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Caso Guarani Kaiowa: Uma minoria injustiçada

 BARBARA GALLI

Ato em solidariedade aos Guarani Kaiowa

 

A Internet é a responsável por abrir espaço a todos os indivíduos independente das idéias e pensamentos que acreditam. É um espaço que abriga um pouco de tudo, não é uniforme, englobando muitas expressões, a liberdade e o anseio por justiça. A internet surgiu de uma necessidade de buscar novas formas de comunicação, se distanciar das mídias convencionais e esses novos meios de comunicação apresentam alternativas para conquistar uma transformação social.

Em “A Galáxia da Internet”, Manuel Castells aborda os novos meios de socialização que surgiram com a aparição da internet. Retrata também as novas formas de participação política e de cidadania, além do engajamento em movimentos sociais por parte da população. As redes sociais aparecem para ampliar as ferramentas de comunicação. É por meio do uso do computador que os fluxos de comunicação se intensificam, gerando trocas sociais que proporcionam uma modificação na estrutura.

No Brasil, a luta dos índios guarani kaiowa pela demarcação do seu território e a sua repercussão nacional e mundial pode ser considerada um fenômeno causado pela conexão desses computadores, que além de aparelhos, também conectam pessoas. As mídias convencionais, como os jornais e revistas se esforçaram ao máximo para abafar o caso, muitas vezes colocando os índios no papel de bandidos e não no de vítimas como de fato deveria ser. Assim, a internet e as redes sociais mais uma vez assumiram o papel de divulgar e questionar os problemas da sociedade, que muitos não vêem ou se negam a enxergar. A expulsão da comunidade indígena guarani kaiowa do acampamento Puelito, que está localizado na fazenda Cambará no estado do Mato Grosso do Sul causou uma grande revolta e mobilização nas redes sociais.

Em outubro de 2012, uma carta divulgada no Twitter e no Facebook, na qual os índios manifestaram sua indignação perante a ordem de despejo de suas terras e afirmaram que preferiam ser extintos a deixar o local. Essa carta, de certo modo, sugeriu que a população indígena pudesse ser capaz de cometer um suicídio coletivo caso seus desejos de demarcação das terras não fosse atendido. O histórico desses índios mostra que as taxas de suicídios são bastante elevadas, o que pode ser um indício de que a ameaça poderia se concretizar. Diante dessas palavras, a repercussão não poderia ser outra, a população brasileira se solidarizou e se uniu a fim de protestar contra esse ato tão desumano cometido contra esses índios socialmente injustiçados.

Atores sociais, de diferentes, idades, profissão e classe social passaram a se comunicar diretamente com as lideranças indígenas, sem ser necessária intermediação. Raquel Recuero, no seu livro “Redes Sociais na Internet”, afirma que a manutenção da rede social garante que os atores sociais tenham visibilidade, e conquiste algum tipo de suporte social quando for necessário. Assim, ao publicarem a carta nas redes sociais, os indígenas esperavam aumentar a sua visibilidade e despertar o interesse de quem está fisicamente distante com a sua causa.

Apesar do extermínio dessa etnia ter sido iniciado há muito tempo, foi somente a partir da ampla divulgação nas mídias sociais que a causa ganhou destaque nacional e até internacional, em menor escala. Milhares de brasileiros urbanos aderiram à causa dos índios e iniciaram suas manifestações nas redes sociais. No Facebook, muitos usuários acrescentaram “Guarani Kaiowa” ao seu primeiro nome nos seus perfis. A intenção desses usuários não era criar uma identidade comum, mas sim passar a mensagem de que a população indígena não está sozinha na superação desse sofrimento.

O objetivo desses usuários, além de demonstrar seu apoio ao grupo indígena, é também evidenciar que estão dispostos a estabelecer um discurso em conjunto com essa população. Já no Twitter, hashtags como #SouGuaraniKaiowa  e #SomosTodosGuaraniKaiowa apresentaram um forte destaque entre as frases mais publicadas do período. No Youtube, mutiplicaram-se os vídeos que continham a frase “Sou Guarani Kaiowa”. A campanha “Eu apoio a causa indígena” iniciada nas redes sociais resultou em um documento que reuniu milhares de assinaturas entregues à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Essa onda de pressão nas redes tirou o governo da imobilidade e obrigou as instituições como o governo federal, o congresso e o judiciário a colocar a questão em pauta.  A presidente Dilma Roussef, devido à grande abrangência do caso, publicou uma nota sobre o tema, demonstrando uma preocupação do governo com o paradoxo vigente no país. Internacionalmente o Brasil defende os direitos indígenas, mas internamente desrespeita esses mesmos direitos. O Centro de Defesa dos Direitos Humanos, em reunião na Câmara dos Deputados, destacou a extrema importância dessa campanha e comoção nacional diante ao caso e procurou buscar algumas realizações concretas a fim de reconhecer os direitos dos índios e frear a violência, as injustiças e o genocídio presentes no problema da demarcação das terras.

 

CASTELLS, Manuel (2003). A galáxia da Internet. Rio de Janeiro, Zahar.

RECUERO, Raquel (2009). Redes sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina.

DE MORAES, DÊNIS. Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, vol. IX, n. 2, mayo – ago. / 2007.

BRUM, ELIANE. “Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui”. Época, em 22 de outubro de 2012: <http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/10/decretem-nossa-extincao-e-nos-enterrem-aqui.html>. Acessado em 16 de junho de 2013.

Guarani-Kaiowá.”Uma luta que já dura um século”. Entrevista especial com Marco Antônio Delfino de Almeida. Instituto Humanitas Unisinos, em 7 de novembro de 2012: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/515244-essa-e-uma-luta-que-ja-dura-praticamente-um-seculo-entrevista-especial-com-marco-antonio-delfino-de-almeida>. Acessado em 16 de junho de 2013.

Foto: https://www.facebook.com/ColunaPosTVGuaraniKaiowa