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A revitalização em Puerto Madero

por Tatiana Rocha

Este bairro localizado as margens do Porto de Buenos Aires, antigamente era abandonado, com aspectos bem diferentes do que se encontra hoje. O engenheiro Eduardo Madero (daí a origem do nome dado ao local) foi quem construiu, idealizou o bairro, feito para interligar a cidade com o Porto que recebia navios vindos da Europa.
Por ser localizado do lado do rio da Prata, o bairro tinha enormes galpões onde eram guardadas as mercadorias, muitos descarregamentos que aguardavam serem distribuídos após sua chegada. Com o tempo, o aumento no tamanho dos navios, as inovações, chegada de novos meios de transportes, o Porto foi sendo menos utilizado, ficando ao relento, sem utilização.
Em 1989, houve uma reurbanização, com o intuito de recriar o bairro, com investimentos bilionários. O bairro foi todo reformado, assinado em sua maior parte pelo designer francês Phillippe Starck. Também houve a criação de uma ponte feita pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Hoje o bairro tem o metro quadrado mais caro de Buenos Aires, visto que com essa grande revitalização, o bairro que estava maltratado, obsoleto, abandonado e inutilizado, hoje virou um bairro luxuoso, que abriga os melhores restaurantes, variados hotéis famosos que pertencem a grandes redes internacionais, escritórios de grandes empresas e virou um ponto turístico requisitado da cidade, com seus belos boulevards (avenidas largas e extensas) as margens do rio e suas áreas verdes sempre bem preservadas. Suas ruas tem o nome de grandes mulheres que contribuíram para as diversas áreas, como a política, ciências, por exemplo.
O fato de haver esse planejamento estratégico em Puerto Madero, nos faz perceber que a região foi transformada em uma paisagem parecida com o que as grandes cidades globais têm, sendo bem arborizadas, possuindo grandes empresas mundiais que viram nesse novo bairro uma oportunidade de fincar e abocanhar um pedaço da economia.
Mas era necessário recriar um bairro? Essa revitalização nos faz pensar o por quê não ocorreu o questionado acima. Extraindo do texto ensinado em aula do Gean Lipovestky e Jean Serroy, ele escreve sobre a interferência que ocorre em relação a identidade dos povos, citando que filósofos e teóricos questionam se não está ocorrendo uma americanização pelo o fato de que as culturas estão sendo afetadas devido ao domínio das multinacionais americanas e a concentração das indústrias de comunicações.
Lipovestky comenta que há uma padronização que afeta os lugares, utilizando como exemplo as famosas cidades de Milão, Los Angeles, Paris e até Buenos Aires. Todas tem alguma semelhança em relação a seu visual, um padrão de como a cidade deve ser visualmente. Puerto Madero é um exemplo claro de semelhança com os bairros dessas cidades consideradas globais. O ‘cenário’ criado no bairro é ‘inspirado’ nas cidades citadas anteriormente.
Ao mesmo tempo que Puerto Madero mudou sua identidade visual, há ainda certa ‘resistência’ a algumas diferenças como por exemplo os muitos restaurantes que estão concentrados lá, inclusive filiais de restaurantes brasileiros, mas que são servidos neles em sua maioria, pratos tipicamente nacionais, como a parrilla argentina, as empanadas, alfajores, vinhos produzidos no país, entre outros.

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Fonte: http://viajandoadois.com/buenos-aires-2


Finalizando…

Grande parte dos galpões foram desativados e derrubados, para dar espaço a tudo o que vemos hoje. E é aí que pensamos, de fato, a globalização invadiu esse espaço. Tanto na hora de recriá-lo, quanto na hora de ocupá-lo. Ou seja, o que antes estava deixado de lado, deu lugar a um novo ‘panorama’, visto muito comumente em outros países.
Com Puerto Madero, há muitos itens envolvidos. O fato de que realmente a revitalização agregou, foi boa para o local, pois ajudou a voltar à área habitada, com todos os tipos de atrações, tornando-a um verdadeiro complexo, o que deu novos ares, literalmente a cidade. Principalmente a arquitetura, praticamente toda renovada. Mas era preciso deixá-la com a forma de uma cidade global? Por que não criar uma identidade?
Puerto Madero foi mais um espaço revitalizado com o jeito de tantos outros lugares. Ao invés de criar algo, aproveitando-se da sua própria cultura ou utilizar elementos que remetessem a cidade ou ao antigo espaço, a alternativa usada foi outra: a de se inspirar nas grandes cidades consideradas globais e deixá-las semelhantes, para que em seu imaginário criem, tenham a sensação de que estão em uma grande cidade, sem sair de sua cidade. O que pode ser considerado bom, dependendo do ponto de vista de cada pessoa.

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Fonte: http://www.buenosairesturismo.com.br/cidade/puerto_madero.php

Bibliografia
Cultura e globalização
LIPOVETSKY, Gilles e SERROY, Jean. “Cultura-mundo como mitos e como desafios”. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo, Cia das Letras, 2011, pp. 110-147.

http://www.buenosairesturismo.com.br/cidade/puerto_madero.php

http://viajandoadois.com/buenos-aires-2

Os Impactos em Las Vegas

por Tatiana Rocha

Cassinos. A primeira palavra que nos vem à mente quando falamos sobre Las Vegas, a maior cidade do estado de Nevada, localizada no deserto de Mojave e mundialmente conhecida por seus luxuosos e imponentes hotéis temáticos, grandes festas, cassinos, apostas, jogos, compras e também pela prostituição, menos divulgada, obviamente. É um clima contagiante, já que a partir do momento que você desembarca no aeroporto, já encontra as máquinas de jogos disponíveis para usufruí-las.

Mccarran International Airport

Mccarran International Airport

Antes de virar uma cidade, os espanhóis descobriram essa região (daí o nome em espanhol), depois sendo habitada por mórmons vindos de Utah. Com a criação de uma ferrovia, o povoamento nessa região aumentou. Las Vegas passou a ser oficialmente uma cidade a partir do dia 15 de maio de 1905. Em 1931, foram legalizados os jogos de azar, aumentando a população da cidade, sendo inaugurado em 26 de dezembro de 1945 o primeiro grande cassino, pertencente ao gângster italiano Bugsy Siegel, chamado Flamingo Hotel (apelido de sua namorada na época).
Las Vegas tem como uma de suas principais características, seus hotéis inspirados em diversas cidades espalhadas de diferentes países. Você está olhando para as pirâmides inspiradas no Egito, quando chega logo na esquina está admirando a estátua da Liberdade e à sua frente à Torre Eiffel que fica em Paris (nome do hotel que homenageia a cidade). Caminhando pela Strip, a principal avenida de Las Vegas onde ficam a maior parte dos hotéis e seus cassinos, uns passos adiante você encontra Veneza e fica admirando suas gondôlas passeando água adentro. Las Vegas trouxe um pouco da cultura de cada país para dentro dos hotéis, mesmo que indiretamente, pois como está escrito no texto de Mike Feartherstone, ele escreve: “as culturas estão, por definição, vinculadas principalmente a interações e a relações sociais, e só indiretamente e sem necessidade lógica, vinculadas a áreas particulares no espaço físico”. Também podemos perceber que Las Vegas tem tendências cosmopolitas, já que mostra um pouco da cultura física de outros países. Las Vegas recebe muitos turistas cosmopolitas de todos os tipos, aqueles que querem vir atrás da cultura da cidade, seja pelo seus cassinos que sim, são considerado culturais, os museus e até seus artistas de rua, tão populares que tem até um bairro aonde você pode encontrá-los, no Downtown Arts District. Para Mike Featherstone, uma perspectiva do cosmopolita é isso, se envolver com o outro, se permitir experimentar culturas diferentes e observar os diferentes constrastes com a sua própria cultura.
Por a cidade ser um dos poucos lugares que permitem jogos de azar, muitos turistas são atraídos. Fora os shows, espetáculos, eventos em geral que chamam muita atenção para quem procura estar em constante movimento. É raro ver alguém aborrecido ou sem ter o fazer. Pelo o contrário, Vemos muitos turistas sem saber o que fazer, já que são tantos atrativos que ‘dificultam’ a escolha sobre o que fazer ou por onde começar.
De acordo com Marc Augé, em seu texto onde ele escreve sobre os Não-Lugares, podemos compreender que os hotéis, muito presentes em Las Vegas são considerados não-lugares de acordo com uma de suas compreensões, já que são lugares feitos para transitar, onde o fluxo é intenso e não para. Mas também vemos que a cidade em si é um lugar antropológico, já que ela tem sua própria identidade e desenvolveu uma história, uma cultura que alavancou Las Vegas como a cidade dos jogos, das festas. Podemos também verificar o questionamento de Augé sobre a supermodernidade em relação aos não-lugares. Ele escreve “ se os não-lugares são o espaço da supermodernidade, esta não pode, portanto, pretender as mesmas ambições que a modernidade.” Vemos que os aeroportos, os hotéis, os lugares que as pessoas apenas utilizam para transitar são considerados supermodernos e Las Vegas oferece muito desses lugares por ser uma cidade turística.
Las Vegas acompanhou a modernidade, virou um lugar que recebe muitos turistas transitando pelas avenidas principais o tempo inteiro, um verdadeiro complexo de lazer que teve um rápido crescimento, trazendo também pontos negativos, como a máfia que existe por conter esses jogos de azar e a disputa entre os mafiosos, conhecidos como gangster. Muitos especulam que alguns grandes hotéis são construídos com dinheiro da máfia, afinal, jogos de azar dão uma margem de lucro muito alta. A prostituição, em sua maior parte de luxo, também existe e apesar de ser considerado um crime, o que mais se encontra na principal avenida são latino americanos distribuindo panfletos com mulheres seminuas e espécies de carros com propagandas, também divulgando os telefones e aonde pode encontrá-las. Por ser ilegal, não está escrito explicitamente o que elas fazem, geralmente são mulheres que pertencem a clubes de strip-tease, mas todos sabem o que realmente ocorre caso você esteja em busca dos anúncios apresentados.
Las Vegas é uma cidade recente, que está em constante crescimento, sendo a cidade que mais cresce nos Estados Unidos. Hoje já conta com uma infraestrutura para crianças e que vai além de sua concorrida e principal avenida, Strip, tendo também o lado da cidade comum, com condomínios residenciais, prédios imponentes, natureza exuberante, mesmo sendo localizada em um deserto, uma região árida, é uma típica cidade americana que recebe muitos turistas em uma determinada região.
A Sin City se orgulha do que se tornou hoje, com todos seus bônus e ônus, conseguindo transformar uma cidade localizada no meio do deserto em uma das principais cidades que mais recebe turistas nos Estados Unidos e na América do Norte. Uma cidade única que te proporciona sensações diversas e muitas vezes únicas, tendo o turismo como principal fonte de renda, e que agora recebe muitas empresas e indústrias vindo atrás desse crescimento demográfico e visando o futuro que Las Vegas pode oferecer.

Acervo Pessoal
Acervo Pessoal
Acervo Pessoal (Foto tirada por Tatiana Rocha)

Bibliografia

http://www.viajarpelomundo.com.br/turismo-las-vegas/

Featherstone, Mike. Cosmopolitas e Locais na Cultura Global pág. 251 à 263

Augé, Marc. Não Lugares Introdução a uma Antropologia da Supermodernidade pág. 73 à 105