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Cultura: limites, resistência e efeitos.

por Lucas Morais

A cultura é um atrativo turístico forte, cada vez mais buscado pelos viajantes que tentam fugir do turismo de massa – principalmente na atual condição de mundo globalizado – e sim se envolver em um turismo experimental, o famoso turismo cultural e ecoturismo.

A resistência das culturas locais sobre a globalização vem na sua maioria sendo utilizada como atrativo turístico e não somente para meio de preservação, claro que ambas as utilidades vem trabalhando em conjunto, uma não anulando a outra. Porém isto nos deixa alguns questionamentos: até que ponto esta resistência é real ou mito? Proveniente da população que sofre grandes alterações no seu estilo de vida ou novamente do interesse de um mercado econômico? A resistência seria uma nova cultura?
Como vemos em diversos pontos pelo mundo, temos diversos passeios bem cotados sendo comercializados com apresentações “típicas locais”, porém isto seria a vivência de uma cultura real ou mito? Exemplo de Lima que oferta todas as noites um jantar com apresentação de danças típicas Peruana, sabemos que são danças de diversos lugares do Peru, danças estas que muitas vezes caiu na rotina da população local e saiu de prática, ficando como apenas memória, ou não, também há a possibilidade efetiva da realização da dança em algum lugar, mas provavelmente em algumas datas específicas.  De qualquer modo, vemos claramente a valorização de uma “cultura” para fins totalmente econômicos, não que tal visão dê um tom de “negatividade” ao produto, pois indiferente da sua razão ele é o entretenimento de um grande público e salva a memória de um povo, porém temos que ser cautelosos na análise de preservação cultural e interesses mercadológicos, tarefa difícil, pois como diz HUTNYK (2006: 357)

“A cultura é parque de diversões e mercadoria, é o refinado e profundo e o mundano e extremo. Está cruzada, simultaneamente, pela identidade, pela tradição e pela mudança; é recurso, muralha, disputa. É a canção de ninar e a sinfonia em CD, assim como o olhar de um usuário de drogas quando se injeta. É a coleção de tigelas e panelas…e todo o mencionado está à venda. É o que nos faz humanos (…) não é algo separado da política, do comércio, da religião ou do ódio (…) que é cultura também.”

Fonte: http://www.limamentor.com/pt/post.php?id=894&cat=448

Fonte: http://www.limamentor.com/pt/post.php?id=894&cat=448

Portanto analisar o efeito dos interesses na cultura é algo minucioso, faremos um pequeno estudo de como ocorre com a nossa Amazônia e as culturas indígenas, povos já sofredores das mudanças impostas no decorrer da sua história.

Instalados diversos lodges ou bangalows na floresta Amazônica, são hotéis de luxo com serviços para um público de alto padrão, buscados pelos hóspedes para vivência na selva, mas dentro de um “conforto” de sua cidade grande. Foco em passeios pela selva, visitação a população local (aldeias indígenas, tribo de pescadores, etc) e experimentação de uma nova gastronomia. Busca esta que vem crescendo no Brasil, mas ainda maior em turistas estrangeiros pelo Brasil.

Fonte: http://www.jumalodge.com.br/galeria/hotel.php

Fonte: http://www.jumalodge.com.br/galeria/hotel.php

Desde o surgimento destes prestadores de serviços dentro do Ecoturismo, surgiu o estudo de elaboração de passeios para seus clientes e neste ponto adentramos no risco de apropriação de culturas e da prospecção de forma desleal da mesma. Veremos dois relatos representando alguns resultados, ora desleal, ora positiva, que uma vez foram debatidos em aula dentro da sala do 6º semestre (2013) na disciplina de “Cultura, Mercado e Globalização” ministrada pela profa. Dra. Rita de Cássia Alves Oliveira no curso de Turismo da PUC-SP:

- Neste primeiro caso, um amigo foi visitar em férias uma aldeia indígena, tida como intacta do mundo globalizado na sua oferta em um destes lodges que o mesmo se encontrava hospedado. Porém, presente se fazia um ator global das telenovelas brasileiras e no instante de sua chegada com o grupo, diversos índios solicitaram uma fotografia com o famoso, quebrando ali a proposta do passeio, pois aquele povo não era intacto desta cultura mais hegemônica que a globalização proporciona. Era um povo que todos os dias de passeios programados, se vestiam a caráter e realizavam danças típicas. Logo, as pessoas se submetiam a um passeio onde se mostrava uma memória e não uma realidade, o que são coisas diferentes e mesmo que seja esta a proposta, o ético é deixar isto de uma forma clara.

- O segundo caso foi a descoberta de uma aluna de RI nas suas férias com os pais de uma guia bilíngue índia que vivia de forma independente nos períodos de temporadas. Seu nome é Judy e tentamos contato por e-mail, mas infelizmente não houve resposta. Segundo esta aluna, ela aprendeu a administrar uma vida sozinha e a falar inglês com os estrangeiros que educaram sua tribo, empreendedores da região. Após as temporadas, a mesma regressava a sua tribo, esquecia o mundo de fora e pescava, nadava e vivia o cotidiano daquele povo. Podemos considerar este como um case positivo, pois a globalização permitiu uma nova fonte de recurso, ao mesmo tempo em que este povo se preocupou em manter sua cultura originária, de forma que é para enriquecimento próprio e não de um interesse meramente econômico turístico.

Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/cultura-indigena/cultura-indigena-7.jpg&imgrefurl=http://cultura.culturamix.com/regional/americas/cultura-indigena&h=398&w=566&sz=69&tbnid=VDaL1ofZwmabXM:&tbnh=90&tbnw=128&zoom=1&usg=__QjUuaHqK3YXn464mufiAlsRoYOE=&docid=xmM7MVepef_SBM&sa=X&ei=Us2WUsOMG9PKsQSPn4H4BQ&sqi=2&ved=0CEkQ9QEwBg

Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/cultura-indigena/cultura-indigena-7.jpg&imgrefurl=http://cultura.culturamix.com/regional/americas/cultura-indigena&h=398&w=566&sz=69&tbnid=VDaL1ofZwmabXM:&tbnh=90&tbnw=128&zoom=1&usg=__QjUuaHqK3YXn464mufiAlsRoYOE=&docid=xmM7MVepef_SBM&sa=X&ei=Us2WUsOMG9PKsQSPn4H4BQ&sqi=2&ved=0CEkQ9QEwBg

Casos como estes se repetem constantemente, fruto de uma dinâmica globalização versus resistência, seja por patriotismo de um povo ou pelo interesse do sistema econômico atual (oferta/demanda). Porém é ainda um tema onde pesquisadores estudam esta balança e refletem sobre seus efeitos, reflexão que levará anos de estudos. Minha contribuição a estas pesquisas é deixar outro questionamento a ser debatido: a globalização é uma cultura, logo, podemos considerar a resistência como outra cultura?

Referência Bibliográficas:

BARRETTO, Margarida.”Turismo e Cultura: Possíveis Relações Teóricas”. Cultura e Turismo: Discussões Contemporâneas. Editora Papirus. P. 9-34;

LIPOVETSKY, Gilles e SERROY Jean, “Cultura-mundo como mitos e como desafios”. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo, Cia das Letras, 2011, p. 110-147.

MATTOS, Kelly. O Processo de Globalização na Amazônia. In: http://kellymattos.spaceblog.com.br/521069/O-PROCESSO-DE-GLOBALIZACAO-NA-AMAZONIA/

OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. Cidadania e Globalização: povos indígenas e agências multilaterais. In: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832000001400006&script=sci_arttext

http://www.gentedeopiniao.com.br/fotos/files/Hotel%20de%20Selva_Viaje%20Mais.pdf

http://pt.shvoong.com/writing-and-speaking/branded-content/1982292-amaz%C3%B4nia-globaliza%C3%A7%C3%A3o/

http://jus.com.br/artigos/1699/globalizacao-e-amazonia