Cultura digital, sociedade e política

26/06/2014

Food for Thought

 

Faz parte da nossa história retratar comida, desde os primórdios, e mais tarde na transição da Idade Média para a Idade Moderna, o gênero artístico natureza morta fez grande sucesso nos séculos XVI e XVII[1], o pintor Giuseppe Arcimboldo[2] inovou nessa técnica retratando, entre vários, seus mecenas utilizando frutas, legumes, verduras e peixes.

 

Fonte: http://www.giuseppe-arcimboldo.org

Fonte: http://www.giuseppe-arcimboldo.org

 

Posteriormente com a invenção do rádio e da televisão os programas de culinária garantiram seu lugar nas grades horárias das emissoras. E ainda hoje as receitas, de alguma forma, também fazem parte de programas de entretenimento ou diversidade, sem terem perdido seus programas exclusivos.
Recentemente, na era digital, essa idolatria mantém-se presente nas ferramentas digitais, aplicativos para smartphones e tablets, blogs, fotologs, comunidades e redes sociais. Ao olhar o Facebook é possível verificar a grande quantidade de posts relacionados a comida e confraternizações envolvendo comida, os quais parecem aumentar ainda mais, caso seja feriado, ou se alguns dos amigos estão de férias. A comida tem grande importância para nós, e o fato de poder compartilhar imagens de churrascos, almoços, jantares, sobremesas e sorvetes com os amigos parece potencializar a sensação de prazer já associada à comida. Isso não se limita ao rol de comidas de confraternização, as comidas saudáveis, aquelas pós-malhação, ou as pertencentes à dieta de perda de peso, também têm seu lugar.

De acordo com o Jornal da Manhã, de Minas Gerais, em janeiro de 2014, há 1,19 bilhão de usuários no Facebook, os quais clicam no botão de curtir 4,5 bilhões de vezes todos os dias, e compartilham a cada 24 horas, 4,75bilhões atualizações de status, vídeos e fotos de gatos e de comida.[3]

Ao combinarmos a já antiga pré-disposição ao compartilhamento de comida em momentos de celebrações, à portabilidade e agilidade que a tecnologia trouxe através dos smartphones e tablets, e o espírito do compartilhamento presente na internet, que faz parte de sua gênese, o resultado são as grandes quantidades de atualizações de status diárias, relacionadas a refeições, receitas e comida em geral.
http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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As tecnologias digitais também revolucionaram as relações sociais criando uma nova dinâmica. As redes sociais são responsáveis pelo desenvolvimento de novas formas de interação e através dela é possível perceber o tipo de relação que se tem com os outros atores e com o objeto em questão (Recuero, 2009: 33). O compartilhamento de fotos ao lado de potes de Nutella, bolinhos de bacalhau, ou até celebrando a conclusão de uma receita de família preparada de forma caseira nos moldes tradicionais ajudam a revelar o estilo de vida e as mensagens que determinada pessoa busca transmitir. Ao associar-se a uma comunidade, ou integrar-se a um grupo, obtém-se acesso a diferentes conteúdos produzidos também por esses atores, e novas relações têm início através disso.

Ao associar-se a uma comunidade no Orkut, por exemplo, ou ao comentar em um novo weblog ou fotolog, um indivíduo pode estar iniciando interações através das quais vai ter acesso a um tipo diferente de capital social, ou ainda, a redes diferentes. (RECUERO, 2009: p.52)

Nesse novo ambiente as relações sociais se desenvolvem sem necessariamente as pessoas se conhecerem, mas o fato de publicarem suas preferências e atividades as une, criando assim novas comunidades, consequentemente novas discussões e posteriormente novos conteúdos, dando início a um novo ciclo que se repetirá por várias vezes.

As fotos também têm papel importantíssimo nesse cenário, uma vez que são elas as responsáveis por aproximar os interlocutores, através das imagens. Benjamin em seu texto “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica” menciona exatamente essa propriedade da fotografia, que é “fazer as coisas ficarem mais próximas” (Benjamin, 1985: 170), mas em detrimento do caráter único das obras de arte.

A questão da exclusividade da obra, ou nesse caso da imagem ou foto, ou ainda a propriedade desta não é um problema, o valor desse material está totalmente relacionado ao seu compartilhamento, à quantidade de curtidas que a foto receberá e à quantidade de re-compartilhamentos que ela tiver. Esse é o ponto de convergência com a filosofia da internet, associada à liberdade de criação e a sua função de ser “o maior repositório de informações que a humanidade já viu” (Amadeu; Santana, 2007).

Ao se compartilhar a foto o objetivo é comunicar o estado de espírito, as relações sociais, o estilo de vida. Os mais variados sentimentos e desejos podem ser retratados através da prato que integra a foto: se a pessoa está em um restaurante chique ou não, se está na intimidade de um jantar com pessoas bonitas e famosas, se está comunicando que cultiva o corpo e a mente saindo da academia e “curtindo” um prato saudável, se precisa fazer inveja aos outros, ou se precisa incitá-los a cometer o pecado da gula e comer aquela sobremesa maravilhosa.

A capacidade de comunicação que a comida tem é imensa. Associado a isso há o fato de que “o compartilhamento em si é uma característica humana, não tecnológica” (Shirky, 2011: 142). A evolução da tecnologia em geral e a internet proporcionaram as ferramentas para tornar esse compartilhamento mais rápido, barato, fácil e interessante.

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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Uma agência de propaganda mapeou o que motiva o compartilhamento de fotos de comida: 25% são fotos cotidianas apenas para mostrar aos outros o que se está comendo; 22% estão documentando pratos que foram preparados por elas mesmas, seja como uma comemoração da conquista, ou buscando aprovação da comunidade, ou apenas elogios; 16% estão compartilhando uma ocasião especial, a qual foi comemorada com uma refeição ou prato especial, 12% é pura arte, a mesma coisa que Giuseppe Arcimboldo ou Paul Cézanne faziam séculos atrás, aqui busca-se aliar o alimento à arte com a finalidade de se inspirar os outros, ou transmitir alguma emoção, ou apenas compartilhar uma coisa bonita; e os últimos 10% estão compartilhando um bom momento com a família ou amigos, para o qual utilizam a comida como elemento de socialização, esse grupo de certa forma une-se aos 16% que compartilham a ocasião especial.[4]

Essa imensa capacidade de comunicação que a comida apresenta é por sua vez apreciada e reconhecida pela economia formal tradicional, a qual procurará fazer uso e apropriar-se. É importante frisar que o conceito de apropriação não está relacionado tanto à propriedade, mas sim ao direcionamento do uso da imagem (Amadeu; Santana, 2007). As empresas sabem que monopolizar as imagens não é viável, é melhor pegar carona no compartilhamento e atingir o maior número possível visualizações. Isso é verdade se o que se está compartilhando é positivo para o produto, caso contrário vale a regra tradicional de propriedade e busca-se retirar a imagem de circulação.

http://www.giuseppe-arcimboldo.org

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Quanto mais espontâneo for o compartilhamento da imagem que contém um determinado produto, melhor será para seu fabricante, tanto no que diz respeito à presença da marca na mente dos consumidores, quanto no que diz respeito ao custo, uma vez que será uma propaganda gratuita. Acredito ser possível dizer que um dos objetivos das áreas de marketing atualmente é ter um post de Facebook, Flickr, ou Instagram que torne-se um viral.

 

[1] De acordo com Wikipédia: natureza-morta é um tipo da pintura e da fotografia que retrata seres inanimados: como frutas, louças, instrumentos musicais, flores, livros, taças de vidro, garrafas, jarras de metal, porcelanas, dentre outros objetos. Esse gênero de representação surgiu da Grécia Antiga, e também se fez presente em afrescos encontrados nas ruínas de Pompéia. A denominação Natureza morta, conforme o alemão Norbert Schneider, surgiu na Holanda no século XVII, nos inventários de obras de arte. A expressão competiu durante algum tempo com natureza imóvel e com representação de objetos imóveis no século XVIII

[2] Giuseppe Arcimboldo (Milão, 1527 – 1599) foi um pintor italiano, suas obras principais incluem a série “As quatro estações”, onde usou, pela primeira vez, imagens da natureza, tais como frutas, verduras e flores para compor fisionomias humanas. A partir de 1562 morou em Praga, então capital do reino da Boêmia e hoje da República Tcheca, onde consolidou sua carreira como artista. Serviu na corte de Fernando I e de seus sucessores, Maximiliano II e seu filho Rodolfo II, grandes mecenas. Arcimboldo foi admirado como artista pelos três monarcas, tornou-se pintor da corte e chegou a ser nomeado Conde Palatino.

[3] Jornal da Manhã, 23/01/2014, Disponível em: http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,90235. Acesso em:16 Jun.2014.

[4] Disponível em: www.360i.com/reports/online-food-photo-sharing-trends/. Acesso em: 02 junho.2014.

 

 

BIBLIOGRAFIA

AMADEU, Serio; SANTANA,Bianca. Diversidade Digital e Cultura in Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural: práticas e perspectivas, 2007, Brasília. Disponível em http://diversidadedigital.blogspot.com.br. Acesso em 02 junho 2014.

MORAES, Denis. Comunicação Alternativa, Redes Virtuais e Ativismo: Avanços e Dilemas. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, Vol. IX, #2, mayo-ago/2007. Disponível em www.eptic.com.br. Acesso em: 02 junho 2014.

BENJAMIN, Walter. A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica (Primeira Versão). Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.

SHIRKY, Clay. A Cultura da Participação – Criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

Opiniões e Ódio na Internet

 

Todos sabem que a internet colaborou com a disponibilização rápida da informação, que as redes sociais permitiram que as pessoas se encontrem e se organizem, tanto virtualmente quanto fisicamente, e que também manifestem-se e exponham as suas opiniões diante dos mais diversos assuntos. Entretanto, o que acho que não está claro para todos, é como este progresso também facilitou às pessoas dizerem o que pensam das mais variadas formas, sem pensarem nas conseqüências, ou mais especificamente a agredirem-se.

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Vivemos em um momento em que há mais engajamento político, com manifestações anti-globalização, a crise financeira de 2007, a primavera árabe e todos os protestos ao redor do mundo, questionando ações políticas e econômicas, o Brasil não foi exceção. Busca-se muito mais uma democracia participativa do que uma democracia representativa (Rueda, 2008: 15), e nesse momento expressar-se através das redes sociais, ou fazer comentários em revistas on-line e blogs torna-se quase que mandatório.

Atualmente é muito comum ver no Facebook, por exemplo, diversos posts exaltando uma opinião ou ideologia específica, recriminando as opiniões diferentes e as colocando em posição de antagonismo total. Além disso, os comentários a esses posts muitas vezes vão além dos debates, onde expressam-se opiniões e procura-se um alinhamento, para se chegar a verdadeiros bate-bocas, com agressões, desqualificações e xingamentos. O espaço para comentários, ao invés de permitir que o assunto evolua acaba por reduzi-lo a antagonismos recheados de agressões. Interessante que o tema pode ser variado, mas a situação mais comum a ser encontrada são as acusações de comunista e de neo-liberal, dependendo de quem colocou o assunto em discussão. O primeiro comentário negativo sobre o tema é a acusação de uma opção política. Até mesmo em relação ao uso da tecnologia recai-se nessa discussão. De acordo com William J. Mitchell:

A essa altura, já conhecemos bem os previsíveis subtextos ideológicos dessas duas posições antagônicas. Da direita governamentalista vem a ideia de que, como a tecnologia digital pode melhorar nossa situação, ela certamente o fará – contanto que não se toque no mercado. Da esquerda legalista vem a réplica de que, como os ricos e poderosos são sempre os primeiros a se beneficiar das novas tecnologias e os mercados não são amigos dos marginalizados, precisamos de uma vigorosa intervenção do governo para garantir que os computadores e as telecomunicações não criem um abismo digital intransponível entre os que têm e os que não têm. E é claro que os neoluditas estão totalmente convencidos de que temos mais a perder do que a ganhar, e por isso deveríamos cavar trincheiras e resistir  (MITCHELL, 2002: p30).

Escrever é uma arte, escrever na internet também o é, uma vez que existe a necessidade de se combinar rapidez, precisão e síntese. A meu ver, essa combinação torna-se explosiva, e é um dos elementos que proporciona o extremismo de manifestação.

O ato de escrever requer conhecimento do tema, disponibilidade de tempo, habilidade e treino. A combinação de todas essas características na maioria das vezes não está presente na maioria das pessoas, entretanto o ambiente virtual é totalmente convidativo à manifestação de opiniões, e em geral, de opiniões escritas. Além disso, o ambiente virtual apresenta mais uma complicação, tem como principal característica a velocidade, é necessário se manifestar rapidamente, caso contrário: o assunto deixa de ser importante, outros comentários são escritos e a conversa muda seu rumo. Associado a isso, é necessário ao escrever, ser conciso e sucinto, garantindo assim que as pessoas leiam o que foi escrito, caso contrário perde-se o interesse.

Do ponto de vista do leitor, a leitura permite uma livre interpretação do texto, uma vez que a entonação é dada por ele, e não pelo escritor, então uma vírgula mal empregada, ou sua omissão, ou ainda uma leitura sugestionada já permite a interpretação de uma agressão, que requer um contra-ataque.
A existência de conflito é natural e esperada, faz parte do processo, “a interação social é compreendida como geradora de processos sociais a partir de seus padrões na rede, classificados em competição, cooperação e conflito” (Recuero, 2009: 81). Entretanto o que venho percebendo é um esvaziamento da discussão principal em benefício da troca de agressões, do extremismo.

Ao analisar os comentários da matéria chamada Facebook: um mapa das redes de ódio, de Patrícia Cornils, no blog Outras Palavras, na qual ela conversa com o pesquisador Fábio Malini, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) na Universidade Federal do Espírito Santo, é possível perceber essa realidade. A matéria trata da pesquisa de Fábio Malini, que mapeou as páginas de facebook “dedicadas a defender o uso da violência contra o que chamam de “bandidos”, “vagabundos”, “assaltantes”, fazer apologia a linchamentos e ao assassinato, defender policiais, publicar fotos de pessoas “justiçadas” ou mortas violentamente, vender equipamentos bélicos e combater os direitos humanos” (Cornils, 2014), a agressividade estava presente, não apenas por conta do tema, mas também nos comentários.

Há um total de 39 comentários, sendo 1 deles uma correção, portanto 38 comentários válidos, dos quais 21 considerei normais e 17 considerei agressivos ou muito agressivos. Por agressividade considerei xingamentos, palavras agressivas, ou irônicas, ou debates bilaterais específicos. Apesar de ter feito a análise para uma única matéria, acredito que essa distribuição repete-se com freqüência, e dependendo da fonte e do assunto tende a inverter-se, tendo mais conteúdo agressivo do que neutro.

Resumindo, a questão do conflito é importante, porque é ela que faz o mundo mover-se, sem o conflito não há pensamento, não há crítica, não há evolução.

Para Simmel (1950 e 1964) os conflitos envolvem, ao mesmo tempo, harmonia e dissonância. Um sistema completamente harmônico não pode existir, pela sua incapacidade de mudança e evolução. O autor explica que o conflito tem aspectos positivos, não sendo por si só um elemento negativo para o sistema social. (RECUERO, 2009: p.85).

Entretanto o que estamos experimentando é um exagero de conflito, o qual acaba por empobrecer a discussão, o objetivo principal em debater não é explorar as idéias, mas sim vencer o oponente, o que transfere o foco da discussão para um objetivo completamente diferente do inicial.
Essa situação também deságua em outros dois dilemas muito em voga na atualidade, até onde vai o direito de expressar-se e a liberdade na internet. O caráter libertário da internet foi o que fomentou e organizou os movimentos sociais que representaram a indignação do público do mundo inteiro contra o 1% mais rico do mundo, durante a crise financeira mundial de 2008. Naquele momento as pessoas esqueceram suas diferenças e uniram-se a fim de manifestar.

Mas foi basicamente a humilhação provocada pelo cinismo e pela arrogância das pessoas no poder, seja ele financeiro, político ou cultural, que uniu aqueles que transformaram o medo em indignação, e indignação em esperança de uma humanidade melhor. Uma humanidade que tinha de ser reconstruída a partir do zero, escapando das múltiplas armadilhas ideológicas e institucionais que tinham levado inúmeras vezes a becos sem saída, forjando um novo caminho, à medida que o percorria.(CASTELLS, 2013: p.8).

Essa indignação toda, que uniu as pessoas, permitiu que superassem medo e constrangimento de se manifestar sobre o que consideravam errado. Será que essa mesma indignação está agora re-agrupando as pessoas, umas contra as outras ? Será que estamos voltando ao ponto de partida, no momento anterior à crise, onde as diferenças é que permitiram que uma crise se instaurasse ? “É possível observar-se em um blog não apenas a interação em um comentário, mas as relações entre várias interações e perceber-se que tipo de relação transpira através daquelas trocas.” (Recuero, 2009: 31).

São esses comentários, carregados de tensão e agressividade que identificam e unem os grupos, criando novas comunidades, as quais irão debater umas contra as outras, nos mesmos moldes, sempre em nome de sua liberdade de expressão. A impressão é de que a liberdade de expressão está acima do que é possível fazer para melhorar a condição de vida dos 99% menos ricos, e que voltamos à época da guerra fria, onde ou se é pró-EUA, ou pró-Rússia, não há nada no meio.

Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/

Essas questões, que não são novas, tendem cada vez mais a intensificar-se, e a solução distante de ser atingida, especialmente se a condução do debate seguir o padrão atual, onde as pessoas culpam umas às outras pela dificuldade que enfrentam, buscam vencer as discussões, e não trabalham no sentido da melhora.

 

 

BIBLIOGRAFIA:

CORNILS, Patrícia. Facebook: um mapa das redes de ódio. Blog Outras Palavras. São Paulo, Mar.2014. Disponível em: http://outraspalavras.net/brasil/facebook-um-mapa-das-redes-de-odio/. Acesso em 18 Jun.2014.

RUEDA, Rocio. Cibercultura: metáforas, prácticas sociales y colectivos en red. Revista Nomadas (Col.), Num. 28, Abril 2008, PP. 8-20. Universidad Central, Bogotá, Colômbia. Disponível em: http://www.ucentral.edu.co/images/stories/iesco/revista_nomadas/28/nomadas_1_cibercultura.pdf. Acesso em: 18 Jun.2014.

CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança – Movimentos Sociais na Era da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

MITCHELL William J. – E-topia A Vida Urbana – mas não como conhecemos. São Paulo: SENAC, 2002.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.

25/06/2014

Cultura digital: do “real X virtual” ao “online/offline”

Na virada dos anos 1990 para os 2000, período de popularização da internet, especulava-se sobre como seria a vida cotidiana perpassada pela virtualidade. Naquele momento o surgimento do Second Life, ambiente virtual e tridimensional que simula a vida real e social, estimulava a imaginação, a criatividade e os negócios online. Ao criar uma conta, o usuário poderia criar seu personagem (avatar), adquirir terrenos, construir objetos e edificações, participar de festas e até ganhar dinheiro. Muitas empresas apressaram-se em marcar seu espaço naquele mundo virtual, abrindo filiais e investindo em anúncios com o intuito de sair na frente na ocupação daquela nova realidade. Também os pedagogos viram no Second Life perspectivas animadoras de renovação  da aprendizagem à distância, já que o ambiente em 3D simulava agradavelmente o encontro presencial e o contato pessoal entre educadores e estudantes.

Espaço público e sociabilidade no Second Life

Espaço público e sociabilidade no Second Life

Naquele momento imperava a perspectiva teórica que pressupunha a oposição entre a vida “real” e a “virtual”, sendo esta uma “outra vida”, uma vida paralela, vivida para além da experiência real e cotidiana. O cinema e a literatura, naturalmente, deram suas contribuições na construção dessa: o livro Neuromancer (1984), de William Gibson, trouxe os conceitos de ciberespaço e ciberpunk embalados pela biotecnologia, o pós-humano e o pós-urbano das paisagens virtuais; o filme Matrix, em parte baseado naquele livro, apresentou-nos os perigos da virtualização da vida envolta num mundo de simulacro (Baudelaire, ) e fundamentada no controle tecnológico e alienação do ser humano. Nos dois casos, o mundo virtual foi associado à uma distopia tecnológica que via na virtualidade o capítulo mais recente da dominação do homem pelas máquinas.

No entanto, a cultura digital desenvolveu-se mais no sentido da comunicação e sociabilidade perpassados pelas lulas pela hegemonia que na direção do controle social e político por meio da tecnologia. Um marco dessa situação está no surgimento das redes sociais online, ou Web 2.0, no qual os usuários passaram a ser produtores de conteúdos, apresentando-se como autores e atores sociais participantes de ilimitadas redes de conexões pelas quais as informações trafegam sem fronteiras ou censura (Recuero, 2009). Essa novidade do final dos anos 2000 coincide com a acentuação da mobilidade articulada à conectividade, ou seja, “estamos todos nos movendo”, como afirma Zygmunt Bauman (1999), mas nos movendo conectados à internet por meio dos smartphones, tablets e notebooks conectados à rede 24 horas por dia.

Neste contexto nosso relação com a cidade se vê alterada. William Mitchell (2002) já pontou as influências das interações virtuais na sociedade urbana contemporânea, destacando as transformações espaciais e sociais associadas à ascensão da internet. Segundo Mitchell, temos presenciado mudanças profundas nas cidades e, consequentemente, na sociabilidade. As cidades são construídas por meio de redes que se sobrepõem: a rede de vias públicas se associa à ferrovia, à rede de água e esgoto, à rede elétrica e, finalmente, a rede de comunicação digital; cada etapa dessa altera os relacionamentos humanos e e a vida urbana. Mas há agora uma vida urbana diferente, aumentada, potencializada pelas interações virtuais. A internet vem provocando alterações nos modos das pessoas vivem, trabalham, se deslocam, se divertem, etc. Daí a necessidade de um planejamento urbano apoiado no fluxo de informações e conectividade, já que a cidade é o palco dessa sociabilidade e a principal provedora dessa infra-estrutura de comunicação digital.

A cultura digital articula a vida presencial às informações online em favor da primeira. Investigando a relação entre jovens e música no território das tecnologias digitais, a antropóloga Rossana Reguillo (2012) verificou a importância do Youtube nas festas juvenis, nas quais os repertórios e conhecimentos musicais são compartilhados presencialmente. Esses novos Dj’s amadores oferecem não apenas os sons, mas também as imagens a serem disfrutadas  coletivamente. O uso do Youtube nessas festas coloca no centro da análise uma forma de socialidade presencial mediada pelas tecnologias digitais.

Indignados em reunião na Puerta del Sol, em Madrid, em maio de 2011. FONTE: http://www.larepublica.pe/19-05-2011/espana-elecciones-motivan-la-revolucion-de-los-indignados

Indignados em reunião na Puerta del Sol, em Madrid, em maio de 2011. FONTE: http://www.larepublica.pe/19-05-2011/espana-elecciones-motivan-la-revolucion-de-los-indignados

A vida metropolitana e a conectividade permanente tem alterado também as práticas políticas. Manuel Castells (2013) já descreveu recentemente a importância das redes sociais online na Primavera Árabe, no movimento dos Indignados da Espanha e dos Ocuppys nos EUA e Inglaterra. Para ele esses movimentos são virais, amplamente espontâneos, ancorados no poder soberano das imagens (especialmente no Youtube) e na ocupação dos espaços urbanos, assim como no compartilhamento de experiências por meio da internet.

Assim como no movimento estudantil do Chile (Rosenmann, 2012) ou entre os indignados da Espanha (Feixa, 2013; Rosenmann, 2012), também em São Paulo os jovens do Ocupa Sampa de 2011 não têm dúvidas sobre a importância das redes sociais online para a constituição dos movimentos políticos, mas para eles a questão central dessas novas mobilizações continua ancorada na ocupação dos espaços públicos, nas relações presenciais e dos corpos nas ruas. Como já salientou Martín-Barbero, temos presenciado por meio desses movimentos um processo de reterritorialização, uma valorização dos encontros presenciais nos espaços urbanos: “en las grandes ciudades el uso de las redes electrónicas construyen grupos que, virtuales en su nacimiento, acaban territorializándose, pasando de la conexión al encuentro, y del encuentro a la acción” (Martín-Barbero, 2003: 379). Mas essa reterritorialização acontece em novas bases, já que se trata da construção e experimentação coletiva de um “novo espaço público, o espaço em rede, situado entre os espaços digital e urbano, é um espaço de comunicação autônoma” (Castells, 2013: 16). Esse novo espaço é híbrido, situa-se entre o espaço público e as redes sociais, e vem sendo construído a partir da ocupação das ruas e praças e com o uso das redes sociais.

Assim, ao invés de se pensar na oposição entre o real e o virtual, cabe agora refletirmos sobre as articulações entre a vida online e a off-line, entre a vida presencial e os relacionamentos e conhecimentos determinados pela internet. De qualquer forma, no lugar das distopias colocadas pelas vozes críticas à cultura digital, vemos emergir, com a internet e as redes sociais online, a construção de utopias que recolocam valores libertários e de autonomia, propõem questionamentos sobre a vida e o futuro das cidades, deslocam os poderes da indústria cultural e das mídias tradicionais, questionam os poderes políticos instituídos, experimentam novas formas de organização e participação, constroem outras estéticas que alimentam novas éticas.

Material promocional dos Indignados da Espanha disponibilizado na internet para download. FONTE: http://www.democraciarealya.es/promocion/material-oficial/

Material promocional dos Indignados da Espanha disponibilizado na internet para download. FONTE: http://www.democraciarealya.es/promocion/material-oficial/

 

 

 

 

Rerefências

 

BAUMAN, Zigmunt. “Turistas e vagabundos”. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro, Zahar, 1999, pp. 85-110.

CASTELLS, Manoel. Redes de comunicação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

FEIXA, Carles. “Crónicas del 15M: Del campamento al ágora”. Em Carles Feixa y Jordi Nofre (eds.). #GeneraciónIndignada: Topías y Utopías del 15M. España: Milenio Publicaciones, 2013.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. “Identidad, tecnicidade, alteridad: apuntes para re-trazar el mapa nocturno de nuestras culturas”. Revista Iberoamericana, Vol. LXIX, num. 203, abril-junio, 2003, 367-387.

MITCHELL, William. E-topia: a vida urbana, mas não como a conhecemos. São Paulo: Senac, 2002.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina, 2009. Disponível em http://www.ufrgs.br/limc/PDFs/redes_sociais.pdf

REGUILLO, Rossana. “Navegaciones errantes. De música, jóvenes y redes: de Facebook a Youtube y viceversa”.  Nueva época, núm. 18, julio-diciembre, 2012, 135-171. (anexo)

ROSENMANN, Marcos Roitman. Los indignados: el rescate de la política. Madrid/España: Ediciones Akal, 2012.

 

 

03/06/2014

The Impact of Technology on the Music Industry

The music industry has come a long way since those days of the mono recordings. Before the music industry was simple. An artist would record a song on vinyl, cd, or tape and then the public would go to the store and purchase the album. Now, the music is stored in the cloud. You can see the music videos through YouTube, stream it through Spotify, or purchase it from iTunes. On top of that, all of this can be done through the home computer, phone, or the tablet, even in a car. The music industry nowadays is comprised of individuals who compose and perform music that work with huge label companies who in turn sell these music labels to the public. This whole business was worth around 168 billion dollars in 2013.

Back then, artists, producers, and engineers didn’t have as much of a choice of what equipment that would use to get their recordings done. With the advancement in technology and new innovations constantly being created in the music industry, the opportunities are endless. If you look up the definition of technology you will see the words industry and commerce, which just means growth and development. Technology has and will continue to influence growth and development in the music industry.

With the growth of technology, the technical end of producing and engineering has become somewhat a quicker task. For example, the introduction of system real time messages synchronized drum machines, sequences and other rhythmic devices. System real time messages are dropped into the data stream as required, and have priority over other messages in order to mainstream synchronization at all times. Other advances in technology have allowed these devices to operate with timing clocks so everything does not have to be done completely be hand anymore. As music production and recording systems become more complex and sophisticated, the need for intuitive, easy to use controls over then became essential if they are to be used effectively. In many ways, technology has improved the sound quality of the music that we hear, due to the advent of digital sound, and also advancements made for live performance. Music producers are now able to create more special effects on tracts.

Music Technology

However, many “performers” have become reliant on technology, and there are a lot of artists who now lip synch to all the songs when they perform “live”. This is a negative impact, because often it means that people actually need less talent to succeed in the business than they needed 20 or 30 years ago.

Technology also gave birth to the music video. The artist would create an image that would form an identity for fans to relate to. The result resuming to more and more profits for the artist and the record label companies. Similarly, more effects are now possible and there is an overall superior quality, which is getting increasingly better as more new and updated technology comes along.

Youtube’s Effect on Music

Technology has affected the music industry in both a positive and a negative way. The positive impact includes buying one song now, not the entire album if the fan prefers not to; the public has immediate access anywhere at anytime; and the public can also find exclusive tracks (like live performances) that are not available on regular albums. And, of course, technology has created overnight celebrities and will continue to do so.

Negatively, while technology allows music to be distributed all over the world at the touch of a button and enables artists to advertise on an unprecedented scale it also allows music to be pirated illegally anywhere, anytime. There has been a loss of profit due to illegal downloading. In 2012, 40 billion downloads were illegal, which was almost 90% of all the downloaded music (http://www.statista.com/chart/614/music-downloads-via-bittorrent-in-the-first-half-of-2012/). Additionally, artists may be judged on the video rather than their artistic abilities. And lastly, the purity of the music may be compromised due to the use of software to enhance the artist’s voice.

Music Piracy of 2012

The world has changed so much from a technological standpoint over the last years. And the way that’s affected music and content industries in general has been huge. But the world changes and the music industry must keep up with it. Artists starting out now have it a lot harder because there are so many choices to be made. “(As) novas ferramentas possibilitam uma oportunidade de criar novas culturas de compartilhamento e apenas nessas culturas (as) capacidades de compartilar terão o valor que podem ter.” (Shirky, 2011:129) But they have those choices and they can decide how much emphasis they are going to put on certain aspects.

The goal when artists start out now is exactly how it was when artists were starting out back then: to grow. To make great music, have a career, have a following, build a fan base, spreading popularity, etc. “Todos os tipos de imagens, musicas, textos, mundos virtuais se entrecruzam ai, em linguas cada vez mais numerosas e nas direções do espírito cada vez mais divergentes.” (Lemos e Levy, 2010:205) The bottom line is that technology is here to stay and the music industry should embrace it rather than fight it. At the end of the day, the only true musical experience is a live performance.

 

 

Bibliography

“Infographic: United States Top Music Piracy Ranking.” Statista Infographics. N.p., n.d. Web. 01 June 2014.

Lemos, André; Levy, Pierre. “O espaço virtual da cultura”. O futuro da internet. São Paulo, Paulus, 2010, pp. 115-155, 101-220.

“Music Technology BTEC Subsidiary Diploma.” - St. Wilfrid’s Catholic 6th Form College. N.p., n.d. Web. 30 May 2014.

Shirky, Clay. “Cultura”. A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, pp. 119-143

02/06/2014

Da democracia à revolução, como a internet está se tornando um instrumento político

Por Márcio Nascimento Souza

A democracia em seu significado etimológico seria o governo do povo[1], assim como era na Grécia Antiga onde essa palavra teve origem, as decisões eram tomadas pelos homens livres nas ágoras, as opiniões de cada cidadão da polis era expressa a fim de convencer os demais. Porém esse modelo revolucionário desapareceu junto com a soberania ateniense perante o domínio romano no século II A.C. A democracia apenas ressurgiu no século XIX como uma consequência da modernidade que aos poucos incluiu as mulheres e os analfabetos, porém essa não era mais a democracia participativa dos gregos antigos, mas uma democracia representativa que delega ao cidadão apenas o direito ao voto em períodos de eleições, onde os representantes dos cidadãos já se encontram em sua maioria alheios aos problemas deles por serem na verdade representantes de elites econômicas e políticas.  A democracia não se faz mais pela prática da expressão de cada indivíduo. Em partes, podemos entender isso como consequência do impedimento físico de reunir todos os milhões de cidadãos de um Estado moderno em um congresso, onde todos falariam e ouviriam a todos. Deste modo parece que a democracia representativa seria o único modo possível de democracia, não sendo mais ela o governo do povo, mas o governo sobre o povo.

Porém, hoje assim como a mais de 2500 anos na Grécia surgia de forma revolucionária a democracia, a internet está mudando os aspectos da vida social em quase todo planeta, ela está possibilitando aos indivíduos modernos romper com os obstáculos físicos de comunicação e permitindo acesso rápido as informações, dando vida a um novo tipo de democracia, seguindo o exemplo da constituição colaborativa islandesa, onde o povo por meio das redes sociais como o Facebook e o Twitter ou pela página oficial criada para a redação da nova constituição, contribuiu através de opiniões, sugestões e debates[2], Segundo William J. Mitchell (2002) a dinâmica social alcançada após uma revolução tende a ser irreversível, gerando outras transformações que tendem ser profundas:

“Como naqueles fortes abalos que marcaram nosso passado – as revoluções agrícola e urbana que se seguiram à invenção da roda e do arado, e a revolução industrial que emergiu da ciência do Iluminismo -, as dinâmicas sociais pós-revolucionárias parecem já ter atingido um impulso irreversível.” (MITCHELL, p32. 2002.)

A participação do povo na política através da internet segundo Eiríkur Bergmann[3] é fundamental para um nível mais avançado de democracia, porém, é importante lembrar que ela contínua sendo representativa através de eleições, o que leva Bergmann a pensar que não vivemos no limiar de uma nova democracia, mas sim, uma nova etapa onde a web é um instrumento para participação. Pois, a ciberdemocracia possibilita o surgimento mecanismos de discussão entre o cidadão e o Estado, tornando a participação popular mais real nas tomadas de decisões. Bergmann ressalta que logo após a pacífica “Revolução das Panelas” em frente ao parlamento em decorrência da crise econômica de 2008, a população a transferiu para a rede, onde os políticos a acolheram através da criação de uma Comissão Constitucional. Essa participação popular na nova constituição islandesa só foi possível graças ao fato de que 95% da população têm acesso à internet.

Uma rede de comunicações surgiu junto ao ciberespaço, possibilitando a interação entre todos com acesso a rede, assim como Manoel Castells aponta em A Galáxia da Internet, ela está fornecendo a integração de várias redes, como por exemplo, se observarmos a constante troca e cruzamento de informações do mundo todo através do Facebook e o Youtube veremos a possibilidade do surgimento de uma maior diversidade cultural, porque as distâncias e os territórios físicos tornam-se relativizados diante da circulação de informações e o acesso a elas, possibilitando uma maior aproximação entre indivíduos de diversas culturas.

 Assim como William J. Mitchell já parecia prever em E-Topia A vida urbana – mas não como a conhecemos, através de objetos de uso cotidiano, como celulares e relógios que tendem a se tornarem mais inteligentes, teremos as novas interfaces para o mundo digital. Mitchell via a web como uma construção coletiva, ou seja, podemos entender isso como uma oportunidade de criarmos uma nova experiência democrática. De forma otimista esse autor crê que em breve os meios de acesso a rede estarão tão presentes e integrados a vida cotidiana, assim como a eletricidade e a telefonia, podendo surgir redes comunitárias que seriam como as ágoras da Grécia Antiga. Mas o mesmo autor aponta preocupação quanto aos usos da internet, em seu texto de 2002 ele parecia já prever o recente alvoroço causado pela revelação de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana, ao dizer que achar que as informações fluem livremente pela rede é um mito otimista, pois “sentinelas” vigiam as informações (MITCHELL, 56. 2002).

No Brasil podemos observar algumas iniciativas como forma de aproximação do povo das questões públicas, como por exemplo, o Portal da Transparência que permite a qualquer cidadão com acesso a internet fiscalizar a utilização do dinheiro público, ou a TV Senado e TV Câmara que permitem acompanhar as discussões e decisões do Congresso Nacional, porém não vemos essas iniciativas como um meio de articulação de participação do povo no governo, mas como apenas uma prestação de contas.

Se por um lado as tecnologias da informação estão sendo usadas como ferramentas numa tentativa de participação maior do povo nas decisões políticas em um Estado democrático de direito como é a Islândia, por outro elas desempenham um papel de demolição de regimes pouco democráticos, como no caso da onda revolucionária conhecida como Primavera Árabe, onde o uso de redes sociais consegue driblar a censura e organizar manifestações de forma estratégica. Toda revolução depende de meios de comunicação como o uso de panfletos e jornais. E agora as tecnologias digitais estão desempenhando essa função, porém de uma forma nunca vista antes. Tentar desconectar a rede certamente acarreta num prejuízo econômico muito alto, e para evitar que as revoltas se propagassem mais através da internet alguns governos não tiveram outra escolha a não ser ceder à pressão popular[4].  Segundo Manoel Castells em Redes de Indignação e Esperança – Movimentos Sociais na Era da Internet, o surgimento da rede possibilitou a ocupação de um espaço que é desprovido do controle total dos governos e das empresas, onde os indivíduos se juntam para reivindicar o direito de fazer história. Através da articulação pela rede, indo do norte da África pelas manifestações da Primavera Árabe, ao coração do mundo financeiro no movimento chamado Occupy Wall Street, as comunicações de massas por meio da rede estão fornecendo a possibilidade para a construção da autonomia dos indivíduos diante as instituições (CATELLS, 12. 2013). Para Castells esse é o motivo dos governos temerem a internet.

As mídias digitais podem ser as novas armas da revolução, assim como os instrumentos da construção de uma nova democracia.

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Fonte: cartoonaday.com

Bibliografia:

CASTELLS, Manoel. A Galáxia da Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Rio de Janeiro, Zahar, 2003.

_______________. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro, Zahar, 2013.

MITCHELL, William J. E-topia: a vida urbana – mas não como a conhecemos. São Paulo, Senac, 2002.

Sites:

http://tecnologia.terra.com.br/internet/constituicao-colaborativa-da-islandia-serve-de-exemplo-ao-brasil,f9f3a0b2993de310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html

http://www.20minutos.es/noticia/967110/0/rey/bahrein/presos/


[1] Dicionário da Língua Portuguesa, Michaelis. Disponível em michaelis.uol.com.br

[2] Para mais informações acesse: http://tecnologia.terra.com.br/internet/constituicao-colaborativa-da-islandia-serve-de-exemplo-ao-brasil,f9f3a0b2993de310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html

[3] Eiríkur Bergmann é professor de Ciências Sociais na Universidade de Bifröst na Islândia.

[4] Para mais informações acesse: http://www.20minutos.es/noticia/967110/0/rey/bahrein/presos/

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