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Valores de Porto Seguro

por Ana Carolina Duarte

Este artigo  tem como objetivo principal desenvolver um estudo acerca do turismo na região de Porto Seguro, analisando as potencialidades existentes assim como as limitações e ameaças ao seu desenvolvimento.

A cidade de Porto Seguro é tão animada quanto qualquer outra parte do Brasil.

Segundo o portal de entretenimento da Bahia o fluxo turístico na região de Porto Seguro ultrapassa 900 mil visitantes anuais. Dos turistas internacionais, quase a metade são portugueses, argentinos e italianos.

Além das atrações históricas, a região conta com belas praias, um agitado carnaval e um ambiente aconchegante. Destaques para o museu de Porto Seguro, o memorial da Epopéia do Descobrimento, o Parque Nacional do Monte Pascoal, o Parque Municipal Marinho do Recife de Fora, o Arraial d´Ajuda Eco Parque, a Ilha dos Aquários, e a Estação Veracel.

Através do Tripadvisor foi feito uma pesquisa de satisfação com os turistas do destino, e conta que apenas 62% dos Turistas estão satisfeitos com o Destino, o poucos que comentavam sobre a insatisfação foi mencionando a depreciação dos patrimônios de porto seguro e a falta de qualidade no atendimento.

A Cidade Histórica é o primeiro núcleo habitacional do Brasil. O Museu de Porto Seguro oferece ao visitante uma oportunidade de reflexão sobre o Descobrimento do Brasil. Área de preservação ambiental e afirmação cultural dos índios pataxó, onde são desenvolvidas atividades de resgate dos costumes e tradições indígenas. No local, onde o visitante pode seguir pelas trilhas ecológicas no meio da mata, são feitas apresentações de danças típicas e da culinária, além de palestras para estudantes de Porto Seguro e outros municípios. Na reserva também é cultivado um viveiro de plantas nativas da Mata Atlântica, com cerca de 8 mil mudas, vendidas aos visitantes e utilizadas também para recuperar áreas degradadas.  Criada em 1998 pela comunidade indígena Pataxó da Coroa Vermelha,  após muita luta das irmãs Nitinauãn, Jandaia e Naiara que sonharam que era possível resgatar o modo tradicional de viver,as histórias, os rituais e preservar a floresta. Está situada a 12 km do centro de Porto Seguro, em plena Mata Atlântica e ocupa uma área de 827 hectares. Tem como objetivos principais a revitalização da história, do idioma, a afirmação cultural e a preservação do meio ambiente tornando-se um importante difusor da cultura pataxó e modelo de turismo sustentável numa aldeia indígena.  Pois não custa lembrar que foi em Porto Seguro onde houve o primeiro contato com os Índios na época de descobrimento do Brasil.

Encontrei em um Vídeo no YouTube  de um passeios com os turistas até o Portal da Reserva, onde os índios Pataxó recebem o visitante na forma tradicional e mostram a sua cultura através de palestra interativa, caminhada leve e interpretativa na mata, demonstração de diferentes tipos de armadilhas, arremesso de arco e flecha, degustação de peixe preparado na hora na folha da patioba e o Awê, ritual de confraternização acompanhado de muita música, dança e a participação dos visitantes. A pintura corporal é opcional e o artesanato está exposto à venda.

Indios Paxato

 

Indios Paxató, foto de Jean Savage.

A Reserva da Jaqueira foi um dos lugares que fora habitado pelos índios Pataxó no passado. Esse espaço sempre foi considerado um lugar sagrado, morada dos espíritos, lugar de rituais repleto de muita energia positiva. Hoje a Reserva da Jaqueira é um lugar utilizado para a revitalização, afirmação e valorização da cultura Pataxó.

Monte Pascoal tombado como Patrimônio Histórico Nacional, apresentado pelo videio institucional que informa que cerca de 156 km da sede do município, abarca as regiões alagadiças, restinga, mangue e litoral ao redor do monte rochoso, alto e arredondado, aceito como o primeiro ponto de terra firme avistado pela tripulação do navegante português, Pedro Álvares Cabral. Possui área de 14.480 hectares, incluindo uma reserva indígena pataxó. Índios de aldeia Pataxó bloquearam, na manhã  de 2 de outubro de 2013, os dois sentidos da BR-101, na altura do Km 796, na entrada do Parque Nacional do Monte Pascoal, região de divisa entre os municípios de Itabela e Itamaraju, no extremo-sul baiano. De acordo com informações do site Radar 64, a interdição da rodovia federal teve início por volta das 7h. Os índios informaram que não há previsão de liberação da pista. Nesta semana, entidades de todo o país deram início a uma série de protestos contra as violações dos direitos territoriais das populações indígenas. Convocados pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), os protestos têm o objetivo de defender a Constituição, os direitos de povos indígenas e tradicionais e o meio ambiente.

A homogeneização cultural é o grito angustiado daqueles/as que estão convencidos/as de que a globalização ameaça solapar as identidades e a “unidade” das culturas nacionais. Entretanto, como visão do futuro das identidades num mundo pós-moderno, este quadro, da forma como é colocado, é muito simplista, exagerado e unilateral.
Pode-se considerar, no mínimo, três qualificações ou contra tendências principais. A primeira vem do argumento de Kevin Robin e da observação de que, ao lado da tendência em direção à homogeneização global, há também uma fascinação com a diferença e com a mercantilização e da “alteridade”. Há, juntamente com o impacto do “global”, um novo interesse pelo “local”. A globalização (na forma da especialização flexível e da estratégia de criação de “nichos” de mercado), na verdade, explora a diferenciação local. Assim, ao invés de pensar no global como “substituindo” o local seria mais acurado pensar numa nova articulação entre “o global” e o “local”. Este “local” não deve, naturalmente, ser confundido com velhas identidades, firmemente enraizadas em localidades bem definidas. Em vez disso, ele atua no interior da lógica da globalização. Entretanto, parece improvável que a globalização vá simplesmente destruir as identidades nacionais. É mais provável que ela vá produzir, simultaneamente, ‘novas’ identificações “globais” e novas identificações “locais”.
A segunda qualificação relativamente ao argumento sobre a homogeneização global das identidades é que a globalização é muito desigualmente distribuída ao redor do globo, entre regiões e entre diferentes estratos da população dentro das regiões. Isto é o que Doreen Massey chama de “geometria do poder” da globalização.
O terceiro ponto na crítica da homogeneização cultural é a questão de se saber o que é mais afetado por ela. Uma vez que a direção do fluxo é desequilibrada, e que continuam a existir relações desiguais de poder cultural entre “o Ocidente” e “o Resto”, pode parecer que a globalização __ embora seja, por definição, algo que afeta o globo inteiro __ seja essencialmente um fenômeno ocidental.

Sendo o turismo pode ajudar a defender essa causa. Para que isso ocorra de forma efetiva, o turismo deve ser concebido, desde o seu planejamento, com a participação de todos os atores envolvidos, principalmente aqueles participantes da comunidade de um determinado local e do turista. O que se observa muitas vezes é exatamente o contrário. Os projetos turísticos implementados no estado da Bahia, em sua maioria, foram organizados sem a participação da comunidade nem dos empresários locais. Isso tem contribuído, como demonstra a experiência prática, para que o crescimento do turismo ocorra de forma acentuada em algumas localidades ou regiões, como é o caso da cidade de Porto Seguro, na Bahia, mas sem uma adequada utilização dos recursos naturais, humanos e sociais envolvidos. Ocorre um crescimento acentuado da economia do turismo, mas sem que isto represente uma melhoria da qualidade de vida das populações locais. Em Porto Seguro, mesmo sendo um dos locais mais requisitados do Brasil, o crescimento da indústria turística ainda não assegurou uma melhoria da qualidade de vida para a maioria de seus habitantes. Os seus indicadores sociais não condizem com o título de segunda principal cidade turística da Bahia, ficando atrás apenas da capital Salvador.

Como afirma Cruz (2001):

Diante da fragilidade da estrutura econômica, em que a pobreza e miséria compõem parte significativa do quadro social, o turismo tem sido visto como alternativa viável em busca do desenvolvimento e da superação dessas deficiências. O imediatismo que tem caracterizado o desenvolvimento da atividade, porém, compromete os resultados ao longo do processo, inibindo a maximização de benefícios e levando a superlação de impactos negativos.

Diante dessa afirmação de Cruz compreende-se a importância que o turismo tem, quando bem gerido ou administrado, para que ocorra uma mudança qualitativa em uma dada localidade. Essa mudança só é possível quando o seu planejamento é desenvolvido com foco na melhoria das condições sociais e ambientais. Pois, se o objetivo for meramente econômico, como ocorre em muitos casos, a tendência é a da desarmonia ou do desequilíbrio em nível ambiental e social.

O turismo sustentável traz novas alternativas econômicas e consequente melhoria das condições de vida das populações diretamente envolvidas, além de reduzir os impactos negativos, causados pelo turismo tradicional.

A cidade ainda realiza diversos eventos importantes, como a Micareta e o Festival de Inverno. Entretanto, parece não haver projetos públicos e/ou privados que busquem o desenvolvimento regional a partir do aproveitamento do turismo. A cidade carece, por exemplo, de infra-estrutura básica, como de bons hotéis para atendimento aos turistas. Agentes de Viagens comentam muito a insatisfação dos clientes nos hotéis considerados os melhores hotéis de Porto Seguro.

Porto Seguro também faz parte do Plano de Desenvolvimento dos Destinos Baianos da Secretaria do Turismo da Bahia e nele tem a finalidade de mensurar e fornecer informações para a atração de investimentos privados em áreas turísticas. O Programa envolve dois grandes projetos: Projeto de Pesquisas e Estudos Econômicos e o Projeto de Atração de Investimentos Privados.

Concluísse que Porto Seguro precisa de monitoramento no Setor do Turismo, pois ele já possui um Plano de Desenvolvimento de Turismo Sustentável que em algumas praticas anteriores, antes os índios não tinha nenhum contato com os turistas e nem nenhum benefício com  isso, só o incomodo das visitas dos Turistas em suas Aldeias, hoje eles ganham com isso, mostrando sua cultura e vendendo artesanatos produzidos por eles. Muitas coisas ainda dos planos precisa ser colocada em pratica, como por exemplo a conscientização do turista na importância da conservação do patrimônio. Outro ponto que precisa ser ainda colocado em pratica é o projeto de qualificação dos profissionais para melhor atendimento do turista, que já se tem um projeto mas que ainda não houve nenhum programa relacionado a essa caso. Não adianta fazer e participar de planos de desenvolvimento sem pratica e monitoramento.

Bibliografia:

http://www.feriasbrasil.com.br/ba/portoseguro/

http://www.radar64.com/home.php

Global e local: identidades contemporâneas

HALL, Stuart. “Globalização” e “O global, o local e o retorno da etnia”. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, DP&A, 2006, pp. 67-89.

 

Cruz, Rita de Cássia Ariza da. Politicas de turismo  e construção do espaço turístico: Litorâneo  no nordeste do Brasil. In: Lemos, Amália Inês Gerais de (ORG). Turismo: Socioambiental, 2ed.São Paulo: Hucitec,1999.

Fortaleza, globalização e cultural

por Ana Carolina Duarte

Movido pela busca de informações, o turista agrega os novos conhecimentos à interação com outras pessoas, comunidades e lugares. Motivados pela curiosidade sobre costumes e tradições, turistas do mundo inteiro procuram a identidade cultural de cada lugar que visitam.São conceitos encontrados em todo o Estado, que se destaca também pela preocupação em preservá-los. Rico em artesanato, o Ceará produz peças em crochê, madeira, cerâmica, bordados, vime, palha, bambu, tricô e renda.Na cultura o destaque fica para o centro de Fortaleza com prédios históricos e museus. As praças do Ferreira e General Tibúrcio são as mais importantes por terem em sua vizinhança prédios históricos. Na praça do Ferreira tem-se vários prédios históricos com destaque para o Cine São Luiz com um hall de entrada muito luxuoso. Na praça General Tibúrcio tem-se o Museu do Ceará que conta a história do estado, a Academia Cearense de Letras, primeira do gênero no Brasil, e a Igreja do Rosário, primeira igreja de Fortaleza. O Theatro José de Alencar, obra exuberante em art nouveau e a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção são patrimônios nacionais tombados, sendo lugares de grande visitação.

Principais atrativos turísticos de Fortaleza:

  • Praia do Futuro;
  • Praia de Iracema;
  • Cano Quebrada;
  • Beira-mar;
  • Ponte dos Ingleses;
  • Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura;

Canoa Quebrada Fortaleza

 

Foto: Canoa quebrada – Jean Guebec

Famosa por suas belas praias, Fortaleza é uma cidade que, incontestavelmente, possui o litoral como um dos principais atrativos turísticos. O problema, entretanto, é quando outras áreas, diante disso, passam a ser “secundárias”, pois acabam esquecidas como “arquivo” da história e da cultura. Para as férias, que tal praticar o chamado turismo cultural e, quem sabe, conhecer a cidade a partir de edificações no Centro?

Por meio de visitas, descobertas e entendimentos acerca das mudanças e curiosidades da cidade são possíveis. Afinal, detalhes contam a nossa história, como o fato de que a Estação Ferroviária João Felipe foi construída em cima do Cemitério de São Casimiro; que a líder revolucionária cearense Bárbara de Alencar foi presa no Forte Nossa Senhora da Assunção; e que outro revolucionário, o jangadeiro Chico da Matilde, deu nome ao Centro Dragão do Mar… Enfim, é saber o que aconteceu e como chegamos aos dias de hoje.

“Com o turismo cultural, em pontos históricos, pode-se conhecer cada localidade. Na verdade, só se conhece de verdade um lugar ao se entrar em contato com os patrimônios históricos. Sem esse turismo, não se sabe nem como se formou a cidade”, observa o mestre em Turismo e doutorando em Geografia, José Solon Sales e Silva.

Segundo ele, que também é professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e do Instituto Federal do Ceará (IFCE), o olhar mais interessado sobre o Centro possibilita inclusive que se saiba como houve a evolução até do próprio fortalezense.

O contraste, como alerta Solon, é que “o próprio fortalezense não se conhece. Alguns nunca foram ao Centro”. Para o professor do Doutorado em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Eustógio Dantas, doutor em Geografia, isso acontece também pelo fato de que, em cidades litorâneas, há uma preferência pelas praias. Sendo, portanto, o fluxo turístico para os patrimônios secundário. “Os usuários tendem a se render aos apelos das praias. Poucos descobrem a possibilidade de relaxar diante das belezas existentes dos patrimônios”.

Até mesmo porque, acrescenta o professor da UFC Eustógio Dantas, o fortalezense não possui um vínculo ou apego tão forte com a cultura, se comparados a outras cidades como Recife e Salvador. “São como judeus, cidadãos do mundo, se adaptam em vários lugares”. Por outro lado, como critica o professor José Solon, há também a ausência de infraestrutura e as mudanças pelas quais passaram a cidade que atraíram a atenção para outras áreas. Por exemplo, Solon cita a questão a tão falada insegurança no Centro, que acaba por afastar a população do bairro.

Ulf Hannerz (1990),em artigo sobre cosmopolitas e locais menciona a mudança na concepção de cosmopolitismo ao longo das diferentes décadas, citando um estudo de Robert Merton em que este aponta a Segunda Guerra Mundial o sujeito cosmopolita como aquele que ultrapassava os limites da localidades no qual habitava, vivendo inserido em uma nação. Hoje segundo Hannerz é a integração internacional que determina a universalidade. Uma cultura mundial é criada através de um entrelaçamento de culturas locais diversificadas, sem um apoio nítido de um território especifico. Para o autor, ideia cosmopolita não está necessariamente e unicamente ligada ao deslocamento concreto, mas antes, a um estado mental, uma forma de administrar o significado que revela uma orientação e um forma de se envolver com o outro.

Isso está ligado com a questão do descaso com o patrimônio de Fortaleza pelo Fortalezense, eles não estão ligados a sua historia ao seu patrimônio, abandonam sua cultura de origem e vivem hoje em uma cultura global. Não apena em Fortaleza, mas em muitas cidades pelo mundo esse fenômeno acontece.

Outro agravante, é o forte “investimento” comercial e financeiro em outros bairros, como Aldeota e Montese. “As pessoas perderam o hábito de ir ao Centro. Agora, o bairro é frequentado pela população de baixa renda, pois na periferia não se oferecem os serviços buscados”.

Conclui que,uma das maneiras de reverter o “descaso” com os patrimônios históricos do Centro seria o investimento em políticas públicas de incentivo ou, até mesmo, a criação de estruturas, como estacionamentos e mais segurança. Também, defende o professor da UFC Eustógio Dantas, deve acontecer um investimento maciço na formação e na sensibilização das crianças desde as escolas. “Não é errado que se valorize o litoral. O problema é que tem de haver uma maior sensibilização para que toda essa riqueza cultural também seja explorada”, frisa. Até porque, como resume José Solon, “não se pode ensinar o que não conhece”. Por isso, é necessário sensibilizar e disseminar a importância desses pontos históricos. A Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) reconhece que o hábito dos fortalezenses de optar pelo turismo cultural no Centro ainda não é o desejado. Porém, como justifica a coordenadora de Planejamento e Informações da Setfor, Tatiana Braga, os turistas de outros estados praticam esse turismo. E, para incrementá-lo, mudanças, parcerias e políticas públicas são previstas para o futuro e algumas já vêm acontecendo. Em relação à visibilidade dos patrimônios, diz que a AMC, já sinalizou os patrimônios para os condutores de veículos.

Bibliografia:

Global e local: cosmopolitismos

HANNERZ, Ulf. “Cosmopolitas e locais na cultura global”. IN: FEATTHERSTONE, Mike. Cultura global: nacionalismo, globalização e modernidade. Petrópolis, Vozes, 1999, pp. 251-265.

 

http://plsql1.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=8736988978589366

 

http://www.portal-fortaleza.com/

 

http://defender.org.br/2010/07/20/fortalezace-turismo-cultural-e-esquecido-na-capital-cearense/

http://www.opovo.com.br/

http://professoresviajantes.blogspot.com.br/2012/11/artesanato-nordestino-bom-bonito-barato.html

Fernando de Noronha – Uma Pérola do Brasil

por Yago Giacomo

Este Artigo tem como objetivo desenvolver um estudo da história de Fernando de Noronha, e como o turismo impactou nesse incrível arquipélago, a história de Fernando de Noronha pode ser dividida entre antes e depois que a ilha foi vista com um potencial turístico.

É considerado como data oficial do descobrimento de Fernando de Noronha o dia 10 de agosto de 1503, a partir de documentos existentes do navegador Florentino Américo Vespúcio, que liderou  uma das embarcações da frota de 6 navios da expedição. O arquipélago começou há aproximadamente 12 milhões de anos, sobre uma série de erupções vulcânicas, com 21 ilhas, o arquipélago de Fernando de Noronha se localiza sobre um vulcão sobre qual a base tem 74 km de diâmetro e está a 4.200 metros de profundidade. Extinta há mais de 20 mil anos, a cratera vulcânica submersa faz parte de uma cadeia de montanhas da parte Atlântica da placa sul-americana.

Foram se passando anos, e o arquipélago foi transformado em um presídio. Foram esses presidiários os responsáveis por erguer todo o patrimônio edificado e sistema viário que interliga as diversas vilas e fortes. Por medida de segurança, para evitar fugas e esconderijos, praticamente toda a vegetação original foi desmatada, o que resultou na alteração do clima da região.

FOTO FERNANDo

 

Entre 1938 e 1945 Fernando de Noronha serviu novamente como colônia penal, desta vez, um presídio político. Esta condição voltou a prejudicar o meio ambiente local, devido à importação de espécies de fauna e flora e ao desmatamento desenfreado.

“Com sua natureza exuberante, o arquipélago de Fernando de Noronha é hoje sinônimo de paraíso ecológico. Mas antes de ser um badalado destino turístico, a ilha foi, por bastante tempo, um lugar do qual era preferível manter distância. Isso porque, ao longo de mais de duzentos anos, abrigou um presídio. Para lá que eram enviados criminosos e, por um curto período, presos políticos. O local de belas praias e paisagens chegou a ser conhecido como “depósitos de desvairados”. afirma Sandra Veríssimo, historiadora e coordenadora do acervo documental de Fernando de Noronha.

Alguns desses prédios estão lá até hoje, como a Vila de Nossa Senhora dos Remédios. A alimentação também ficava por conta deles: fabricavam farinha, pescavam e cultivavam a terra. Se por um lado a infraestrutura era precária, por outro, podiam levar a família mediante autorização.  Era quase impossível fugir, por isso não eram necessárias normas rígidas ou muitos guardas no presídio.

Até 1988 foi um território federal, onde era governado só por militares. Neste mesmo ano, a constituinte a juntou a Pernambuco, mas José Sarney, na época presidente da república , cria o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e delimita uma área de 112km2 entre terra e mar , que hoje é gerenciada pelo IBAMA.

Mais foi no dia 7 de dezembro de 1972, que 42 pessoas desembarcam de um avião do Exército em Fernando de Noronha, dando origem ao turismo na ilha. Tendo um potencial incrível para se desenvolver o turismo, o arquipélago de Fernando de Noronha é tido por muitos como a joia do ecoturismo brasileiro por toda sua beleza e exuberância. Sendo a única ilha oceânica do Brasil com operações de mergulho, Noronha tem uma incrível riqueza marinha, sendo que no Parque Nacional Marinho é atingido por uma corrente marinha vinda da África, que mantém a temperatura da água quente o ano todo.

Hoje Fernando de Noronha vive da exploração racional do turismo, dentro das limitações impostas pelo seu incrível ecossistema e da atividade pesqueira, esta em caráter artesanal e voltada para o consumo interno. Além do interesse histórico mencionado anteriormente, o arquipélago foi alvo de atenção de vários cientistas que se dedicaram a estudar sua fauna, flora, geologia, geomorfologia, entre outros. Um dos primeiros trabalhos foi publicado há mais de 100 anos, por Pocock (1890). Posteriormente, Bjornberg (1954); Lopes e Alvarenga (1955); Almeida ( 1958); Paiva (1967) entre vários outros.

Fernando de Noronha conta com 1000 leitos e o número de visitantes permitidos por dia é de 246 pessoas, ou seja, são cerca de 800 visitantes circulando pela ilha, em período normal. Nas épocas de festas como o Réveillon, esse número pode dobrar. Nos meses de março a junho Noronha sofre com a baixa estação. Uma das medidas do estado (de Pernambuco) são as campanhas que são realizadas para promover o turismo em Noronha nesses meses, pois além de ser mais barato o custo das passagens e da viagem em si, a ilha não fica superlotada. O órgão que atua na ilha do Governo Federal é um desmembramento do IBAMA, o ICM Bio, e junto com a administração da ilha tem um controle rígido sobre o número de pessoas que entram na ilha.

Como Cita Luciana Carvalho (2013): Acredito que a gente consegue preservar a ilha, principalmente restringindo o número de pessoas e continuar com a nossa campanha no aeroporto. Ao chegar em Fernando de Noronha, é passado dois vídeos, enquanto os visitantes esperam na esteira, falando o que pode e o que não pode na ilha, informando que ele está chegando em um Parque Nacional Marinho, numa área de preservação ambiental que deve ter cuidado com o meio ambiente e a forma que ele deve se comportar. A grande preocupação são com os turistas desavisados, porém a maioria dos visitantes da ilha são diferenciados e já sabem como se comportar.

Concluísse que o turismo sustentável traz novas alternativas econômicas e consequentemente está diretamente associada ao envolvimento da comunidade nos projetos de educação ambiental e sustentabilidade, , além de reduzir os impactos negativos, causados pelo turismo tradicional. Com esse tipo de turismo racional Fernando de Noronha se sustenta, e consegue manter intacta sua cultura local, o que é o mais difícil se conseguir hoje em dia,

A preservação da ilha de Fernando de Noronha, em Pernambuco, está diretamente associada ao envolvimento da comunidade nos projetos de educação ambiental e sustentabilidade. Como cita Cynthia Gerling,(2010) : Nós fazemos reuniões quinzenais no Projeto Golfinho Rotador sobre o tema sustentabilidade, que é muito importante para o nosso dia a dia. Cada ação que a gente faça, desde lavar uma louça ou uma roupa como da forma de escovar o dente e tomar banho, que seja da melhor forma possível no sentido de usar os recursos naturais da forma mais inteligente e racional possível. Agora, a gente está querendo introduzir nas pousadas esse mesmo conceito da sustentabilidade”, Em sete anos, o Golfinho Rotador capacitou 1,5 mil moradores em cursos profissionalizantes de ecoturismo. Um instrutor ajuda e acompanha quem mergulha pela primeira vez. Muitas trilhas e passeios em Fernando de Noronha só podem ser feitos com um guia.Todo lixo produzido em Noronha tem que sair da ilha. “Todo lixo que chega em Fernando de Noronha, ele vai para a usina de compostagem, onde é separado, é compostado e encaminhado para o continente. O lixo orgânico é transformado em adubo e disponibilizado para a comunidade, para hortas, jardins e o que eles pretenderem fazer.

O turista pode ser o ponto chave para impulsionar muitas cidades, inclusive Fernando de Noronha mais o turista em si é divido em dois grupos segundo Bauman ,   Em suas obras sobre pós-modernidade, e sobre globalização, Bauman destaca esta metáfora para ilustrar quem são os heróis e as vítimas do capitalismo flexível, afirmando que “a oposição entre os turistas e os vagabundos é a maior, a principal divisão da sociedade pós-moderna”,uma sociedade marcada por um tempo espaço flexível, em mutação constante, onde o que vale é a habilidade de se mover. Valem portanto os turistas, aqueles que recusam qualquer forma de fixação; movimentam-se porque assim o preferem; saem e chegam em qualquer tempo e a qualquer espaço para realizarem seus sonhos, suas fantasias, suas necessidades de consumo e seu estilo de vida. Já os vagabundos “são luas escuras que refletem o brilho de sóis brilhantes; são os restos do mundo que se dedicaram aos serviços dos turistas.

Partindo desta reorganização no turismo segundo Baumann, e essa perda de identidade do próprio turista , Maria Celeste Mira fala da perda de identidade da própria cultural local também com essa globalização massificada ,  (Maria Celeste Mira) : “A desterritorialização coloca em circulação pelo planeta um volume enorme e uma dinâmica vertiginosa de atuação do capital , cuja mobilidade descaracteriza cada vez mais a sua nacionalidade”.

Portanto, assim analisamos que há varias formas de se pensar em turismo, com a globalização fazendo mudanças drásticas, em certas situações, mais  Fernando de Noronha com o seu turismo sustentável investe de forma muita intensa na capacitação do seus profissionais , e do seus moradores de jovens à idosos , sendo assim Fernando de Noronha se enquadra em um impacto positivo dentro do turismo , Segundo Barretto (2004) as ciências econômicas estudaram os impactos positivos, referente ao dinheiro proveniente dos turistas que entram em uma localidade. Através da Geografia, os problemas gerados pelo excesso de habitantes temporários, causados ao meio ambiente natural e humano passaram a receber maior atenção. Os impactos na cultura local, provocados pelo contato entre padrões culturais diferentes, influenciando mudanças nos hábitos locais por aculturação, estudados pela Antropologia. Estes estudos entende-se que o turismo tem um importante papel no campo econômico, cultural e na troca social. Por este motivo é de fundamental importância conhecer as percepções e atitudes dos residentes em localidades turísticas acerca dos impactos gerados pelo turismo em seus lugares de residência.

Sendo assim Fernando de Noronha é a cidade brasileira que mais arrecada com o turismo , e dessa forma consegue se auto sustentar , de uma forma considerada incrível.

playas-de-madagascar

 

Referências Bibliográficas :

 

Globalização, fluxos e mobilidades

BAUMAN, Zigmunt. “Turistas e vagabundos”. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro, Zahar, 1999, pp. 85-110.

O global e o local

MIRA, Maria Celeste. “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”. In: Revista Margem, n.3, dezembro de 1994, p. 131-149.

IMPACTOS DO TURISMO X COMUNIDADE LOCAL , Sandra Dall’Agnol , Faculdades de Xaxim/SC – Celer.

O livro Fernando de Noronha 3°50′S 32° 24′W , Almirante-Historiador Max Justo Guedes 

 

O turismo de pesca na comunidade do Porto da Manga (Corumbá-MS)

por Luiz Ortiz

INTRODUÇÃO

O Pantanal é a maior área inundável do mundo, possui uma área de 138.183 km², abrangendo parte do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estendendo-se ainda por mais dois países o Paraguai e a Bolívia.

O Pantanal é considerado um dos mais conservados ecossistemas do planeta e possuidor de uma grande diversidade biológica, tendo sido declarado pela UNESCO, diante deste cenário, como Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera.

Ao longo dos rios que abrangem o Pantanal vivem diversas comunidades de pescadores que têm nestes sua principal fonte de sustento, praticando a pesca e a coleta de iscas vivas, porém a principal atividade econômica da região é a pecuária.

O foco principal deste texto é a comunidade da Vila do Porto da Manga, localizada a 60 km da cidade de Corumbá, no Pantanal Sul Mato-grossense.

Um dos acessos à comunidade é a Estrada Parque Pantanal Sul, como o próprio nome diz é uma espécie de Parque Natural ao longo dos seus 120 km, em que os visitantes desfrutam das janelas de seus veículos, das belezas do Pantanal.

O Porto da Manga é uma comunidade de profissionais da pesca que nos últimos anos passaram a se dedicar também a atividades ligadas ao turismo de pesca, como guias e piloteiros de barcos. Em termos de mão-de-obra, a pesca e o turismo desempenham um papel de suma importância na vida dos ribeirinhos dessa localidade, pois esses dois setores da economia empregam boa parte dos moradores.

Com o advento do turismo de pesca surgiu também uma nova demanda no trabalho desses ribeirinhos, a venda de iscas vivas para a captura de peixes nobres por parte dos turistas. Essa necessidade de aquisição de iscas vivas contribuiu para o surgimento de uma nova categoria de trabalho, a dos catadores de iscas vivas, também conhecidos como “isqueiros”, a qual hoje é uma das mais lucrativas fontes de renda no local.

Com essa nova oportunidade de trabalho, muitas famílias que viviam no meio urbano, marginalizadas por falta de oportunidade de trabalho, se mobilizaram em busca dessa nova alternativa. Assim, ao longo do Pantanal encontram-se várias famílias que dedicam boa parte do seu tempo à atividade de coleta de iscas vivas.

A comunidade do Porto da Manga ficou, durante anos, esquecida pelo governo. Esses ribeirinhos não eram incluídos em políticas públicas, tais como: saneamento básico, escola, posto de saúde, energia elétrica, entre outros e aquelas destinadas à trabalhadores de baixa renda; mesmo a comunidade localizando-se próxima à cidade de Corumbá (aproximadamente 60 km). Essa comunidade já vivenciou o auge de sua economia com o turismo de pesca na década de 1990, mas mesmo nessa época, de apogeu econômico, quando ali residia grande número de famílias, não teve as atenções devidas para a solução dos seus problemas.

A crise em que se encontra a atividade pesqueira, em termos de captura e comercialização do pescado, e da dificuldade da reprodução social do grupo que pratica esta atividade, que sofre com as oscilações do mercado turístico local.

 A PESCA

O tipo de pesca realizada por um determinado grupo pode diferenciar-se quanto às suas atuações socioeconômica e ecológica. Por exemplo, a categoria de pesca artesanal e sua particularidade que consiste em ser uma atividade econômica que depende das forças naturais, tendo como conseqüências imediatas fatores que influenciam na regularidade da captura, na geração do produto excedente e nos grupos que são envolvidos. Apesar dos esforços do governo estarem centralizados na pesca industrial-empresarial, os pescadores artesanais representam um número significativo diante das atividades pesqueiras e exercem um papel fundamental no fornecimento de proteína a baixo custo.

Por outro lado, esses pequenos pescadores, também chamados de pescadores artesanais, por utilizarem tecnologia simples para exercer a sua atividade econômica. Até mesmo são considerados ociosos por não trabalharem com regularidade.

Mas, esses trabalhadores são altamente qualificados, sendo esta qualificação adquirida através do contato cotidiano com a natureza, o que faz deles possuidores de um vasto campo de conhecimento sobre sua atividade econômica e ao ambiente em que é realizada. Na sua maioria, são produtores que combinam a pesca com outras atividades, na busca por minimizar os riscos e aproveitar os períodos da entres safra, exercem outras atividades trabalhando, por exemplo, na agricultura, no extrativismo, no artesanato, entre outras.

É importante, no entanto, como mostra Diégues (1995), saber a diferença entre pescador artesanal e de auto-subsistência:

“ É preciso não confundir pescador artesanal com o pescador de subsistência pois os pescadores artesanais produzem principalmente para a venda e como todo pequeno produtor é dependente do mercado, através da teia de intermediários e ”marchantes”. É um pequeno produtor que participa diretamente do processo de pesca, dono de um cabedal enorme de conhecimentos e dos instrumentos de trabalho, operando seja em unidades familiares seja com “camaradas” ou companheiros. O excedente produzido é relativamente pequeno e as técnicas de captura são em geral simples, mas adaptadas aos ecossistemas litorâneos tropicais marcados por um grande número de espécie de pescado. ”(p.86).

Os trabalhadores do Porto da Manga se encaixam na categoria de pescador artesanal, também são detentores de um vasto conhecimento sobre a fauna e flora local. Apesar de serem detentores de todo esse conhecimento, ainda assim, dependem dos intermediários por não possuírem bens materiais para fazer o transporte do seu produto até a cidade.

 SABER TRADICIONAL

Para Diegues & Arruda (2001, p.31) conhecimento tradicional é definido como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural, um conhecimento transmitido de geração em geração oralmente.

Os povos indígenas e as comunidades tradicionais, espalhadas pelo litoral e interior do Brasil dominam um grau de conhecimento sobre a diversidade biológica que é imensurável. Por exemplo, a forma de elaboração de técnicas complexas, que possibilitam transformar grãos ou raízes tóxicas em alimentos. Esse saber dos povos indígenas influenciam até hoje a vida social, econômica e deixa como herança também um poder adaptativo ao meio em que vivem.

Os isqueiros do Porto da Manga, por viverem em uma área que faz parte da Estrada Parque Pantanal Sul (um parque natural), esta, também tida como Área de Especial Interesse Turístico (AEIT), não podem fazer assim, coleta de iscas vivas, nas baías, lagoas e corixos existentes à beira dessa estrada. Essa proibição ocorre tanto pelo fato de existirem fazendas à beira dessa estrada, quanto pelo impedimento pela legislação ambiental.

 ATIVIDADE ECONÔMICA

Na comunidade do Porto da Manga a atividade econômica predominante é a pesca profissional artesanal, sendo que é realizada pelos trabalhadores do local tanto a pesca praticada no rio, quanto à pesca de pequenos crustáceos encontrados em baías e corixos da região, atividade esta denominada de coleta de iscas vivas, a qual dá suporte ao turismo de pesca. A economia local também é beneficiada pelo turismo de pesca, este gera empregos direta ou indiretamente para esses moradores, pois alguns além de pescarem ou coletarem iscas vivas, ainda trabalham em outra atividade ligada diretamente ao turismo, tais como: aluguel de ranchos aos turistas vindos de outros estados; o hotel que emprega alguns moradores para trabalharem como piloteiros dos barcos alugados para turistas, guias de pesca, faxineiras e cozinheiras. Mas, nem todos piloteiros de barco e guias de pesca trabalham no hotel, existem aqueles que trabalham por conta própria.

 Nota-se, ainda, neste contexto da atividade econômica local, que os moradores melhores remunerados são:

1° os piloteiros de barcos;

2° pescadores profissionais artesanais;

3° coletores de iscas vivas.

 Além da problemática de não terem perspectivas de trabalhos nas cidades, ainda vivem em condições subumanas e enfrentam diversos conflitos gerados pelo turismo.

Muitos dos coletores de iscas vivas não possuem barcos motorizados, o que os impossibilita de buscar o produto em locais menos explorados, fazendo com que a disputa pelo produto, disponível em espaços mais próximos seja mais intensa.

Sendo assim, a posse de embarcações é um fator importante para o trabalho ser bem sucedido. Porém, deve ser levado em conta que os pescadores e os isqueiros do Porto da Manga, não constituem duas categorias totalmente distintas e sem relação uma com a outra. Além do grau de parentesco e amizade, muitas vezes existentes entre os atores dessas duas categorias, é preciso atentar para o fato de que em muitos períodos do ano um pode realizar a atividade do outro, pois durante o trabalho de campo foi possível notar que geralmente quem coleta iscas também pesca em um determinado momento, tanto para subsistência quanto para comércio, neste último caso, se houver algum comprador.

Uma outra ligação entre as duas categorias citadas é a comercial, muitos pescadores profissionais artesanais quando não coletam iscas vivas para pescar precisam comprar dos isqueiros. Por fim, ainda há uma relação comercial entre isqueiros e os piloteiros de barcos, que intermediam a compra das iscas vivas usadas pelos turistas que passam pela região.

Quanto aos instrumentos utilizados para pesca profissional-artesanal nos rios são: barcos motorizados, canoas, anzóis, varas de bambu, linhas de mão,iscas vivas ou artificiais. Uma característica da pesca artesanal é a simplicidade de seus instrumentos.

Já para a coleta de iscas vivas, que é realizada em baías e corixos, “os isqueiros” usam: telas, para coletar as iscas e macacão para se protegerem das adversidades do local quando ficarem imersos na água. E, para armazenarem as iscas até chegarem à comunidade colocam as iscas em baldes grandes ou tambores. Ao chegarem ao Porto da Manga transferem as iscas vivas para os devidos reservatórios.

O uso do macacão é uma conquista fundamental para esses trabalhadores que por muitos anos se arriscaram nos rios, baías, lagos e lagoas pantaneiras em busca de sua sobrevivência sem nenhum tipo de segurança contra as adversidades da natureza. As iscas vivas mais coletadas pelos isqueiros da região são em primeiro lugar, a tuvira (Gymnotus Carapo), depois o caranguejo (Dilocarcinus pagei) seguido de outras espécies, tais como, a pirambóia (Lepidosirem paradoxa), o cascudo (Hoploternum littorale), o jejum (Erythrinus erytrinus) e o muçum (Synbranchus marmoratus).

grafico

[Fonte (SCPesca/MS, 2008) Dados adquiridos em pesquisa realizada sobre o Comércio e Captura de Iscas Vivas na Bacia do Alto Paraguai – Dr. Agostinho Carlos Catella.]

No Porto da Manga, tal como os homens, as mulheres também trabalham diretamente com a pesca, envolvendo-se em uma atividade árdua e perigosa.

Sendo a atividade de coleta de isca essencial para a continuidade da atividade do turismo de pesca na região do Porto da Manga, atualmente no Porto da Manga, “80% dos isqueiros são mulheres”, sendo que os maridos vão pilotar e pescar com os turistas, e as mulheres ficam para capturar as iscas para a comercialização.

CONCLUSÃO

Com a realização desta pesquisa foi possível perceber que a Comunidade do Porto da Manga já vivenciou o auge da sua economia com o turismo de pesca, na década de 1990, mesmo assim esteve esquecida durante anos pelo governo. Hoje o número de turistas que passa pela comunidade é baixo, mas mesmo assim, esses trabalhadores da pesca lutam contra as dificuldades socioeconômicas para se manterem como pescadores.

Com a implantação dos projetos sociais:

  • DIRETRIZES PARA O MANEJO SUSTENTÁVEL DA ATIVIDADE DE COLETA DE ISCAS VIVAS NO PANTANAL DE MATO GROSSO DO SUL. 

Esse projeto é parte integrante do Projeto de Implementação de Práticas de Gerenciamento Integrado da Bacia Hidrográfica para o Pantanal e Bacia do Alto Paraguai (ANA/ GEF/ PNUMA/ OEA), ECOA E UFMS, as instituições proponentes foram a UFMS e a ONG, ECOA.

  • UNIDADE MÓVEL PARA AÇÕES DE CAPACITAÇÃO, PRODUÇÃO E APOIO AOS PESCADORES DE ISCAS VIVAS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA ESTRADA PARQUE PANTANAL NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL

Visa promover a melhoria da qualidade de vida das comunidades de pescadores de iscas vivas na área de influência da Estrada Parque Pantanal Sul, através da implantação de uma Unidade Móvel, para treinamento, capacitação, educação ambiental e implementação de parcerias nas áreas de saúde, educação e inclusão social.

  •  FORTALECIMENTO DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA COMUNIDADE DO PORTO DA MANGA

 Este projeto tem como objetivo a aquisição de alguns materiais tais como: uma balança eletrônica e GPS, estes instrumentos serão utilizados na realização de pesquisas com iscas vivas; e recursos solicitados também para realização de reuniões e oficinas de capacitação na comunidade.

  •  PROJETO LUZ PARA TODOS

Tem como objetivo levar as redes de energia elétrica para a população do meio rural até o ano de 2007. Esta conquista contou com a parceria do Ministério da Energia, Associação de Moradores do Porto da Manga e a ECOA.

  •  PLANO DE MANEJO DA ESTRADA PARQUE PANTANAL

Esse Plano de Manejo tem como objetivo promover o desenvolvimento turístico, assegurando a preservação e valorização do patrimônio cultural e natural, dando assim uma visão mais ampla da Estrada Parque Pantanal.

  •  QUEDA DA TAXA DE MORTALIDADE DE ISCAS VIVAS

O índice de mortalidade das iscas coletadas na região do Pantanal era muito alto até então.

Alguns ganhos foram obtidos, tais como, novos instrumentos e técnicas de trabalho, manejo adequado das iscas, facilidades trazidas pelo abastecimento de energia elétrica, maior diálogo entre pescadores e órgãos de fiscalização e uma maior organização entre os moradores em comparação ao período anterior à implantação desses projetos.

Isso se deve ao fato de haver uma articulação, entre a comunidade, instituições governamentais e não-governamentais. Pois o trabalho em conjunto fez com que a atividade da pesca diminuísse o seu impacto ao ambiente, através de aulas de educação ambiental para esses moradores, fazendo com que esse meio de renda se tornasse mais sustentável.

Hoje observa-se parcerias entre a associação de moradores e Ibama para realização de estudos e pesquisas que beneficiem ambas as partes. Um outro ponto de destaque além da maior representação social desses ribeirinhos, é a melhoria da renda e da qualidade de vida. Com a inserção de novas técnicas e novos instrumentos de trabalho, ocorre hoje o manejo adequado do produto e uma melhor qualidade de vida, pois a utilização do macacão pelos isqueiros não os deixam expostos aos riscos oferecidos pela atividade. Muito já foi feito por esta comunidade, mas há muito o que fazer ainda, o maior desafio hoje e que só poderá ser resolvido pelos moradores é a questão da organização social. Ainda há muitos conflitos dentro da comunidade, sabe-se que estes não serão resolvidos assim facilmente, mas somente com a organização interna da comunidade esses moradores terão maior força para lutarem contra as dificuldades.

Poderão assim solicitar junto aos órgãos competentes, uma melhor estrutura para a escola, posto de saúde, transporte coletivo e coleta de lixo. Um problema inicial a ser solucionado deve ser a utilização adequada da Casa de Iscas, pois é passado aos turistas que lá é um local de uso coletivo, mas isso não ocorre, não são todos que usam esse depósito, há os que preferem armazenar dentro de casa as iscas vivas. Isso desfavorece esses isqueiros pois os turistas dificilmente vão até as casas para comprarem iscas, adquirem ali no porto por ser um local de fácil acesso. Por fim, os projetos implantados deram  certo, atingiram os objetivos propostos e tiveram um boa aceitação por parte da comunidade.

Vale destacar que algumas dificuldades surgiram e que estas poderiam ser amenizadas através de uma melhor organização da comunidade, onde os moradores poderiam deixar de lado as diferenças e se atentarem ao bem comum.