
Como o assunto atual é Belo Monte, vamos lembrar um pouco do Pré-Sal que não deve ser esquecido… Ambos constituem assuntos polêmicos que podem mudar (ainda mais) a história ambiental brasileira.
O paradigma tradicional de crescimento econômico tem provocado efeitos como: a poluição do ar, da água, do solo, a extinção de espécies da flora e da fauna, o desmatamento, o inchamento das cidades, as graves disparidades regionais e a má distribuição de renda.
Acredita-se que esse modelo caminha para a extinção, visto que, hoje, na era da informação e do conhecimento, os impactos sociais e ambientais das atividades empresariais estão em evidência em todos os meios de comunicação e que, por menor que seja, nasce uma consciência, e a partir dela nascem novas expectativas, que precisam ser atendidas. Todos os stakeholders de uma empresa passam a esperar um compromisso socioambiental e cada vez mais a sobrevivência das empresas parece depender desse compromisso, dessa responsabilidade. Nesse sentido, também é importante lembrar que nenhuma empresa existe e sobrevive sem ter clientes, sem ter pessoas querendo trabalhar nela e sem ter recursos provenientes da natureza.
Tem-se como pressuposto que a sustentabilidade é uma necessidade e um caminho que muitas empresas estão trilhando, mas que, por enquanto, o que predomina é a responsabilidade socioambiental, ou seja, estão no início do caminho.
O desafio é ainda maior para empresas que atuam em ramos de atividade com grande impacto comprovado, tanto ambiental quanto social, como é o caso do setor petrolífero. A responsabilidade é muito maior, considerando as características e o alto risco das atividades.
Os principais impactos (negativos) e riscos socioambientais da atividade petroleira são :
- Riscos de acidentes de grande porte (explosões e vazamento de combustíveis) e acidentes de trabalho em geral;
- Derramamentos e incêndios durante as instalações de produção e nos vários meios de transporte de óleo dos campos de produção até as unidades de refino. Os principais meios utilizados são transporte por água, dutos, ferrovias ou rodovias;
- Transformação visual, danos à vegetação, solo e fauna, poeira, geração de resíduos sólidos e efluentes, interferência nos recursos hídricos, despejo de lamas oleosas no meio ambiente no processo de perfuração, esgotamento dos recursos naturais, impactos na saúde da população e nos ecossistemas da região;
- Aumento das emissões de gases poluentes (dióxido de carbono, metano, enxofre e nitrogênio);
- Descarte de rejeitos com enormes potenciais de agressão à natureza como as águas de produção, em geral com alta salinidade, e que são inutilizadas ainda contendo significativas massas de óleo, matérias orgânicas e metais
- Contaminação pelos despejos das embarcações acidentadas;
- Intensificação da exploração em campos petrolíferos submarinos. Os impactos dos acidentes na água têm suas dimensões ampliadas, pois são propagados pelas correntes, dificultando a determinação das áreas atingidas;
- Nas plataformas, há um expressivo número de equipamentos e volumes elevados de produtos inflamáveis em espaços reduzidos e muitas vezes confinados. Os riscos concentrados nessas unidades têm causado acidentes de grande porte, com muitas perdas humanas;
- Utilização de explosões com dinamites na etapa sísmica, destinada a verificar o potencial dos campos de petróleo;
- A indústria do refino consome intensamente água e energia, dois insumos caros à humanidade;
- Aumento no tráfego de veículos pesados, abertura de estradas, picadas e clareiras, geração de ruídos;
- Insegurança nas comunidades, migração de pessoas;
- A maioria dos postos opera com tanques vazando e com descarte de combustíveis que se infiltram nas áreas vizinhas dessas instalações podendo atingir redes de esgotos pluviais, redes de energia, túneis de metrôs e garagens de edifícios. Muitos desses postos mantêm essas instalações em uso por muitos anos, sem a manutenção adequada;
- Há também o risco à saúde pois, os frentistas, respirando diariamente hidrocarbonetos, estão expostos diretamente a agentes cancerígenos.
O setor petrolífero, desde que destronou o carvão como principal fonte energética no século XX, é uma das principais atividades econômicas. Atualmente, ele é o principal fornecedor de energia e garantiu o desenvolvimento industrial e social do mundo contemporâneo, que estabeleceu uma crescente dependência em relação a esse recurso não-renovável, principalmente, a partir do crescimento econômico e inovação tecnológica do período Pós-Guerra.
O petróleo tornou-se tão estratégico e estreitamente relacionado com a soberania das nações que a maioria das guerras que ocorreram no último século estavam, direta ou indiretamente, relacionadas com domínio de poços, rotas e refinarias de petróleo.
Porém, essa hegemonia do petróleo, que caracteriza a chamada economia do carbono – fazendo referência ao dióxido de carbono (CO2) presente na cadeia de produção e consumo do petróleo –, parece estar chegando ao fim, de forma gradual, muitos países estão se movimentando e optando pela utilização de fontes de energia menos poluidoras, que apresentam menor emissão de CO2, as chamadas energias limpas, com o objetivo de migração para uma economia de baixo carbono.
O petróleo, além de ser um “ouro negro” e uma das fontes energéticas mais poluidoras do mundo, e as atividades do setor serem impregnadas de impactos socioambientais, é um recurso natural não-renovável, ou seja, com o excesso de exploração, pode se tornar um recurso escasso.
A questão energética é, portanto, considerada um dos maiores problemas da sustentabilidade, e sendo o petróleo, com tantos impactos sociais e ambientais, a principal fonte energética da sociedade moderna, o setor petrolífero é o principal alvo das críticas.
Preocupadas com a exploração intensiva das reservas esgotáveis de combustíveis fósseis, entre eles o petróleo, e com a sua imagem perante os stakeholders, que exigem um compromisso socioambiental, as empresas do setor petrolífero têm investido em ações para combater esse quadro.
Os impactos negativos das atividades petroleiras fazem com que sejam utilizados métodos e técnicas menos agressivos ao meio ambiente, principalmente, no cumprimento da legislação ambiental.
No entanto, medidas como melhorias em tecnologias de processamento de óleos pesados, introdução do gás natural na matriz energética mundial, controle ambiental dos resíduos desses combustíveis, entre outros, segundo Menezes (2004), não estão sendo suficientes para manter os níveis de poluentes.
Em abril de 2010, o maior vazamento da história dos Estados Unidos, ocorrido na plataforma Deepwater Horizon da Empresa British Petroleum (BP), afetou de forma irreversível o ecossistema da região, matou funcionários e colocou em dúvida a segurança da atividade petroleira.
Mesmo com a urgência do desenvolvimento sustentável, nota-se que pouco tem sido feito para uma mudança radical, que leve o mundo a um outro patamar de matriz energética. Acredita-se que a mudança deve ocorrer de forma rápida e eficiente, mas como a necessidade não está sendo sentida da mesma forma por todos, como os efeitos da insustentabilidade do modelo tradicional de desenvolvimento aparecem de forma gradual, as ações tendem a seguir o mesmo ritmo, sendo mais voltadas para uma postura reativa, ao invés de preventiva, mesmo com os sinais de que algo está errado e de que é preciso agir logo.
Além de o petróleo ser principal fonte de energia do mundo atual, vários produtos obtidos a partir de seus derivados, tais como os plásticos e as borrachas sintéticas, se tornaram indispensáveis à sociedade moderna.
Tudo isso faz com que seja necessário o desenvolvimento de novos substitutos pelas empresas do setor, com vistas à sua manutenção no negócio em posição de liderança no longo prazo, com uma futura alteração das matrizes energéticas. Nesse sentido, as companhias de petróleo têm se movimentado e estão se transformando em companhias de energia, como aconteceu com a Petrobras.
Muitas empresas, embora lentamente, já estão caminhando e buscando alternativas, ampliando investimentos em fontes de energia renováveis (hidráulica, biomassa, solar, eólica, geotérmica, maremotriz, hidrogênio), desenvolvendo alternativas para subprodutos do petróleo, como por exemplo, o desenvolvimento do biopolietileno (plástico proveniente da cana-de-açúcar) para substituição plástico de petróleo. Normalmente, o polietileno (plástico comum) é fabricado a partir da nafta, um derivado do petróleo, ou do gás natural. Além do plástico da cana, ainda há o plástico do milho, que é biodegradável.
Na era da tecnologia e do conhecimento muito pode ser feito para o alcance da sustentabilidade, pressupõe-se que, o que falta é a sociedade como um todo passar a exigir as mudanças por parte das empresas e do governo e as empresas enxergarem oportunidades de lucro e vantagem competitiva nesse novo caminho, ou, em último extremo, a única forma de sobrevivência.
No entanto, mesmo com este cenário e com o novo posicionamento, a Petrobras está investindo pesadamente na exploração de petróleo na camada Pré-Sal. Muitas motivações estão em jogo, com destaque para os aspectos econômicos e políticos, e acredita-se que os aspectos socioambientais permanecerão em segundo plano. Se o mundo está procurando uma nova configuração da matriz energética, procurando diminuir o uso dos combustíveis fósseis, não faz sentido o Brasil caminhar na contramão.
Fonte: Kamila de Freitas Alencar