências

 

BAUMAN, Zigmunt. “Turistas e vagabundos”. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro, Zahar, 1999, pp. 85-110.

CASTELLS, Manoel. Redes de comunicação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

FEIXA, Carles. “Crónicas del 15M: Del campamento al ágora”. Em Carles Feixa y Jordi Nofre (eds.). #GeneraciónIndignada: Topías y Utopías del 15M. España: Milenio Publicaciones, 2013.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. “Identidad, tecnicidade, alteridad: apuntes para re-trazar el mapa nocturno de nuestras culturas”. Revista Iberoamericana, Vol. LXIX, num. 203, abril-junio, 2003, 367-387.

MITCHELL, William. E-topia: a vida urbana, mas não como a conhecemos. São Paulo: Senac, 2002.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina, 2009. Disponível em http://www.ufrgs.br/limc/PDFs/redes_sociais.pdf

REGUILLO, Rossana. “Navegaciones errantes. De música, jóvenes y redes: de Facebook a Youtube y viceversa”.  Nueva época, núm. 18, julio-diciembre, 2012, 135-171. (anexo)

ROSENMANN, Marcos Roitman. Los indignados: el rescate de la política. Madrid/España: Ediciones Akal, 2012.

 

 

09/06/2014

Demissões provocadas por publicações nas redes sociais.

Por Priscila Camazano

Em janeiro de 2011 uma publicação de um fotógrafo do jornal Agora São Paulo no Twitter provocou polêmica. Thiago Vieira estava no CT (Centro de Treinamento) do Palmeiras, em um espaço reservado a imprensa, acompanhando e aguardando o resultado da votação que decidiria o novo presidente do clube. Nesse meio tempo ele resolveu postar na sua conta pessoal do Twitter a seguinte frase: “Enquanto os porcos não se decidem poderiam mandar mais lanchinhos e refrigerante pra imprensa q assiste ao jogo do timão na sala da imprensa”. Quase que imediatamente é “convidado” a se retirar do local. Os responsáveis do clube não gostaram nada da publicação irônica do fotógrafo.

Em março do mesmo ano um outro post no Twitter também causou polêmica. Quando o ex-vice presidente José Alencar faleceu o editor do caderno poder da Folha de S. Paulo publicou em sua página pessoal do Twitter a seguinte frase: “Nunca um obituário esteve tão pronto. É só apertar um botão”, se referindo a uma prática jornalística costumeira que consiste em ter dossiês prontos de personalidades. O post, apesar de não fazer referência direta a Alencar, deu a entender que o jornalista falava do obituário do ex-vice presidente. Não bastava a gafe do editor logo em seguida outra publicação, agora da jornalista Carol Rocha, colega do mesmo veículo de comunicação, piorou ainda mais a situação. Em resposta Rocha faz o seguinte comentário:“@alecduarte mas na Folha.com nada ainda…esqueceram de apertar o botão…rs” se referindo ao fato da notícia do falecimento ainda não ter sido publicada na Folha online. O resultado da “brincadeira” foi o desligamento dos jornalistas da empresa.

Em fevereiro de 2014 uma outra publicação, agora no Facebook, ganhou notoriedade. Rosa Marina Meyer, professora da PUC-RJ, postou em sua conta pessoal uma foto de um passageiro de regata e bermuda no aeroporto Santos Dumont e a frase “Aeroporto ou Rodoviária?” se referindo a forma como o passageiro se vestia como se não fosse apropriada para o local.

Esses são três casos de publicações nas redes sociais que tomaram grandes proporções e tiveram consequências não muito agradáveis para quem às postou. O fotógrafo Thiago Vieira e os jornalistas, Alec Duarte e Carol Rocha, foram desligados da empresa em que trabalhavam. A professora da PUC-RJ foi afastada do cargo que ocupava na universidade. Porém, esses não foram os únicos casos de comentários nas redes sociais que viraram notícia. Artistas e outras pessoas com cargos importantes em grandes empresas também tiveram suas publicações polemizadas.

As redes sociais online possibilitaram com que informações se propagassem em um curto período de tempo e para um número cada vez maior de pessoas. Um ganho incontestável para a comunicação. Porém, também trouxe à tona uma discussão sobre a forma como são usadas as redes sociais online e que tipo de conteúdo pode ser compartilhado.

Raquel Recuero (2009), pesquisadora na área de Ciências Humanas, analisa como se dão as relações sociais contemporâneas através das redes sociais online. A autora trata justamente sobre essa capacidade da difusão da informação nesse meio.

Constituída de atores sociais, tudo o que se publica nas redes online, dirá a autora, está sujeito a forma pela qual as pessoas que te seguem, seus amigos, receberão a informação. E a maneira como aquela informação será interpretada é que definirá se ela é passível de ser compartilhada ou não.

Dirá Recuero (2009) que muitas dessas publicações ganham força e se difundem de forma epidêmica alcançando proporções online e offline. Foi o que aconteceu com os posts descritos acima, ganharam tamanha notoriedade que uma aparentemente inocente frase extrapolou o mundo online e provocou consequências no mundo offline.

As demissões provocadas pelas publicações podem nos remeter a análise feita por Marcuse (1999) com relação ao uso da tecnologia como instrumento de controle e dominação. Segundo o autor a tecnologia além de contribuir para a organização do modo de produção foi também usada como meio de organizar e controlar as relações sociais. Como exemplo o autor cita o aparato tecnológico levada ao extremo no 3° Reich, e que resultou em toda a história da dominação nazista que já conhecemos.

Com base nesse princípio de que a tecnologia pode servir como meio de controle social podemos dizer que a Internet, mais especificamente as redes sociais (produto da tecnologia contemporânea), tendo como base os exemplos citados, foram utilizadas pelas empresas como meio de monitorar os seus funcionários.

Os posts parecem que foram publicadas sem a intencionalidade de causar polêmica, porém, o resultado foi exatamente o contrário. Talvez por seus autores não se darem conta de que apesar de aparentemente estarmos sozinhos em frente ao computador o que se publica nas redes sociais é visto por diversas pessoas, inclusive o seu chefe. Portanto, estamos sempre sendo monitorados e por isso devemos nos ater a que tipo de conteúdo estamos produzindo e compartilhando.

Curioso é imaginar a rapidez com que esses posts se propagaram e se destacaram de milhares de outros conteúdos produzidos diariamente nas redes sociais. Recuero (2009) pode nos ajudar a entender essa lógica do compartilhamento. A autora chama de “meme” toda informação reconhecida que se propaga através de uma replicação. E ao tratar sobre que tipo de informação que se torna um “meme” a autora trabalha com a ideia de que há fatores que são levados em conta para que a informação seja difundida. Fatores que estão relacionados aos próprios atores sociais envolvidos. Ou seja, uma publicação como a da professora da PUC-RJ talvez tenha ganhado as proporções que ganhou pelo fato de seu conteúdo ter sido publicado por um membro da academia.

Para entender esse mecanismo do compartilhamento de informações podemos pensar no conceito de cultura da participação trabalhado por Shirky (2011) e no conceito de cultura da Internet trabalhado por Castells (2003). Shirky (2011) dirá que no mundo conectado há uma certa generosidade ao se produzir e difundir conhecimentos.  Castells (2003) dirá que ao mesmo tempo que somos consumidores das informações disponíveis nas redes sociais online somos produtores de seu conteúdo. Produzimos e disponibilizamos generosamente, por isso a ideia de que há uma cultura da participação, que faz com que os usuários da Internet compartilhem conhecimentos. Para Shriky (2011) as “nossas ferramentas tecnológicas para tornar a informação globalmente disponível e encontrável por amadores, a custo marginal zero, representam, assim, um enorme choque positivo para a combinabilidade do conhecimento”.

Enfim, o que percebemos com esses exemplos é que as redes sociais online refletem as relações sociais estabelecidas offline.  O que talvez os internautas citados não ponderam foi justamente o fato de que o mundo virtual é constituído de atores sociais e que esses refletem a dinâmica do mundo offline, portanto as suas publicações estão sujeitas a interpretações e julgamentos.

 

REFERÊNCIAS

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/02/professora-que-ironizou-advogado-no-facebook-e-afastada-de-cargo-no-rio.html

http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/10-pessoas-que-foram-demitidas-por-causa-do-twitter?p=7

SHIRKY, Clay. “Cultura”. A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011

RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina, 2009.

MARCUSE, Herbert. “Algumas implicações sociais da tecnologia moderna”.Tecnologia, Guerra e Fascismo. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

CASTELLS, Manuel. “Lições da história da internet” e “A cultura da Internet”. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro, Zahar, 2003.

07/06/2014

Rolezinho e cultura digital: formas de expressão e organização social dos funkeiros e seus impactos políticos

No final de 2013 um novo tipo de encontro de jovens ganhou uma grande repercussão midiática no país. Centenas de jovens entre os 12 e 17 anos, moradores de periferias, funkeiros passaram a se reunir em shoppings para fazer o encontro do qual eles denominaram de “rolezinho” e segundo eles próprios os objetivos são tirar um lazer, conhecer gente nova, beijar na boca, curtir e zoar. Os eventos são combinados pela internet, através da rede social Facebook.

Esse movimento todo começa dentro da internet, rede de comunicação que trouxe mudanças fundamentais para a sociedade, uma delas é a possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de comunicação mediadas pelo computador (RECUERO, 2009). Se antes esses adolescentes estavam separados cada um na sua região periférica, através do acesso às redes sociais pela internet eles podem se encontrar e conhecer-se virtualmente, independente da distância espacial.

Segundo RECUERO, uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)[1]

No espaço virtual, os funkeiros constroem suas identidades expondo aquilo que sentem, gostam, que se identificam, mostram seus nomes, se destacam, são vistos. Cada um deles é um ator que se constrói, interage e comunica com outros atores e é também dentro da rede que serão reconhecidos seus padrões, o que compõe seu gosto, seu estilo, sua rede de amigos mostrando quais são suas conexões, a quais grupos pertencem (RECUERO, 2009).

O que proponho aqui é pensar nos usos e apropriações das tecnologias digitais feitas pelos funkeiros e como estes subvertem a ordem vigente mesmo com seus ideais de ostentação que aparentemente cairia com uma luva na sociedade de consumo.

Eles não vão ao shopping com o objetivo de fazer compras, nem ir ao cinema ou comer na praça de alimentação (alguns até consomem, mas o encontro em si não tem esse foco). Eles não são disciplinados, nem dóceis. Eles não são discretos, nem silenciosos. Eles dançam, cantam, correm, assustam, causam estranheza e até medo.

O uso de computadores, smartphones, tablets para entrar nas redes sociais (Facebook, Instagram, Whatsapp) para organizar o rolezinho, marcar pontos de encontro, se acharem, postar suas fotos e também filmar a violência policial exercida contra o grupo mostra as possibilidades de apropriação e identificação cultural (MARIN-BARBERO, 2004) dessas mercadorias que acredito eu, nem seus criadores imaginavam que poderia acontecer.

 As redes sociais têm na vida desses jovens um papel socializador e de coesão do grupo, é por meio deles que podem ficar mais próximos, criar contatos e conexões através de identificação (RECUERO, 2009), gostos comuns. Cada perfil na rede representa um ator social, eles vão interagir entre si e construir laços através de suas afinidades, pelo gosto compartilhado da cultura funk que envolve todo um estilo estético, musical, padrões de comportamento e claro, envolve o consumo.

Esses atores se tornam visíveis, a redes sociais são espaços de manifestação cultural, entretenimento, de exposição de seus gostos e pensamentos, onde podem se expressar e serão vistos, seguidos por outros atores, ganham popularidade e até mesmo tornam-se “famosinhos”.

O nome “famosinho” também foi criado por eles, refere-se àqueles que ganham grande popularidade na rede através de vídeos e fotos que caem no gosto do grupo, chegando a ter 50 mil seguidores no Facebook, pessoas que tornaram-se fãs destes jovens (FROES DA SILVA e GOMES DA SILVA, 2014). Esses jovens representam a estética que é considerada legítima para o grupo, as marcas que usam, o visual que adotam, o corte de cabelo são símbolos de distinção que representa o que é a estética do funk ostentação e como o grupo constrói sua identidade.

O fenômeno dos famosinhos relaciona-se com o que Síbilia, 2003 chamou de “imperativo da visibilidade”, esse conceito é usado para explicar a necessidade de exposição pessoal que há na sociedade atual. É uma relação mútua entre o público e o privado, o “eu” sente a necessidade de expor-se, de falar, de ser visto e só será visto e reconhecido pelo público. No ciberespaço, é preciso ser visto para existir (RECUERO, 2009), não basta postar um status no Facebook, esse status para ganhar reconhecimento deve ser compartilhado e curtido por um número razoável de amigos. Um status ou uma foto postada sem curtidas ou compartilhamentos é um post invisível, praticamente inexistente. É isso que difere os famosinhos; seus perfis, suas publicações são populares, são elogiadas, compartilhadas, curtidas. Legitimadas pelo grupo.

O rolezinho também acontece com o intuito de reunir esses fãs para conhecer seus ídolos famosinhos, mas não necessariamente todos os encontros ocorrem com esse objetivo. Alguns apenas são organizados como momento de lazer sem foco em um determinado ídolo.

Ao contrário do que muito foi falado pela mídia, os rolezinhos não existe uma centralização na organização ou líderes. São encontros organizados de forma autônoma, horizontal e espontânea. Qualquer funkeiro pode se juntar com seus amigos e organizar um rolezinho e dependendo da sua popularidade entre o grupo e da divulgação, esse encontro pode ter muitos rolezeiros ou poucos.

Se alguns dos costumeiros organizadores do encontro parar de criar eventos, outros rolezeiros podem tomar essa iniciativa, a própria rede facilita essa lógica, as redes sociais da internet são espaços de autonomia, muito além do controle de governos e empresas – que, ao longo da história, haviam monopolizado canais de comunicação como alicerces de seu poder (CASTELLS, 2013). Qualquer um pode ter um perfil ou uma página nas redes sociais, qualquer um poder criar um evento para fazer rolezinho.

Segundo o MC Chaveirinho, os rolezinhos já acontecem desde 2007, mas ganhou repercussão midiática em dezembro de 2013.[2] . A mídia não sabia muito bem como definir o que estava acontecendo, então falava-se em “tumulto no shopping”, “arrastões em shopping”, quebra-quebra: “a multidão aparece na praça de alimentação. Clientes e funcionários se trancam nas lojas para escapar do tumulto. Logo depois, a polícia é chamada e chega ao estabelecimento.”. [3]

Os comerciários estimam que nesse encontro havia 6 mil jovens. Capacidade para reunir tantos adolescentes não haveria se não fosse a organização pela internet, onde é possível atingir milhares de pessoas, a comunicação de massa baseia-se em redes horizontais de comunicação interativa que, geralmente são difíceis de controlar por parte de governos ou empresas (CASTELLS, 2013).

A partir desse dia, o rolezinho dos funkeiros ficou estigmatizado como um encontro de jovens marginais para cometer roubos nos shoppings e a polícia passou a intervir em todos eles com agindo com violência contra esses adolescentes para reprimir o encontro.

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PM detém jovens no Shopping Interlagos (Foto: Joel Silva/Folhapress)

Não há nos rolezinhos, a priori, reivindicações políticas, contestações sociais, militância, consciência ideológica por parte dos rolezeiros, eles são adolescentes à procura de lazer, zuação, beijo na boca e novas amizades.

Mas a disputa é política, pois tais jovens estão transgredindo às regras e desafiando as relações de poder. Existe uma classe dominante que impõe que o shopping não é o lugar apropriado para tal perfil de pessoas e para tal comportamento, e os rolezeiros subvertem essa ordem. Como foi analisado por PEREIRA, 2014 os rolezinhos escancararam três importantes tensões e preconceitos presentes na sociedade brasileira: de classe, de raça/cor e de idade/geração. Eles foram perseguidos e duramente reprimidos em primeiro lugar porque eram jovens pobres e mais, adeptos de um estilo que é estigmatizado e criminalizado na sociedade assim como outras manifestações culturais negras foram e são, seu comportamento não corresponde ao que é esperado e legítimo dentro dos shoppings centers.

Os shoppings conseguem liminar judicial proibindo o rolezinho alegando que os estabelecimentos não comporta tanta gente nem tem segurança o suficiente para isso. Os eventos de rolezinho marcados pelo facebook passam a desparecer misteriosamente. Estão sendo excluídos. Por quem? Pelo próprio Facebook? Pelos criadores dos eventos que estão sofrendo pressão para apagar os eventos? Os representantes do Facebook alegaram que não tinham nada a ver com o fato. Ninguém soube responder quem teria sido o responsável, ou ninguém quis responder.

Segundo CASTELLS, os governos têm medo da internet, e é por isso que as grandes empresas têm com ela uma relação de amor e ódio, tentam obter lucros com ela ao mesmo tempo em que limitam seu potencial de liberdade. Foi o que aconteceu com a organização dos eventos no Facebook.

Nas redes sociais, nos fóruns de comentários de leitores nos sites de jornais como a Folha de SP e Estadão, ficou bem clara a opinião dos consumidores, da maioria das pessoas acerca do rolezinho, as pessoas defendiam a ação da polícia e diziam que os consumidores, ou melhor, a população deve ser protegida de ataques de marginais como os que estavam acontecendo, também defendiam a proibição do rolezinho e deixavam claro o medo que sentiam desses encontros no shopping.

Tal fato, juntamente com a enorme violência policial e a aversão dos consumidores aos rolezeiros, a esquerda, os movimentos sociais e mídias de perspectiva crítica se manifestaram na internet diante da discriminação e segregação que esses jovens estavam sofrendo.

Então a Prefeitura Municipal de São Paulo se pronuncia diante da situação pressionada por todo esse movimento de denúncia e pelo próprio rolezinho. Abre diálogo com os rolezeiros, busca políticas públicas alternativas para esse público e ao mesmo tempo mantém em segurança e estabilidade o comércio e funcionamento dos shoppings, influenciando os rolezinhos a ocorrerem em parques públicos e pensando em expansão de projetos e eventos culturais nas periferias que contemplem o gosto dos funkeiros.

No momento atual, os rolezinhos continuam acontecendo tanto nos shoppings como nos parques. Com bem menos força e menor quantidade de pessoas, tem pouca repercussão midiática e ainda sofre repressão da segurança do shopping (a pouca quantidade de pessoas faz com que a Polícia não veja necessidade em intervir).

O que interessa aqui, não é se o rolezinho será um movimento que ocorrerá durante um longo tempo, se seus adeptos estão fazendo protesto político. O mais importante é que podemos perceber através desses eventos que ainda existe uma discriminação muito forte contra esses jovens. Os rolezinhos escancararam três importantes tensões e preconceitos presentes na sociedade brasileira: de classe, de raça/cor e de idade/geração, eles foram perseguidos e duramente reprimidos em primeiro lugar porque eram jovens pobres, em sua maioria negros e também pelo seu gosto de classe (BARBOSA, 2014), por serem adeptos de um estilo musical que é estigmatizado e criminalizado desde sua criação nos guetos norte-americanos e carrega até hoje esse mesmo estereótipo.

 


[1] RUCUERO, 25. 2009

[2] Profissão Repórter. http://www.youtube.com/watch?v=m-ra8K0Hadc. Acesso em 25/04/2014

[3] http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/12/video-mostra-tumulto-no-shopping-metro-itaquera.html. Acesso em 25/04/2014

 


REFERÊNCIAS

 

CASTELLS, Manoel. Redes de comunicação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio Janeiro: Zahar, 2013.

FRÓES da SILVA, Darlene e GOMES da SILVA, Carlos. “Rolezinhos”: sociabilidades juvenis, discriminações e segregação urbana. Revista Pensata. Vol 3. N. 2, maio de 2014.

MARTÍN-BARBERO, Jesus. Ofício de Cartógrafo. Travessias latino-americanas da comunicação na cultura. São Paulo: Loyola, 2004

PEREIRA, Alexandre Barbosa. Rolezinho no shopping: aproximação etnográfica e política. Revista Pensata. Vol 3. N. 2, maio de 2014.

Recuero, Raquel.  Redes sociais na internet.  Porto Alegre:                      Sulina, 2009. (Coleção Cibercultura)

02/06/2014

As relações afetivas na Era Digital

Uma reflexão a partir do filme “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual” de Gustavo Taretto

 

Por Maria Fernanda Bienhachewski da Costa Portela

 

A cultura digital e a influência da Internet nas relações cotidianas foi tema do filme argentino “Medianeras”, de 2011 do diretor Gustavo Taretto. O longa metragem faz uma relação entre as relações afetivas na cultura digital e a arquitetura de Buenos Aires, que cresce desproporcionalmente e de forma irregular, disponibilizando uma série de pequenas quitinetes isoladas. O título do filme significa a parede intermediária entre os edifícios, que sem janelas, comportam propagandas e outdoors.

Dois jovens, enclausurados em seus pequenos apartamentos em Buenos Aires sofrem solitários diante de seus computadores.  Martin, um web designer e Mariana, uma arquiteta mal sucedida, que ganha a vida elaborando vitrines são os personagens dessa trama que retrata a realidade das relações afetivas nos dias de hoje.

 

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“A internet me aproximou do mundo mas me afastou da vida”, frase dita pelo personagem Martin, que sofre de uma série de transtornos psiquiátricos como depressão e fobia de multidões, soa de forma extremamente familiar e serve para que possamos refletir sobre como essa cultura digital impossibilita a vivência de experiências e sensações da vida humana.

De que modo a Internet permitiu a aproximação e/ou o afastamento entre as pessoas? Com a promessa de um acesso ilimitado a uma quantidade astronômica de dados e informações, a Internet prometia aproximar ainda mais os indivíduos, que através dela podem estar conectados 24 horas através de sites, tal como as redes sociais ou aplicativos como o Skype que realiza ligações internacionais via computador sem custo ou entre aparelhos telefônicos a pequenos preços. Tudo isso que previa uma maior aproximação, pode de alguma forma, ter ocasionado o afastamento gradual das pessoas de suas relações afetivas. Se de algum modo a Internet permite o contato de forma rápida e eficaz, ela também finge suprir a necessidade do encontro propriamente dito, do palpável, do físico.

Como é dito no filme, hoje é possível realizar centenas de atividades via web, tal como realizar as mais diversas compras, assistir a filmes e séries, ler e escutar músicas, realizar transações bancárias etc. Mas de que modo isso não passa a interferir na vida das pessoas, que fechadas dentro de seus apartamentos e diante de suas telas, deixam de sentir necessidade de sair de suas residências e conviver socialmente. De que modo a Internet não contribui para uma espécie de Sociopatia que leva a situações de depressão e solidão? E como a distribuição dos apartamentos de forma caótica e excessiva também contribui para isso?

 Ambos os personagens, desiludidos amorosamente, com dificuldade de voltar a se relacionar se sentem ainda mais fragilizados diante do que o filme denomina de “cultura do inquilino”, em que indivíduos preenchem casas e apartamentos irregulares e têm dificuldade em se reconhecer como individualidade diante da multidão. O uso da metáfora do personagem do livro “Onde está o Wally” que é tido como personagem preferido de Mariana, e que está sempre encoberto diante de uma multidão e que ela assume nunca tê-lo encontrado na cidade, é um exemplo de como a Internet impulsiona uma postura de excesso e ao mesmo tempo de perda da individualidade das pessoas, que através de seus computadores têm a ilusão de estar diante do mundo, mas cada vez mais acanhados diante da vida.

O filme, portanto, busca trazer uma reflexão de que apesar da Internet propiciar uma série de novas experiências e facilitar a realização de uma série de atividades cotidianas, o que realmente preenche os indivíduos, lhes trazendo sentimentos de realização e felicidade não podem ser substituídos pela vivência digital. A necessidade de relacionar-se, de estar próximo fisicamente do outro não é suprida pelo uso da Internet, sendo, na realidade, um grande obstáculo na hora de se reconhecer e na descoberta do outro.

 

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A pesquisadora Raquel Recuero no livro “ Redes sociais na Internet” busca compreender de que forma da Internet vêm alternando as relações sociais contemporâneas. Trata-se de alterações complexas e em velocidade acelerada que precisam ser analisadas com cuidado. No entanto, a tecnologia não pode ser vista como algo externo a sociedade, pois se tornou parte integrante dela. Apesar do tom crítico colocado pelo longa-metragem, a Internet não traz apenas malefícios para as interações sociais, mas é um instrumento que pode ser utilizado e depende da postura do internauta no seu uso, ou seja, a Internet por si só não pode ser responsabilizada por um afastamento e/ou aproximação entre os indivíduos. Segundo Recuero, a Internet deve ser estudada não só como tecnologia mas, levando em consideração o conjunto de aspectos individuais, sociais e também tecnológicos.

A internet alterou a forma dos indivíduos de se relacionar, organizar, informar, e se reconhecer. A questão do tempo foi alterada, hoje com o uso da Internet é possível trocar informações, estabelecer diálogos e publicar notícias em um outro nível de velocidade, de maneira instantânea. Essa capacidade de se conectar ao mundo em questão de segundos é uma das grandes responsáveis pela ilusão de se sentir sempre presente, ou melhor, on-line. E redes sociais, ou seja, redes de conexão foram sendo criadas dentro de cada computador e diante de cada tela, um internauta conectado. A sensação de estar presente, de participar dessa rede se confunde com a ideia de estar presente em um lugar propriamente físico, porque a rede social passou a ser também um local de interação, mesmo que virtualmente. As pessoas passam a se apropriar da rede como local de encontro, de troca de mensagens, informações, imagens, sons, etc. Portanto, a Internet engloba um sistema complexo, no qual estão presentes relações de âmbito tecno-científico como também coletivas e individuais no que diz respeito as relações pessoais entre internautas.

Segundo a pesquisadora, a Internet proporciona meios para interação e sociabilização através da comunicação virtual fornecida pelo uso do computador, essas relações se dão na rede social que a autora define como uma estrutura, na qual, estão os atores (pessoas e grupos, aqueles que estão diante dos computadores) e suas conexões (interações). Os atores são representações, ou seja, identidades construídas para serem utilizadas no que ela chama de ciberespaço, local no qual, essas relações virtuais ocorrem. Essa representação pode ser tanto um usuário (um perfil em alguma rede social), como também um site, blog ou qualquer página que represente o internauta. Portanto, há no meio virtual uma necessidade de criação de uma espécie de personagem que será a faceta utilizada pela pessoa que estará diante da tela. No filme, Mariana e Martin trocam mensagens via uma espécie de bate-papo, sem saber que estão tão próximos fisicamente um do outro, que são vizinhos. Portanto, a Internet pode favorecer a construção de inúmeras facetas, diversos perfis que podem a longo prazo nos afastar de nossa verdadeira identidade, ou servir como apoio na hora de estabelecer relações e diálogos via web. Dessa forma, podemos pensar que os atores são os instrumentos representativos utilizados pelos internautas para se apropriarem do seu próprio território no ciberespaço. Segundo Recuero,

 ”essas apropriações funcionam como uma presença do “eu” no ciberespaço, um espaço privado e, ao mesmo tempo, público. Essa individualização dessa expressão, de alguém “que fala” através desse espaço é que permite que as redes sociais sejam expressas na Internet.” (RECUERO, Raquel, 2009, p. 27).

Dessa forma, há uma necessidade de expressão juntamente e paradoxalmente com uma necessidade de ocultar-se diante de uma persona criada e recriada para interações virtuais. Dessa forma, podemos perceber que há uma crescente tendência individualista, na qual, a necessidade de se expor ou se ocultar pode levar a uma postura de isolamento e/ou insegurança quando essas pessoas precisam estar diante de situações cotidianas do “cara-a-cara”.

A comunicação via web é dada através dessa troca entre atores mediada pelo uso do computador. Quando ambos internautas estão on-line é quando virtualmente estão presentes naquela interação, em que mensagens e informações podem ser trocadas imediatamente, em tempo real. No longa-metragem de Gustavo Tarreto, a medida que a luz é desligada e os computadores se desconectam, os personagens não podem mais manter o contato estabelecido. Esse tipo de comunicação entre internautas, Recuero chama de comunicação síncrona. Já as mensagens trocadas via e-mail, ou fóruns de conversa, como mensagens off-line são segundo a pesquisadora, assíncronas, quando não há a expectativa de uma resposta imediata.

As relações construídas pelos atores sociais no ciberespaço podem ser observadas entre os personagens do filme, no entanto, se trata de uma comunicação em que eles não tem consciência de quem realmente está diante do monitor. Portanto, se pode perceber que a Internet pode propiciar momentos de aproximação e afastamento dos indivíduos em suas relações sociais. Ou seja, no quesito distância, a web pode ser uma aliada para amenizar a sensação de afastamento de duas pessoas localizadas em locais distantes, mas também, pode se tornar um obstáculo na hora de iniciar novos relacionamentos, pois dependendo de como o indivíduo se apropria de suas ferramentas, ela pode dificultar momentos em que é preciso se expressar, se expor, entrar em contato consigo e com o outro verdadeiramente, sem qualquer tipo de mediação virtual.

 

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Referências Bibliográficas/ Audiovisuais

RECUERO, Raquel. “ Redes sociais da Internet”. Porto Alegre, 2009. p. 14 a 44.

TARRETO, Gustavo. “ Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual” (longa-metragem). Buenos Aires, 2011.

 

 

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