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Eleições de Obama e Marina Silva e a mudança de atitude em relação à rede.

DEBORA LEÃO

Em 2001, Castells escrevia que “seria surpreendente se a Internet, por meio de sua tecnologia, invertesse a desconfiança política profundamente arraigada” com a qual grande parte dos cidadãos encara o governo e a política em seus países. Para o autor, trata-se de uma crise à nível mundial da própria democracia, para a qual a Internet não poderia oferecer uma cura tecnológica.

Menos de uma década depois, em meados de 2008, o cientista político americano Michael Cornfield declarava que “sem Internet, não haveria Obama”. Como bem apontam os pesquisadores de “Politics 2.0”, o aforismo do professor da Universidade George Washington vem à tona não por se considerar uma verdade incontestável, e sim para ilustrar a impressão que o sucesso da campanha de Obama nos meios digitais causou logo de cara em estudiosos tanto da política quanto da cibercultura (1). A primeira campanha do atual presidente norte americano chamou atenção não por ser a primeira a utilizar as plataformas digitais e outros meios considerados alternativos na época, mas por ser a primeira a explorar esses canais de maneira integrada, vendo-os como prioritários e estratégicos.

À essa altura, já surgiram centenas de pesquisas sobre o caso Obama e uso de marketing online nas eleições dos Estados Unidos em 2008, e mais uma dezena de estudos sobre a evolução do uso das plataformas online na sua reeleição. Agora já não há novidade na campanha política online; ela é tão necessária quanto a campanha por meios de comunicação em massa tradicionais. Os marqueteiros já começam a buscar as lições que podem ser tiradas das eleições dos EUA em 2012, e a mesma lógica das “boas práticas” levou os maiores políticos brasileiros à rede em 2010. Com diferentes níveis de destreza, as campanhas online dos principais candidatos à presidência adotaram táticas como busca por doações online, incentivo à militância digital de seus apoiadores, uso marcante de redes sociais –em especial o Twitter –,  combate à boatos através da Internet.

my.barackobama.com

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Não é nenhuma surpresa, tendo em vista as diferenças estruturais entre os dois países (2) – tanto do ponto de vista do acesso à Internet quanto do ponto de vista dos processos, instituições e cultura políticas – que o impacto dos meios digitais tenha sido menor no caso brasileiro. As realidades profundamente distintas tornam a comparação dos resultados bastante difícil. E no entanto, as eleições de 2010 no Brasil não deixaram de ter seu quê de surpreendente.

No Brasil, ações que passaram por fora das campanhas oficiais muitas vezes conseguiram entender e utilizar melhor a internet do que o marketing eleitoral. Projetos como o Ficha Limpa e Voto Consciente trabalharam muito mais no espírito da ideia de democracia participativa do que as plataformas destinadas à interação criadas nos sites dos candidatos. Ao mesmo tempo, se destacou o perfil irreverente dos cidadãos e mais habilidosos usuários brasileiros conectados à rede, que produziram vídeos, perfis e hashtags com humor irônico e paródico, criando virais espontâneos.

Embora não tenha alcançado a presidência e nem ao menos o segundo lugar em número de votos, Marina Silva foi a candidata que de maneira mais exitosa se aproximou à esse modelo. Mesmo com pouco tempo de campanha nos meios tradicionais, a candidata conseguiu nada menos do que 20 milhões de votos com um partido considerado pequeno e novo.  O segundo turno aconteceu, em parte, por que houve a ascensão de uma “terceira candidata” em oposição aos projetos dos dois maiores partidos na disputa.

Os movimentos sociais contemporâneos, aponta Rueda Ortíz, resgatam o espaço público, o espaço do debate, da ocupação, da discussão. Ele se promove por meio de redes eletrônicas porém também por ações off-line, mais precisamente há uma continuidade entre as relações na rede e fora dela. As campanhas eleitorais que melhor souberam entender esse processo foram as que se destacaram no caso brasileiro e americano. Obama encorajou a participação política, o debate, buscou incentivar que os próprios eleitores se organizassem para espalhar sua mensagem online e off-line, ativando sua conexões e grupos de interesse. Foi criada uma plataforma de rede social (my.barackobama.com, que continua no ar e atualizado) para que os seus eleitores se organizassem, interagissem, mostrassem uns para os outros suas ações e eventos.

“O uso da Internet tende a aprofundar a crise da legitimidade política ao fornecer uma plataforma de lançamento mais ampla para a política do escândalo,” escreveu Castells em 2001. A tecnologia não é a questão central, e sim o “tipo de política que nossas sociedades estão gerando” esclareceu o autor. No entanto, o que se vê em iniciativas locais de governança das cidades, de portais de transparência e até mesmo de campanhas eleitorais não é somente a política transviada em entretenimento das massas. Vemos, em vez disso, cidadãos que podem ter e buscam se tornar cada vez mais informados e ao mesmo tempo, informantes. A mudança de atitude em relação ao uso da tecnologia, tanto por parte dos cidadãos quanto por parte dos governos e atores políticos, também tem o seu papel na mudança da política que é gerada pelas sociedades.

As tecnologias possibilitam maior transparência das informações governamentais, novas formas de compartilhamento e cooperação e maior interação entre sociedade civil e governo. Para chegar à ciberdemocracia, assim caracterizada, ainda há sem dúvida muito para caminhar. E no entanto, numa época em que o desinteresse político se considerava reinante, sem dúvida novas práticas – como a de eleições que cada vez mais contam com o engajamento dos cidadãos –  têm trazido essas características à tona. Segundo André Lemos, entre as máximas da cibercultura está a possibilidade de reconfiguração de práticas e espaços a partir do uso de recursos tecnológicos. Nada garante que essa reconfiguração de fato aconteça, e que seja estrutural e duradoura. E mesmo assim, podemos considerar que há bons sinais de que pouco a pouco a relação dos cidadãos com a política, com o espaço público se transforma.

(1)   Entendido a partir da definição de Rueda Ortíz, a cibercultura como um campo de estudo que busca compreender as transformações culturais que estão relacionadas e condicionadas pela introdução de tecnologias digitais nas sociedades contemporâneas.

(2) Para ler mais sobre essas diferenças, recomendo o ebook Mídias Sociais e Eleições 2010, disponível em http://issuu.com/papercliq/docs/ebook-midias-sociaise-eleicoes-2010

CASTELLS, Manuel (2003). A galáxia da Internet. Rio de Janeiro, Zahar.

GOMES, Wilson. Politics 2.0: A campanha de Barack Obama em 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/v17n34/a04v17n34.pdf (acessado em 21 de junho 2013)

RUEDA ORTIZ, Rocio. Cibercultura: metáforas, prácticas sociales e colectivos en red. Nómadas (Col), num 28, abril, 2008, pp. 8-20. Universidad Central, Bogotá, Colombia. Disponível em http://www.ucentral.edu.co/movil/index.php?option=com_content&view=article&id=557&Itemid=2456

LEMOS, André; LEVY, Pierre (2010). O futuro da internet. São Paulo, Paulus.

LOPES, Nayla Fernanda Andrade Lopes. Política na rede: Papel das redes sociais da internet na campanha eleitoral para a Presidência da República no Brasil em 2010. IV Congresso Latino Americano de Opinião Pública da WAPOR, Belo Horizonte. Disponível em: http://www.waporlatinoamerica.org/descargas/documentos/nayla_fernanda_andrade_lopes.pdf (acessado em 21 de junho de 2013)

AZEVEDO, Dilvan Passos de. Retórica e prática da democracia eletrônica: Comentários acerca do gap entre o discurso e a prática da ciberdemocracia. I Congresso Anual da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação e Política. Disponível em: http://www.compolitica.org/home/wp-content/uploads/2010/11/Azevedo_2006.pdf (acessado 21 de junho 2013)

Outras fontes: The Guardian Mashable

Uma arma contra o desrespeito à população e às florestas

 BARBARA GALLI

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Em “Liberdade de informação: um estudo de direito comparado”, Toby Mendel afirma que em uma democracia é necessário a prestação de contas e a boa governança por parte dos governantes. O público tem o direito de saber quais são os atos dos seus líderes, ter uma participação ativa nos debates sobre tais atos e assim ser capaz de avaliar o desempenho do governo. Um dos meios de maior resultado para atacar uma má governança é estabelecer esse debate de maneira aberta e disponibilizando informações de qualidade.

Durante o ano de 2012, aproveitando a assimetria informacional existente entre o governo e a população, a Câmara dos Deputados aprovou a lei do Senado que estabelecia uma alteração no Código Florestal do país. O Código Florestal tem a função de preservar as florestas brasileiras além garantir a manutenção da cobertura vegetal, e a boa condição das águas e do solo. No entanto, essa alteração visava a eliminação da responsabilidade de manutenção de qualquer tipo de vegetação dentro das terras dos ruralistas, o que causaria sérios danos ambientais para o Brasil.

Para responder a essa tentativa de mudança no Código Florestal, o Greenpeace em parceria com outras organizações iniciaram uma campanha popular com o intuito de promover a idéia do desmatamento zero. A campanha coletou mais de um milhão de assinaturas de brasileiros que são contra o desmatamento das florestas a fim de levar ao Congresso uma lei de iniciativa popular contra a destruição florestal.

Já nas redes sociais, as equipes de comunicações das ONGs têm alcançado milhões de usuários e contribuindo para uma enorme visibilidade do assunto. A campanha conhecida pela frase “Veta, Dilma!” representou uma mobilização popular para que a presidente recuse o projeto de mudança na lei do Código Florestal aprovado na Câmara. O início dessa mobilização ocorreu por meio das ONGs, que decidiram usar a web para conscientizar o público leigo sobre essa tentativa do Congresso, que desrespeita não só as florestas brasileiras, como também a sua população. Além de promoverem uma ampla divulgação da campanha “Veta, Dilma!”, essas ONGs também disponibilizaram especialistas para tirar dúvidas online daqueles internautas que tinham algum interesse em entender melhor do que se tratava essa alteração na lei.

O assunto de maior polêmica girava em torno da anistia concedida a aqueles que provocassem o desmatamento, o que resultava em um grande sentimento de revolta por parte dos brasileiros, e um crime contra o meio ambiente. Seguindo o pensamento de Toby Mendel, esses especialistas que se dispuseram a explicar os pontos mais questionáveis da nova lei, contribuíram para garantir o direito a informação para esses usuários, uma vez que o acesso a tal informação pode causar importantes benefícios sociais. O movimento nas redes sociais é um grande exemplo de participação efetiva da população a fim de cobrar do governo as suas vontades.

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A popularização do tema ocorreu a partir da campanha “Floresta Faz a Diferença”, promovida pelo Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, formado por mais de 200 organizações da sociedade civil. A participação de celebridades como Wagner Moura, Gisele Bündchen e Rodrigo Santoro em vídeos e fotos, que relatam os danos que poderiam ser causados por essa mudança, alertaram a população em geral. Anteriormente a essa extensa divulgação, o assunto se encontrava limitado a políticos e ambientalistas.

A discussão apareceu como um dos assuntos mais abordados pelos usuários do twitter, à medida que hashtags como #vetadilma e #vetatudodilma foram citadas mais de 30 mil vezes. Já entre os usuários do Facebook, fotos e vídeos sobre a campanha foram compartilhados milhares de vezes, causando uma grande repercussão. Além do perfil Veta Dilma ter sido curtido por mais de 10 mil pessoas. Essas diferentes ferramentas que surgiram com o intuito de causar ações mobilizantes em defesa dessa causa ambinetal demosntra que a comunicação ciberativista está cada vez mais ganhando espaço na sociedade.

Dênis de Moares em “Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas” destaca o poder das webmídias e das redes ativistas na campanha por mobilizações visando transformações sociais. A página do Veta Dilma no facebook, representou uma nova forma de comunicação, que visava a instantaneidade e a descentralização da informação, o que muito contribuiu para o alcance da questão. Enquanto a mídia hegemônica omitia a questão, nas redes sociais o movimento ganhava força a partir do com uso de mecanismos convocatórios interativos, que são fundamentais para trazer visibilidade e mobilização para as reivindicações.

As redes sociais podem ser consideradas uma ferramenta que abriga usuários críticos e dispostos a reivindicar. Essas redes são responsáveis por promover a interação entre indivíduos com afinidades e objetivos comuns. A troca dessas informações partilhadas na internet e nas redes como o twitter e o facebook colaboraram para exercer uma grande pressão na decisão a ser tomada pela presidente do Brasil.

Assim, após sofrer forte pressão da sociedade civil, Dilma Rousseff vetou parcialmente o Código Florestal aprovado pela Câmara dos Deputados. Um dos pontos mais polêmicos da nova lei, a não obrigatoriedade de recuperação das áreas de preservação permanente pelos ruralistas, foi vetado pela presidente. A alteração proposta era vista pelos ambientalistas como uma forma de anistiar àqueles que provocassem o desmatamento. É possível dizer que esse projeto de lei representou a primeira grande derrota do governo desde a posse de Dilma, e parte dessa derrota está intimamente relacionada à ampla mobilização nas redes sociais.

Referências

DE MORAES, Dênis. Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, vol. IX, n. 2, mayo – ago. / 2007

MENDEL, Toby. Liberdade de informação: um estudo de direito comparado. Brasília, 2009.

Veta tudo, Dilma. Greenpeace Brasil, em 9 de maio de 2012: <http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Veta-tudo-Dilma/> . Acessado em 23 de junho de 2013.

Movimento “Veta, Dilma!”, sobre o Código Florestal, vira fenômeno nas redes sociais. UOL Notícias, em 04 de maio de 2012: <http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2012/05/04/movimento-veta-dilma-sobre-o-codigo-florestal-ganha-as-redes-sociais.htm>. Acessado em 23 de junho de 2013.

RIOS, Mariana. Campanha “Veta, Dilma” invade a rede. MST, em 17 de maio de 2012: <http://www.mst.org.br/Campanha-Veta-Dilma-invade-a-rede>. Acessado em 23 de junho de 2013.

Dilma vera parcialmente Código Florestal. Carta Capital, em 25 de maio de 2012: <http://www.cartacapital.com.br/politica/dilma-veta-parcialmente-codigo-florestal>. Acessado em 23 de junho de 2013.

Fotos: https://www.facebook.com/VetaDilma

A ferramenta Internet aos moldes do usuário: a Ficha Limpa.

FELIPE GARRIDO

Escrevo hoje sobre a lei “ficha limpa”, Lei Complementar nº. 135 de 2010 emenda da Lei das Condições de Inelegibilidade ou Lei Complementar nº. 64 de 1990 que torna inelegível por oito anos um candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado (com mais de um juiz), mesmo que ainda exista a possibilidade de recursos. A petição teve como instrumento o forte apoio pela plataforma da internet que possibilitava que os cidadãos brasileiros adicionassem sua assinatura à petição, que apoiava o projeto, por meio dos sites. http://www.fichalimpa.org.br/ e www.avaaz.org recolhendo mais de dois milhões de assinaturas ao longo de quatro meses do ano de 2010.
A campanha chamada de Ficha Limpa tem seu inicio no ano de 2008 como Projeto de Lei de Iniciativa Popular. Circulando por todo o país, este projeto chega a coletar mais de 1.3 milhões de assinaturas favoráveis. E é em 2009 que este foi entregue ao Congresso Nacional.
Coordenada pelo Avaaz.org, que é uma sociedade de mobilização a qual busca a inserção da sociedade civil à política global por meio de quinze línguas, o movimento de apoio à iniciativa Ficha Limpa teve grande divulgação pelas redes sociais como Facebook e Twitter, tornando-se neste ultimo um dos tópicos mais populares entre os internautas. Esta petição deu inicio ao um novo meio de mobilização social nunca antes vista no Brasil. A rápida difusão pela internet e redes sociais foram criando um cenário o qual chamava cada vez mais a atenção de todos envolvendo assim os meios de mídia convencionais. Cada vez mais mensagens chegavam aos deputados para que esses apoiassem o movimento da Ficha Limpa, pressionando-os a tomarem um partido a favor do projeto.

“Os brasileiros tomaram um grande passo contra a corrupção criando o maior movimento brasileiro online na história do país. Pedidos pela Lei Ficha Limpa se tornaram um dos tópicos mais populares no Twitter (Abril 2010) e membros da Avaaz fizeram com que o número de assinaturas pela votação no congresso subisse para mais de 2 milhões.(…) “Uma vitória para os internautas”, postou um dos senadores em seu Twitter, depois da votação. Uma “impressionante petição sem precedentes”, disse o jornal francês Le Monde.” http://www.avaaz.org/po/highlights.php

retirado de: www.avaaz.org

retirado de: www.avaaz.org

Este grande apoio foi crucial uma vez que esta lei fez estremecer a vida de vários candidatos. Ela enfrentou um impasse quando, após a decisão do TSE de ser validada para as eleições de 2010, vários candidatos tiveram seu direito de concorrer aos cargos negados pela nova lei e estes acusaram a lei de ser inconstitucional ou que não deveria ser valida para as eleições decorrentes do ano pela lei existente no congresso que negaria alterações no processo eleitoral no mesmo ano das eleições. O ponto culminante deste impasse foi quando a votação da valides da lei para o ano de 2010 ficou empatada em votação no STF:
• A favor: Carlos Ayres Britto, Carmem Lúcia, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Ellen Gracie Northfleet.
• Contra: Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello, Cezar Peluso.

Retirado de: http://www.tocadacotia.com/wp-content/gallery/impasses-na-lei-da-ficha-limpa/os-beneficios-da-lei-da-ficha-limpa-4.jpg

Retirado de: http://www.tocadacotia.com/wp-content/gallery/impasses-na-lei-da-ficha-limpa/os-beneficios-da-lei-da-ficha-limpa-4.jpg

A decisão no ano de 2010 foi a favor da implementação da lei para aquelas eleições. Mas, em 2011, por votação de 6 contra 5, se concretiza um ato de que a Lei não teria sido valida para aquelas eleições e seria somente valida a partir das eleições de 2012.

“No Brasil, pela Constituição, você só pode ser considerado culpado quando transitado e julgado na última instância. Só que, agora, vale na segunda instância. Até mesmo quando é na primeira instância, já está eliminado” Ex-ministro José Dirceu sobre a lei Ficha Limpa. http://www.jornalopcao.com.br/posts/ultimas-noticias/jose-dirceu-critica-lei-de-ficha-limpa-e-ataca-stf

A tecnologia da informação usada nos dias de hoje é um paralelo as fontes de energia usadas pelas consecutivas revoluções industriais. Ora, o que vemos hoje é uma nova era da difusão de informação: o mundo ser tornou algo menor e menos sombrio – a sociedade transcendendo o tempo e o espaço. O que vemos dos dias de hoje é a apropriação provinda da tomada da tecnologia que possibilita a redefinção por parte dos usuários aos moldes que lhe convém e suas necessidades. A internet é uma ferramenta multi-direcional com uma alta capacidade de flexibilização aonde o usuário se torna o criador eliminando a destinação criador-usuário antes existente. O movimento Ficha Limpa foi uma nova atribuição gerada pelos usuários com um uso determinado pelos usuários, a criatividade reformando a ferramenta à necessidade do usuário que cria no ambiente da internet a ferramenta necessária, neste caso a petição, para alcançar seu fim ultimo: a divulgação, conscientização e mobilização para e da sociedade.
Após este breve e resumido histórico, podemos perceber que o uso atribuído à ferramenta da internet junto ao das redes sociais surpreendeu a todos e a tudo. A grande dimensão de discussão e o “barulho” que ele fez foi de caráter inovador: o entrosamento e interação civil em um novo meio de posicionamento político por uma ferramenta a qual não era, de inicio, projetada para tal manifestação. A internet é uma ferramenta que cresce de utilidades exponencialmente e se revoluciona a cada ano. Estamos presenciando a organização provinda do uso da ferramenta da Internet nas manifestações atuais de indignação popular que a muito permanecia adormecida, como o bordão “O gigante acordou”, vemos as redes sociais atuando fortemente na organização e divulgação nas manifestações que vivemos, é o usuário moldando a ferramenta internet para demonstrar sua insatisfação e revolta. São as Redes Sociais proporcionando uma base organizacional “linkando” o povo para que se faça ouvir uma só voz, a nossa voz, assim como foi com a ficha limpa, assim como vai ser com a luta contra a PEC37, devemos moldar o uso as nossas necessidades, assim como já dizia a “Teoria dos Usos” – a transformação da ferramenta para um uso não esperado, a um uso que não lhe era atribuído…

Retirado de: http://1.bp.blogspot.com/-tnog-HBWOEI/TsVwdl1fJwI/AAAAAAAAAc0/3zQ16BGI8lM/s1600/Corrupcao-FichaLimpa.jpg

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Bibliografia:
http://www.jornalopcao.com.br/posts/ultimas-noticias/jose-dirceu-critica-lei-de-ficha-limpa-e-ataca-stf – acessado em: 15/03/2013
http://www.istoe.com.br/reportagens/235807_O+TSE+AMEACA+A+FICHA+LIMPA- acessado em: 15/03/2013
http://www.valor.com.br/politica/2532540/cazuza-e-citado-em-julgamento-da-lei-da-ficha-limpa – acessado em: 15/03/2013
http://pt.wikipedia.org/wiki/Avaaz.org – acessado em: 15/03/2013
http://www.avaaz.org/po/highlights.php – acessado em: 15/03/2013
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

Caso Guarani Kaiowa: Uma minoria injustiçada

 BARBARA GALLI

Ato em solidariedade aos Guarani Kaiowa

 

A Internet é a responsável por abrir espaço a todos os indivíduos independente das idéias e pensamentos que acreditam. É um espaço que abriga um pouco de tudo, não é uniforme, englobando muitas expressões, a liberdade e o anseio por justiça. A internet surgiu de uma necessidade de buscar novas formas de comunicação, se distanciar das mídias convencionais e esses novos meios de comunicação apresentam alternativas para conquistar uma transformação social.

Em “A Galáxia da Internet”, Manuel Castells aborda os novos meios de socialização que surgiram com a aparição da internet. Retrata também as novas formas de participação política e de cidadania, além do engajamento em movimentos sociais por parte da população. As redes sociais aparecem para ampliar as ferramentas de comunicação. É por meio do uso do computador que os fluxos de comunicação se intensificam, gerando trocas sociais que proporcionam uma modificação na estrutura.

No Brasil, a luta dos índios guarani kaiowa pela demarcação do seu território e a sua repercussão nacional e mundial pode ser considerada um fenômeno causado pela conexão desses computadores, que além de aparelhos, também conectam pessoas. As mídias convencionais, como os jornais e revistas se esforçaram ao máximo para abafar o caso, muitas vezes colocando os índios no papel de bandidos e não no de vítimas como de fato deveria ser. Assim, a internet e as redes sociais mais uma vez assumiram o papel de divulgar e questionar os problemas da sociedade, que muitos não vêem ou se negam a enxergar. A expulsão da comunidade indígena guarani kaiowa do acampamento Puelito, que está localizado na fazenda Cambará no estado do Mato Grosso do Sul causou uma grande revolta e mobilização nas redes sociais.

Em outubro de 2012, uma carta divulgada no Twitter e no Facebook, na qual os índios manifestaram sua indignação perante a ordem de despejo de suas terras e afirmaram que preferiam ser extintos a deixar o local. Essa carta, de certo modo, sugeriu que a população indígena pudesse ser capaz de cometer um suicídio coletivo caso seus desejos de demarcação das terras não fosse atendido. O histórico desses índios mostra que as taxas de suicídios são bastante elevadas, o que pode ser um indício de que a ameaça poderia se concretizar. Diante dessas palavras, a repercussão não poderia ser outra, a população brasileira se solidarizou e se uniu a fim de protestar contra esse ato tão desumano cometido contra esses índios socialmente injustiçados.

Atores sociais, de diferentes, idades, profissão e classe social passaram a se comunicar diretamente com as lideranças indígenas, sem ser necessária intermediação. Raquel Recuero, no seu livro “Redes Sociais na Internet”, afirma que a manutenção da rede social garante que os atores sociais tenham visibilidade, e conquiste algum tipo de suporte social quando for necessário. Assim, ao publicarem a carta nas redes sociais, os indígenas esperavam aumentar a sua visibilidade e despertar o interesse de quem está fisicamente distante com a sua causa.

Apesar do extermínio dessa etnia ter sido iniciado há muito tempo, foi somente a partir da ampla divulgação nas mídias sociais que a causa ganhou destaque nacional e até internacional, em menor escala. Milhares de brasileiros urbanos aderiram à causa dos índios e iniciaram suas manifestações nas redes sociais. No Facebook, muitos usuários acrescentaram “Guarani Kaiowa” ao seu primeiro nome nos seus perfis. A intenção desses usuários não era criar uma identidade comum, mas sim passar a mensagem de que a população indígena não está sozinha na superação desse sofrimento.

O objetivo desses usuários, além de demonstrar seu apoio ao grupo indígena, é também evidenciar que estão dispostos a estabelecer um discurso em conjunto com essa população. Já no Twitter, hashtags como #SouGuaraniKaiowa  e #SomosTodosGuaraniKaiowa apresentaram um forte destaque entre as frases mais publicadas do período. No Youtube, mutiplicaram-se os vídeos que continham a frase “Sou Guarani Kaiowa”. A campanha “Eu apoio a causa indígena” iniciada nas redes sociais resultou em um documento que reuniu milhares de assinaturas entregues à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Essa onda de pressão nas redes tirou o governo da imobilidade e obrigou as instituições como o governo federal, o congresso e o judiciário a colocar a questão em pauta.  A presidente Dilma Roussef, devido à grande abrangência do caso, publicou uma nota sobre o tema, demonstrando uma preocupação do governo com o paradoxo vigente no país. Internacionalmente o Brasil defende os direitos indígenas, mas internamente desrespeita esses mesmos direitos. O Centro de Defesa dos Direitos Humanos, em reunião na Câmara dos Deputados, destacou a extrema importância dessa campanha e comoção nacional diante ao caso e procurou buscar algumas realizações concretas a fim de reconhecer os direitos dos índios e frear a violência, as injustiças e o genocídio presentes no problema da demarcação das terras.

 

CASTELLS, Manuel (2003). A galáxia da Internet. Rio de Janeiro, Zahar.

RECUERO, Raquel (2009). Redes sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina.

DE MORAES, DÊNIS. Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, vol. IX, n. 2, mayo – ago. / 2007.

BRUM, ELIANE. “Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui”. Época, em 22 de outubro de 2012: <http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/10/decretem-nossa-extincao-e-nos-enterrem-aqui.html>. Acessado em 16 de junho de 2013.

Guarani-Kaiowá.”Uma luta que já dura um século”. Entrevista especial com Marco Antônio Delfino de Almeida. Instituto Humanitas Unisinos, em 7 de novembro de 2012: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/515244-essa-e-uma-luta-que-ja-dura-praticamente-um-seculo-entrevista-especial-com-marco-antonio-delfino-de-almeida>. Acessado em 16 de junho de 2013.

Foto: https://www.facebook.com/ColunaPosTVGuaraniKaiowa

O Ocupa Sampa e a apropriação da cidade: entre o Facebook e o Viaduto do Chá. *

RITA ALVES

Os últimos meses de 2011 nos trouxeram uma novidade interessante e estimulante: milhares de jovens de várias partes do mundo foram às ruas em 15 de outubro e acamparam em praças e outros espaços públicos em manifestações políticas e culturais originais em muitos sentidos. Alavancados pela crise econômica, os de Nova York ganharam visibilidade mundial; na Espanha, várias cidades receberam suas “acampadas” e também seus modos particulares de ação; em Londres as barracas se colaram à uma igreja turística; na América Latina, nem tão afetada pela crise, Bogotá e São Paulo se fizeram presentes e articuladas. Era o 15O.

As semanas que se seguiram foram intensas para estes milhares de jovens diretamente envolvidos; também para o número incontável de pessoas que apoiaram, defenderam e participaram da movimentação pela internet, especialmente pelas redes sociais digitais foram semanas especiais. Um debate foi intenso e polarizado ocupou algum espaço na grande mídia mundial, mas foi nas redes sociais digitais que as notícias e as imagens se espalhavam por meio da “cultura do compartilhamento”, e também ali é que a polarização dos posicionamentos e questionamentos foi “vivamente experimentada”, como disse Antônio Gramsci acerca das relações dos italianos com romances comerciais do século XIX.

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Peço licença para um depoimento pessoal, afinal todo cientista social “sofre” desse problema, seus objetos de estudo e referenciais teóricos e metodológicos insistem em se misturar com sua vida particular, seus interesses privados e pessoais. Naqueles dias de outubro comecei a ser afetada por informações que chegavam por meio do Facebook, vindas dos mais variados destinatários: dos estudantes, ex-estudantes e amigos, dos grupos, coletivos e movimentos que investigamos em nossa pesquisa na PUC, dos colegas de trabalho e de pesquisa (especialmente a antropóloga mexicana Rossana Reguillo, que estava em Nova York naquelas semanas e acompanhou de perto a Occupy Wall Street), dos veículos da grande mídia que se utilizam dessa rede social, dos blogs e veículos alternativos e comunitários de comunicação. Em São Paulo tomava corpo o Acampa Sampa (nome depois alterado para Ocupa Sampa), os acampados-indignados do Vale do Anhangabaú. Num ímpeto, transferi para lá as aulas de Antropologia que daria no curso de Ciências Sociais. E assim fomos experimentar uma aula pública; fomos para conhecer, trocar, colaborar e observar; e essa foi a primeira aula pública do Ocupa Sampa.

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No lugar das tradicionais marchas e passeatas, vimos no Acampa Sampa dezenas de jovens que permaneceram no Vale do Anhangabaú, sob o Viaduto do Chá, bem no centrão de São Paulo, por várias semanas. Em sua conferência no TUCA David Harvey comentou que “às vezes as cidades se tornam centros de movimentos revolucionários; podemos pensar as cidades como instrumentos pelos quais as revoluções surgem. Em Occupy Wall Street as pessoas chegavam e ficavam, isso foi o mais interessante. Devemos pensar sobre a ocupação das cidades, e não das fábricas (e meus amigos marxistas não gostam de ouvir isso)” **. Ocupar as cidades, permanecer nas ruas e nas praças, revitalizar os espaços públicos por meio da sociabilidade parece ser a grande transgressão nesta época dos não-lugares, da privatização das vidas e dos espaços de convivência, da volatilidade e da efemeridade constantes que afetam nossas relações e práticas políticas. Naquelas semanas, as dezenas (em alguns momentos centenas) de jovens que ali permaneceram vivenciaram experiências marcantes. A convivência com as diferenças (políticas, econômicas, sociais, culturais e psicológicas) provocou a invenção de novas formas de administrá-las. Uma vez decidido em assembleia e, por consenso, que os partidos políticos não teriam presença ou voz naquele  movimento, passaram a criar procedimentos, gestos e palavras que dessem conta dessas novas práticas políticas emergentes. Dentre estas práticas, chamam a atenção os rituais de alimentação que ali foram criados; a comida era gerida coletivamente, incluindo as crianças e os moradores de rua. Diariamente preparavam refeições que atendiam à diversos gostos e inclinações, com destaque para as práticas vegetarianas alinhadas aos posicionamentos ideológicos e críticos. Recebiam alimentos, água, tintas, cobertores, gás e outras necessidades vindas de simpatizantes e pequenos empresários. Multiplicavam-se as adesões, as aulas públicas e os shows. Organizaram-se em comissões e grupos de discussão temáticos. Foram visitados por americanos, ingleses e colombianos que participavam das ocupações e acampamentos em suas cidades; estes forasteiros traziam notícias e palavras de estímulo aos jovens de São Paulo e um sentimento cosmopolita pairava no ar. Vários movimentos sociais – como o dos sem-teto, o de defesa do bairro da Luz contra o projeto do governo ou o de defesa do uso da bicicleta na cidade – engrossavam a discussão com suas pautas diversificadas. O Ocupa Sampa transformou-se num lugar de encontro desses movimentos, que agora tinham que se adaptar aos modus operandi criados no dia-a-dia. Aqui, a idéia gramsciniana de uma cultura cotidiana “vivamente experimentada” ganhou um sentido radical e intenso.

Chama a atenção os usos das tecnologias digitais, especialmente das redes sociais. Meses antes, a Primavera Árabe já apontava a importância do Twitter e do Facebook na organização das intensas manifestações políticas. A Comissão de Comunicação do Ocupa Sampa montou uma pesada estrutura de informação sob o viaduto; geradores de energia, cabos, computadores, câmeras, microfones e conexões 3G que permitiam as transmissões ao vivo via internet das assembleias, shows e aulas públicas. Alimentar e responder às demandas vindas pelas redes sociais tornou-se tarefa árdua frente à intensa demanda de contatos. Se no início e durante o movimento o entusiasmo com estas ferramentas digitais empolgou os acampados e os pesquisadores do assunto, pouco a pouco começou-se a afirmar que “a revolução se dá nas ruas, e não no Facebook”. Resta agora investigarmos a real potência e as limitações dos usos das tecnologias digitais nas práticas políticas e culturais contemporâneas. Sabemos que existe aí uma novidade interessante e potente, mas também já sabemos tem temperos de “revolução de sofá” e que ela, sozinha, não significam muito para estes jovens.

Os usos sociais das tecnologias (Martín-Barbero, 2004) recolocam e amplificam a característica das comunidades online que constituíram a cultura da internet: o valor da comunicação livre e horizontal e “a formação autônoma de redes como instrumento de organização, ação coletiva e construção de significado” (Castells, 2003: 48). Nestas narrativas digitais estes jovens são agentes e sujeitos que atuam de forma a moldar estruturas sociais. São simultaneamente consumidores/receptores e produtores/emissores de idéias, de sentidos, de estéticas, formas e conteúdos.

A redes sociais online são, atualmente, expressões das redes sociais offline e, mais que isso, expressão de sua complexificação (Recuero, 2009). Ao cotidiano vivido nas ruas corresponde a constituição de uma cidade digital por meio de ciberinstrumentos (Lemos e Levy, 2010) que dinamizam a participação ativa, melhoram o desempenho de instituições e grupos juvenis, pressionam os poderes públicos e concretizam a construção de inteligências coletivas, processo tão alardeado e pouco analisado concretamente.

Reafirma-se a intima relação entre a vida online e a offline, entre o “real” e o “virtual”, como se costumava dizer nos anos 1990. O usos que estes jovens fazem dos blogs e outras redes sociais digitais mostram que estas ferramentas são o meio para se atingir os objetivos dos grupos, não são a finalidade principal do grupo. Sabemos que as práticas online acentuam as offline, não há uma contradição, pelo contrário, estão articuladas. Verificamos também que existe uma forte relação entre os usos das ferramentas digitais de comunicação e as ações territoriais locais, entre a cidade e a cibercidade, entre o local e o global em favor do empoderamento e a criação juvenis.

Referências

CASTELLS, Manuel (2003). A galáxia da Internet. Rio de Janeiro, Zahar.

LEMOS, André; LEVY, Pierre (2010). O futuro da internet. São Paulo, Paulus.

MARTÍN-BARBERO, Jesús (2004). Ofício de cartógrafo. Travessias latino-americanas da comunicação na cultura. São Paulo: Loyola.

RECUERO, Raquel (2009). Redes sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina.

* Artigo originalmente publicado no jornal “Página em branco” do Centro Acadêmico de Ciências Sociais da PUC-SP (CACS)

** Cf. Conferência de David Harvey, Teatro da PUC-SP, em 27 de fevereiro de 2012: http://www.youtube.com/watchv=qMRsV7XWKqU&feature=context&context=C3a3057cUDOEgsToPDskJudIVHgGzwumBLufakKpZj . Acessado em 25 de setembro de 2012.

Fotos: https://www.facebook.com/acampasampa