por Luiz Ortiz
Os 5 mil habitantes da Ilha de Páscoa não gostam dos turistas ou gostam somente em pequenas doses. Nesse isolado território chileno, que fica a 4 mil km de Santiago existem cerca de 1.300 eleitores (mais de 96% do total) e em 2009 aprovaram, no dia 24 de outubro do mesmo ano, uma reforma da Constituição que deverá dar às autoridades da ilha do Pacífico um controle maior sobre seus fluxos migratórios.
Um referendo popular, organizado pelo governo de Santiago, respondia às preocupações dos habitantes, na sua maioria de origem polinésia.
Os nativos denunciam o impacto negativo do turismo e da imigração sobre sua cultura, o patrimônio e o ecossistema da ilha, um pequeno paraíso de somente 164 km2.
Como diz Marc Augé no texto “Não Lugares”, – Se um Lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não lugar. -
Com o aumento de pessoas com outras culturas e identidades, com o tempo, acabaram “mesclando” a cultura local com a cultura trazida de fora. Assim a cultura milenar cultural vai sendo subtraída aos poucos.
A Ilha de Páscoa, descoberta em 1722 pelos holandeses, exerce uma fascinação sobre os viajantes do mundo inteiro. Todos os anos, 50 mil turistas visitam suas praias, suas paisagens vulcânicas e suas centenas de Moais.
A construção dessas imponentes estátuas de pedra, que pesam toneladas e medem até 20 metros de altura, continua sendo um mistério. Alguns habitantes chegam a falar em participação de extraterrestres…
Em uma parte do texto de Maria Celeste Mira, “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”, ela diz algo muito interessante: “O que me parece realmente novo são as relações que se
estabelecem entre o global e o local, sem passar pelo nacional.”
A Ilha de Páscoa fica no Chile, porém, muitos turistas não conhecem o “Chile”.
A viagem se restringe apenas ao seu local de origem, sua zona de conforto e o local visitado.
Em 2009 após negociações com as autoridades da ilha, o governo chileno havia instaurado, em setembro, um sistema de formulários de migração para “melhorar a informação sobre os visitantes”, segundo o vice-ministro chileno do Interior, Patrício Rosende. Os turistas deveriam detalhar o motivo, a duração e seu local de hospedagem em um “formulário especial de visitante”, que teriam que preencher ao desembarcarem no aeroporto de Santiago, o único a atender Rapa Nui, nome polinésio da Ilha de Páscoa.
A Suprema Corte julgou essa medida “ilegal e arbitrária”, e os juízes invocaram o direito à livre circulação sobre o território chileno como um todo.
“É preciso controlar o crescimento da Ilha de Páscoa”, admite Rosende. “É um território muito frágil que não suporta fluxos indeterminados de imigrantes que ali se instalam.”
Em agosto eles bloquearam, durante 48 horas, o único aeroporto, para reivindicar limites para a duração da permanência dos turistas e para a imigração crescente de chilenos vindos do continente.
O grupo intitulado “Parlamento de Rapa Nui” (nome da ilha em polinésio), reclama a criação de um “conselho de migração” que imponha quotas para o fluxo de turistas, trabalhadores e residentes, à semelhança dos organismos criados nas ilhas Galápagos (Equador), indicou a Presidente da Câmara de Páscoa, Luz Zasso Paoa. “Nós dependemos do nosso patrimônio para um desenvolvimento sustentável; é necessário cuidar dos recursos, da água, da energia e fazer a gestão dos resíduos”, acrescentou Paoa.
Em agosto eles bloquearam, durante 48 horas, o único aeroporto, para reivindicar limites para a duração da permanência dos turistas e para a imigração crescente de chilenos vindos do continente. E eles os criticam, assim como os turistas, por colocarem em risco o equilíbrio ecológico da ilha, que é patrimônio mundial da UNESCO.