Arquivo mensais:novembro 2013

Tibet: a tradição pressionada entre a China, a globalização e o turismo de massa

por Rita Alves

Para o Ocidente o Tibet (ou Tibete, em português) é um lugar recheado de sonhos, encantamento e magia, mas também é visto com um lugar exótico, repleto de mistérios e segredos que se escondem sob o Himalaia, a mítica montanha magnificada por décadas na literatura e cinema que mobiliaram nosso imaginário; muitos pensam no Tibet como a Shangri-lá que está logo ali. Mas bastam alguns minutos de pesquisa na internet para constatarmos que a situação cultural e política tibetana é dramática.

Mapa da região do Tibete. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tibete

Mapa da região do Tibete. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tibete

Em outubro de 1950 o Tibet foi ocupado pelos militares da China comunista sob pretexto de libertar os tibetanos do imperialismo inglês; até então, desde o século XVII, era comandado por governos encabeçados pelos Dalais Lamas, uma linhagem de líderes políticos espirituais. Apesar de serem governos subordinados ao império chinês, em 1913 o 13o Dalai Lama expulsou os chineses do território tibetano, e com a ocupação chinesa comunista, em 1959, o 14o Dalai Lama fugiu para a India, acompanhado de seus seguidores e um grupo de líderes tibetanos e de lá comanda a Administração Central Tibetana, um governo que funciona no exílio e que tem mais papel simbólico de resistência do que efetividade prática na vida tibetana. Neste período mais de um milhão de tibetanos pereceram sob as armas chinesas e dezenas de monastérios foram destruídos.

Nas últimas décadas a China vem promovendo a integração progressiva do Tibet, a despeito das resistências e principalmente as divergências culturais e religiosas. Se, por um lado, o Tibet tem sua história articulada à da China, por outro lado tem suas particularidades que fazem com que o povo tibetano não se identifique com o império comunista. Este não reconhecimento assenta-se, em primeiro lugar, na língua; enquanto na China se fala atualmente o mandarim, no Tibet fala-se o tibetano, pertencente ao ramo das línguas himalaias, e que envolve dezenas de dialetos regionais. Na religiosidade, porém, encontra-se o principal fator de afastamento cultural: enquanto a China comunista ainda proclama, oficialmente, o ateísmo, o Tibet tem suas raízes ancoradas no budismo, religião que articula o modo de vida dos tibetanos, sua alimentação, relação com a natureza e com a política.  Para incômodo do governo chinês,  surge no mundo globalizado o movimento “Tibet Free” que por meio de artistas, personalidades do esporte e da política ocidentais, chama a atenção para a delicada situação do Tibet frente ao avanço chinês que não mede esforços para levar para lá o que eles chamam de “progresso” e acompanhado das benesses do capitalismo, como as fábricas de produtos tecnológicos, o turismo de massa, shoppings centers, etc. Ponto para o Dalai Lama, que exilado e “persona non grata” na China, ganha visibilidade e apoio internacionais

Em 2006 o governo chinês inaugurou a estrada de ferro que abriu definitivamente o Tibet para os chineses e os turistas estrangeiros. São 1000 quilômetros entre Golmud  (uma cidade poeirenta na província de Qinghai, no extremo oeste da China) e Lhasa, capital do Tibet. Os peregrinos de antigamente levavam 3 meses caminhando entre montanhas a quase 5000 metros de altitude, mas os atuais fazem o percurso em apenas 48 horas. Pela ferrovia chegam centenas de trabalhadores chineses por mês que veem nos investimentos chineses no Tibet uma oportunidade de se ganhar mais dinheiro que nos grandes centros urbanos chineses. O principal mercado é o da construção civil e negócios voltados ao turismo estrangeiro. Para o governo, este trem leva a prosperidade; para os tibetanos, ele representa a segunda invasão: a invasão estrangeira que está modificando rapidamente a frágil cultura tibetana. Se até o início do século XX Lhasa era uma cidade proibida aos estrangeiros, atualmente ela recebe cerca de 3 milhões de turistas por ano. Destes, 90% são chineses; na China está na moda ir ao Tibet conhecer a terra sagrada e suas origens budistas (Castro, 2008).

No documentário “China: tradiciones y contradicciones” vemos que os chineses que ali foram viver se relacionam pouco com os tibetanos por não dominarem o mandarim, e que esses migrantes não sentem o peso da vida no estrangeiro na medida em que o modo de vida chinês ocupou totalmente o cotidiano de Lhasa, aos poucos os tibetanos vão incorporando os costumes chineses, como a alimentação baseada em arroz e verduras, que praticamente inexistiam ali há uma década, mas que agora, com os investimentos governamentais e expropriações de terras em favor de cooperativas de chineses, proliferam como agricultura em escala industrial. Para o jornalista Fabiano Maisonnave, “o resultado é que o novo casco urbano (de Lhasa) se assemelha a qualquer cidade chinesa, com avenidas largas e prédios sem nenhum atrativo arquitetônico maior. Em alguns comércios, os letreiros estão em mandarim, esquecendo o tibetano e sua grafia própria” (Maisonnave, 2012)

Para além das questões políticas, o Tibet vê-se pressionado pelo processo de globalização que, por meio do desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação, altera a conformação do espaço planetário. A globalização como já sabemos não é uma via de mão dupla na qual as partes interagem em igualdade de forças; pelo contrário: na globalização vemos a acentuação dos processos hegemônicos de aculturação e criação de uma cultura global. Os brasileiros Milton Santos (2008) e Otavio Ianni (1992) já apontaram nos anos 1990 os efeitos nefastos da globalização: a criação de um espaço mundial homogeneizado e encabeçado por forcas políticas hegemônicas; a alteração de modos de vida tradicionais que se veem pressionados pelos imperativos do consumo globalizado.

Cartaz do filme "Sete anos no Tibete" (TriStar Pictures/USA; Entertainment Film Distributors/UK)

Cartaz do filme “Sete anos no Tibete” (TriStar Pictures/USA;
Entertainment Film Distributors/UK)

A globalização se fez presente no Tibet também por meio do filme “Sete anos no Tibet” (1997), dirigido pelo francês Jean Jacques Annaud, estrelado por Brad Pitt e filmado, na verdade, em Mendoza (Argentina) frente à falta de autorização por parte do governo local. Recente pesquisa acadêmica aponta que “muitos países observaram o aumento do número de turistas após sua exposição no cinema” (Silva et al, 2011: 369) e que o cinema é importante ferramenta de divulgação turística. Mas frente à invasão turística em massa dos últimos anos, faz-se necessário  avaliarmos os benefícios e os estragos causados na cultura local por este processo e, ademais, qual a real necessidade desse tipo de divulgação turística frente à frágil situação política e cultural do Tibet. A quem interessa a invasão de turistas chineses e estrangeiros que o Tibet presencia?

Para além desse aspecto preocupante do processo de globalização podemos apontar outro ponto de vista. Se, por um lado, “o hipercapitalismo desponta como o império da homogeneização globalizada dos produtos, dos consumidores e das culturas” (Lipovetsky  e Serroy, 2011: 114), ao mesmo tempo sabemos que a erradicação das diferenças culturais por meio da globalização padronizante não ocorreu como imaginavam as perspectivas catastróficas; o “princípio da glocalização”  pressupõe que a “gestão intercultural empenha-se em combinar o universal com o particular, o racional com o tradicional, a unidade moderna com a diversidade dos costumes”  (Lipovetsky  e Serroy, 2011: 115). Ou seja, a cultura global articula-se de forma complexa à local, mas sem necessariamente apaga-la, pelo contrário, surgem formas de resistência e mesclas que atestam a vitalidade da cultura local. (Mira, 1994). No caso do Tibet infelizmente pouco se percebe dessa vitalidade da cultura local; muito pelo contrário, a cultura tibetana parece aos poucos sucumbir à cultura globalizada que chega com o turismo externo e estrangeiro e principalmente com o turismo interno estimulado pelo governo chinês como estratégia política de incorporação cultural do Tibet ao governo central. Apesar disso, no documentário citado vemos o presidente da Associação de Escritores do Tibet, Ta Shi DA WA, afirmar: “o tipo de vida que se impõe com a globalização deve conviver com as tradições, não há por que excluírem-se mutuamente. O que temos que encontrar é uma forma de rearticular o modo de vida globalizada às tradições, fazer uma fusão das duas coisas”. Assim, ao mesmo tempo em que a dominação chinesa, a globalização e o turismo de massa põem em risco tanto a cultura quanto o ecossistema do Tibet, surgem vozes resistentes que reivindicam o direito à manutenção das tradições, das crenças e do modo de vida tibetanos, mesmo frente à inevitável e rápida transformação que estão vivenciando.

Turistas em Lhasa, capital do Tibet. Fonte: http://brcdaily.com/site/tibet-apresenta-elevacao-no-turismo/

Turistas em Lhasa, capital do Tibet. Fonte: http://brcdaily.com/site/tibet-apresenta-elevacao-no-turismo/

Referências bibliográficas

CASTRO, Haroldo. “Tibete, paraíso e inferno”. Revista Época, edição 504, 11/01/2008. Disponível em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG81041-6014-504,00.html  > Acessado em 21/11/2013.

IANNI, Octávio. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992.

LIPOVETSKY, Gilles e SERROY, Jean. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo: Cia das Letras, 2011.

MAISONNAVE, Fabiano. “Turismo desenfreado traz mudanças à capital Lhasa”. Jornal Folha de São Paulo, 13/09/2012. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/65913-turismo-desenfreado-traz-mudancas-a-capital-lhasa.shtml  > Acessado em 21/11/2013.

MIRA, Maria Celeste. “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”. In: Revista Margem, n.3, dezembro de 1994, p. 131-149

SANTOS. Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2008.

SILVA, Rejane dos Santos (et al). “Turismo e cinema: promoção turística a partir do filme “Sete anos no Tibete”. Revista Rosa dos ventos. Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade de Caxias do Sul. Jul/dez 2011, vol. 3/n.3. Disponível em http://ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/1117/pdf_57 > Acessado em 21/11/2013.

Netgrafia

Documentário “China: tradiciones y contradicciones”, parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=Ycbu7bONaYs   > Acessado em 21/11/2013

Documentário “China: tradiciones y contradicciones”, parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=yP-yzXZts2g> Acessado em 21/11/2013

Página do Movimento Tibete Livre – Brasil:  http://tibetelivrebrasil.blogspot.com.br/ > Acessado em 21/11/2013

Filme “Sete anos no Tibete”. Trailer oficial disponível em http://www.youtube.com/watch?v=l_IGypkra3E

Cultura: limites, resistência e efeitos.

por Lucas Morais

A cultura é um atrativo turístico forte, cada vez mais buscado pelos viajantes que tentam fugir do turismo de massa – principalmente na atual condição de mundo globalizado – e sim se envolver em um turismo experimental, o famoso turismo cultural e ecoturismo.

A resistência das culturas locais sobre a globalização vem na sua maioria sendo utilizada como atrativo turístico e não somente para meio de preservação, claro que ambas as utilidades vem trabalhando em conjunto, uma não anulando a outra. Porém isto nos deixa alguns questionamentos: até que ponto esta resistência é real ou mito? Proveniente da população que sofre grandes alterações no seu estilo de vida ou novamente do interesse de um mercado econômico? A resistência seria uma nova cultura?
Como vemos em diversos pontos pelo mundo, temos diversos passeios bem cotados sendo comercializados com apresentações “típicas locais”, porém isto seria a vivência de uma cultura real ou mito? Exemplo de Lima que oferta todas as noites um jantar com apresentação de danças típicas Peruana, sabemos que são danças de diversos lugares do Peru, danças estas que muitas vezes caiu na rotina da população local e saiu de prática, ficando como apenas memória, ou não, também há a possibilidade efetiva da realização da dança em algum lugar, mas provavelmente em algumas datas específicas.  De qualquer modo, vemos claramente a valorização de uma “cultura” para fins totalmente econômicos, não que tal visão dê um tom de “negatividade” ao produto, pois indiferente da sua razão ele é o entretenimento de um grande público e salva a memória de um povo, porém temos que ser cautelosos na análise de preservação cultural e interesses mercadológicos, tarefa difícil, pois como diz HUTNYK (2006: 357)

“A cultura é parque de diversões e mercadoria, é o refinado e profundo e o mundano e extremo. Está cruzada, simultaneamente, pela identidade, pela tradição e pela mudança; é recurso, muralha, disputa. É a canção de ninar e a sinfonia em CD, assim como o olhar de um usuário de drogas quando se injeta. É a coleção de tigelas e panelas…e todo o mencionado está à venda. É o que nos faz humanos (…) não é algo separado da política, do comércio, da religião ou do ódio (…) que é cultura também.”

Fonte: http://www.limamentor.com/pt/post.php?id=894&cat=448

Fonte: http://www.limamentor.com/pt/post.php?id=894&cat=448

Portanto analisar o efeito dos interesses na cultura é algo minucioso, faremos um pequeno estudo de como ocorre com a nossa Amazônia e as culturas indígenas, povos já sofredores das mudanças impostas no decorrer da sua história.

Instalados diversos lodges ou bangalows na floresta Amazônica, são hotéis de luxo com serviços para um público de alto padrão, buscados pelos hóspedes para vivência na selva, mas dentro de um “conforto” de sua cidade grande. Foco em passeios pela selva, visitação a população local (aldeias indígenas, tribo de pescadores, etc) e experimentação de uma nova gastronomia. Busca esta que vem crescendo no Brasil, mas ainda maior em turistas estrangeiros pelo Brasil.

Fonte: http://www.jumalodge.com.br/galeria/hotel.php

Fonte: http://www.jumalodge.com.br/galeria/hotel.php

Desde o surgimento destes prestadores de serviços dentro do Ecoturismo, surgiu o estudo de elaboração de passeios para seus clientes e neste ponto adentramos no risco de apropriação de culturas e da prospecção de forma desleal da mesma. Veremos dois relatos representando alguns resultados, ora desleal, ora positiva, que uma vez foram debatidos em aula dentro da sala do 6º semestre (2013) na disciplina de “Cultura, Mercado e Globalização” ministrada pela profa. Dra. Rita de Cássia Alves Oliveira no curso de Turismo da PUC-SP:

- Neste primeiro caso, um amigo foi visitar em férias uma aldeia indígena, tida como intacta do mundo globalizado na sua oferta em um destes lodges que o mesmo se encontrava hospedado. Porém, presente se fazia um ator global das telenovelas brasileiras e no instante de sua chegada com o grupo, diversos índios solicitaram uma fotografia com o famoso, quebrando ali a proposta do passeio, pois aquele povo não era intacto desta cultura mais hegemônica que a globalização proporciona. Era um povo que todos os dias de passeios programados, se vestiam a caráter e realizavam danças típicas. Logo, as pessoas se submetiam a um passeio onde se mostrava uma memória e não uma realidade, o que são coisas diferentes e mesmo que seja esta a proposta, o ético é deixar isto de uma forma clara.

- O segundo caso foi a descoberta de uma aluna de RI nas suas férias com os pais de uma guia bilíngue índia que vivia de forma independente nos períodos de temporadas. Seu nome é Judy e tentamos contato por e-mail, mas infelizmente não houve resposta. Segundo esta aluna, ela aprendeu a administrar uma vida sozinha e a falar inglês com os estrangeiros que educaram sua tribo, empreendedores da região. Após as temporadas, a mesma regressava a sua tribo, esquecia o mundo de fora e pescava, nadava e vivia o cotidiano daquele povo. Podemos considerar este como um case positivo, pois a globalização permitiu uma nova fonte de recurso, ao mesmo tempo em que este povo se preocupou em manter sua cultura originária, de forma que é para enriquecimento próprio e não de um interesse meramente econômico turístico.

Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/cultura-indigena/cultura-indigena-7.jpg&imgrefurl=http://cultura.culturamix.com/regional/americas/cultura-indigena&h=398&w=566&sz=69&tbnid=VDaL1ofZwmabXM:&tbnh=90&tbnw=128&zoom=1&usg=__QjUuaHqK3YXn464mufiAlsRoYOE=&docid=xmM7MVepef_SBM&sa=X&ei=Us2WUsOMG9PKsQSPn4H4BQ&sqi=2&ved=0CEkQ9QEwBg

Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/cultura-indigena/cultura-indigena-7.jpg&imgrefurl=http://cultura.culturamix.com/regional/americas/cultura-indigena&h=398&w=566&sz=69&tbnid=VDaL1ofZwmabXM:&tbnh=90&tbnw=128&zoom=1&usg=__QjUuaHqK3YXn464mufiAlsRoYOE=&docid=xmM7MVepef_SBM&sa=X&ei=Us2WUsOMG9PKsQSPn4H4BQ&sqi=2&ved=0CEkQ9QEwBg

Casos como estes se repetem constantemente, fruto de uma dinâmica globalização versus resistência, seja por patriotismo de um povo ou pelo interesse do sistema econômico atual (oferta/demanda). Porém é ainda um tema onde pesquisadores estudam esta balança e refletem sobre seus efeitos, reflexão que levará anos de estudos. Minha contribuição a estas pesquisas é deixar outro questionamento a ser debatido: a globalização é uma cultura, logo, podemos considerar a resistência como outra cultura?

Referência Bibliográficas:

BARRETTO, Margarida.”Turismo e Cultura: Possíveis Relações Teóricas”. Cultura e Turismo: Discussões Contemporâneas. Editora Papirus. P. 9-34;

LIPOVETSKY, Gilles e SERROY Jean, “Cultura-mundo como mitos e como desafios”. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo, Cia das Letras, 2011, p. 110-147.

MATTOS, Kelly. O Processo de Globalização na Amazônia. In: http://kellymattos.spaceblog.com.br/521069/O-PROCESSO-DE-GLOBALIZACAO-NA-AMAZONIA/

OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. Cidadania e Globalização: povos indígenas e agências multilaterais. In: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832000001400006&script=sci_arttext

http://www.gentedeopiniao.com.br/fotos/files/Hotel%20de%20Selva_Viaje%20Mais.pdf

http://pt.shvoong.com/writing-and-speaking/branded-content/1982292-amaz%C3%B4nia-globaliza%C3%A7%C3%A3o/

http://jus.com.br/artigos/1699/globalizacao-e-amazonia

A revitalização em Puerto Madero

por Tatiana Rocha

Este bairro localizado as margens do Porto de Buenos Aires, antigamente era abandonado, com aspectos bem diferentes do que se encontra hoje. O engenheiro Eduardo Madero (daí a origem do nome dado ao local) foi quem construiu, idealizou o bairro, feito para interligar a cidade com o Porto que recebia navios vindos da Europa.
Por ser localizado do lado do rio da Prata, o bairro tinha enormes galpões onde eram guardadas as mercadorias, muitos descarregamentos que aguardavam serem distribuídos após sua chegada. Com o tempo, o aumento no tamanho dos navios, as inovações, chegada de novos meios de transportes, o Porto foi sendo menos utilizado, ficando ao relento, sem utilização.
Em 1989, houve uma reurbanização, com o intuito de recriar o bairro, com investimentos bilionários. O bairro foi todo reformado, assinado em sua maior parte pelo designer francês Phillippe Starck. Também houve a criação de uma ponte feita pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Hoje o bairro tem o metro quadrado mais caro de Buenos Aires, visto que com essa grande revitalização, o bairro que estava maltratado, obsoleto, abandonado e inutilizado, hoje virou um bairro luxuoso, que abriga os melhores restaurantes, variados hotéis famosos que pertencem a grandes redes internacionais, escritórios de grandes empresas e virou um ponto turístico requisitado da cidade, com seus belos boulevards (avenidas largas e extensas) as margens do rio e suas áreas verdes sempre bem preservadas. Suas ruas tem o nome de grandes mulheres que contribuíram para as diversas áreas, como a política, ciências, por exemplo.
O fato de haver esse planejamento estratégico em Puerto Madero, nos faz perceber que a região foi transformada em uma paisagem parecida com o que as grandes cidades globais têm, sendo bem arborizadas, possuindo grandes empresas mundiais que viram nesse novo bairro uma oportunidade de fincar e abocanhar um pedaço da economia.
Mas era necessário recriar um bairro? Essa revitalização nos faz pensar o por quê não ocorreu o questionado acima. Extraindo do texto ensinado em aula do Gean Lipovestky e Jean Serroy, ele escreve sobre a interferência que ocorre em relação a identidade dos povos, citando que filósofos e teóricos questionam se não está ocorrendo uma americanização pelo o fato de que as culturas estão sendo afetadas devido ao domínio das multinacionais americanas e a concentração das indústrias de comunicações.
Lipovestky comenta que há uma padronização que afeta os lugares, utilizando como exemplo as famosas cidades de Milão, Los Angeles, Paris e até Buenos Aires. Todas tem alguma semelhança em relação a seu visual, um padrão de como a cidade deve ser visualmente. Puerto Madero é um exemplo claro de semelhança com os bairros dessas cidades consideradas globais. O ‘cenário’ criado no bairro é ‘inspirado’ nas cidades citadas anteriormente.
Ao mesmo tempo que Puerto Madero mudou sua identidade visual, há ainda certa ‘resistência’ a algumas diferenças como por exemplo os muitos restaurantes que estão concentrados lá, inclusive filiais de restaurantes brasileiros, mas que são servidos neles em sua maioria, pratos tipicamente nacionais, como a parrilla argentina, as empanadas, alfajores, vinhos produzidos no país, entre outros.

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Fonte: http://viajandoadois.com/buenos-aires-2


Finalizando…

Grande parte dos galpões foram desativados e derrubados, para dar espaço a tudo o que vemos hoje. E é aí que pensamos, de fato, a globalização invadiu esse espaço. Tanto na hora de recriá-lo, quanto na hora de ocupá-lo. Ou seja, o que antes estava deixado de lado, deu lugar a um novo ‘panorama’, visto muito comumente em outros países.
Com Puerto Madero, há muitos itens envolvidos. O fato de que realmente a revitalização agregou, foi boa para o local, pois ajudou a voltar à área habitada, com todos os tipos de atrações, tornando-a um verdadeiro complexo, o que deu novos ares, literalmente a cidade. Principalmente a arquitetura, praticamente toda renovada. Mas era preciso deixá-la com a forma de uma cidade global? Por que não criar uma identidade?
Puerto Madero foi mais um espaço revitalizado com o jeito de tantos outros lugares. Ao invés de criar algo, aproveitando-se da sua própria cultura ou utilizar elementos que remetessem a cidade ou ao antigo espaço, a alternativa usada foi outra: a de se inspirar nas grandes cidades consideradas globais e deixá-las semelhantes, para que em seu imaginário criem, tenham a sensação de que estão em uma grande cidade, sem sair de sua cidade. O que pode ser considerado bom, dependendo do ponto de vista de cada pessoa.

puerto_madero_buenos_aires
Fonte: http://www.buenosairesturismo.com.br/cidade/puerto_madero.php

Bibliografia
Cultura e globalização
LIPOVETSKY, Gilles e SERROY, Jean. “Cultura-mundo como mitos e como desafios”. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo, Cia das Letras, 2011, pp. 110-147.

http://www.buenosairesturismo.com.br/cidade/puerto_madero.php

http://viajandoadois.com/buenos-aires-2

Os Impactos em Las Vegas

por Tatiana Rocha

Cassinos. A primeira palavra que nos vem à mente quando falamos sobre Las Vegas, a maior cidade do estado de Nevada, localizada no deserto de Mojave e mundialmente conhecida por seus luxuosos e imponentes hotéis temáticos, grandes festas, cassinos, apostas, jogos, compras e também pela prostituição, menos divulgada, obviamente. É um clima contagiante, já que a partir do momento que você desembarca no aeroporto, já encontra as máquinas de jogos disponíveis para usufruí-las.

Mccarran International Airport

Mccarran International Airport

Antes de virar uma cidade, os espanhóis descobriram essa região (daí o nome em espanhol), depois sendo habitada por mórmons vindos de Utah. Com a criação de uma ferrovia, o povoamento nessa região aumentou. Las Vegas passou a ser oficialmente uma cidade a partir do dia 15 de maio de 1905. Em 1931, foram legalizados os jogos de azar, aumentando a população da cidade, sendo inaugurado em 26 de dezembro de 1945 o primeiro grande cassino, pertencente ao gângster italiano Bugsy Siegel, chamado Flamingo Hotel (apelido de sua namorada na época).
Las Vegas tem como uma de suas principais características, seus hotéis inspirados em diversas cidades espalhadas de diferentes países. Você está olhando para as pirâmides inspiradas no Egito, quando chega logo na esquina está admirando a estátua da Liberdade e à sua frente à Torre Eiffel que fica em Paris (nome do hotel que homenageia a cidade). Caminhando pela Strip, a principal avenida de Las Vegas onde ficam a maior parte dos hotéis e seus cassinos, uns passos adiante você encontra Veneza e fica admirando suas gondôlas passeando água adentro. Las Vegas trouxe um pouco da cultura de cada país para dentro dos hotéis, mesmo que indiretamente, pois como está escrito no texto de Mike Feartherstone, ele escreve: “as culturas estão, por definição, vinculadas principalmente a interações e a relações sociais, e só indiretamente e sem necessidade lógica, vinculadas a áreas particulares no espaço físico”. Também podemos perceber que Las Vegas tem tendências cosmopolitas, já que mostra um pouco da cultura física de outros países. Las Vegas recebe muitos turistas cosmopolitas de todos os tipos, aqueles que querem vir atrás da cultura da cidade, seja pelo seus cassinos que sim, são considerado culturais, os museus e até seus artistas de rua, tão populares que tem até um bairro aonde você pode encontrá-los, no Downtown Arts District. Para Mike Featherstone, uma perspectiva do cosmopolita é isso, se envolver com o outro, se permitir experimentar culturas diferentes e observar os diferentes constrastes com a sua própria cultura.
Por a cidade ser um dos poucos lugares que permitem jogos de azar, muitos turistas são atraídos. Fora os shows, espetáculos, eventos em geral que chamam muita atenção para quem procura estar em constante movimento. É raro ver alguém aborrecido ou sem ter o fazer. Pelo o contrário, Vemos muitos turistas sem saber o que fazer, já que são tantos atrativos que ‘dificultam’ a escolha sobre o que fazer ou por onde começar.
De acordo com Marc Augé, em seu texto onde ele escreve sobre os Não-Lugares, podemos compreender que os hotéis, muito presentes em Las Vegas são considerados não-lugares de acordo com uma de suas compreensões, já que são lugares feitos para transitar, onde o fluxo é intenso e não para. Mas também vemos que a cidade em si é um lugar antropológico, já que ela tem sua própria identidade e desenvolveu uma história, uma cultura que alavancou Las Vegas como a cidade dos jogos, das festas. Podemos também verificar o questionamento de Augé sobre a supermodernidade em relação aos não-lugares. Ele escreve “ se os não-lugares são o espaço da supermodernidade, esta não pode, portanto, pretender as mesmas ambições que a modernidade.” Vemos que os aeroportos, os hotéis, os lugares que as pessoas apenas utilizam para transitar são considerados supermodernos e Las Vegas oferece muito desses lugares por ser uma cidade turística.
Las Vegas acompanhou a modernidade, virou um lugar que recebe muitos turistas transitando pelas avenidas principais o tempo inteiro, um verdadeiro complexo de lazer que teve um rápido crescimento, trazendo também pontos negativos, como a máfia que existe por conter esses jogos de azar e a disputa entre os mafiosos, conhecidos como gangster. Muitos especulam que alguns grandes hotéis são construídos com dinheiro da máfia, afinal, jogos de azar dão uma margem de lucro muito alta. A prostituição, em sua maior parte de luxo, também existe e apesar de ser considerado um crime, o que mais se encontra na principal avenida são latino americanos distribuindo panfletos com mulheres seminuas e espécies de carros com propagandas, também divulgando os telefones e aonde pode encontrá-las. Por ser ilegal, não está escrito explicitamente o que elas fazem, geralmente são mulheres que pertencem a clubes de strip-tease, mas todos sabem o que realmente ocorre caso você esteja em busca dos anúncios apresentados.
Las Vegas é uma cidade recente, que está em constante crescimento, sendo a cidade que mais cresce nos Estados Unidos. Hoje já conta com uma infraestrutura para crianças e que vai além de sua concorrida e principal avenida, Strip, tendo também o lado da cidade comum, com condomínios residenciais, prédios imponentes, natureza exuberante, mesmo sendo localizada em um deserto, uma região árida, é uma típica cidade americana que recebe muitos turistas em uma determinada região.
A Sin City se orgulha do que se tornou hoje, com todos seus bônus e ônus, conseguindo transformar uma cidade localizada no meio do deserto em uma das principais cidades que mais recebe turistas nos Estados Unidos e na América do Norte. Uma cidade única que te proporciona sensações diversas e muitas vezes únicas, tendo o turismo como principal fonte de renda, e que agora recebe muitas empresas e indústrias vindo atrás desse crescimento demográfico e visando o futuro que Las Vegas pode oferecer.

Acervo Pessoal
Acervo Pessoal
Acervo Pessoal (Foto tirada por Tatiana Rocha)

Bibliografia

http://www.viajarpelomundo.com.br/turismo-las-vegas/

Featherstone, Mike. Cosmopolitas e Locais na Cultura Global pág. 251 à 263

Augé, Marc. Não Lugares Introdução a uma Antropologia da Supermodernidade pág. 73 à 105

O turismo de pesca na comunidade do Porto da Manga (Corumbá-MS)

por Luiz Ortiz

INTRODUÇÃO

O Pantanal é a maior área inundável do mundo, possui uma área de 138.183 km², abrangendo parte do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estendendo-se ainda por mais dois países o Paraguai e a Bolívia.

O Pantanal é considerado um dos mais conservados ecossistemas do planeta e possuidor de uma grande diversidade biológica, tendo sido declarado pela UNESCO, diante deste cenário, como Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera.

Ao longo dos rios que abrangem o Pantanal vivem diversas comunidades de pescadores que têm nestes sua principal fonte de sustento, praticando a pesca e a coleta de iscas vivas, porém a principal atividade econômica da região é a pecuária.

O foco principal deste texto é a comunidade da Vila do Porto da Manga, localizada a 60 km da cidade de Corumbá, no Pantanal Sul Mato-grossense.

Um dos acessos à comunidade é a Estrada Parque Pantanal Sul, como o próprio nome diz é uma espécie de Parque Natural ao longo dos seus 120 km, em que os visitantes desfrutam das janelas de seus veículos, das belezas do Pantanal.

O Porto da Manga é uma comunidade de profissionais da pesca que nos últimos anos passaram a se dedicar também a atividades ligadas ao turismo de pesca, como guias e piloteiros de barcos. Em termos de mão-de-obra, a pesca e o turismo desempenham um papel de suma importância na vida dos ribeirinhos dessa localidade, pois esses dois setores da economia empregam boa parte dos moradores.

Com o advento do turismo de pesca surgiu também uma nova demanda no trabalho desses ribeirinhos, a venda de iscas vivas para a captura de peixes nobres por parte dos turistas. Essa necessidade de aquisição de iscas vivas contribuiu para o surgimento de uma nova categoria de trabalho, a dos catadores de iscas vivas, também conhecidos como “isqueiros”, a qual hoje é uma das mais lucrativas fontes de renda no local.

Com essa nova oportunidade de trabalho, muitas famílias que viviam no meio urbano, marginalizadas por falta de oportunidade de trabalho, se mobilizaram em busca dessa nova alternativa. Assim, ao longo do Pantanal encontram-se várias famílias que dedicam boa parte do seu tempo à atividade de coleta de iscas vivas.

A comunidade do Porto da Manga ficou, durante anos, esquecida pelo governo. Esses ribeirinhos não eram incluídos em políticas públicas, tais como: saneamento básico, escola, posto de saúde, energia elétrica, entre outros e aquelas destinadas à trabalhadores de baixa renda; mesmo a comunidade localizando-se próxima à cidade de Corumbá (aproximadamente 60 km). Essa comunidade já vivenciou o auge de sua economia com o turismo de pesca na década de 1990, mas mesmo nessa época, de apogeu econômico, quando ali residia grande número de famílias, não teve as atenções devidas para a solução dos seus problemas.

A crise em que se encontra a atividade pesqueira, em termos de captura e comercialização do pescado, e da dificuldade da reprodução social do grupo que pratica esta atividade, que sofre com as oscilações do mercado turístico local.

 A PESCA

O tipo de pesca realizada por um determinado grupo pode diferenciar-se quanto às suas atuações socioeconômica e ecológica. Por exemplo, a categoria de pesca artesanal e sua particularidade que consiste em ser uma atividade econômica que depende das forças naturais, tendo como conseqüências imediatas fatores que influenciam na regularidade da captura, na geração do produto excedente e nos grupos que são envolvidos. Apesar dos esforços do governo estarem centralizados na pesca industrial-empresarial, os pescadores artesanais representam um número significativo diante das atividades pesqueiras e exercem um papel fundamental no fornecimento de proteína a baixo custo.

Por outro lado, esses pequenos pescadores, também chamados de pescadores artesanais, por utilizarem tecnologia simples para exercer a sua atividade econômica. Até mesmo são considerados ociosos por não trabalharem com regularidade.

Mas, esses trabalhadores são altamente qualificados, sendo esta qualificação adquirida através do contato cotidiano com a natureza, o que faz deles possuidores de um vasto campo de conhecimento sobre sua atividade econômica e ao ambiente em que é realizada. Na sua maioria, são produtores que combinam a pesca com outras atividades, na busca por minimizar os riscos e aproveitar os períodos da entres safra, exercem outras atividades trabalhando, por exemplo, na agricultura, no extrativismo, no artesanato, entre outras.

É importante, no entanto, como mostra Diégues (1995), saber a diferença entre pescador artesanal e de auto-subsistência:

“ É preciso não confundir pescador artesanal com o pescador de subsistência pois os pescadores artesanais produzem principalmente para a venda e como todo pequeno produtor é dependente do mercado, através da teia de intermediários e ”marchantes”. É um pequeno produtor que participa diretamente do processo de pesca, dono de um cabedal enorme de conhecimentos e dos instrumentos de trabalho, operando seja em unidades familiares seja com “camaradas” ou companheiros. O excedente produzido é relativamente pequeno e as técnicas de captura são em geral simples, mas adaptadas aos ecossistemas litorâneos tropicais marcados por um grande número de espécie de pescado. ”(p.86).

Os trabalhadores do Porto da Manga se encaixam na categoria de pescador artesanal, também são detentores de um vasto conhecimento sobre a fauna e flora local. Apesar de serem detentores de todo esse conhecimento, ainda assim, dependem dos intermediários por não possuírem bens materiais para fazer o transporte do seu produto até a cidade.

 SABER TRADICIONAL

Para Diegues & Arruda (2001, p.31) conhecimento tradicional é definido como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural, um conhecimento transmitido de geração em geração oralmente.

Os povos indígenas e as comunidades tradicionais, espalhadas pelo litoral e interior do Brasil dominam um grau de conhecimento sobre a diversidade biológica que é imensurável. Por exemplo, a forma de elaboração de técnicas complexas, que possibilitam transformar grãos ou raízes tóxicas em alimentos. Esse saber dos povos indígenas influenciam até hoje a vida social, econômica e deixa como herança também um poder adaptativo ao meio em que vivem.

Os isqueiros do Porto da Manga, por viverem em uma área que faz parte da Estrada Parque Pantanal Sul (um parque natural), esta, também tida como Área de Especial Interesse Turístico (AEIT), não podem fazer assim, coleta de iscas vivas, nas baías, lagoas e corixos existentes à beira dessa estrada. Essa proibição ocorre tanto pelo fato de existirem fazendas à beira dessa estrada, quanto pelo impedimento pela legislação ambiental.

 ATIVIDADE ECONÔMICA

Na comunidade do Porto da Manga a atividade econômica predominante é a pesca profissional artesanal, sendo que é realizada pelos trabalhadores do local tanto a pesca praticada no rio, quanto à pesca de pequenos crustáceos encontrados em baías e corixos da região, atividade esta denominada de coleta de iscas vivas, a qual dá suporte ao turismo de pesca. A economia local também é beneficiada pelo turismo de pesca, este gera empregos direta ou indiretamente para esses moradores, pois alguns além de pescarem ou coletarem iscas vivas, ainda trabalham em outra atividade ligada diretamente ao turismo, tais como: aluguel de ranchos aos turistas vindos de outros estados; o hotel que emprega alguns moradores para trabalharem como piloteiros dos barcos alugados para turistas, guias de pesca, faxineiras e cozinheiras. Mas, nem todos piloteiros de barco e guias de pesca trabalham no hotel, existem aqueles que trabalham por conta própria.

 Nota-se, ainda, neste contexto da atividade econômica local, que os moradores melhores remunerados são:

1° os piloteiros de barcos;

2° pescadores profissionais artesanais;

3° coletores de iscas vivas.

 Além da problemática de não terem perspectivas de trabalhos nas cidades, ainda vivem em condições subumanas e enfrentam diversos conflitos gerados pelo turismo.

Muitos dos coletores de iscas vivas não possuem barcos motorizados, o que os impossibilita de buscar o produto em locais menos explorados, fazendo com que a disputa pelo produto, disponível em espaços mais próximos seja mais intensa.

Sendo assim, a posse de embarcações é um fator importante para o trabalho ser bem sucedido. Porém, deve ser levado em conta que os pescadores e os isqueiros do Porto da Manga, não constituem duas categorias totalmente distintas e sem relação uma com a outra. Além do grau de parentesco e amizade, muitas vezes existentes entre os atores dessas duas categorias, é preciso atentar para o fato de que em muitos períodos do ano um pode realizar a atividade do outro, pois durante o trabalho de campo foi possível notar que geralmente quem coleta iscas também pesca em um determinado momento, tanto para subsistência quanto para comércio, neste último caso, se houver algum comprador.

Uma outra ligação entre as duas categorias citadas é a comercial, muitos pescadores profissionais artesanais quando não coletam iscas vivas para pescar precisam comprar dos isqueiros. Por fim, ainda há uma relação comercial entre isqueiros e os piloteiros de barcos, que intermediam a compra das iscas vivas usadas pelos turistas que passam pela região.

Quanto aos instrumentos utilizados para pesca profissional-artesanal nos rios são: barcos motorizados, canoas, anzóis, varas de bambu, linhas de mão,iscas vivas ou artificiais. Uma característica da pesca artesanal é a simplicidade de seus instrumentos.

Já para a coleta de iscas vivas, que é realizada em baías e corixos, “os isqueiros” usam: telas, para coletar as iscas e macacão para se protegerem das adversidades do local quando ficarem imersos na água. E, para armazenarem as iscas até chegarem à comunidade colocam as iscas em baldes grandes ou tambores. Ao chegarem ao Porto da Manga transferem as iscas vivas para os devidos reservatórios.

O uso do macacão é uma conquista fundamental para esses trabalhadores que por muitos anos se arriscaram nos rios, baías, lagos e lagoas pantaneiras em busca de sua sobrevivência sem nenhum tipo de segurança contra as adversidades da natureza. As iscas vivas mais coletadas pelos isqueiros da região são em primeiro lugar, a tuvira (Gymnotus Carapo), depois o caranguejo (Dilocarcinus pagei) seguido de outras espécies, tais como, a pirambóia (Lepidosirem paradoxa), o cascudo (Hoploternum littorale), o jejum (Erythrinus erytrinus) e o muçum (Synbranchus marmoratus).

grafico

[Fonte (SCPesca/MS, 2008) Dados adquiridos em pesquisa realizada sobre o Comércio e Captura de Iscas Vivas na Bacia do Alto Paraguai – Dr. Agostinho Carlos Catella.]

No Porto da Manga, tal como os homens, as mulheres também trabalham diretamente com a pesca, envolvendo-se em uma atividade árdua e perigosa.

Sendo a atividade de coleta de isca essencial para a continuidade da atividade do turismo de pesca na região do Porto da Manga, atualmente no Porto da Manga, “80% dos isqueiros são mulheres”, sendo que os maridos vão pilotar e pescar com os turistas, e as mulheres ficam para capturar as iscas para a comercialização.

CONCLUSÃO

Com a realização desta pesquisa foi possível perceber que a Comunidade do Porto da Manga já vivenciou o auge da sua economia com o turismo de pesca, na década de 1990, mesmo assim esteve esquecida durante anos pelo governo. Hoje o número de turistas que passa pela comunidade é baixo, mas mesmo assim, esses trabalhadores da pesca lutam contra as dificuldades socioeconômicas para se manterem como pescadores.

Com a implantação dos projetos sociais:

  • DIRETRIZES PARA O MANEJO SUSTENTÁVEL DA ATIVIDADE DE COLETA DE ISCAS VIVAS NO PANTANAL DE MATO GROSSO DO SUL. 

Esse projeto é parte integrante do Projeto de Implementação de Práticas de Gerenciamento Integrado da Bacia Hidrográfica para o Pantanal e Bacia do Alto Paraguai (ANA/ GEF/ PNUMA/ OEA), ECOA E UFMS, as instituições proponentes foram a UFMS e a ONG, ECOA.

  • UNIDADE MÓVEL PARA AÇÕES DE CAPACITAÇÃO, PRODUÇÃO E APOIO AOS PESCADORES DE ISCAS VIVAS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA ESTRADA PARQUE PANTANAL NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL

Visa promover a melhoria da qualidade de vida das comunidades de pescadores de iscas vivas na área de influência da Estrada Parque Pantanal Sul, através da implantação de uma Unidade Móvel, para treinamento, capacitação, educação ambiental e implementação de parcerias nas áreas de saúde, educação e inclusão social.

  •  FORTALECIMENTO DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA COMUNIDADE DO PORTO DA MANGA

 Este projeto tem como objetivo a aquisição de alguns materiais tais como: uma balança eletrônica e GPS, estes instrumentos serão utilizados na realização de pesquisas com iscas vivas; e recursos solicitados também para realização de reuniões e oficinas de capacitação na comunidade.

  •  PROJETO LUZ PARA TODOS

Tem como objetivo levar as redes de energia elétrica para a população do meio rural até o ano de 2007. Esta conquista contou com a parceria do Ministério da Energia, Associação de Moradores do Porto da Manga e a ECOA.

  •  PLANO DE MANEJO DA ESTRADA PARQUE PANTANAL

Esse Plano de Manejo tem como objetivo promover o desenvolvimento turístico, assegurando a preservação e valorização do patrimônio cultural e natural, dando assim uma visão mais ampla da Estrada Parque Pantanal.

  •  QUEDA DA TAXA DE MORTALIDADE DE ISCAS VIVAS

O índice de mortalidade das iscas coletadas na região do Pantanal era muito alto até então.

Alguns ganhos foram obtidos, tais como, novos instrumentos e técnicas de trabalho, manejo adequado das iscas, facilidades trazidas pelo abastecimento de energia elétrica, maior diálogo entre pescadores e órgãos de fiscalização e uma maior organização entre os moradores em comparação ao período anterior à implantação desses projetos.

Isso se deve ao fato de haver uma articulação, entre a comunidade, instituições governamentais e não-governamentais. Pois o trabalho em conjunto fez com que a atividade da pesca diminuísse o seu impacto ao ambiente, através de aulas de educação ambiental para esses moradores, fazendo com que esse meio de renda se tornasse mais sustentável.

Hoje observa-se parcerias entre a associação de moradores e Ibama para realização de estudos e pesquisas que beneficiem ambas as partes. Um outro ponto de destaque além da maior representação social desses ribeirinhos, é a melhoria da renda e da qualidade de vida. Com a inserção de novas técnicas e novos instrumentos de trabalho, ocorre hoje o manejo adequado do produto e uma melhor qualidade de vida, pois a utilização do macacão pelos isqueiros não os deixam expostos aos riscos oferecidos pela atividade. Muito já foi feito por esta comunidade, mas há muito o que fazer ainda, o maior desafio hoje e que só poderá ser resolvido pelos moradores é a questão da organização social. Ainda há muitos conflitos dentro da comunidade, sabe-se que estes não serão resolvidos assim facilmente, mas somente com a organização interna da comunidade esses moradores terão maior força para lutarem contra as dificuldades.

Poderão assim solicitar junto aos órgãos competentes, uma melhor estrutura para a escola, posto de saúde, transporte coletivo e coleta de lixo. Um problema inicial a ser solucionado deve ser a utilização adequada da Casa de Iscas, pois é passado aos turistas que lá é um local de uso coletivo, mas isso não ocorre, não são todos que usam esse depósito, há os que preferem armazenar dentro de casa as iscas vivas. Isso desfavorece esses isqueiros pois os turistas dificilmente vão até as casas para comprarem iscas, adquirem ali no porto por ser um local de fácil acesso. Por fim, os projetos implantados deram  certo, atingiram os objetivos propostos e tiveram um boa aceitação por parte da comunidade.

Vale destacar que algumas dificuldades surgiram e que estas poderiam ser amenizadas através de uma melhor organização da comunidade, onde os moradores poderiam deixar de lado as diferenças e se atentarem ao bem comum.

 

 

 

Uma nova Ibiza, onde festa não é sua cultura originária.

por Lucas Morais

Ninguém pensa em Ibiza como uma ilha historicamente importante, somente a resumem em uma ilha badalada. Mas por quê? Tudo se dá devido a história do seu desenvolvimento turístico, que ao decorrer dos anos, ao se tornar de massa, ganhou uma dimensão que fugiu do controle dos órgãos públicos, criando assim uma imagem que perdura até os dias de hoje: festas, sexo e drogas. Vejamos só como a CI (Central de Intercâmbio) vende a cidade Ibiza, capital da ilha de mesmo nome: “Sol, praia, gente bonita e (muita) festa. Combinação perfeita que faz de Ibiza a capital mundial da balada e uma das ilhas mais calientes do planeta. Neste paraíso natural espanhol, são 18 km de praias belíssimas, com areia branquinha e água azul cristalina do Mediterrâneo. Só não estranhe o topless, liberado e bastante comum por lá.” (Fonte: http://www.ci.com.br/guia-mundo/especial-cidades.ibiza), percebe-se como é ressaltada a vida agitada da cidade durante esta descrição, se continuarmos lendo a sua apresentação, veremos praticamente a mesma preocupação sendo constante: mostrar a diversão de Ibiza, mas não o conhecimento que ela soma ao individuo que a visita. Esta é a atual dificuldade da ilha, mudar seu conceito e recuperar a sua importância histórico-cultural no produto turístico, trabalho que a mesma vem executando arduamente e assunto que discutiremos no decorrer deste artigo.

Primeiramente vamos entender a ilha Ibiza, ok?
Localizada a leste da Espanha, é parte do arquipélago e das famosas Ilhas Balneárias do país. Sua história é rica, embora ainda pouco comentada na sua oferta, mas vamos aqui sintetizar para efeito introdutório ao local: Há dados documentados de assentamento humano desde o século VII a.C., com a chegada dos fenícios que a batizaram pelo nome “Ibosim” – que significa “cidade do deus Bes” -, ficou anos sobre o domínio dos fenícios, até ser conquistada pelo império romano e seu nome se mudar para “Ebusus”, mais tarde passou para as mãos dos mulçumanos e se converteu em “Yabisa”, somente no século XII foi conquistada pelos catalães, e foi neste período que se originou o nome “Elvissa”, foi então aí que finalmente passou fazer parte do reino da Espanha como Ibiza – tradução de Elvissa.
A ilha tem 571 km quadrados, na qual a sua capital pelo mesmo nome ocupa somente 11,4 km quadrados, o menor município territorialmente dos cinco que ali habitam e a maior em densidade demográfica, considerada uma cidade cosmopolita, pois convivem hoje com cerca de 100 nacionalidades estrangeiras distintas que representam 20% da população total, ou seja, uma cidade que trata bem as diferenças culturais e tenta adequar alguns pontos, como a gastronomia, se tornando confortável a vivencia nela.

Após esta pequena introdução histórica, vamos compreender o motivo pela qual ocorreu a criação desta imagem que se perdura, construindo um linear do seu desenvolvimento turístico no decorrer dos anos.
A herança cultural das diferentes civilizações que passaram pela ilha se manteve intacta durante séculos e foi o principal atrativo para os primeiros viajantes que a frequentavam, na sua maioria artistas, sobretudo escritores como Walter Benjamin, Rafael Alberti, Émile Michel Cioran, em princípios dos anos 30. Em fins dos anos 50, a sua beleza natural deslumbrou pintores que encontrou inspirações diferentes e vivas, fugindo do Ocidente Industrial do pós-guerra.
Esse encanto ancestral foi valorizado também pelos hippies que buscavam espaço de liberdade e forma de vida simples ligada à natureza. Porém a partir dos anos 60 esta preocupação foi sendo sufocada pela invasão de um turismo de massa que assolou toda a costa da Espanha, eram na sua maioria pessoas ricas, jovens e estrangeiras provenientes da Inglaterra, França, Alemanha e Itália. Sabemos que os anos 60 foi um período de crescimento econômico na Europa, o que explicaria este turismo de massa como um reflexo deste aumento de recursos econômicos e Ibiza como apenas um local que se aproveitou desta oportunidade para dar um aceleramento na sua economia local, pois segundo Margarita Barretto em um modelo econômico são os turistas que constituem a demanda e os que criam atrações e/ou as próprias atrações, juntamente com os prestadores de serviços, que constituem a oferta. Logo, não teria muita demanda, se a oferta não aumentasse em paralelo, percebe-se então nesta fase um crescimento descontrolado de redes hoteleiras, restaurantes e casas noturnas, proporcionando assim oferta para esta nova demanda, jovens ricos em férias paradisíacas e regadas de muita festa e diversão, fama que foi se dissipando pelo mundo e se constitui a imagem de ilha badalada.

Claramente este interesse econômico foi maior do que a preocupação de manter a sua cultura local preservada, como em vez de ser conhecida como o lugar da música eletrônica, ser conhecida como o da música “Ball Pagés” – ritmo do baile tradicional primitivo -, hoje considerada folclórica e voltou a ser representada nesta busca que a Ilha faz de recuperar suas importâncias de origem. A resistência demorou, mas veio a tona a partir dos anos 90, fazendo assim em 1999 a sua candidatura para integrar a lista de Patrimônio Mundial ser entregue, e em dezembro do mesmo ano foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, por um critério misto de biodiversidade e cultura. Como discutido pelo Gilles Lipovetsky e Jean Serroy em “A cultura-mundo” e também pela autora Maria Celeste Mira em seu texto “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”, a erradicação das diferenças culturais pelo mercado não resiste ao exame dos fatos, pois em um momento há o fortalecimento destas diferenças. Por isto o surgimento do termo globalização, a ação de pensar global e agir local, pois as identidades culturais típicas de cada são fenômenos bem vivos, a gestão intercultural empenha-se em combinar o universal com o particular, o racional com o tradicional, a unidade moderna com a diversidade dos costumes. Embora Ibiza tenha demorado para entender este termo, houve a necessidade de proteger a Ilha de apagar sua memória e então a busca de valorizar sua história e valores. Começaram com restauração de todos os edifícios e centros históricos, musealização de recintos amuralhado e de resquícios arqueológicos e com uma mudança no seu Plano Diretor do Turismo, que foi reconhecido como Plano de Excelência e teve a gestão de Elisenda Belda. O Plano mostra como a ilha, que é uma Meca do turismo mediterrâneo, procura livrar-se da imagem de cidade do turismo predatório do sexo, drogas e discotecas para organizar-se de acordo com a sua nova condição de patrimônio da humanidade, conforme plano cultural que busca harmonizar preservação do ambiente, turismo sustentável e cultura.

Embora é importante a valorização histórico-cultural da ilha, a mesma deve trabalhar de uma forma que mescle estes interesses e atenda aos diversos públicos, claro que tentar erradicar o turismo sexual existente seria e é o ideal, mas erradicar a cultura eletrônica agora instalada é de tudo mudar totalmente a estrutura construída para esta demanda, digo assim as redes hoteleiras e as casas noturnas. Estes são não-lugares (lugares não antropólogo) construídos para passagem rápida dos visitantes, mas que muitas vezes por alguma lembrança ali criada se tornaram lugares para muitos turistas, pois como cita Marc Augé “O lugar e o não-lugar são, antes, polaridades fugidias: o primeiro nunca é completamente apagado e o segundo nunca se realiza totalmente.”, os residentes locais sempre buscarão manter suas raízes e os visitantes, embora que de passagem – e em lugares muitas vezes construídas para isto -, muitas vezes iniciar-se uma nova história ali, como o conhecer um novo namorado ou qualquer outra coincidência da vida.
Portanto, apresentamos uma nova Ibiza, onde encontramos outros valores e hoje busca a valorização destes, mas acrescentamos que um bloco da história não deve ser apagada e sim compartilhada, podendo assim talvez em um novo plano diretor, tentar mesclar estes diferentes segmentos do turismo e atender aos diversos públicos, aos jovens e aos aproveitadores deste conteúdo histórico-cultural da ilha.

Fonte: http://www.ibiza.travel/tools/upload/articulos/art_00270_img_02.jpg

Fonte: http://www.ibiza.travel/tools/upload/articulos/art_00270_img_02.jpg

Fonte: http://www.ibiza.travel/en/empresa.php?fid=1252&ct=monuments

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Fonte: http://www.ibiza.travel/en/empresa.php?fid=1260&ct=monuments

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Fonte: http://www.ibiza.travel/es/ballpages.php

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Fonte: http://www.ibiza.travel/es/articulo.php?fid=784&ct=playas

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Referências Bibliográficas:

LIPOVETSKY, Gilles e SERROY Jean, “Cultura-mundo como mitos e como desafios”. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo, Cia das Letras, 2011, p. 110-147.

MIRA, Maria Celeste. “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”. In: Revista Margem, n.3, dezembro de 1994, p. 131-149.

AUGÉ, Marc. “Dos Lugares ao Não-lugares”. Os não-lugares, Papirus Editora, p.71-105.

HANNARZ, Ulf. “Cosmopolitas e locais na cultura global”. IN: FEATTHERSTONE, Mike. Cultura Global: nacionalismo, globalização e modernidade. Petrópolis, Vozes, 1999. p. 251-265.

BELDA, Elisenda. “Reinventando Ibiza a partir da cultura”. A Cidade pela Cultura. São Paulo, Editora Iluminuras / Itaul Cultural, 2008, p. 153-160.

KING, Russel. “A geografia, as ilhas e as migrações numa era de mobilidade global”. Actas da Conferência Internacional –  Aproximando Mundos: Emigração, Imigração e Desenvolvimento em Espaços Insulares, Lisboa, Fundação Luso-Portuguesa, 2010, p. 27-62.

KORMIKIARI, Profa. Dra. Maria Cristina Nicolau. “Movimentação Fenício-Púnica no Mediterrâneo Ocidental: novas perspectivas a partir dos estudos em arqueologia na paisagem”. IN: Mare Nostrum, ano 2012, n. 3.

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http://europa.eu/about-eu/eu-history/1960-1969/index_pt.htm

http://www.ibiza.travel/img/descargas/1_en_mapa_playas.pdf

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0508200719.htm

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/10/burguesia-brasileira-eua-manias-discretas.html

Turismo em massa na Ilha de Páscoa

por Luiz Ortiz

Os 5 mil habitantes da Ilha de Páscoa não gostam dos turistas ou gostam somente em pequenas doses. Nesse isolado território chileno, que fica a 4 mil km de Santiago existem cerca de 1.300 eleitores (mais de 96% do total) e em 2009 aprovaram, no dia 24 de outubro do mesmo ano, uma reforma da Constituição que deverá dar às autoridades da ilha do Pacífico um controle maior sobre seus fluxos migratórios.
Um referendo popular, organizado pelo governo de Santiago, respondia às preocupações dos habitantes, na sua maioria de origem polinésia.
Os nativos denunciam o impacto negativo do turismo e da imigração sobre sua cultura, o patrimônio e o ecossistema da ilha, um pequeno paraíso de somente 164 km2.
Como diz Marc Augé no texto “Não Lugares”, – Se um Lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não lugar. -
Com o aumento de pessoas com outras culturas e identidades, com o tempo, acabaram “mesclando” a cultura local com a cultura trazida de fora. Assim a cultura milenar cultural vai sendo subtraída aos poucos.
A Ilha de Páscoa, descoberta em 1722 pelos holandeses, exerce uma fascinação sobre os viajantes do mundo inteiro. Todos os anos, 50 mil turistas visitam suas praias, suas paisagens vulcânicas e suas centenas de Moais.
A construção dessas imponentes estátuas de pedra, que pesam toneladas e medem até 20 metros de altura, continua sendo um mistério. Alguns habitantes chegam a falar em participação de extraterrestres…
Em uma parte do texto de Maria Celeste Mira, “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”, ela diz algo muito interessante: “O que me parece realmente novo são as relações que se
estabelecem entre o global e o local, sem passar pelo nacional.”
A Ilha de Páscoa fica no Chile, porém, muitos turistas não conhecem o “Chile”.
A viagem se restringe apenas ao seu local de origem, sua zona de conforto e o local visitado.
Em 2009 após negociações com as autoridades da ilha, o governo chileno havia instaurado, em setembro, um sistema de formulários de migração para “melhorar a informação sobre os visitantes”, segundo o vice-ministro chileno do Interior, Patrício Rosende. Os turistas deveriam detalhar o motivo, a duração e seu local de hospedagem em um “formulário especial de visitante”, que teriam que preencher ao desembarcarem no aeroporto de Santiago, o único a atender Rapa Nui, nome polinésio da Ilha de Páscoa.
A Suprema Corte julgou essa medida “ilegal e arbitrária”, e os juízes invocaram o direito à livre circulação sobre o território chileno como um todo.
“É preciso controlar o crescimento da Ilha de Páscoa”, admite Rosende. “É um território muito frágil que não suporta fluxos indeterminados de imigrantes que ali se instalam.”
Em agosto eles bloquearam, durante 48 horas, o único aeroporto, para reivindicar limites para a duração da permanência dos turistas e para a imigração crescente de chilenos vindos do continente.
O grupo intitulado “Parlamento de Rapa Nui” (nome da ilha em polinésio), reclama a criação de um “conselho de migração” que imponha quotas para o fluxo de turistas, trabalhadores e residentes, à semelhança dos organismos criados nas ilhas Galápagos (Equador), indicou a Presidente da Câmara de Páscoa, Luz Zasso Paoa. “Nós dependemos do nosso patrimônio para um desenvolvimento sustentável; é necessário cuidar dos recursos, da água, da energia e fazer a gestão dos resíduos”, acrescentou Paoa.
Em agosto eles bloquearam, durante 48 horas, o único aeroporto, para reivindicar limites para a duração da permanência dos turistas e para a imigração crescente de chilenos vindos do continente. E eles os criticam, assim como os turistas, por colocarem em risco o equilíbrio ecológico da ilha, que é patrimônio mundial da UNESCO.