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Uma nova Ibiza, onde festa não é sua cultura originária.

por Lucas Morais

Ninguém pensa em Ibiza como uma ilha historicamente importante, somente a resumem em uma ilha badalada. Mas por quê? Tudo se dá devido a história do seu desenvolvimento turístico, que ao decorrer dos anos, ao se tornar de massa, ganhou uma dimensão que fugiu do controle dos órgãos públicos, criando assim uma imagem que perdura até os dias de hoje: festas, sexo e drogas. Vejamos só como a CI (Central de Intercâmbio) vende a cidade Ibiza, capital da ilha de mesmo nome: “Sol, praia, gente bonita e (muita) festa. Combinação perfeita que faz de Ibiza a capital mundial da balada e uma das ilhas mais calientes do planeta. Neste paraíso natural espanhol, são 18 km de praias belíssimas, com areia branquinha e água azul cristalina do Mediterrâneo. Só não estranhe o topless, liberado e bastante comum por lá.” (Fonte: http://www.ci.com.br/guia-mundo/especial-cidades.ibiza), percebe-se como é ressaltada a vida agitada da cidade durante esta descrição, se continuarmos lendo a sua apresentação, veremos praticamente a mesma preocupação sendo constante: mostrar a diversão de Ibiza, mas não o conhecimento que ela soma ao individuo que a visita. Esta é a atual dificuldade da ilha, mudar seu conceito e recuperar a sua importância histórico-cultural no produto turístico, trabalho que a mesma vem executando arduamente e assunto que discutiremos no decorrer deste artigo.

Primeiramente vamos entender a ilha Ibiza, ok?
Localizada a leste da Espanha, é parte do arquipélago e das famosas Ilhas Balneárias do país. Sua história é rica, embora ainda pouco comentada na sua oferta, mas vamos aqui sintetizar para efeito introdutório ao local: Há dados documentados de assentamento humano desde o século VII a.C., com a chegada dos fenícios que a batizaram pelo nome “Ibosim” – que significa “cidade do deus Bes” -, ficou anos sobre o domínio dos fenícios, até ser conquistada pelo império romano e seu nome se mudar para “Ebusus”, mais tarde passou para as mãos dos mulçumanos e se converteu em “Yabisa”, somente no século XII foi conquistada pelos catalães, e foi neste período que se originou o nome “Elvissa”, foi então aí que finalmente passou fazer parte do reino da Espanha como Ibiza – tradução de Elvissa.
A ilha tem 571 km quadrados, na qual a sua capital pelo mesmo nome ocupa somente 11,4 km quadrados, o menor município territorialmente dos cinco que ali habitam e a maior em densidade demográfica, considerada uma cidade cosmopolita, pois convivem hoje com cerca de 100 nacionalidades estrangeiras distintas que representam 20% da população total, ou seja, uma cidade que trata bem as diferenças culturais e tenta adequar alguns pontos, como a gastronomia, se tornando confortável a vivencia nela.

Após esta pequena introdução histórica, vamos compreender o motivo pela qual ocorreu a criação desta imagem que se perdura, construindo um linear do seu desenvolvimento turístico no decorrer dos anos.
A herança cultural das diferentes civilizações que passaram pela ilha se manteve intacta durante séculos e foi o principal atrativo para os primeiros viajantes que a frequentavam, na sua maioria artistas, sobretudo escritores como Walter Benjamin, Rafael Alberti, Émile Michel Cioran, em princípios dos anos 30. Em fins dos anos 50, a sua beleza natural deslumbrou pintores que encontrou inspirações diferentes e vivas, fugindo do Ocidente Industrial do pós-guerra.
Esse encanto ancestral foi valorizado também pelos hippies que buscavam espaço de liberdade e forma de vida simples ligada à natureza. Porém a partir dos anos 60 esta preocupação foi sendo sufocada pela invasão de um turismo de massa que assolou toda a costa da Espanha, eram na sua maioria pessoas ricas, jovens e estrangeiras provenientes da Inglaterra, França, Alemanha e Itália. Sabemos que os anos 60 foi um período de crescimento econômico na Europa, o que explicaria este turismo de massa como um reflexo deste aumento de recursos econômicos e Ibiza como apenas um local que se aproveitou desta oportunidade para dar um aceleramento na sua economia local, pois segundo Margarita Barretto em um modelo econômico são os turistas que constituem a demanda e os que criam atrações e/ou as próprias atrações, juntamente com os prestadores de serviços, que constituem a oferta. Logo, não teria muita demanda, se a oferta não aumentasse em paralelo, percebe-se então nesta fase um crescimento descontrolado de redes hoteleiras, restaurantes e casas noturnas, proporcionando assim oferta para esta nova demanda, jovens ricos em férias paradisíacas e regadas de muita festa e diversão, fama que foi se dissipando pelo mundo e se constitui a imagem de ilha badalada.

Claramente este interesse econômico foi maior do que a preocupação de manter a sua cultura local preservada, como em vez de ser conhecida como o lugar da música eletrônica, ser conhecida como o da música “Ball Pagés” – ritmo do baile tradicional primitivo -, hoje considerada folclórica e voltou a ser representada nesta busca que a Ilha faz de recuperar suas importâncias de origem. A resistência demorou, mas veio a tona a partir dos anos 90, fazendo assim em 1999 a sua candidatura para integrar a lista de Patrimônio Mundial ser entregue, e em dezembro do mesmo ano foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, por um critério misto de biodiversidade e cultura. Como discutido pelo Gilles Lipovetsky e Jean Serroy em “A cultura-mundo” e também pela autora Maria Celeste Mira em seu texto “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”, a erradicação das diferenças culturais pelo mercado não resiste ao exame dos fatos, pois em um momento há o fortalecimento destas diferenças. Por isto o surgimento do termo globalização, a ação de pensar global e agir local, pois as identidades culturais típicas de cada são fenômenos bem vivos, a gestão intercultural empenha-se em combinar o universal com o particular, o racional com o tradicional, a unidade moderna com a diversidade dos costumes. Embora Ibiza tenha demorado para entender este termo, houve a necessidade de proteger a Ilha de apagar sua memória e então a busca de valorizar sua história e valores. Começaram com restauração de todos os edifícios e centros históricos, musealização de recintos amuralhado e de resquícios arqueológicos e com uma mudança no seu Plano Diretor do Turismo, que foi reconhecido como Plano de Excelência e teve a gestão de Elisenda Belda. O Plano mostra como a ilha, que é uma Meca do turismo mediterrâneo, procura livrar-se da imagem de cidade do turismo predatório do sexo, drogas e discotecas para organizar-se de acordo com a sua nova condição de patrimônio da humanidade, conforme plano cultural que busca harmonizar preservação do ambiente, turismo sustentável e cultura.

Embora é importante a valorização histórico-cultural da ilha, a mesma deve trabalhar de uma forma que mescle estes interesses e atenda aos diversos públicos, claro que tentar erradicar o turismo sexual existente seria e é o ideal, mas erradicar a cultura eletrônica agora instalada é de tudo mudar totalmente a estrutura construída para esta demanda, digo assim as redes hoteleiras e as casas noturnas. Estes são não-lugares (lugares não antropólogo) construídos para passagem rápida dos visitantes, mas que muitas vezes por alguma lembrança ali criada se tornaram lugares para muitos turistas, pois como cita Marc Augé “O lugar e o não-lugar são, antes, polaridades fugidias: o primeiro nunca é completamente apagado e o segundo nunca se realiza totalmente.”, os residentes locais sempre buscarão manter suas raízes e os visitantes, embora que de passagem – e em lugares muitas vezes construídas para isto -, muitas vezes iniciar-se uma nova história ali, como o conhecer um novo namorado ou qualquer outra coincidência da vida.
Portanto, apresentamos uma nova Ibiza, onde encontramos outros valores e hoje busca a valorização destes, mas acrescentamos que um bloco da história não deve ser apagada e sim compartilhada, podendo assim talvez em um novo plano diretor, tentar mesclar estes diferentes segmentos do turismo e atender aos diversos públicos, aos jovens e aos aproveitadores deste conteúdo histórico-cultural da ilha.

Fonte: http://www.ibiza.travel/tools/upload/articulos/art_00270_img_02.jpg

Fonte: http://www.ibiza.travel/tools/upload/articulos/art_00270_img_02.jpg

Fonte: http://www.ibiza.travel/en/empresa.php?fid=1252&ct=monuments

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Fonte: http://www.ibiza.travel/en/empresa.php?fid=1260&ct=monuments

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Fonte: http://www.ibiza.travel/es/ballpages.php

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Fonte: http://www.ibiza.travel/es/articulo.php?fid=784&ct=playas

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Referências Bibliográficas:

LIPOVETSKY, Gilles e SERROY Jean, “Cultura-mundo como mitos e como desafios”. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo, Cia das Letras, 2011, p. 110-147.

MIRA, Maria Celeste. “O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura”. In: Revista Margem, n.3, dezembro de 1994, p. 131-149.

AUGÉ, Marc. “Dos Lugares ao Não-lugares”. Os não-lugares, Papirus Editora, p.71-105.

HANNARZ, Ulf. “Cosmopolitas e locais na cultura global”. IN: FEATTHERSTONE, Mike. Cultura Global: nacionalismo, globalização e modernidade. Petrópolis, Vozes, 1999. p. 251-265.

BELDA, Elisenda. “Reinventando Ibiza a partir da cultura”. A Cidade pela Cultura. São Paulo, Editora Iluminuras / Itaul Cultural, 2008, p. 153-160.

KING, Russel. “A geografia, as ilhas e as migrações numa era de mobilidade global”. Actas da Conferência Internacional –  Aproximando Mundos: Emigração, Imigração e Desenvolvimento em Espaços Insulares, Lisboa, Fundação Luso-Portuguesa, 2010, p. 27-62.

KORMIKIARI, Profa. Dra. Maria Cristina Nicolau. “Movimentação Fenício-Púnica no Mediterrâneo Ocidental: novas perspectivas a partir dos estudos em arqueologia na paisagem”. IN: Mare Nostrum, ano 2012, n. 3.

http://www.ibiza.travel/en/index.php

http://europa.eu/about-eu/eu-history/1960-1969/index_pt.htm

http://www.ibiza.travel/img/descargas/1_en_mapa_playas.pdf

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0508200719.htm

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/10/burguesia-brasileira-eua-manias-discretas.html