
Acabo de voltar da sessão de Nascidos em Bordéis, de Ross Kauffman e Zana Briski. Um documentário que relata a vida de crianças do bairro Luz Vermelha em Calcutá.
Aparentemente você espera um documentário tenso, com cenas deprimentes, pessoas sofrendo, enfim, tudo aquilo que já se pode imaginar da vivencia numa zona de conflito.
Entretanto, tive uma surpresa ao me deparar com 7 crianças carismáticas e cheias de vida, apesar da triste realidade que entorna suas vidas.
Sim, Nascidos em Bordéis trata de crianças, filhas e filhos de prostitutas, muitas delas de gerações (avós, tias, mães, irmãs).
O que mais me tocou nesse documentário foi que essas crianças, não muito mais que 10 anos, falam e agem como adultos formados. Elas precisam ajudar na parte financeira na casa, por isso ‘lêem’ mãos, lavam louça pros vizinhos, entregam encomendas e diante de tudo isso, elas assumem que sabem o que suas mães fazem enquanto estão trabalhando nos quartos, mas mesmo assim as respeitam. E mais, eu como espectadora passei o filme todo torcendo por essas crianças, fiquei embasbacada com seus relatos, que são entre “sei que não vou mudar de vida, mas é preciso aceitar essa dificuldade” e até “eu espero que possa dar certo”, ou seja, essas crianças tem plena consciencia que as coisas podem nunca mudar, mas elas aceitam, o que me fez pensar que muitas outras crianças jamais pensariam e falariam tais coisas. Elas assumem uma responsabilidade, desde cuidar do irmão menor até proteger o seu grupo que muitas outras pessoas mais velhas talvez não tivessem consciência.
Outra coisa que se nota, é o novo tipo de ‘família’ que esse documentário traz, pois essas 7 crianças são mais que amigos, elas sabem das necessidades, medos, gostos, manias de cada um, eles protegem um ao outro, fazem companhia, brincam, choram juntos. Não imagino como era a união deles antes da “Tia Zana”, a fotógrafa, realizar essas oficinas de fotografia com eles, mas penso que se formaram laços com muitas outras coisas do mundo.
O documentário, mostra mais que a realidade dessas crianças, o que vale é a perspectiva de mudança e de que é possível sim fazer, por exemplo, uma oficina de fotografia em exposição mundial. O que de fato acontece, no decorrer do filme vemos a luta da “Tia Zana” em prol de tirar essas crianças do bordel, tanto que ela consegue matricular algumas na escola (mas escolas que aceitem filhos da Luz Vermelha) e consegue que um dos meninos vá para Amsterdam falar sobre suas fotos. São conquistas, que infelizmente nem todos os 7 destinos continuam por um caminho de esperança, mas pelo menos o que antes essas crianças consideravam apenas sonhos e vontades foram realizadas, ou pelo menos, mostrado que outro caminho é possível.
Post: Débora Nazari
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